22.1.10

PORTUGAL NOTÁVEL: O Castelo de Amieira do Tejo

Continuando a vaguear por terras hospitalárias com o apoio da Casa Covão da Abitureira descobrimos este belo castelo fundado no século XIV por D. Frei Álvaro Gonçalves Pereira, prior da Ordem do Hospital, filho bastardo do Bispo D. Gonçalo Pereira, e pai do futuro Condestável, D. Nuno Álvares Pereira, para servir de defesa da Linha do Tejo.
Repare-se que esta fortaleza foi construída, a meio caminho entre o castelo de Belver (**) e o Mosteiro Flor de Rosa (**) numa das onze vilas que a Ordem dos Hospitalários (as Terras de Guinditesta) detinha na região.
Um dos melhores castelos góticos de Portugal
No contexto das lutas pela Reconquista cristã da península Ibérica e da formação do reino de Portugal, o rei D. Sancho II (1223-1248) fez uma expressiva doação de terras à Ordem de São João do Hospital de Jerusalém, incluindo as vilas de Amieira, Belver (Gavião) e Crato (1232).
O castelo da Amieira foi construído sob o reinado de Afonso IV (1325-1357). A sua edificação é atribuída a Álvaro Gonçalves Pereira, tendo sido concluído pelo seu filho, D. Pedro Pereira, que herdou o priorado, em 1362. O castelo teve até ao século XVI uma função residencial para o Prior de Crato.
Durante a Crise de 1383-1385, o então Prior do Hospital, D. Pedro Pereira, no início de 1384 reconheceu a autoridade de D. Beatriz, filha de D. Fernando, e, como tal, herdeira legítima do trono português. O Castelo da Amieira, juntamente com outros da Ordem, prestou obediência à Rainha, situação modificada poucos meses mais tarde, por influência do Condestável D. Nuno Álvares Pereira, irmão do Prior, tendo este partido para Castela.
O único episódio militar em que o castelo esteve envolvido ocorreu em 1440. Tendo D. Leonor de Aragão, se desentendido com o infante D. Pedro, retirou-se, com a cumplicidade do prior, D. Nuno de Góis, para o Crato, tendo invocado em seu auxílio as forças de Castela, que cercaram a Amieira. Diante dessa insubordinação, D. Pedro determinou a ocupação dos castelos do priorado do Hospital nessa região fronteiriça, ordenando a D. Álvaro Vaz de Almada, conde de Abranches, acometer o Castelo da Amieira. Sem oferecer resistência os castelos renderam-se, o prior do Crato e D. Leonor puseram-se em fuga para Castela e a paz foi restabelecida.
Nos séculos seguintes, foram procedidas pequenas obras de modernização sob o reinado de D. João II (1481-1495) e de D. Manuel I (1495-1521).
Situado em zona baixa e rodeado pela povoação, depois do século XVI o castelo da Amieira, sem função bélica entrou em abandono e degradação. É sabido que em 1846 foi instalado no interior do castelo o cemitério da aldeia. Nos séculos XX e XXI o castelo foi restaurado e está muito bem conservado.
Características do castelo da Amieira do Tejo
Com planta no formato rectangular, é considerado um dos mais belos castelos góticos portugueses.
As muralhas, ameadas, são reforçadas nos ângulos por quatro sólidas torres e pela Torre de Menagem, de maiores proporções, com planta quadrangular, defendendo a porta da barbacã. Esta torre possui janelas, sendo uma geminada e outra com arco gótico. No interior, abre-se a praça de armas. No seu centro está uma bem conservada cisterna do século XV, embora tenha existido no mesmo local outra mais antiga. No exterior, o conjunto é completado por fosso (hoje aterrado) e uma muralha barbacã de planta quadrangular, de muros ameados.
A Capela de São João Baptista
Fora dos muros, mas adossada a uma das torres, ergue-se a Capela de São João Baptista com portão em arco de volta perfeita com aduelas almofadadas. No interior, apresenta abóbada de caixotões grafitados decorada por grotescos de inspiração maneirista, com motivos vegetalistas, animais fantásticos, geométricos, antropomórficos e híbridos, datados de 1566.
Mais dois motivos de interesse em Amieira do Tejo
Amieira do Tejo tem mais dois motivos de interesse que não pode perder: o passeio até ao Rio Tejo ao lugar das Barcas da Amieira (*) e a capela do Calvário que tem um raro retábulo barroco, construído não em madeira, como todos em Portugal, mas em granito, eu não conheço outro igual, e o leitor conhece?
Adaptado ligeiramente da Wikipedia. Parabéns ao autor.
in "Portugal Notável"

21.1.10

NISA: Trabalhadores da Câmara Municipal em protesto

Cerca de 50 trabalhadores da Câmara de Nisa concentraram-se quarta-feira em frente aos Paços do Concelho para exigir o direito à sua valorização profissional e estabilidade, numa iniciativa apoiada pelo Sindicato dos Trabalhadores da Administração Local (STAL).De acordo com António Carreiras, dirigente do STAL, o protesto surgiu na sequência de uma tomada de posição “contrária” dos vereadores da oposição (PS e PSD) naquele município alentejano, liderado em minoria pela CDU.
De acordo com o sindicalista, os vereadores da oposição “opõem-se à dotação das verbas necessárias, no orçamento da câmara para este ano, para a mudança de posicionamento remuneratório, por via da opção gestionária, de 49 trabalhadores".
António Carreiras explicou ainda que os vereadores do PS e do PSD "recusam também a criação de postos de trabalho" no Mapa de Pessoal para o ano de 2010 referentes a contratos de trabalhadores, cuja duração ultrapasse os cinco anos.
Os trabalhadores estiveram concentrados em frente ao edifício da autarquia, deslocando-se depois para a reunião pública de câmara, onde discutiram a matéria com o executivo camarário, porém as dúvidas e incertezas persistem.
Durante a reunião, os trabalhadores entregaram ao executivo camarário uma resolução na qual exigem que lhes sejam reconhecidos os seus direitos.
Na mesma resolução, os trabalhadores ameaçam ainda, caso a situação não seja invertida, "adoptar outras formas de luta que considerem necessárias ao cumprimento dos seus direitos".
in "Rádio Portalegre"

17.1.10

POESIA: Sátira ao prometido aumento de vencimento em Janeiro de 1959

Soneto (quase) inédito de José Régio
- Em memória de Aurélio Cunha Bengala

Surge Janeiro frio e pardacento,
Descem da serra os lobos ao povoado;
Assentam-se os fantoches em São Bento
E o Decreto da fome é publicado.

Edita-se a novela do Orçamento;
Cresce a miséria ao povo amordaçado;
Mas os biltres do novo parlamento
Usufruem seis contos de ordenado.

E enquanto à fome o povo se estiola,
Certo santo pupilo de Loyola,
Mistura de judeu e de vilão,

Também faz o pequeno “sacrifício”
De trinta contos – só! – por seu ofício
Receber, a bem dele... e da nação.
(Em 1969 no dia de uma reunião de antigos alunos)
José Régio