12.11.20

COISAS DA CORTE DAS AREIAS (2) - Homenagens, tema velho e sempre actual

A galope, aproxima-se o 25 de Abril de 2010.
O 25 de Abril, em Nisa, foi e provavelmente voltará a sê-lo, dia de homenagens, a não ser que...
Pela terceira vez abordamos este tema, as primeiras no “Jornal de Nisa” nº 92 de Outubro de 2001, vão mais de 8 anos, e depois no mesmo quinzenário nº 255, de Maio de 2008, e agora neste escrito. Sendo a terceira intervenção, pode até não ser a última...
Pergunta-se: Serão as homenagens, todas elas ou só parte, de há uns anos até agora, fúteis? Serão justas? Não são elas contra alguém? Não acreditamos é que quem as tem promovido ou volte a promover o faça imbuído daquele pensamento sovina: ofereço hoje e recebo o troco amanhã. Estaremos enganados?
Cremos não nos enganar ao afirmar que este processo teve início em 1981 (29 anos) aquando da homenagem ao excelente médico e bom homem que foi o Dr. Granja, acontecimento que teve lugar a 9 de Agosto, por ocasião dos 700 anos da fundação de Nisa-a-Nova, e que contou com a presença do Presidente da República, general Ramalho Eanes, que descerrou o busto que ladeia, à direita, a Porta da Vila.
Comovedor e prova da justeza do acto é o facto, incontestável, de quase trinta anos depois, o busto continuar sempre rodeado de lindas flores.
Não por acaso, no ano seguinte, foi aprovado em sessão da Assembleia Municipal de 28 de Junho, o Regulamento das Medalhas Municipais, sendo que as primeiras homenagens após aquela data foram atribuídas aos doutores João Maria Porto, professores Joaquim Mendes dos Remédios, Alexandre de Carvalho Costa e Manuel da Cruz Malpique, e ao pintor Augusto Pinheiro.
A sessão realizou-se no dia da Senhora da Graça, Feriado Municipal do ano de 1987, um dia despido de quaisquer conotações políticas.
Sobre a vida e a obra dos homenageados, brilhantes intervenções foram proferidas por notáveis figuras, algumas vindas expressamente da Universidade de Coimbra.
Em 1993 foi homenageado o jornalista e cineasta Baptista Rosa, sobre quem Manuel Figueira disse: “Foi o primeiro e o maior Jornalista da imagem viva que tivemos em Portugal”. Um dos oradores presentes foi Baptista Bastos.
Ainda em 1993, ao cineasta seguiu-se um músico, o senhor Luís do Rosário Matias (Luís Félix).
Sobre este senhor, leia-se o que o nosso conterrâneo Carlos Tomás Cebola escreveu e transmitiu na cerimónia de homenagem na Biblioteca Municipal – Casa da Cultura, a 9 de Outubro, intervenção cujo conteúdo se encontra em livro, escrito à mão (1) e que nos foi oferecido, e que integra também a obra “Música e Comunicação”, já esgotada, e ainda a intervenção na sessão comemorativa do 150º Aniversário da Banda de Nisa, em 22 de Outubro de 1994. Foram três intervenções, valiosas, sobre um tema, que é componente da História de Nisa e que não há meio do Município o editar. Pobre terra a nossa!
No ano seguinte, 1994, como já foi referido, coube a vez à Banda de Nisa ser homenageada ao perfazer 150 anos de vida (1844-1994).
A sessão solene teve lugar na Biblioteca Municipal /Casa da Cultura e tal como em outras cerimónias, estiveram presentes e intervieram, dignificando o acto, os senhores Bispo de Portalegre e Castelo Branco, D. Augusto César, o Governador Civil de Portalegre, Dr. António Teixeira, o presidente da Região de Turismo de S. Mamede, Francisco Camilo, presidente da Câmara de Nisa, Dr. José Manuel Basso, vereador da Cultura, Dr. José Dinis Murta, Carlos Tomás Cebola e João Francisco Lopes, presidente da Sociedade Musical Nisense.
A que propósito vem todo este arrazoado, perguntar-se-ão?
É simples, não podem, não devem, promover-se homenagens a quem quer que seja e depois submetê-las, as homenagens e os homenageados, não diremos ao ridículo, mas ao mau sucesso, se preferem.
Então é assim? Informam-se as pessoas do pretendido, convidam-se, não para o Salão Nobre ou para a Biblioteca, mas para a “sala de espectáculos” do Cine Teatro, pede-se aos homenageados que subam uns degraus, faz-se a entrega de uma medalha e a oferta de uns beijinhos, e “vira que te queimas”.
Então não há ninguém, um amigo, um colega, alguém conhecedor que diga algo sobre a vida e a obra dos homenageados? São assim tão “pobrezinhos”?
Em final de milénio (1999) foi tempo de preito à memória de uma pessoa muito querida de toda a população, a um homem que passou pela vida com essência de dádiva, um homem do tamanho do que via e... via longe”.
Estas são frases ouvidas ao orador na cerimónia sobre o Dr. Jaime de Almeida, que viu o seu nome perpetuado em rua junto às piscinas, antiga Horta do Parreirão, de que era proprietário.
Em 2006, já com esta Câmara, foi a vez de perpetuar o nome do Prof. José Francisco Figueiredo, atribuindo-o a uma rua do Bairro da Cevadeira.
Nosso professor na primeira e segunda classe, bem mereceu a distinção, pela obra legada e pelo enorme bairrismo que sempre demonstrou.
Aquele, sim, era um “Nizorro”.
No 25 de Abril de 2008, aconteceram as últimas homenagens, no palco dos espectáculos do Cine Teatro.
Foram então homenageados o Dr. Celestino Ventura Rodolfo, os senhores José Maria Casimiro, Pedro da Piedade Mourato e o António Maria Charrinho.
Uns dias após o acto escrevíamos nós no “Jornal de Nisa” (nº 255- 4 de Maio):
“Desengane-se quem pretender apanhar neste escrito uma qualquer discordância... sobre a justeza do galardão atribuído aos homenageados. Para nós, o processo que antecede a escolha é que está errado, porque “ou se faz bem ou não se faz”.
Anteriormente, para estas “coisas” eram convidadas pessoas e instituições para darem a sua opinião, indicando nomes que entendessem merecedoras de tal distinção. Muita gente a título individual se pronunciou, muitas instituições de todo o concelho aderiram e emitiram o parecer, associação recreativas e culturais, bombeiros, misericórdias, postos da GNR, escolas, etc., etc., resultando deste processo terem sido escolhidos os cinco homenageados de 1987.
Agora? Bem, agora, “antevemos a dificuldade que os homenageados, ou os seus descendentes vindouros terão, num futuro próximo ou longínquo, em justificar lá em casa ou fora dela, a presença daquela medalha recebida, não havendo, como não há, uma qualquer referência escrita sobre os méritos dos homenageados, por parte de quem os preiteou” (2).
Pois é, até agora, dizem, foi tempo de auto-homenagens, de homenagens encomendadas. Terá sido, assim? Entretanto, os nomes indicados para a toponímia das urbanizações da Cevadeira, Amoreiras e Fonte Nova, propostos e aprovados por comissão nomeada para o efeito e posteriormente pela Junta, Assembleia de Freguesia de Nossa Senhora da Graça e Câmara Municipal, continuam por atribuir, passados que vão muitos anos.
É um gozo, gozo maior só quando se ouve clamar por homenagem ao Emigrante. Claro que, pior do que não homenagear é deitar para o lixo homenagens vindas de trás, como aquela, justíssima, da figura universal ligada a Nisa, como era a mesa de granito negro removida da Praça da República, em homenagem a Vasco da Gama, também aos Templários e ao 1º Marquês de Nisa, notável português.
Recuperem as geminações de Nisa com as vilas francesas da Touraine e com as portuguesas Sines, Évora e Vidigueira, que mataram e enterraram, e aí estarão homenageando um pouco o Emigrante, o Almirante e Navegador Vasco da Gama, alcaide- mor de Nisa.
Homenagem aos nossos ancestrais antepassados de há 7 mil anos seria devolver a verticalidade aos menires caídos nas freguesias do Espírito Santo e da Senhora da Graça (são cinco).
Homenagear os homens do nosso concelho que há 5 mil anos puseram de pé as nossas antas, intervindo ao menos numa delas, porventura, a mais perfeita e o mais belo exemplar deste tipo de megalítico do nosso concelho, senão mesmo do distrito, como o é a “Anta dos Saragonheiros”.
Porquê este desprezo, este abandono?
Será por que, sendo pedra, não dobram a espinha, em sinal de reverência?
NOTAS
(1) – “Falando de Música” – Carlos Tomás Cebola
(2) – in “Jornal de Nisa” – 4 de Maio de 2008