29.4.17

DEZ POEMAS PARA O 25 DE ABRIL (9)

O pequeno saltimbanco
O pequeno saltimbanco
entrou na pista fez piruetas
contou duas anedotas sem palavras

e as pessoas choraram
choraram tanto como se rissem em gargalhadas
toda a gente sentiu o drama
do pequeno saltimbanco

mas as lágrimas foram demais
disseram os diários da manhã nocturna
o público afogou-se
num oceano de lágrimas sinceras

todas pelo pequeno saltimbanco

pelo pequeno saltimbanco
que tinha uma flor vermelha na lapela
e uma cicatriz acentuada na face esquerda
e que contava anedotas sem palavras
e provocava dilúvios nas cidades mortas
nas cidades mortas como a nossa cidade. 
Sérgio de Sousa BentoLisboa 10 - 1964

Alentejo esquecido
No Alentejo à tardinha vem cantando,
Um rancho de ceifeiras sorridentes,
Mal se lembrando das searas ardentes
Que doloridas mãos foram segando.

Mas isto foi outrora, noutra era,
Que mulheres com grinaldas de flores,
Cantando hinos à vida e aos amores,
Faziam lembrar sempre a Primavera!

Agora é um deserto pardacento,
Ouve-se um cantar como um lamento,
D´uma ave cansada e sem beber,

Os ocasos são tristes e sangrentos.
Sopram, na solidão, agrestes ventos,
                        Numa terra sem água e a morrer.                            
Celestino José Janeirinho

NISA: Cuide do seu cão e da... Saúde Pública

A campanha de sensibilização é da iniciativa do Município de Barrancos, um dos mais pequenos do país, mas devia ser seguida por todas as autarquias do território nacional (Câmaras e Juntas de Freguesia) particularmente em Nisa.
O que se passa no Bairro da Cevadeira, a zona onde moro e conheço melhor, é deveras vergonhoso. Indigna e revolta ver o estado de alguns passeios e arruamentos, mesmo junto à GNR, depois do "passeio higiénico" que certos donos de canídeos, proporcionam, diariamente, aos seus animais. Permitem que estes defequem em plena via pública, por vezes à luz do dia e quase sempre a dois passos do contentor do lixo, deixando no chão as "marcas" da incivilidade e do desrespeito pela saúde dos seus semelhantes.
Fala esta gente na Europa, quando, a nível local dão exemplos nada edificantes da sua condição de cidadãos, que não merecem esse nome, pois não respeitam, minimamente, o direito dos seus conterrâneos a usufruírem do espaço público que é de todos, principalmente das crianças, obrigadas a "conviver" com os dejectos de animais em zonas ajardinadas.
Tal prática é lesiva da saúde pública e, deste modo, punida por lei. Quem passeia os seus canídeos  em zonas urbanas, com o fito de estes fazerem as suas "necessidades" devia pensar, primeiro, que a via pública não é sua propriedade exclusiva nem é uma estrumeira municipal e que é obrigatório por lei e pela moral, possuir e utilizar, sempre que necessário, o indispensável equipamento para a recolha dos dejectos dos animais. Pesará assim tanto no bolso, dois ou três saquinhos de plástico? Custará assim tanto apanhar os "cagalhões" deixados no chão, a maior parte das vezes longe da residência e dos olhares das pessoas, cumprindo, aliás, uma obrigação de cidadão responsável e respeitador da salubridade pública.

NISA: Lembrando o poeta nisense José Gomes Correia





À minha terra
I
Qual namorado, que na campa estreita,
Onde descansa uma mulher amada
Encosta a fronte num sonhar distante
E deixa perpassar visões diversas,
Também eu, ao longe, ó minha terra,
Sinto meus olhos pobres de te verem,
De contemplar, à tarde, os teus vergéis
E a boca sequiosa dos teus beijos!
II
Aqui, longe de ti, ó berço amado,
Não há canções em bocas campesinas,
Nem contos de rainhas ao luar
A ruminar na mente das crianças!
É inverno em abril... e quando as flores
Vêm por graça algumas nas janelas,
Distrair nosso olhar neste vazio
Mais se aviva em meu peito a saudade!
III
E quando busco o pálido reflexo
Da tua formosura, ó Nisa minha,
Julgo encontrá-lo em terras ignoradas,
Em mundo que ninguém jamais verá!...
Tu és a flor nascida entre o deserto,
És a eterna canção maravilhosa,
Que aos meus ouvidos soa qual segredo,
Que só eu compreendo, ó minha terra!
José Gomes Correia (Nisa 22/6/1922 - 2/7/1983


27.4.17

ALPALHÃO: III Prova de Vinhos na Sociedade Recreativa

A Sociedade Recreativa Alpalhoense vai promover a sua III Prova de Vinhos e conta consigo para fazer parte do júri.
Basta aparecer e adquirir a caneca alusiva ao evento, e poderá saborear à sua vontade todos os vinhos a concurso.
A prova decorrerá durante o almoço que será servido na sede da nossa coletividade a partir das 13 horas.
Se for vinicultor e quiser participar, traga-nos um garrafão com o seu vinho até às 12 horas do mesmo dia (30 de abril).
ESTE DOMINGO ESTAMOS À SUA ESPERA!!
APAREÇA E TRAGA AMIGOS!!

4º Trail Vila de Nisa realiza-se em 5 de Novembro


26.4.17

NISA: O 15º Aniversário do 25 de Abril (1989)

São documentos para a história do concelho de Nisa e da sua vivência democrática. O programa do 15º aniversário da Revolução dos Cravos, 250 exemplares impressos na Tipografia Nisense, número um pouco superior à "tiragem" do recente Boletim Presidencial com que os nisenses foram mimoseados. Deixemos as coisas tristes...
O programa das Comemorações do 25 de Abril de 1989 privilegiou a diversidade de iniciativas e a descentralização das mesmas. Este é um dos "pecados", uma das situações negativas do 25 de Abril em Nisa. A sede do concelho monopoliza todas as realizações e não há uma centelha de imaginação (numa Câmara que tanto apregoa as "ideias") para contemplar, num programa cultural, a diversidade das povoações do concelho, ao longo de todo o mês de Abril.
E, tudo isto, porque a própria concepção do "programa" é em si mesmo centralizadora. Parte de uma só cabeça, bem ou mal pensante, e copia-se o programa do ano anterior. As associações, quais súbditos, virão à sede do concelho desfilar, actuar, pagando o "tributo" dos apoios que a Câmara (que tem essa obrigação e não um favor) lhes presta ao longo do ano.
Esqueceu-se o Feriado Municipal como data nobre e própria para as homenagens a pessoas e instituições. Homenagens que não são, não representam o corolário de discussão e apreciação entre os munícipes e associações do concelho, mas são o resultado de um "rasgo" individual de um qualquer eleito, ou em retribuição de um favor ou empunhando a "bandeira" de um ou mais atributos no currículo, para justificar, tantas vezes, o injustificável.
Há 40 anos (1987)- à parte a homenagem, indiscutível e justa, ao Dr. António Granja, realizada anos antes, em 1981- houve um programa de homenagens a personalidades do concelho, escolhidas pelos seus próprios méritos, escolhas essas que foram precedidas de um processo, exemplar, de auscultação da opinião das instituições concelhias e de pessoas, a nível individual. 
Sobre este assunto, dada a sua importância, iremos elaborar outro texto. Mas, que fique o essencial: é preciso regatar as Comemorações do 25 de Abril. A Revolução dos Cravos é do Povo. Não pode ser encerrada dentro de uma sala, com discurso mais ou menos engravatados, que não respeitam, sequer, a pluralidade dos eleitos no poder local, nem ser um desfile "folclórico" para mostrar à população que manda no burgo.
Mário Mendes

PORTALEGRE: Fundação Robinson e IPP assinalam 25 anos do Curso de Design


NISA: Comemorações do Dia Distrital do Bombeiro


NISA: Mensagem da CDU no 25 de Abril

O presidente da União das Freguesias de Nossa Senhora da Graça, Espírito Santo e S. Simão, João Malpique interviu na Sessão Solene comemorativa dos 43 anos do 25 de Abril, em nome dos eleitos da CDU - Coligação Democrática Unitária, tendo produzido a comunicação que a seguir transcrevemos.
Senhores eleitos na Assembleia Municipal
Senhores eleitos na Câmara Municipal e nas Freguesias
Caros Concidadãos
Mais uma vez, neste dia 25 de Abril, aqui estamos para falar EM NOME DE ABRIL!
“Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial, inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo.”
Pelas palavras de Sophia de Mello Breyner, renovamos o significado da esperança!
Convictos dos valores de Abril, no momento em que se assinalam os 43 anos de DEMOCRACIA, reafirmamos a confiança de que é possível abrir caminho para o progresso!
Parecia impossível… o feito notável de deixar para trás um dos períodos mais negros da nossa história! Não foi apenas um dia … foi o resultado de lutas e, sob o regime da ditadura, construiu-se o caminho da LIBERDADE!
A madrugada de que fala Sophia não foi um mero acontecimento… foi o resultado de grandes e históricas conquistas no plano local, nacional e internacional. Um grande feito na história contemporânea: foi a FESTA COM A NOSSA GENTE, que Chico Buarque cantou!
Significou o PROGRESSO da sociedade portuguesa!
Saudemos esses homens e essas mulheres que hoje nos permitem estar aqui a comemorar Abril!…
Mas… ONDE ESTÁ ABRIL?
Para além de Trump, para além das ameaças internacionais e da escalada de conflitos em todos os continentes, temos em Portugal, no nosso Concelho, populações mais pobres, empurradas para o desemprego por políticas seguidas por sucessivos governos, pela submissão do país aos interesses internacionais que afundam a economia e endividam o país e pela destituição de direitos sociais!
E perguntamos:  ONDE ESTÁ ABRIL?
Abril não pode servir para invocar a desertificação do interior como responsável pela estagnação e aumento do desemprego!
Abril não pode servir para gritar “viva a liberdade” mas mentir ao povo, aprisionando-o nas grilhetas da ignorância, ocultando a verdade e o direito à informação!
Abril não pode servir para que, nos órgãos máximos do poder local, se insultem eleitos, em nome da liberdade de expressão!
Abril não pode servir para, em nome do povo, haver eleitos que abusam do poder para tomar decisões unilaterais, só …  porque sim!
Abril não pode servir para enganar o povo, com sorrisos e festas, em nome da fraternidade!
Abril não pode servir para dizer democracia, quando na prática se exerce a ditadura!
CONTINUAREMOS O CAMINHO DE ABRIL!
Volvidos que estão quase 4 anos de trabalho autárquico, estamos convictos de que tomámos as decisões que melhor respeitam os interesses dos que acreditaram em nós, porque aqui estamos para os servir, não para nos servirmos:
Zelámos pelo bem estar económico, social e cultural das populações;
Defendemos o funcionamento dos serviços públicos, na área da saúde, justiça e educação;
Defendemos a necessidade da reorganização das freguesias;
Denunciámos injustiças para com os trabalhadores do município;
Apresentámos e aprovámos moções nos órgãos de poder local, apelando à resolução de  problemas ambientais como foi o caso da qualidade das águas do Tejo e pelo encerramento da Central de Almaraz.
Aos que hoje são idosos e que “não tiveram tempo de ser meninos” diremos que merecem o nosso maior respeito e por eles lutaremos para a garantia de dias mais felizes!
Aos que constituem a força de trabalho e viram negados direitos fundamentais, diremos que o povo ainda é quem mais ordena e lutaremos pela dignificação de todas as áreas profissionais, sem exceção!
Principalmente, aos jovens, queremos dizer que lutaremos para lhes dar mais vida neste Concelho, para que não abandonem o sitio onde nasceram, onde cresceram, onde aprenderam e onde querem, naturalmente, viver com as suas famílias, impedindo e invertendo a desertificação a que assistimos e que o Concelho de Nisa não é exceção.
Estaremos sempre do lado certo, do lado dos trabalhadores. É com eles o nosso compromisso! Damos rosto à luta na defesa dos interesses das populações. Hoje, estamos mais fortes, para podermos avançar nesta encruzilhada!
Se há quem apresente 5 milhões de obra feita e paga, propagandeada no jornal regional, também há quem com uma única obra tenha feito um investimento de igual valor, garantido o seu financiamento, obra esta que será o pilar da educação deste nosso concelho e que irá permitir à atual edil utilizar como cartão de visita para receber o Primeiro Ministro no final da semana em Nisa.
Se criarmos a marca É Nisa, é Nosso, valorizamos a nossa terra, mas só faz sentido se a partilharmos e de forma integrada a oferecermos ao mundo na promoção dos recursos endógenos e não ficarmos isolados.
A descentralização e delegação de poderes agora tão em voga foi sempre uma realidade neste concelho, na valorização do trabalho das freguesias dando a possibilidade a investimentos comuns que de forma concertada resolviam o problema das populações. Hoje, estas obras de capital são feitas exclusivamente pelo Município sem auscultar tão pouco os Presidentes de Junta, negando apoios e utilização de recursos que são de todos e só a alguns disponibiliza; será que existe receio de perder o protagonismo?
Há quem tenha ideias! Nós temos um rumo!
Contra a insensatez que conduziu o nosso Concelho ao retrocesso e ao isolamento,
temos sentido de ética e integridade!
Temos espírito de sacrifício, de missão…
Temos espírito de serviço público e a coragem de continuar a acreditar, a agir  e a construir  um Futuro melhor para o Concelho de Nisa!
Porque o Concelho de Nisa merece!
VIVA O PODER LOCAL DEMOCRÁTICO!
VIVA O 25 DE ABRIL!
VIVA PORTUGAL!
VIVA O CONCELHO DE NISA!
Nisa, 25 de Abril de 2017
João Malpique - Eleitos pela CDU na Assembleia Municipal de Nisa

NISA: A Festa dos Cebolas em 2008









Nove anos se passaram desde a 1ª e julgo, única, Festa dos Cebolas, um convívio de âmbito familiar que pretendia juntar pessoas de várias gerações com o apelido Cebola. As fotos registam aspectos dessa Festa realizada no dia 26 de Abril de 2008 e que juntou novos e menos novos, idosos, alguns dos quais já não estão entre nós e a quem prestamos homenagem.
Recuperámos a efeméride, a data, a festa e, sobretudo, o convívio que então foi estabelecido entre famílias com esse denominador comum: o apelido.
Podem partilhar as fotos à vontade.

25.4.17

DEZ POEMAS PARA O 25 DE ABRIL (8)

FLOR DA LIBERDADE
Sombra dos mortos, maldição dos vivos.
Também nós... Também nós... E o sol recua.
Apenas o teu rosto continua
A sorrir como dantes,
Liberdade!
Liberdade do homem sobre a terra,
Ou debaixo da terra.
Liberdade!
O não inconformado que se diz
A Deus, à tirania, à eternidade.

Sepultos insepultos,
Vivos amortalhados,
Passados e presentes cidadãos:
Temos nas nossas mãos
O terrível poder de recusar!
E é essa flor que nunca desespera
No jardim da perpétua primavera.
Poema de Miguel Torga (in "Orfeu Rebelde", Coimbra: Edição do autor, 1958 – p.52-53; "Poesia Completa", Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2000, 2.ª edição, 2002 – p. 560)
Neste aniversário (o quadragésimo terceiro) da eclosão da Revolução dos Cravos, que devolveu a Liberdade a Portugal, apresentamos o poema "Flor da Liberdade", de e por Miguel Torga. O texto veio a lume no ano de 1958, em plena autocracia salazarista, mas a mensagem não perdeu actualidade. Se "recusar", naquele tempo, significava contestar e resistir à opressão, hoje consiste em exercer plenamente a Liberdade. Deixar de exercê-la – por medo, comodismo ou apatia –, é abrir caminho ao despotismo de uns quantos sobre todos.

NISA: Na Senhora da Graça em 25 de Abril







Foi no dia 25 de Abril, mas há seis anos atrás (2011) que se realizou a Romaria à Senhora da Graça.
Recuperámos a foto e a data de tão simbólica comemoração que encerra outra "lição": Comemorar o 25 de Abril e honrar, com fé e devoção, as celebrações da Padroeira de Nisa, não são actos e atitudes inconciliáveis. A "Revolução dos Cravos" respeitou sempre a liberdade religiosa inscrita no primeiro D do seu programa de acção: Democratizar.
Em Nisa, foi assim com a Revolução Liberal (1820), com a Implantação da República (1910) e mais recentemente com o 25 de Abril. Quem sustentar o contrário está a faltar à verdade histórica.

24.4.17

DEZ POEMAS PARA O 25 DE ABRIL (7)

Poema ao cavador
Das tuas mãos cavador
Sai o pão que vai prá mesa
Que é feito do teu suor
Para ter mais fortaleza
I
Trabalhas a vida inteira
Mesmo "sendos" reformado
Teu companheiro é o cajado
Tua sombra a da azinheira
Dotado de tais maneiras
Não te renegam louvores
Mas não te dão o valor
Que tu tens e que te sobra
Saem as mais belas obras
Das tuas mãos cavador
II
Passas a vida nos montes
E nunca aprendeste a ler
Mas é grande o teu saber
E de rasgados horizontes
O ribeiro é a tua fonte
O sofrer é a tua nobreza
Que és útil tens a certeza
Mesmo com poucos proventos
E dos teus conhecimentos
Sai o pão que vai prá mesa
III
Trabalhas na agricultura
Começaste muito novo
És feito no meio do povo
Nomeio da gente mais pura
Sofres ofensas e agruras
Dos que se julgam superiores
Podes crer que és dos melhores
Porque é bom e tem beleza
O perfume da natureza
Que é feito do teu suor
IV
És tu que guardas o gado
E que semeias o trigo
És sempre o maior amigo
De quem te tem explorado
Todo o campo que é regado
Fica com mais realeza
As tuas mãos com destreza
Fazem um mundo diferente
Mais justo, mais belo e quente
Para ter mais fortaleza

Manuel Luís Ribeiro de Pavia

PORQUE É ABRIL: O Boletim da Idalina

Idalina é a presidente da Câmara de Nisa. Eleita em Setembro de 2013 com mais quatro candidatos. Destes, além de Idalina, só se conhece “oficiosa e oficialmente”, o vereador Cardoso, do mesmo partido. Só eles têm direito a participar em eventos do Município e, o que é mais estranho, a serem fotografados para os documentos, oficiais, oficiosos ou pessoais, do Município. Há quem jure, aliás, que as máquinas fotográficas da autarquia estão dotadas de um dispositivo tecnológico único, que não permite o registo de mais nenhum rosto a não ser de pessoas conotadas com o partido da roseira brava.
Só assim se explica que o Boletim de Propaganda da Idalina, pago pela Câmara Municipal, tenha 28 fotos da personagem principal (a Câmara de Nisa é um filme dos tenebrosos tempos do MacCartismo) em 48 páginas, e 13 da personagem secundária, para além de outros “intérpretes” não eleitos mas que zelam pela manutenção do clã familiar.
O Boletim, distribuído a granel e em profusão em vésperas do festival pimbólico, é um “monumento” à objectividade e transparência, como a Câmara apregoa. Tão transparente que a ficha técnica mal se vê e omite – talvez por esquecimento, nunca por intenção deliberada – o número de exemplares impressos, ou seja, qual a tiragem da edição. Mas foram muitos, tenho a certeza. De tal maneira que alguns foram atirados por cima das paredes dos quintais. Ai se os CTT descobrem esta forma inovadora e rentável de distribuírem a correspondência!

O conteúdo do livrinho de propaganda também é interessante e dava pano para mangas. O texto sobre a “Transparência municipal” que como sabemos não existe, ocupa quase meia página, mas a Tomada de Posição do executivo sobre a Central Nuclear de Almaraz tem direito a uma referência ligeira e, claro, em apoio do governo “rosa”.
A longa listagem sobre apoios concedidos bem como a das obras feitas é “digna” de um olhar atento. Podia ser ainda mais extensa, pois falta dizer quantas vezes foram limpas as casas de banho, quantos foram os telefonemas efectuados para influenciar este ou aquele concurso ou para saber se fulano ou beltrano dizem bem ou mal da presidente.
Quem é que pode dizer mal de personagem tão querida e importante? Só gente fora do seu juízo normal. Não é permitido nesta “nisadura” dizer o que quer que seja da Câmara e da sua presidente, nem sequer no facebook, onde o controleiro de serviço – qual padre no confessionário – escolhe as boas e más mensagens, como se estas fossem acções e pecados passíveis de condenação no inferno ou no purgatório. Expurgados, “limpos”, apagados, têm sido os meus comentários na página do facebook do município, criada, não para estabelecer contacto com (todos) os munícipes e ajudar a resolver situações, mas para fazer propaganda, quase exclusiva, do dia a dia de sua majestade, a presidente, como se estivéssemos numa monarquia local.
Voltamos ao Boletim da Idalina e apenas para comentar alguns aspectos e desmentir uma afirmação. A presidente continua dominada pelo fantasma do passado, um passado de que ela, queira ou não queira, fez parte, nomeadamente no último mandato, o tal das dívidas astronómicas que ela enquanto vereadora num executivo sem maioria absoluta ajudou a construir.

Refere e cito que “no ano de 2017 há mais investimento no concelho do que o somatório dos últimos 30 anos”. A este respeito, duas questões: Idalina fez parte de dois executivos, ou seja, oito anos de vereação. Podia ter dado uma ajuda, com as suas “mangas arregaçadas” para que o cenário não fosse tão “negro”. O que fez, então?
E por que fala em 30 anos e não em 40, pois são estes os anos do poder local democrático em Portugal? Porque os dois primeiros mandatos foram de maioria socialista (6 anos) e nestes não lhe convém falar, não é?
Quantos destes projectos de investimento não vieram do executivo anterior?
Já se esqueceu do “camarada candidato rosa” que prometeu não sei quantas empresas e empregos se ganhasse as eleições e a primeira coisa que fez, após os resultados eleitorais foi “dar de frosques”, nem se dignando assistir (sempre aprendia alguma coisa) a uma única sessão da Câmara, ocupando o lugar para que foi eleito?
E já agora, porque algumas questões legais e ambientais virão certamente a lume, os 60 milhões de euros que apregoa como investimento, quantos postos de trabalho irão criar?
E quantos de residentes no concelho? Não disse, no empolgado discurso de inauguração da Horticasa que era uma estrutura indispensável e que as pessoas tinham que ir a Portalegre ou Castelo Branco, quando, afinal, ali a dois passos, existe um espaço comercial, de jovens investidores da terra, que comercializa, basicamente, os mesmos produtos?
E que esse espaço comercial e lagar de azeite resultou da falência da Nisacoop? E que foram os sócios da extinta cooperativa Nisacoop que contribuíram, do seu próprio bolso, com importâncias significativas para a construção do lagar? Foram, porventura, ressarcidos das importâncias que pagaram? Como foi possível um processo de insolvência de natureza complexa e com tantos interesses em jogo, ser “resolvido” de forma tão rápida?
Dir-me-á que a Câmara está à margem das iniciativas “particulares” e desses problemas, pelo menos quando convém.

Mas, por acaso, assisti à inauguração do lagar da Nisacoop. O governador-civil, Jaime Estorninho, enalteceu o empreendimento e os seus obreiros, sem grandes triunfalismos e com a simplicidade que o caracteriza. Tal como o fez a presidente da Câmara de então, numa cerimónia simples. Não atacaram ninguém. Não aproveitaram uma circunstância exterior, a inauguração, para fazerem auto-elogio e “disparar” sobre o passado, as dívidas. O tempo dos snipers devia ter acabado na Bósnia. Agora há drones, boletins de propaganda feitos a título pessoal e pagos pelo erário público.
E há um Tribunal de Nisa que foi reaberto, como os restantes do país, graças ao Acordo Pluripartidário firmado pelos 3 partidos da Esquerda. Idalina, cante as canções que quiser, mas nada teve a ver com isto. Questões sérias e de regime não são “xailes bordados”...
Agora, é o boletim que informa, há subsídios a uma colectividade da “cor” no valor de 7.500 euros, enquanto a colectividade mais dinâmica do concelho de Nisa tem que se contentar, tem que pagar a “factura” da sua independência, recebendo metade daquele valor. Não só é vergonhoso, como é imoral e, acima de tudo, mostra o despotismo existente no poder local democrático em Portugal.
As Câmaras Municipais têm direito à sua imagem, a divulgar as iniciativas, os seus projectos, a obra feita, a terem meios de informação e comunicação próprios. Tudo isso é normal, aceitável e democrático.
O que não é democrático é desempenharem estas “funções” à revelia das leis do país, que mandam respeitar os princípios deontológicos da liberdade de informar, nomeadamente o pluralismo, os direitos de oposição e de opinião que assiste aos demais eleitos. A Câmara não é uma pessoa. É composta de cinco eleitos, três dos quais, foram excluídos dos elementares direitos de participação na elaboração de um Boletim que tem no título “Municipal” mas que, em boa verdade, devia ser chamado de Pessoal e Instrumental.
Mário Mendes

NISA: Pensar Abril e o concelho sem o "folclore oficial"


NISA: Torneio da Sueca dos Jogos do AA na sede do Sporting


23.4.17

DEZ POEMAS PARA O 25 DE ABRIL (6)


AO POETA DE ABRIL

Poeta da revolução sem fogo
Que tão cedo nos deixás-te
Teus poemas são do nosso povo
Que em vida nos doás-te

Com um grande“R” de revolução
E com um “D” de democracia
Fizes-te tiro certeiro de canhão
À bojuda pança da burguesia

Com um “A” de amor e de Abril
E um lindo “L” de Liberdade
Denunciàs-te de forma viril
Os grandes tartufos da verdade

Só os caciques dos cacetes
Não gostam dos teus poemas
E nos salões dos palacetes
Falam de novo! Em algemas

Eu, em sonhos e recordações
Passeio-me pela cidade
Fardado de marinheiro

De cravo vermelho e peito nu
Dizendo ao povo verdadeiro
Que gostava de ser poeta como tu

José Hilário

Olival intensivo destrói importante sítio arqueológico no Alentejo

Na área sob influência do Alqueva é cada vez mais difícil conciliar culturas intensivas com a salvaguarda do património.
A preparação de um terreno para plantação de olival super intensivo destruiu, em meados de Março, boa parte de um dos mais importantes “recintos de fossos” da pré-história portuguesa, na freguesia da Salvada, concelho de Beja. Apesar de estar inscrito no Plano Director Municipal (PDM) de Beja como área de sensibilidade arqueológica, este local não se encontra classificado. Na área sob influência do Alqueva é cada vez mais difícil conciliar culturas intensivas com a salvaguarda do património, seja arqueológico ou paisagístico.
Como era costume aos fins-de-semana, J.P. [iniciais de uma testemunha que solicitou o anonimato] fazia uma caminhada pelos arredores da Salvada, seguindo o percurso habitual junto a uma pequena linha de água. Foi então que observou, surpreendido, que “estavam a lascar o terreno” no sítio identificado por “Salvada 10”, onde sabia que se encontravam vestígios arqueológicos, relatou ao PÚBLICO.
Plantar oliveiras sobre um recinto ritual com cinco mil anos
As máquinas “surribavam” (lavra profunda) o solo, para plantar um olival na Herdade Monte da Igreja, deixando expostos materiais arqueológicos. O morador deduziu que certamente “os homens [trabalhadores] desconheciam que o local escondia um grande recFoi precisamente esse conhecimento prévio, adquirido durante uma Caminhada de Cultura organizada pela União de Freguesias de Salvada e Quintos, em Agosto de 2015, que o alertou para as consequências do impacte que estava a ter a “surriba” nos vestígios arqueológicos. Naquele ano, o arqueólogo Miguel Serra conduziu algumas de dezenas de residentes na freguesia ao local para que identificassem um recinto de fossos e a presença de uma grande mancha de materiais pré-históricos.
Foi através dos residentes que Miguel Serra tomou conhecimento e alertou a Direcção Regional de Cultura do Alentejo (DRCA). Nos esclarecimentos prestados ao PÚBLICO, a responsável da DRCA, Ana Paula Amendoeira, diz que os seus serviços enviaram dois arqueólogos e constataram que tinham sido já realizadas “consideráveis movimentações de terras para implantação de sistemas de rega”. A intervenção estendeu-se a uma “vasta área confinante com o limite sudoeste da aldeia da Salvada, afectando a zona onde se implanta o povoado da Salvada 10 (com cerca de 18 hectares), sítio arqueológico referenciado no PDM de Beja, e a necrópole (da Idade do Ferro) Salvada 11”.
A intensa mobilização de solos deixou “visíveis em diversos pontos do terreno, materiais arqueológicos, nomeadamente fragmentos de cerâmica manual”, acrescenta Paula Amendoeira.
Foi precisamente esse conhecimento prévio, adquirido durante uma Caminhada de Cultura organizada pela União de Freguesias de Salvada e Quintos, em Agosto de 2015, que o alertou para as consequências do impacte que estava a ter a “surriba” nos vestígios arqueológicos. Naquele ano, o arqueólogo Miguel Serra conduziu algumas de dezenas de residentes na freguesia ao local para que identificassem um recinto de fossos e a presença de uma grande mancha de materiais pré-históricos.
Foi através dos residentes que Miguel Serra tomou conhecimento e alertou a Direcção Regional de Cultura do Alentejo (DRCA). Nos esclarecimentos prestados ao PÚBLICO, a responsável da DRCA, Ana Paula Amendoeira, diz que os seus serviços enviaram dois arqueólogos e constataram que tinham sido já realizadas “consideráveis movimentações de terras para implantação de sistemas de rega”. A intervenção estendeu-se a uma “vasta área confinante com o limite sudoeste da aldeia da Salvada, afectando a zona onde se implanta o povoado da Salvada 10 (com cerca de 18 hectares), sítio arqueológico referenciado no PDM de Beja, e a necrópole (da Idade do Ferro) Salvada 11”.
A intensa mobilização de solos deixou “visíveis em diversos pontos do terreno, materiais arqueológicos, nomeadamente fragmentos de cerâmica manual”, acrescenta Paula Amendoeira.
Os proprietários foram identificados e notificados pela DRCA para suspender a intervenção para que fosse avaliada “a extensão dos danos e ponderadas as medidas correctivas” com a indicação de que a “inobservância de providências limitativas decretadas constitui crime”. Contudo, Paula Amendoeira refere que desconhece “se os proprietários tinham conhecimento do valor patrimonial da área intervencionada”, referenciado no PDM de Beja com um valor arqueológico elevado.
Nestas circunstâncias, significa que “qualquer tipo de intervenção relacionada com infra-estruturas, incluindo as de rega (...), actividades agrícolas e florestais (...), se implicarem impactos significativos ao nível do subsolo, deve ser precedida de trabalhos arqueológicos de caracterização e diagnóstico”. A directora regional conclui que “não foram nem estão a ser aplicadas as medidas previstas no PDM havendo por isso uma violação do mesmo”.
Contudo, a Câmara de Beja alega que desconhecia a intervenção no Salvada 10. Vítor Picado vice-presidente da autarquia garantiu ao PÚBLICO que os serviços municipais “não receberam qualquer pedido para a plantação do olival nem para a instalação do sistema de rega??.
Face à denúncia, a fiscalização municipal foi enviada e confirmou que o tipo de intervenção observado consumava uma alteração do uso do solo que “não estava de acordo com a planta de ordenamento, naquilo que se refere à plantação de olival intensivo em áreas agro-silvo-pastoris” acrescenta Vítor Picado. Como os trabalhos foram efectuados sobre um sítio arqueológico com grau de protecção elevado, esta condição implica a “obrigatoriedade de acompanhamento arqueológico quando há intervenções no subsolo”.
No entanto, a autarquia, confrontada com os critérios existentes no ordenamento do espaço agrícola e ao tipo de intervenção, concluiu que o agricultor que mobilizou o solo “não necessitava de consultar a Câmara de Beja”. Assim sendo, admite o autarca, a intervenção no sítio arqueológico da Salvada 10 “não poderia ter sido previamente detectada”, acrescentando que o município não tem capacidade para garantir a fiscalização do património em todo o concelho. Mesmo depois de confirmada a infracção, o vice-presidente reconhece que a câmara “não tem competência para exercer as medidas sancionatórias”.
Perante o avolumar de contradições, a comunicação à Direcção Regional de Agricultura do Alentejo aguarda resposta.
Perplexo com a situação ficou, igualmente, Bruno Cantinho sócio gerente da empresa que procedeu à “surriba” no sítio arqueológico da Salvada 10, e que garantiu que foi o PÚBLICO o primeiro a informá-lo de ter colocado máquinas num sítio onde há património arqueológico. “É a primeira vez que alguém me fala que ali havia condicionantes” afiança.
“Fizemos apenas o que a lei nos permite ou seja: para plantar olival não necessitamos de autorização”, até porque o espaço intervencionado “sempre foi trabalhado desde que se faz agricultura no local”, assinala. Mas assegura que a intervenção efectuada na Salvada 10 implicou rasgos na terra que “não ultrapassaram os 30/40 centímetros. Apenas alterámos a morfologia do terreno”, observa.
Sítio protegido pela EDIA é destruído pelo regadio
A Empresa de Desenvolvimento e Infra-Estruturas do Alqueva (EDIA) foi alertada no início da década pelo arqueólogo António Valera para a existência de um importante recinto de fossos junto à freguesia da Salvada, com quase 20 hectares de área. O sítio arqueológico ia ser atravessado pela rede de rega do circuito hidráulico Baleizão-Quintos.
Sensibilizada pela importância do achado, a EDIA alterou o traçado da rede de rega para manter intacto o recinto de fossos da época calcolítica. Decorridos poucos anos, boa parte da estrutura arqueológica foi arrasada pelas máquinas que abriram sulcos no solo para plantar olival superintensivo, alegando o autor da intervenção desconhecer o que ali se encontrava.
Mas não foi por escassez de informação que a destruição do sítio da Salvada 10 aconteceu. As instituições oficiais, Câmara de Beja, Direcção Regional da Cultura do Alentejo e ministérios da Agricultura e do Ambiente, tinham conhecimento do valor do sítio.
Premonitório foi o alerta deixado em 2011 pela Comissão de Avaliação de Impacte Ambiental do Circuito Hidráulico de Baleizão-Quintos que realçava o “grau de destruição observado nos sítios arqueológicos localizados em áreas de olival intensivo, recentemente plantado e recorrendo a métodos que alteram significativamente a morfologia da paisagem bem como a orografia”.
Os técnicos alertaram para a mobilização do solo que iria ocorrer na última etapa de construção para a implementação da rede terciária de rega (que fica a cargo dos proprietários).
Desconhece-se, na sua real dimensão, o que aconteceu ao património arqueológico nos cerca de oito mil hectares de solos agrícolas, no bloco de rega Baleizão-Quintos, onde as equipas do Impacte Ambiental registaram 193 ocorrências de âmbito arqueológico.
O número de registos patrimoniais identificados pelo estudo permitiram constatar a existência de “uma elevada densidade ocupacional na Pré-História e época romana, destacando-se os materiais atribuídos ao Paleolítico, detectados na envolvente da povoação de Salvada, e as vinte villae romanas”.
No Anuário Agrícola publicado pela EDIA, as culturas de olival, vinha e mais diversas árvores de fruto somam, no seu conjunto, quase 40 mil hectares de área de regadio, boa parte delas em áreas de grande importância arqueológica.
O paradoxo é que a EDIA é obrigada a fazer estudos de impacte ambiental (EIA) nas intervenções que faz, mas estes não são impostos quando se surribam centenas e até milhares de hectares para plantar olivais. Este tipo de “operação provoca um nível de mobilização do solo muito mais acentuado do que a instalação da rede de rega do Alqueva”, refere ao PÚBLICO o arqueólogo Miguel Serra.
“Corremos o risco de não ficar com nada para a mostra”, sublinha o investigador, radicado em Beja, frisando que “não se sabe o que aconteceu a centenas de sítios arqueológicos”, dado o vazio legislativo que “impede a intervenção da tutela”, conclui.
Consternado ficou o presidente da União de Juntas de Freguesia de Salvada e Quintos, Sérgio Engana. Pede às entidades competentes para “preservar o que ainda é possível recuperar na Salvada” que a população já via como um meio de fazer “reverter para a comunidade alguma riqueza e conhecimento sobre a sua própria história”.
O PÚBLICO solicitou esclarecimentos ao Ministério da Agricultura, que, até ao fecho desta edição, não respondeu. 
Carlos Dias in "Público" - 23 de abril de 2017