29.11.20

NISA: Eleitos da CDU votam contra as Grandes Opções do Plano e Orçamento do Município para o ano de 2021

O Estatuto do Direito de Oposição, aprovado pela  Lei nº 24/98 de 26 de Maio, baseia-se no princípio constitucional do direito de oposição democrática, constante do artigo 114ª da Constituição da República Portuguesa.
Assim se consagra aos seus titulares o direito à informação, o direito de consulta prévia, o direito de participação e o direito de depor, assegurando  às minorias o direito de constituir e exercer uma oposição democrática aos órgãos das autarquias locais, através do acompanhamento, fiscalização e crítica das orientações políticas prosseguidas pelos mesmos.
Pese embora o estatuído no nº3 do artigo 5º da supracitada Lei, e no quadro do processo de elaboração das Grandes Opções do Plano e Orçamento para o Município de Nisa para o ano de 2021, os Vereadores eleitos pela CDU na Câmara Municipal de Nisa não foram chamados a participar, apesar de terem feito a apresentação e  entrega de propostas na reunião de Câmara de dia 20 de outubro de 2020. No quadro da grave situação económica, social e de saúde pública que o País atravessa e a perspetiva do seu agravamento nos próximos tempos, com reflexo no nosso Concelho, os eleitos da CDU vêem-se confrontados com documentos finais, onde não participaram, sem a possibilidade de uma discussão atempada, sendo imposta a análise e votação através de videoconferência, sem condições técnicas adequadas. A pandemia de Covid-19 não pode ser desculpa para atropelos ao cumprimento da Lei!
Os eleitos da CDU na Câmara Municipal de Nisa afirmam que não se revêem nas opções tomadas pelo executivo PS em maioria para elaboração dos documentos em análise pelo que, na denúncia do mais claro desrespeito pelo cumprimento da Constituição da República Portuguesa, da Lei n.º 24/98 de 26 de maio e da Lei 75/2013 de 12 de setembro, por parte da Presidente da Câmara Municipal de Nisa, votaram CONTRA AS GRANDES OPÇÕES DO PLANO e ORÇAMENTO DA RECEITA E DA  DESPESA DO MUNICÍPIO DE NISA PARA O ANO DE 2021.
Nisa, 24 de novembro de 2020
A Coligação Democrática Unitária

HUMOR EM TEMPO DE CÓLERA

 

O despejo republicano | Cartoon editorial da revista D. - Vasco Gargalo

A MISERICÓRDIA DE NISA NOS 500 ANOS DA SUA FUNDAÇÃO

A Santa Casa da Misericórdia de Nisa foi fundada a 17 de Novembro de 1520 por alvará régio dado em Évora por D. Manuel. 
Do que foi a história desta instituição, damos conta em texto a ser publicado na próxima edição do jornal "Alto Alentejo". A Santa Casa da Misericórdia de Nisa, cinco vezes centenária, celebra esta efeméride num ano atípico, mas sonhos e projectos não faltam aos actuais responsáveis por esta instituição multisecular. O tempo presente é, todavia, cheio de incertezas e de redobrar de cuidados. A preocupação actual, em tempo de pandemia de Covid-19 é com a preservação das condições de saúde e segurança dos utentes e funcionários. 
A Santa Casa da Misericórdia de Nisa completou 500 anos de existência e todos os seus dirigentes e funcionários, actuais e antigos, bem como todos os utentes são merecedores de uma palavra de estímulo e esperança. Melhores dias virão. Parabéns!

OPINIÃO: Mais depressa acaba a democracia do que a Cultura

O setor da Cultura vive uma crise humanitária. A frase é de Pedro Abrunhosa e tem três dias. A crise tem dez meses e não tem solução à vista.
 Já nos terá acontecido a todos desatarmos a chorar pela morte de alguém que só conhecemos do palco ou das páginas dos livros ou de um qualquer monitor. Aconteceu-me com David Bowie (1947-20016), passei o dia inteiro a chorar, entrei numa rotunda contra a mão e só por milagre não fiquei logo ali. Não me aconteceu com Maradona (1960-2020), salvou-me o instinto rápido: "Não vais fazer figuras à frente de toda a gente", pensei. Aconteceu-me com Manuel Hermínio Monteiro (1952-2001), o reinventor da Assírio & Alvim e, para muitos, "o herói dos editores". Nunca me tinha acontecido com uma editora.
 A Cotovia está ligada ao ventilador e vai morrer. O privilégio infinito de ler em português textos dramatúrgicos em que mais ninguém investiu acaba dentro de pouco mais de 72 horas. Acabam os ensaios que nos ajudaram a recentrar o olhar, acabam as descobertas de textos antigos, acaba a familiaridade com autores aos quais não teríamos chegado de outra forma, acabam aquelas edições de uma beleza tão rara no mercado nacional. Às 24 horas do dia 30 de novembro acaba o mundo inteiro que existe dentro daquela editora. Como não chorar?
 Parece diletante esta tristeza no dia em que morreram mais 82 pessoas em Portugal de covid-19, o terceiro pior registo desde que a pandemia apareceu, e em que o Orçamento do Estado para 2021 foi aprovado numa daquelas sessões parlamentares de fazer corar uma pedra inanimada. A versão final da proposta do Governo socialista foi aprovada apenas com os votos... do Partido Socialista. Mas nem é isso que espanta. O que assarapanta é o nível da argumentação, os jogos de salão e a pastilha elástica em que se convertem comportamentos e convicções partidárias. Não se iliba ninguém.
 Falou-se muito esta quarta-feira de manhã, durante o debate, do fim de geringonça, do fim do Governo, do fim antecipado da legislatura. Mas bastaria assistir a meia hora daquele palratório para perceber que o fim mais iminente é mesmo o da democracia. E também isso dá vontade de chorar. No caso da democracia, essa senhora cada vez mais mal tratada, como no caso de todos os outros nossos heróis, nunca se chora tanto o passado perdido como o futuro roubado.
 É o futuro e não o passado que mais dói hoje na Cultura.
 A Cultura está a passar fome. São tantas as pessoas que habitam dentro desta outra senhora, que o sistema nem nomes encontrou para elas, colocando-as automaticamente em terra de ninguém. A maioria, Governo incluído, continua a assobiar para o lado (nunca os cheques - são magros, mas nem que fossem gordos - poderão substituir o pensamento e sem pensamento não há soluções eficazes nem duradouras), as Fundações - repetiremos as vezes que for necessário os casos de Serralves e da Casa da Música - continuam a despedir à frente de toda a gente sem que gente alguma pareça verdadeiramente incomodar-se, os artistas hibernaram para dieta de duração incerta, as salas tombam uma a uma.
Mas a Cultura é talvez a única senhora do mundo que sobreviveu a tudo, a regimes impróprios, a ditadores, a revoluções, a depressões. A maioria de nós deve-lhe mais do que pensa. Por isso, talvez seja altura de resgatar o repto que John F. Kennedy lançou aos americanos nos anos 60 do século passado e adaptá-lo à Cultura: Não perguntes o que pode a Cultura fazer por ti, pergunta o que podes tu fazer pela Cultura. Por quem depende dela.
 Helena Teixeira da Silva - Jornal de Notícias - 26/11/202

ALTER DO CHÃO: Centenário do Escritor e Professor Egídio Namorado.

EGÍDIO NAMORADO, Escritor e Professor, nasceu em Alter do Chão, a 27-11-1920, e faleceu em Carcavelos (Cascais), em 1976. Estudou nos Liceus de Mouzinho da Silveira, em Portalegre, e de José Falcão, em Coimbra, onde se licenciou em Ciências Físico-Químicas na Faculdade de Ciências, em 1945. Era irmão de Joaquim Namorado e foi casado com Maria Lúcia Ramos Frutuoso Namorado
Irmão de Joaquim Namorado, pertenceu ao grupo fundador da revista Vértice, de Coimbra, e ocupou um lugar de relevo no pensamento marxista em Portugal. Impedido de seguir uma carreira universitária, para a qual havia sido convidado por Mário Silva, assim como de aceitar uma bolsa em Inglaterra, dedica-se ao ensino particular, dando lições na sua residência durante cerca de duas décadas. Estreou-se com o ensaio A Escola de Viena e alguns Problemas de Conhecimento, 1945. No final da década de sessenta fixou-se em Lisboa, com dificuldades de adaptação, onde foi Subdirector e depois Director do Centro de Cálculo Científico da Fundação Calouste Gulbenkian. Deixou inéditos estudos sobre Física. Traduziu Sobre a Constituição de Átomos e Moléculas, de Niels Bohr, e Física Atómica, de Max Born. Colaborou em Sol Nascente, O Diabo e Seara Nova.
Foi também um dos fundadores da Sociedade Portuguesa de Autores, a cuja direcção pertenceu.
Obras principais: A Escola de Viena e alguns Problemas de Conhecimento, (1945); Ponto de Vista, (1958); Uma Hipótese sobre a Propagação das Ondas Electromagnéticas no Vazio, (s/d); Camões e o Pensamento Filosófico do Seu Tempo (em colaboração com Luís de Sousa Rebelo, Roger M. Walker e João Mendes), (1979).

Fonte:
“Dicionário Cronológico de Autores Portugueses”, (Vol. V, Publicações Europa América)

VILA VELHA DE RÓDÃO: Crianças criaram estendal para celebrar os seus direitos

De forma a assinalar o Dia Universal dos Direitos da Criança e o aniversário da Convenção sobre os Direitos da Criança, que se celebram a 20 de novembro, o Município de Vila Velha de Rodão, em associação com a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens e o CLDS 4G de Vila Velha de Ródão, um projeto cofinanciado pelo Fundo Social Europeu, promoveram diversas atividades lúdicas junto dos alunos de ensino Pré-Escolar e do 1.º e 2.º ciclo do Agrupamento de Escolas de Vila Velha de Rodão.
Inseridas na campanha nacional “Estendal dos Direitos” e adaptadas à idade de cada público alvo, as atividades desenvolvidas procuraram proporcionar aos mais novos um dia divertido, mas com uma mensagem séria, sensibilizando-os e elucidando-os sobre os Direitos da Criança através da exposição de mensagens sobre a sua importância.
Assim, se ao nível do Pré-Escolar as crianças visualizaram várias imagens de forma a distinguir os direitos dos desejos através de um jogo e decoraram um mural, ao nível do 1.º ciclo e 2.º ciclo puderam decorar peças de roupa recortadas em material reciclado com um direito à escolha da criança, que foram posteriormente afixadas de modo a criar um "Estendal dos Direitos".
Estas atividades resultaram de uma parceria entre o Município de Vila Velha de Rodão, o CLDS 4G e a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens de Vila Velha de Ródão, e tiveram o apoio do Agrupamento de Escolas de Vila Velha de Ródão, que disponibilizou as instalações para a realização das atividades, uma vez que foram executadas durante o horário escolar.

28.11.20

COISAS DA CORTE DAS AREIAS (7) - Nada como Antes

Sofrem os ventos, vão mudando os tempos, se para melhor ou pior o futuro o dirá, se é que não o vai dizendo já.
Praticassem os cidadãos do concelho de Nisa o seu direito de cidadania, fossem eles mais participativos, mais exigentes, por certo mais ouvidos e respeitados seriam.
Assim, mais não lhes resta que assistir ao envio para o “gavetão das calendas” das pequenas obras sonhadas, necessárias, pouco dispendiosas, mas importantes para o desenvolvimento económico tão referenciado.
Na obra feita ou “requalificada” como é moda referir, nem sequer são capazes ou não querem, respeitar o passado, a memória das coisas e das pessoas, abusando de um poder não concedido mas exercido sem consulta alguma a um qualquer indígena natural do concelho.
Verdadeiramente, “muita” coisa tem mudado: mudam-se os símbolos, os nomes às coisas, os logótipos, as datas, a “residência” ao património, etc., etc., em obediência a vontades extravagantes cujo desígnio até parece ser “nada como antes”.
O húmus da nossa terra favorece o crescimento, como se cogumelos fossem, das obras ditas “requalificadas”, muitas delas sem sentido e que nos vão deixando mais pobres, em termos de património e memória.
Mas, porquê, esta febre de “requalificar”, a maior parte das vezes, a obra altamente qualificada, distinta?
Será que Nisa teve foi o azar com os distintos qualificadores que aqui “assentaram praça”, fazendo a recruta?
Por agora, um só exemplo, o jardim.
A história se fará mais tarde. Para já, o “Jardim Romântico”, uma “primorosa realização do paisagista Jacinto de Matos, do Porto (1932)” como refere o prof. José Francisco Figueiredo na Monografia de que é autor, não existe mais.
Restam, ao menos, as centenas de fotos feitas enquanto o Jardim viveu, mostrando as suas oito lindas floreiras, as três originais escadarias de granito, os diversos candeeiros de ferro fundido com destaque para os quatro do corredor central, únicos, de dois braços.
O actual separador de espaços entre o jardim e o parque de estacionamento, será, agora, porventura, mais bonito que o gradeamento de ferro forjado quase centenário (1911) que lá residia, expondo lindas flores? O Coreto é mais belo, assim, despojado das plantas que o adornavam na base, agora nua? Até o lago, o saudoso “repuxo” que nunca foi uma maravilha de beleza, mas nada ficava a dever àquela “fonte cascata”, nada original, pois é cópia de outras por aí plantadas e contestadas noutros lugares, como a que vimos em Tavira.
Do “jardim romântico”, destruído, pouco resta. Fosse a responsabilidade somente dos arquitectos, como agora fazem crer para “sacudirem a água do capote” e nós lhes daríamos um conselho, usando expressão popular, só que a responsabilidade maior nem foi deles...
Enfim, “nada como antes” e vai de apagar as memórias.
“Património, Herança e memória – A Cultura como Criação”, é o título de um livro de Guilherme de Oliveira Martins (1).
Memória tão invocada e maltratada pelos possuidores de “memória de grilo” que por aqui se passeiam, que mais não fazem que induzir-nos ao esquecimento enquanto munícipes desta nossa “Corte das Areias”, do que resultará a verdade inserida nas frases do autor da obra referida: “Um povo sem memória suicida-se, deixa-se dissolver na uniformidade”.
Os nisenses de hoje, com algumas excepções, reconhecem que “uniformidade” é vírus que grassa em Nisa, trazido de fora.
O nosso Rossio tinha ou não particularidades únicas? E, agora? Bem, agora, tem a “fonte cascata” cuja mãe reside no Algarve. Tem “bolinhas” de pó de pedra amassada na Alameda, irmãs gémeas das que “vivem” em Ovar e em Setúbal. E tem aqueles banquinhos da mesma massa e cor, que infestam tudo quanto é sítio.
É um regalo. Mas, nem tudo é mau. Não tarda muito vai haver “encenação histórica” com a chegada a Nisa da “Valquíria Escandinava”, figura mitológica, virgem.
Ao outro, ao nosso “mítico” e universal Navegador, Vasco da Gama, alcaide-mor de Nisa e que aqui residiu, foi-lhe prestada “homenagem” bem mais triste, vergonhosa.
A lápide celebrando a sua memória e a ligação a Nisa, exposta frente ao castelo, sua residência, foi arrancada pelo executivo camarário em 10/12/2003 e baldeada para o “Curral da Adua” onde jaz, dizem.
Razão tem o dr. Guilherme de Oliveira Martins: “um povo sem memória, suicida-se; o excesso de memória leva à vingança; a ausência de memória conduz à anomia.”
Penitencie-se quem o entender!
- João Francisco Lopes
(1) – Foi Deputado na Assembleia da República; ministro da Educação, das Finanças e da Presidência. Actualmente é presidente do Tribunal de Contas e do Centro Nacional de Cultura.

V Encontro Internacional de Piano de Sardoal - Categoria Duo

 


27.11.20

A MORTE DE ANTÓNIO PARALTA FIGUEIREDO: Um nisense e cirurgião de elevado gabarito humano

Faleceu no princípio de Novembro, vítima da pandemia, o Dr. António Ribeiro Paralta Figueiredo, destacado médico e cirurgião, um dos pioneiros da cirurgia reconstrutiva em Portugal, com elevado desempenho a nível militar, mormente nos tempos de brasa da guerra colonial. No texto que segue, evocamos o homem, o médico e o ilustre cidadão nisense, com uma carreira militar e profissional que o colocam, sem favor, entre as figuras gradas de Nisa e do país. O texto tem por base uma entrevista que concedeu ao "Jornal de Nisa" em Junho de 2003, no seu consultório, em Lisboa.
É daquelas pessoas que não renega as origens, bem vincadas até no sotaque que não procura dissimular. Nascido em Nisa, o Dr. António Paralta Figueiredo, é um médico prestigiado em todo o país e do seu trabalho como cirurgião militar e civil, falam as inúmeras pessoas feridas com gravidade durante a guerra colonial. A introdução e o desenvolvimento da cirurgia reconstrutiva (plástica) em Portugal muito deve ao trabalho deste médico, por força da "necessidade que aguça o engenho", mas, sobretudo, pela determinação com que "agarrou esta especialidade.
Na entrevista, António Paralta Figueiredo falou-me das origens e das recordações de Nisa, onde nasceu e residiu até aos 12 anos. Confessou-me que, movido pela saudade, de quando em vez ia a Nisa, sozinho, para passear pelos sítios onde brincava na infância ou para percorrer locais mais íngremes e isolados, onde se deslocava com amigos, para caçar. Era uma espécie de intróito, o tempo feliz, para preparar a "viagem" até Angola onde cumpriu duas comissões de serviço militar, a primeira em 1962, que o puseram em contacto com o cenário de guerra e uma ex-colónia onde, a nível de saúde, faltava de tudo. " A nossa formação prática, quando acabamos o curso, é muito pouca e nós éramos colocados, "empurrados" para aqueles sítios, onde tínhamos que resolver os problemas todos, desde fracturas a doenças gravíssimas e depois no Leste, partos, por exemplo. Tinha a meu cargo todo aquele sector, tanto militar como civil e era um problema quando me aparecia destes (partos). A gente não sabia, tínhamos pouca formação e à custa de livros, de irmos estudando, tentávamos dar resposta ao que aparecia, problemas muito variados. Em 1961, quem é que sabia o que era medicina tropical, ou o que eram os paludismos e outras semelhantes? As doenças estavam lá, era preciso actuar e nós tínhamos que aprender."
O "teatro de guerra" despertou e consciencializou o jovem médico para as necessidades sentidas nessa especialidade, a cirurgia reconstrutiva.
"A guerra teve um bocado a ver, mas a ideia da cirurgia plástica desde sempre se manifestou, por um lado porque havia  necessidade, principalmente no que toca à cirurgia reconstrutiva, que era uma coisa brutal, pois nós recebíamos aqui no Hospital Militar todos os mutilados, todos os queimados, todos os amputados da Guerra do Ultramar dos três "teatros de operações". Isso estimulou-me bastante."
Perguntei-lhe que "sendo cirurgião que actua quase sempre no limite e lidando com situações extremas, deve, como médico, ser um paladino da esperança. Quando as coisas não correm tão bem, como é que essas situações mexem consigo?". Era uma questão quase invasiva da esfera privada, mas o Dr. António Paralta não "chutou" para longe, a pergunta.
"As pessoas podem pensar que os cirurgiões lidam com tantas situações, algumas no limite, situações muito graves que a certa altura tanto faz, endurecemos e não nos afecta absolutamente nada. Nada menos exacto do que isso. Situações como a de um jovem que teve um acidente e corre o risco de ver a perna ou o braço amputado, essas situações tiram-nos muitas noites de sono. Situações dessas - e eu tive muitas, principalmente, a nível militar - mexiam connosco. Veja o que é vermos gente nova, na flor da idade, indivíduos absolutamente estropiados, sem olhos, sem pernas, sem braços e nós tínhamos que tentar, que fazer alguma coisa. E às vezes faziam-se coisas que, esteticamente, até eram lindas. Imagine o que é um indivíduo levar um tiro na cara, ficar com a face desfeita e nós, depois de muitas operações, fazemos-lhe um nariz, uma boca, umas cavidades oculares. São resultados muito bons, esteticamente. Funcionalmente, nem tanto..."
A "outra face" da moeda, a do reconhecimento. Perguntei-lhe: "sente-se reconfortado quando alguém tratado por si, há anos, se lhe dirige?
"Com certeza e tem muito a ver com o que disse atrás. Nós recordamos pessoas e situações que tratámos há 10, 20, 30 anos. Tem acontecido muitas vezes estar a ver televisão, aparecerem deficientes das Forças Armadas e reconheço muitos deles. Grande parte passaram pelas minhas mãos. É uma grande compensação que nós temos, não é material, mas é muito gratificante."
Pergunto-lhe, por último:  a guerra colonial foi a grande responsável pelo aparecimento deste tipo de cirurgia?
"Na verdade este tipo de cirurgia foi um trabalho  exaustivo que nós tivemos durante aqueles 14/15 anos e que nos deram uma formação técnica como não havia mais ninguém que tivesse. Os cirurgiões plásticos do Hospital Militar dessa altura tinham uma formação técnica como não havia mais ninguém que tivesse. E, sabe, as guerras sempre tiveram uma grande contribuição para o desenvolvimento da medicina e principalmente na cirurgia. Grande parte das descobertas cirúrgicas e das modificações técnicas neste campo foram consequências da guerra."
Não esqueço esta nossa conversa, num dia de Junho no consultório da Avenida Marquês de Tomar. Voltámos a encontrar-nos três anos mais tarde, em 2006, em Nisa, por ocasião da homenagem ao seu avô, Professor José Francisco Figueiredo, a pretexto do 50º aniversário da edição do livro "Monografia da Notável Vila de Nisa".
António Ribeiro Paralta Figueiredo, nisense, médico notável, humanista, faleceu no início de Novembro e este texto mais não é do que singela homenagem ao seu profícuo labor em favor da medicina e dos homens que, como eu, demandaram terras africanas numa guerra que, ainda hoje, perdura na memória de tanta gente. A toda a família deste ilustre nisense, apresento as minhas sentidas condolências. 
António Paralta Figueiredo: Uma vida militar e profissional intensa 
1936 – Nasce em Nisa a 2 de Janeiro
1946 – Ingressou no colégio em Nisa, seguindo a sua instrução no liceu de Portalegre, terminando o liceu em Castelo Branco
1953 – Ingressou na faculdade de Medicina em Coimbra, transferindo-se no 4º ano para Lisboa
1961 – Licenciatura em Medicina na faculdade de Medicina de Lisboa
1962 – Embarcado na 1ª Comissão do Ultramar em Angola
1963 – Inicia funções como médico operacional na Escola Prática de Engenharia em Tancos
1964 – Estágio de CPRE no Hospital Militar principal e de Cirurgia Geral nos Hospitais Civis de Lisboa
1966 – Internato geral nos Hospitais Civis de Lisboa
1968 – Internato Complementar de Cirurgia nos Hospitais Civis de Lisboa
1970 - Embarcado na 2ª Comissão do Ultramar em Angola, iniciando funções como Chefe do serviço de Saúde Militar e no Hospital Militar de Luanda
1971 – Estágio em clínicas de CPRE na República da África do Sul
1972 – Interno do internato de Pediatria Cirúrgica nos Hospitais Civis de Lisboa
1972 – Especialista em CPRE pela Ordem dos Médicos aprovado por unanimidade
1973 – Exame final do internato em CPRE – classificação: Muito Bom
1974 – Exame final do internato em Pediatria Cirúrgica – classificação: Muito Bom
1974 – Chefe de Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital Militar Principal
1975 – Especialista em CPRE dos Hospitais Civis de Lisboa – Classificação: 17 valores - 2º lugar
1976 - Júri de exames finais de internato em CPRE
1978 – Membro do Colégio de Especialistas de CPRE da Ordem dos Médicos
Décadas 80-90 - Frequentou o Curso dos Altos Estudos Militares, sendo promovido a Tenente-Coronel e posteriormente a Major-General. Desempenhou funções como Director da Casa de Saúde da Família Militar, Director do Hospital Militar de Doenças Infecto-contagiosas em Belém, Director do Hospital Militar Principal e Director Geral dos Serviços de Saúde do Exército.

Mário Mendes in "Alto Alentejo - 25/11/2020

HUMOR EM TEMPO DE CÓLERA

 

Mão de Deus | Maradona (1960-2020) - Cartoon de Vasco Gargalo


25.11.20

ÉVORA: Exposição "Aquecimento global"

 

Exposição Aquecimento Global
Júlio Quirino | GLOBAL WARMING | Exhibition
Horário: 09h30 - 17h30
Até 30 novembro
Localização: Átrio da Câmara Municipal de Évora
AQUECIMENTO GLOBAL 
Um aquecimento global do clima terrestre terá como consequência inevitável uma elevação do nível dos mares, devido ao efeito de estufa antrópico. Uma fusão total dos gelos terrestres faria com que o nível do mar subisse 80 metros, dos quais 70 viriam apenas da calota do Antártico. Imaginar Évora submersa, com o seu monumento mais icónico, o Templo Romano, debaixo de dezenas de metros de água do mar, pode parecer absurdo. Mas mais absurdo é não fazermos nada para evitar que tal cenário venha a ser uma realidade num futuro não muito distante. Cabe a cada um de nós a responsabilidade de colaborar para que isso não aconteça, porque o Aquecimento Global não se pára por decreto.
Contacto: juliojaimequirino@gmail.com
Organização: Câmara Municipal de Évora
Observações: Pintura em acrílico, Painel Multi-tela com 1,60m x 2,40m

OPINIÃO: Não ignorem a realidade

A Rádio Portalegre completou, no passado dia 9 de novembro, 31 anos. Trata-se de uma cooperativa que conseguiu ultrapassar as dificuldades inerentes a este setor, ainda mais notável, numa região deprimida e abandonada pelo poder central e que, alcançou o brilhante palmarés de ser a rádio regional mais ouvida a sul do país.
Para isso, foram necessários os esforços e a competência de dirigentes e profissionais, que construíram esta grande rádio, com o apoio, também, de vários colaboradores amadores. O serviço que esta rádio presta é inestimável, passando pela informação, cultura, desporto e com uma enorme importância no campo social. Muitas vezes, pude constatar publicamente, o carinho que os ouvintes têm por esta Rádio e pelos seus profissionais.
A minha relação com a Rádio Portalegre, começou por entrevistas de cariz político, participei em debates e até hoje, colaboro no programa “Desabafos”, dando sempre o melhor de mim. Sinto o peso da responsabilidade, de estar ao melhor nível, a cada crónica que faço com muito gosto e com o desejo de que a minha mensagem seja útil. Sou abordado diversas vezes sobre o que digo e isso aumenta a minha motivação.
Para tal, também recorro muitas vezes aos conhecimentos de figuras notáveis, como fiz na última crónica, nomeando o pai da psicanálise, Sigmund Freud (1856 – 1939), na importância da comparação e, o grande matemático Augustus De Morgan (1806-1871), a propósito da lógica e a negação da negação. Esta semana (quinta-feira /19-11-2020), celebrou-se o Dia Mundial da Filosofia e a propósito recordo que, também me servi para as minhas crónicas, dos ensinamentos que obtive de alguns destacados filósofos.
Platão (428 a.C. - 348 a.C.), que é considerado o pai da filosofia política ocidental, sabia que, através das ilusões e sem princípios filosóficos fortes, pessoas com poder, podem manipular a humanidade. Por isso, é conhecido o pensamento de Platão que demonstra que aqueles que não gostam da política, acabam por serem governados pelos que gostam.
Do filósofo Emmanuel Kant (1724-1804), referi, a importância que atribuiu à ética, transposta por mim, para o negócio inadmissível com o sangue e os seus derivados. Não escondo a minha admiração já manifestada na escrita e publicamente, sobre Bertrand Russell (1872-1970), um filósofo ativista, que foi preso por atividades pacifistas e, de quem os ingleses deviam tirar ensinamentos, para perceberem a loucura do Brexit. Este nobel da literatura, que defendeu a emancipação feminina e a democratização da coragem, não deixou de elogiar as corajosas sufragistas, que conquistaram o direito de voto para se poderem defender.
Também não posso deixar de nomear o grande filósofo Karl Marx (1818-1883) com muita influência nos princípios que defendo. Considero-me marxista, porque percebo a defesa dos valores humanísticos e ambientais desse pensador, que no século XIX já apontava o caminho para a salvação do planeta e da humanidade. Marx afirmou que, “Os filósofos se limitaram a interpretar o mundo de diversas maneiras; o que importa é modificá-lo.”[1] Infelizmente, o lucro, a ganância, a intolerância e a estupidez, falam mais alto e arrastam multidões…
Aquilo a que assistimos vai no sentido inverso do que defende o Utilitarismo[2], uma corrente filosófica que defende a procura da maior quantidade de bem-estar. Seria importante que as pessoas adotassem uma postura de reflexão, porque como defendeu René Descartes (1596-1650), “Viver sem filosofar é o que se chama ter os olhos fechados sem nunca os haver tentado abrir.”
É por isso que a informação tem muita importância e é também por isso, que a democracia é deveras importante, sem termos receio de pagar o seu custo; pagarmos o preço de uma ditadura já nos saiu muito caro e resultou num país analfabeto e atrasado, que só a revolução dos cravos conseguiu inverter. A maior inversão foi a do conhecimento, o acesso à cultura e a liberdade de podermos ler todos os filósofos, escritores, ouvir todos os cantores e podermos gritar que somos livres.
Nesta altura de pandemia, parece que a razão, o bom-senso e a consciência foram substituídos pela paranóia covid e não há filósofos que cheguem para alertar: Reflitam e pensem bem no que está a acontecer, não ignorem a realidade.

Paulo Cardoso - in Programa "Desabafos" / Rádio Portalegre - 20/11/2020


"Tenda dos Afectos" devolve sorrisos e esperança aos utentes da Misericórdia de Nisa

Os utentes da Santa Casa da Misericórdia de Nisa têm agora motivos para sorrir, vendo cada vez mais perto, a possibilidade de voltarem a abraçar e tocar os seus familiares.
De acordo com a informação disponibilizada na página oficial de facebook da Instituição, as visitas efectuadas aos utentes da Misericórdia de Nisa, vão ter agora uma nova dimensão.
Segundo avança a Instituição, ao fim de quase 9 meses , os seus  Utentes poderão voltar a ABRAÇAR os seus Familiares através da Tenda dos Afectos, um espaço onde se cumprem as regras de higiene e distanciamento mas onde vai também ser possível encontrar a esperança e o conforto da família e dos actos.

24.11.20

ÉVORA: Cordão Humano lembra a Violência contra as Mulheres

 

O Núcleo de Portalegre do Movimento Democrático de Mulheres (MDM) estará presente na próxima quarta-feira, dia 25 de Novembro, no cordão humano que se realizará entre o IEFP e o templo romano de Évora às 16h00. Esta será uma iniciativa conjunta dos núcleos de Évora, Montemor-o-Novo, Portalegre e Beja realizada em parceria com as uniões de sindicatos dos três distritos do Alentejo, e que terá como objectivo assinalar o Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres.Todas as evidências apontam para o aumento da violência contra as mulheres, incluindo a violação, exploração sexual, prostituição, tráfico humano e também a violência doméstica (recorde-se que em 2019 foram assassinadas 30 mulheres). É também sabido que a actual crise epidémica tem tido consequências terríveis na vida das mulheres, nomeadamente a nível laboral, como é visível no aumento do desemprego e na diminuição do rendimento.
São estas as razões que nos levaram a tomar a decisão de assinalar este dia nas ruas, ainda que de forma simbólica, cumprindo todas as recomendações da DGS. Porque acreditamos que é urgente sensibilizar as populações para a necessidade de combater todas as formas de violência, seja ela física, psicológica, sexual ou financeira, ocorra ela em contexto doméstico ou laboral.

Academia Sénior de Vila Velha de Ródão em Movimento

Seguindo as recomendações da Direção Geral de  Saúde, a Academia Sénior de Vila Velha de Ródão decidiu não retomar a  realização de aulas presenciais até ao final de 2020, uma medida ponderada  tendo em vista a proteção dos nossos alunos e do corpo docente. 
Ainda assim, a Academia Sénior de Vila Velha de Ródão vai estar em  MOVIMENTO e pretende levar até à porta de cada um atividades, desafios e  carinho. Assim, nas segundas e quartas-feiras vamos efetuar visitas ao domicílio  dos nossos alunos, de modo a, ainda que por breves instantes e em segurança, possamos conviver e partilhar tristezas e alegrias. 
Para os que gostam de desafios cibernéticos e querem melhorar  competências, sugerimos a frequência das oficinas temáticas da Rede de  Universidades Seniores (RUTIS). A participação é gratuita, sem necessidade de  inscrição, neste link: https://us02web.zoom.us/j/83572560410. A identificação da  reunião é: 835 7256 0410 e a senha de acesso: 00.  
No dia 30 de novembro, das 11h00 às 12h30, é abordado o tema ferramentas  digitais para melhorar a educação online; no dia 7 de dezembro, às 11h00, é a  vez de explorar a utilização da plataforma Classroom. 
A pandemia obriga a que, neste momento, a articulação com o Centro  Municipal de Cultura e Desenvolvimento, em estreita colaboração com o  Município de Vila Velha de Ródão, assuma moldes diferentes, adaptados à atual  situação, mas não deixaremos de estar mais próximo e disponíveis para cada  um. O contacto regular vai-se manter, para que juntos possamos estar todos  bem, ativos e felizes. 
Relembramos também que continuam ativas as Linhas de apoio do Município  de Vila Velha de Ródão para a aquisição de medicamentos e bens de primeira  necessidade - 300 044 300 e 300 044 333 –, disponíveis de segunda a sexta feira, entre as 9h00 e as 17h00, e a Linha de Apoio Psicológico – 300 044 301 - que funciona de segunda a sexta-feira, entre as 15h00 e as 18h00. Em caso de  sintomas deve ser utilizada a Linha SNS 24 – 808 24 24 24 – e seguidas as  indicações dadas. 
Por fim, neste momento menos fácil, em que vivemos, é importante ter  comportamentos prudentes como o uso de máscara, a higienização frequente  das mãos, o respeito pela distância de segurança e pela etiqueta respiratória. Só  assim será possível proteger a saúde de todos. 

COISAS DA CORTE DAS AREIAS (6) - Um texto (quase) poético sobre o Rossio de Nisa

Mar de rosas para os autores da “requalificação” encomendada, por certo transpirando felicidade, eles e os patrões, pelo bom êxito da obra que “eles” consideram uma maravilha.
Um mar não de flores mas de pedra para fruir, mar sem praia, sem areia, mar onde as ondas de cimento e pedra são inertes, por ali passando a vida sugando o espaço.
Ocidental praça de plátanos, ali, plantados, no alvorecer da República, vão 100 anos (1).
Sofrem hoje os plátanos, temendo sentença tipo jacarandás do Boqueirão e afins, castigo supremo pela agressividade geradora de alergias, patranhas não tratadas, é só pedir e “vão à vida, os plátanos.
Lindo Rossio o “nosso, não voado por gaivotas, mas ainda assim passeado. Aqui, os canídeos sem família passeiam e saúdam-se, demarcam o território, alçando a perna vertendo, ladram, lutam, coçam e sacodem as pulgas, ensaiam a tradicional meia volta e, volta e meia dormem.
Cantam as aves, o murmúrio das águas pingando do ferrugento fole harmónico, plantado a norte, faz-se ouvir. Um espectáculo...
Patina-se, pedala-se, joga-se à bola, divertem-se as crianças, desfilam elegantes e jovens modelos, pombos e rolas esvoaceiam, brincam e namoram os indígenas cá do sítio, de pé ou de bicicleta passeiam, vão caindo nas banheiras sem protecção, que os aleijam. Outros há que aqui e ali tropeçam nos “lindos” e apodrecidos estrados de madeira ou na irregular e indecorosa calçada importada, onde o trambolhão acontece e a fractura aparece.
Autocarros repletos de turistas é vê-los chegar, olhar e partir, não são bem-vindos, não há “sala de recepção” para os atender, orientar, granjeando algo de útil para a nossa terra.
Pardais saltitam, pintassilgos banham-se e fazem amor, cegonhas cruzam fronteiras, vão e vêm, matraqueiam, vão ao restaurante. Brancas corujas caçam na noite escura.
A Fonte? A fonte lá está, escondida e envergonhada, desprezada, decadente, semi-afundada, colunas remendadas, tubaria de “metal amarelo” unindo-as em falta, corpo superior da fonte montado contra natura. Bonito trabalho... Não haverá, por aí, que se envergonhe?
O Eucalipto vai definhando. Era de prever após o corte assassino das grossas raízes voltadas a sul e a ponte. O Coreto, outrora de verde vestido, exibe agora o cinzentismo do espaço que o rodeia; os idosos por ali sentado ou passeando, vão “desaparecendo”, consumidos também pela saudade das “três cómodas e elegantes escadas de cantaria” (2) que lhes roubaram por capricho.
Saudade, também, do não menos bonito e útil gradeamento forjado que destruíram, invocando parvoeiras razões, ambas as peças ali inseridas, no jardim, vão 100 anos (1911).
Saudade, ainda, das oito belas e elegantes floreiras, destruídas por gente insensível que adora o conflito e despreza o consenso.
“Nada como antes”, foi o brado de guerra que frutificou após 2002, de que resultou ter ficado o nosso “Jardim Romântico”, vítima de “requalificação” sem sentido, mutilado, menos lindo, mais despido, mais pequeno e nada romântico.
Do Jardim antigo, “primorosa realização do paisagista Jacinto de Matos, do Porto” (3), nada resta.
Mas há que perdoar estes crimes de lesa património, pois, como muito bem disse o Mestre: “Perdoai-lhes, senhor, que eles não sabem o que fazem!”.
João Francisco Lopes

Notas
(1) – Monografia da Notável Vila de Nisa – José Francisco Figueiredo
(2) – Idem
(3) - ibidem


NISA: Covid-19 - Concelho em Risco Muito Elevado - Medidas entraram em vigor, hoje, dia 24 Novembro

 


23.11.20

OPINIÃO: Violência Doméstica

 

Em 2020 foram assassinadas 30 mulheres: 16 em relações de intimidade
Dados do Observatório de Mulheres Assassinadas recolhidos a partir das notícias reportadas nos media. Em 10 dos 16 femicídios havia sinais de violência. Desde 2004 já foram assassinadas 564 mulheres.
Em 2020 foram assassinadas 30 mulheres, 16 delas em contexto de relações de intimidade: as contas foram feitas pelo Observatório de Mulheres Assassinadas (OMA), da União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), a partir das notícias reportadas nos media​ entre 1 de Janeiro e 15 de Novembro.
De acordo com os dados, em 63% dos femicídios já havia violência prévia e em 80% essa violência era mesmo conhecida de outras pessoas; em 40% tinha havido ameaça de morte, a mesma percentagem de casos em que se registaram denúncias anteriores, uma tendência que se repete anualmente. Daí a importância “de se levar em conta os sinais de alerta”, disse Camila Iglesias, uma das investigadoras do OMA que apresentou os dados na manhã desta segunda-feira numa conferência via Zoom.
Se os femicídios em contexto de intimidade, em específico, diminuíram em relação ao período homólogo do ano passado — desceram de 21 em 2019 para 16 em 2020 —, já as tentativas de femicídio no mesmo contexto aumentaram de 24 para 43, segundo dados do OMA. No ano passado houve 28 mulheres mortas e 27 tentativas de homicídio em contexto de relações de intimidade e familiares e duas noutros contextos (num total de 30 mulheres assassinadas).
O mês de Novembro ainda não terminou e já tem os piores números, com três femicídios, referiu. “Não podemos dizer que a pandemia afectou os nossos dados. O que podemos dizer é que a pandemia torna a convivência mais difícil”, afirmou Cátia Pontedeira, do OMA.
“Os femicídios têm uma motivação de género que não podemos ignorar”, sublinhou ainda. Os dados desde 2004 são expressivos e levam a investigadora a afirmar que são preocupantes: 564 mulheres foram mortas em contexto de violência doméstica e houve 663 tentativas de femicídio.
Especificando os dados de 2020: em dois dos 16 femicídios havia a presença de crianças durante o crime, em dez deles o homem e a mulher tinham filhos em comum. No total, 21 filhos ficaram órfãos em consequência dos femicídios. Nove dos assassínios aconteceram enquanto o casal ainda estava em relação, seis depois de as relações terminarem e um numa relação pretendida. Em oito casos, as notícias diziam que as mulheres tentaram separar-se ou separaram-se do homicida antes de serem assassinadas.
Contexto familiar contabiliza 12 femicídios
Já em relação à idade das vítimas, a maioria tinha entre 36 e 50 anos; metade das mulheres estava empregada. Os homicidas tinham mais de 36 anos, e só 35% é que estavam empregados (mas para 47% dos casos não se sabe a situação laboral). Segundo os dados, o crime ocorreu na residência conjunta em 44% das situações, ou na residência da vítima em 25%; houve ainda crimes cometidos no local de trabalho ou na via pública (um em cada uma destas situações). Em sete casos foi usada uma arma de fogo e em quatro uma arma branca; houve dois casos em que a vítima foi asfixiada. Cinco dos homicidas suicidaram-se depois do crime, outros três tentaram fazê-lo. 
Nos outros 14 casos em que houve assasssínio de mulheres, 12 foram em contexto familiar: em quatro deles o homicida era o filho; em dois casos o homicida era progenitor, em dois casos era irmão. Segundo o OMA, as notícias permitiram perceber que em cinco destes casos havia violência prévia e em quatro as manifestações de violência eram conhecidas por outras pessoas. A maior parte das mulheres assassinadas neste contexto tinha mais de 65 anos. Os homicidas tinham sobretudo entre 36 e 50 anos.

Joana Gorjão Henriques - Público -  23/11/2020

22.11.20

“CRÓNICAS DE LISBOA”: Já Sinto Saudades do Futuro

 

Esta situação pandémica inimaginável, qual guerra mundial, leva-me a pensar nos pós Covid-19 e a sentir saudades do futuro, ainda muito incerto. Mas, como assim, se a saudade é um sentimento de algo ou de alguém que nos marcou ou marca positivamente, no passado? Saudade de alguém que amámos e que já perdemos, por exemplo um ente querido ou um amor. Saudade de algo que foi bom para nós, etc. “… é por isso que eu tenho mais saudades…; Porque encontrei uma palavra para usar todas as vezes em que sinto este aperto no peito, meio nostálgico, meio gostoso, mas que funciona melhor do que um sinal vital quando se quer falar de vida e de sentimentos. Ela é a prova inequívoca de que somos sensíveis! De que amámos muito o que tivemos e lamentamos as coisas boas que perdemos ao longo da nossa existência…”. O passado deixou-nos “marcas” profundas, no corpo e na alma, mas que, por isso, constituíram as bases da nossa personalidade.
 Nunca o termo “UCI” foi tão mencionado no nosso quotidiano e, talvez, muita gente não saiba bem o que representa, apesar das muitas imagens das UCIs que passam, frequentemente, nas televisões. É algo técnica e humanamente reveladora duma certa complexidade médica, porque quem ali cai está num processo de doença ou lesão muito complexa e a exigir “cuidados intensivos”. Daí designar-se por UCI = Unidade de Cuidados Intensivos. Ali luta-se pela vida e os seus membros (enfermeiros, médicos, etc) ali estão permanentemente e prontos a socorrerem alguém cujo processo de sobrevivência se sente ameaçado. Dali saem alguns para as enfermarias de recuperação, mas outros, infelizmente, com outro destino principalmente nesta terrível pandemia que terá começado na China e depois alastrou a todos os cantos do mundo, apanhando ricos e pobres, mas principalmente os “velhos”, essa franja da sociedade, em número crescente por força da longevidade, que começou a ser malquista nas sociedades onde o culto por tudo que é “jovem” passou a ser dominante. Velhos? São um estorvo na sociedade do hedonismo e do consumismo, qual vida frenética, agora bloqueado pelas medidas de contenção que visam suster a propagação do vírus e que veio reduzir quase a zero essas atividades que empregavam milhares e milhares de pessoas e que delas obtinham o seu rendimento e agora ou ficaram reduzidas a zero ou com rendimentos insuficientes para o seu sustento e respetivas famílias. Por exemplo, o desporto de espetáculo, as múltiplas atividades do turismo, o lazer diverso (tempo disponível para alem das obrigações de trabalho, aproveitável para o exercício de atividades prazerosas), etc. Eram e são sectores das sociedades modernas que alimentam a economia e agora estão numa profunda crise e cujo futuro se advinha muito difícil. Como sair da crise e colocar esta poderosa máquina novamente a girar? Até o dia de amanhã nos parece incerto, mas, sabemos, vai ser muito difícil. 
Por isso, já sinto saudades do futuro, que foi idealizado com base num passado e construído ao longo destas curtas décadas, mas que dificilmente será do modo que o idealizámos, porque este Covid-19 veio “colocar em xeque” um modelo de sociedade e de economia que vivia da “máquina de fazer e girar dinheiro” e em que este era a principal  energia desse modelo de sociedade. O dinheiro e tudo aquilo que com ele se pode comprar, principalmente o Lazer, foi sacralizado e endeusado. Uma questão pertinente, não é o que fazemos do dinheiro que ganhamos, mas sim o que é que o nosso dinheiro faz de nós, tornando-nos refém desse “bem” que faz girar esta poderosa máquina económico-social e agora caminha para uma crise de consequências imprevisíveis, o que nos leva a temer esse futuro. Neste terrível período que atravessamos, olho muito para o passado, de que tenho saudades de muitas coisas que realizei, mas, acima de tudo, de muita coisa que ficou por fazer e agora esta ameaça, principalmente sobre a minha geração na qual estou incluído nos maiores de setenta e com alguma patologia, no leva a temer o futuro com o qual ainda sonhámos. 
Tenho saudades do passado, mas estas saudades levam-me a sentir saudade dum futuro ameaçado e que dificilmente será como aquilo que há menos de um ano sonhámos. Saudade, a palavra que nos enche de energia para agirmos, mas neste terrível período, agir na prevenção de contágio do Covid-19, é uma atitude de civismo, de sobrevivência pessoal e de solidariedade para com todos os que não resistiram (cerca de quatro milhares de portugueses) a este “bicho” e a todos os outros portugueses envolvidos diretamente nesta pandemia, desde os doentes e pessoal da área médica, agora chamados de heróis. Confinar e respeitar as regras básicas para evitar o alastramento do contágio, é um esforço de todos, para que o futuro volte a ser risonho.
Serafim Marques - Economista

21.11.20

DIREITOS HUMANOS: A luta pela liberdade atirou Nassima para a prisão

Há quem pague um preço demasiado elevado por lutar pela liberdade na Arábia Saudita. A luta pelo direito de as mulheres poderem conduzir um carro é um desses exemplos. Apesar de a proibição já ter sido suspensa, várias ativistas que defenderam alterações à lei continuam atrás das grades. Nassima al-Sada é uma delas.
O ano de 2018 ficou marcado por uma campanha de repressão contra defensoras de direitos humanos na Arábia Saudita. Em julho, Nassima al-Sada e outra ativista acabaram na prisão apenas pelo trabalho pacífico que desenvolveram em nome da liberdade.
Até então, conduzir era coisa de homens. Até então, o sistema de tutela masculina impossibilitava as mulheres de fazerem coisas simples que, no nosso dia-a-dia, nem questionamos. No entanto, as autoridades sauditas foram introduzindo mudanças, que fazem parte de um plano de abertura ao mundo e, em especial, aos negócios. Hoje, as mulheres já podem conduzir o seu próprio carro, obter um passaporte, viajar livremente ou registar o nascimento dos filhos. Só que há ainda um longo caminho a percorrer.
Nassima al-Sada esteve sempre na linha da frente desta luta. Pela liberdade dos outros, ficou sem a sua.
Na prisão, foi vítima de maus-tratos e esteve um ano em regime de confinamento solitário. A única ligação que consegue ter com o mundo exterior, já que foi proibida de receber visitas da família ou do advogado, é através de uma planta. Uma planta que cresce lá dentro, enquanto os filhos de Nassima al-Sada crescem lá fora.
A liberdade desta mãe, que é também uma incansável defensora dos direitos humanos, pode ser uma realidade. Por isso, a Amnistia Internacional apela à ação de todos porque as vozes das ativistas que foram silenciadas precisam de ser ouvidas por todo o mundo.
O simbolismo do G20
Este fim de semana, a Arábia Saudita organiza a cimeira do G20, que vai juntar os líderes das economias mais industrializadas do planeta. Na agenda do encontro, que decorre em formato virtual devido à pandemia de COVID-19, estão temas como a crise sanitária e económica que afeta todo o mundo.
A reunião é uma oportunidade para encontrar respostas e soluções neste período difícil, mas também não pode deixar de lado a situação dos direitos humanos na Arábia Saudita. Não seria justo ter Nassima al-Sada – que até tentou ser candidata às eleições municipais de 2015, mas foi proibida – a discutir, livremente e junto de políticos, as reformas que o país necessita de fazer?
Para as mulheres sauditas, o sistema de tutela masculina continua a restringir liberdades e a autonomia pessoal. Atualmente, ainda precisam de autorização para definir os estudos que querem fazer, se podem viver sozinhas ou receber determinados tratamentos médicos. Desafiar as proibições significa, em muitos casos, sanções.
Em certos espaços públicos, as mulheres não podem transitar livremente. A maioria das universidades, dos bancos e dos edifícios públicos ainda têm entradas diferenciadas. O mesmo acontece em praias, zonas de lazer e transportes públicos. A forma de vestir também é condicionada e a polícia religiosa garante que as mulheres estão vestidas apropriadamente.
A liberdade no casamento e divórcio é outro problema. O tutor masculino deve aprovar as relações e, por isso, os casamentos forçados são prática comum, bem como a falta de proteção em caso de abusos. Se sofrem maus-tratos, as mulheres podem ser denunciadas por desobediência pelo seu “guardião”.
Toda a vida, Nassima al-Sada lutou para mudar mentalidades. Agora, é a nossa vez de lutar por ela.

in Amnistia Internacional

VILA VELHA DE RÓDÃO: Oferta de kits de proteção individual contra a Covid-19 para residentes com mais de 65 anos

 

O CLDS 4G de Vila Velha de Ródão, um projecto cofinanciado pelo Fundo Social Europeu, em parceria com a Câmara Municipal de Vila Velha de Ródão, iniciou esta segunda-feira, 16 de novembro, a distribuição de kits de protecção individual, junto da população residente no concelho com mais de 65 anos de idade.A iniciativa surge na sequência da necessidade identificada pelo município de promover a segurança e a saúde deste grupo etário, dada a sua maior vulnerabilidade à Covid-19, e sensibilizar as pessoas para a importância de cumprir o dever cívico de recolhimento e as regras implementadas pela DGS de combate à propagação da doença: manter o distanciamento físico, o uso obrigatório da máscara, a lavagem ou desinfecção frequente das mãos e o cumprimento da etiqueta respiratória.Cada kit é assim composto por uma bolsa que contém uma máscara lavável, um filtro para a máscara, um porta-máscaras, uma embalagem de álcool gel e um folheto informativo. 
As juntas de freguesia do concelho não quiseram também deixar de se associar a esta iniciativa através do apoio dado na sua distribuição junto da população.

20.11.20

PONTE DE SOR: Constituída arguida por burla

 

O Comando Territorial de Portalegre, através do Posto Territorial de Ponte de Sor, ontem, dia 19 de novembro, constituiu arguida uma mulher de 33 anos por burla, na localidade de Ponte de Sor.
No decorrer da investigação, os militares apuraram que a suspeita utilizou os dados de uma antiga arrendatária de um imóvel para efetuar um contrato com uma operadora de telecomunicações, tendo com esta ação causado prejuízos à lesada num valor superior a 1 100 euros.
Foi realizada uma busca domiciliária, tendo sido apreendido todo o materialeletrónico relacionado com o ilícito que estava em uso na residência da visada.
Os factos foram remetidos ao Tribunal Judicial de Portalegre.

CRATO: “APAV, 30 Anos pelos Direitos das Vítimas” é a nova exposição temporária na Biblioteca Municipal

 


A Biblioteca Municipal do Crato acolhe, a partir de dia 19, a exposição temporária “APAV, 30 Anos pelos Direitos das Vítimas” que estará patente até dia 26 de novembro, de segunda à sexta-feira, ente às 9.30h e as 12.30h e das 14.00 às 17.30h.
Esta exposição da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima assinala os 30 anos da instituição e reúne imagens de 18 campanhas de sensibilização da população, realizadas ao longo dos anos e que traduzem o trabalho da associação de apoio a vítimas dos mais variados tipos de crime.
Desde há três anos que a Câmara Municipal do Crato e o Gabinete de Apoio à Vítima do Alto Alentejo e Oeste trabalham em conjunto para a prevenção e sensibilização da população para a prática de crimes, bem como na proteção das vítimas. Os serviços de apoio psicológico, emocional, jurídico e de ordem prática que estão disponíveis para a população são gratuitos, confidenciais e prestados por técnicos especializados. Não são apenas dirigidos a mulheres nem exclusivos da violência doméstica, abrangem todo o tipo de delitos criminais e procuram dar uma resposta de apoio global.

JOÃO FRANCISCO LOPES: O Descobridor das "Coisas do Tempo dos Mouros"

João Francisco Lopes, não é um arqueólogo no sentido específico do termo. É como tantos de nós, um amante das coisas da sua terra e deste concelho da "Corte das Areias". Sente, talvez como poucos, o peso dos usos, dos costumes, da história e da tradição, deste espaço sentimental, único e original da terra transtagana. Goste-se ou não, do homem e do estilo; elogiem-se ou recriminem-se fidelidades políticas que, porventura, perfilhe, uma coisa é certa: a historiografia que sobre Nisa da segunda metade do século passado vier a ser feita, vai ter, forçosamente, de se lhe referir. A não ser que, como tantas coisas, se prefira a esponja do silêncio à verdade assumida."
Este pequeno texto escrevi-o há seis anos, para o livro "Coisas da Corte das Areias" de João Francisco Lopes, nisense, 84 anos, falecido no passado dia 8 de Novembro e um dos mais activos defensores do património cultural do concelho de Nisa.
Conhecia desde criança o senhor João Francisco, mas foi a partir do 25 de Abril e enquanto eleitos autárquicos que encetámos uma relação de amizade e colaboração, tendo por base o gosto pela cultura e património concelhio - o parente pobre do poder municipal - e as constantes acções de delapidação e roubos de que o mesmo era alvo, ainda na década de oitenta. Uma colaboração que se aprofundou através dos alertas e denúncias que publicávamos na imprensa regional, mormente nos jornais "O Pregão", "Fonte Nova" e "Diário do Alentejo". O João Francisco reportava essas situações através de contactos com pessoas de origem e profissões mais diversas, desde pastores, a trabalhadores rurais, agricultores, pedreiros, etc., que lhe falavam amiudadas vezes das coisas ou pedras do "tempo dos mouros". Esses contactos e descobertas de alguns "tesouros", aguçou-lhe a curiosidade de saber mais, quer através da leitura, quer de opiniões de pessoas mais qualificadas e de incursões no campo. O campo, aliás, era o laboratório de João Francisco e ainda antes de se interessar verdadeiramente pelo património arqueológico e histórico, a botânica e o conhecimento de plantas com propriedades teurapêuticas, preenchiam os seus tempos de lazer. Foi assim que o conheci, a falar das variedades do hipericão e de outras ervas com capacidades curativas, as "mézinhas caseiras", não tão "mézinhas" como se pensava. Esse gosto veio-lhe da leitura da revista "Natura", que assinava, dirigida pelo Dr.Indíveri Colucci, considerado o "pai" da medicina natural ou alternativa em Portugal. Não sendo médico, João Francisco ajudou muitas pessoas que se lhe dirigiam pedindo a ajuda ou informação sobre determinadas doenças e a forma de as combater, de modo natural.
Amante das coisas da sua terra, foi jogador e treinador do Sport Nisa e Benfica, dirigente de colectividades como a Sociedade Artística Nisense e fundador da Sociedade Musical Nisense, colectividade fundada em 1988,  da qual foi o primeiro presidente da direcção e dirigente durante 20 anos, associação que teve como génese o ressurgimento da Banda de Nisa, banda filarmónica com um passado brilhante e que os anos de emigração e guerra colonial quase fizeram fenecer. 
João Francisco Lopes foi um dos grandes obreiros e impulsionadores da refundação da Banda contando com o apoio do executivo municipal de 1979-1982 liderado pelo Dr. Carlos Bento Correia e tendo o Dr. José Manuel Basso como vereador do pelouro cultural. A Sociedade Musical Nisense constituiu-se como um dos pólos fundamentais da dinamização cultural do concelho, através dos vários grupos que formou, entre eles a Escola de Música, a Orquestra Ligeira, a Banda Filarmónica e durante algum tempo, o Grupo de Dança e o Grupo de Cantares Tradicionais.
Como eleito na Assembleia Municipal e membro do Conselho Municipal de Cultura e Património teve também uma acção dinâmica e profícua, apesar de, nessa qualidade e ainda em vida do Dr. José Fraústo Basso, se ter perdido a oportunidade de fazer reverter para o Município, o valioso espólio artístico e arqueológico que aquele ilustre nisense detinha e se dispunha a ceder, mediante a elaboração de um protocolo que, por razões que me escapam, nunca foi feito e apresentado. 
Esta e outras questões, como a promoção e apoio de uma obra, que considerei, a todos os títulos, "infeliz", como foi a instalação da chamada "Fonte das Lágrimas" - pouco tempo depois, demolida -, e a exposição pública e insegura, de elementos do património, alguns retirados dos locais de origem, em final de mandato e de ciclo autárquico (2001), sendo factor de divergência, não beliscaram a consideração e respeito que mantinha pelo João Francisco. 
Considerava-o um guardião do património e um elemento essencial para a sua preservação no concelho de Nisa. A colaboração que encetou, ainda em 1995, primeiro com o "Notícias de Nisa" e depois, em 1998, com o "Jornal de Nisa", constituiu um manancial de iniciativas e informações fundamentais para o conhecimento do território concelhio e do património num sentido mais lato e que englobava os caminhos rurais, ainda hoje tão desprezados pelos poderes autárquicos, os muros de pedra, a paisagem, os recursos hídricos, as vias históricas que atravessam o concelho, o património histórico e arqueológico, as tradições, a geologia, a botânica, etc.
Foi através da nossa acção conjunta que, em 1995, um executivo de freguesia, a do Espírito Santo, liderado por Joaquim Zacarias, levou a tribunal e venceu sem qualquer problema, a questão da usurpação de  um caminho público, no caso conhecido como o da "Barroca do Salgueiro". Situação que poderia e devia ter constituído um exemplo para outras acções semelhantes, levando os executivos de Junta e a própria Câmara a uma posição mais firme e coesa na defesa do território municipal, o que não tem acontecido até hoje. Lembro, outros exemplos, como o de uma Junta de Freguesia que queria alcatroar o caminho da Senhora da Graça até ao adro da ermida. Juntos, conseguimos sensibilizar "in extremis" o presidente e a obra foi feita com calçada de xisto. Outro caso em que nos empenhámos e conseguimos parar a "obra", foi o da plantação de eucaliptos no sítio denominado "A Lagoa" próximo de Chão da Velha. O alerta na hora ao presidente da Junta de S. Matias, João Ferrer e à Câmara, produziu efeitos imediatos. Estas e outras acções, o conhecimento do território por parte do João Francisco e a sensibilização que foi feita, "elegeram-no", naturalmente, como um dos principais interlocutores com a comunidade rural, com as pessoas que a ele se dirigiam, evitando a burocracia, fosse para comunicar um "achado", fosse para denunciar um atentado ou roubo patrimonial.
Não esqueço e relembro que João Francisco, um caminhante de caminhos e veredas, foi pioneiro e dinamizou a colaboração com as escolas, trazendo os professores, auxiliares e alunos para a rua, para o campo e para o conhecimento da história local, exemplos que ficaram bem patentes na realização dos passeios "Estrada da Ammaia / Caminhos de Santiago" ou no passeio de comboio com a colaboração da Nisa Viva dando a conhecer o Tejo, as estações ferroviárias, um pouco da geografia do concelho, para muitos a primeira vez que, simultaneamente, andaram de comboio e viram o Tejo.
A Inijovem, associação que dinamizou, entre outras inciativas pioneiras, os passeios pedestres no concelho, bem como os execuivos municipais que entre 2001 e 2013 criaram os percursos pedestres, muito devem a João Francisco Lopes, pela informação e conhecimento próprio que lhes disponibilizou, não só em termos físicos, presenciais, mas também históricos e documentais. 
Muito, muito mais, poderia falar sobre o Homem e a Obra. O João Francisco Lopes de quem tive o privilégio de ser amigo e que incentivei a escrever, deixando um legado precioso no livro "Nisa - Coisas da Corte das Areias", mais de uma centena de textos que "bati" para o "Jornal de Nisa" e "O Distrito de Portalegre", nestas teclas onde escrevo agora, merece todas as homenagens e distinções. Foi um filho, ilustre, de Nisa, nascido há 84 anos, em 1936. Foi um ser humano excepcional, que deu o melhor de si à terra que o viu nascer.
O que o João Francisco não foi e nunca será, é um "produto certificado", qual enchido, queijo ou bordado, como os que a edilidade coloca num cabaz de compras e com o selo "É Nisa, é Nossa!". 
Haja, pelo menos, um pouco de respeito pela sua memória.
Mário Mendes in "Alto Alentejo" - 18/11/2020