19.4.20

ABRIL: Da Liberdade e da Esperança - Poesia (XIX)

Canto civil
Este é o meu canto civil
canto cívico graduado
desde um tempo antigo que vivi
entre poemas de aço camuflados e algemas de silêncio

Esse era o tempo do assalto às casernas
mas já então eu escrevia o que devia:
a cartilha da guerrilha do amor e da paz
para ser ensinada à luz das lanternas
nas escolas nas igrejas na parada dos quartéis

Este é o meu canto civil
canto cívico desfardado
escrito a vinte e cinco e oito de abril
do ano passado à noite
de punho cerrado com alegria e sem espanto
canto para ser cantado de dia
por todos por muitos por mim ou por ninguém:
Soldado raso
ao cimo da calçada
em guarda
de flor e farda
a flor que te damos
é pão da madrugada

É pão amassado
sem liberdade
é gesto de guerra
em nome da paz
É flor de canção
em terra mar e ar
rubra flor popular
num só cano de espingarda

Soldado raso
em sentido na memória
lembra-te de novo e sempre
a flor que te damos
é da terra é do povo
é pão da madrugada.

Orlando da Costa