10.11.08

POETAS DO CONCELHO DE NISA

Força de Viver
Há quem não nasça ensinado
Eu, por exemplo, nasci
Mas que culpa tenho eu
De não ser tudo igual a mim?

Esta força de viver
Dia a dia com mais esperança
Com tantos anos de idade
Parece que sou criança!

Criança e brincadeiras
De outros tempos de então
E os amigos de infância
Que tenho no coração.

Fui criança, fui mulher
Fui mãe, primeiro, depois esposa
Pedi tanto, tanto a Deus
Que dele obtive esta força!

Mas deslizes nesta vida
Qualquer ser humano tem
Levei tantos empurrões
Sem fazer mal a ninguém.

Mas fui recompensada
Não liguei nada ao desdém
Por tudo tenho lutado
Sem pedir nada a ninguém.

Passo na rua a sorrir
À criança, aos velhos e de meia idade
E pensar que nos olhos deles
Houve em tempos, maldade.

Tropecei mas não caí
Porque alguém me amparou
A minha mãe tão querida
Que comigo tanto chorou.

A nossa vida é um fado
Guitarra encostada ao peito
Por mais sério que se seja
Há sempre qualquer defeito.
Maria Dinis Pereira
Sou da vila de Nisa
Eu sou da vila de Nisa
Terra do Alto Alentejo
Meus olhos choram de dor
Nos dias que te não vejo

Há anos que cá não vinha
Muito admirado fiquei
Não vi fonte, nem jardim
E de tristeza chorei.

Já vi que não há respeito
Pelo povo desta terra
Querida “Árvore da Mentira”
Olha o que te fizeram!

Mas que fez o meu povo
O que fez ele de tanto mal?
Os jarrões do nosso jardim
Devem estar lá pró Curral!

Triste regressei a casa
E num pranto derradeiro
Tive muitas saudades
Do ti Luís Jardineiro.
Gabriel Giesta

NISA
Não sei o que Nisa tem,
Que mago sonho a domina
Feito de luz purpurina,
Quando o sol se esconde além!...

Rasgam-se as nuvens também
P´ra tornar a luz mais fina
Como auréola cristalina
Que só aqui se detém...

Em cada viela ou praça,
Na rua mais pobrezinha,
Há jogos de luz e graça.

Oh! Nisa tão louçainha,
Tens mais graça quando passa
O Sol, por ti, à tardinha.
Padre Alfredo Magalhães - 7 Março 1957

AS VELHAS FONTES DE NISA
Centenas de anos a fio,
Vossa linfa preciosa
De refrigério serviu
À minha Nisa formosa.

Quantas gerações passaram,
Caídas na sepultura,
Que os seus filhos baptizaram
Com vossa água santa e pura!

Em noites de luar silentes,
Tão propícia ao amor,
Nas vossas bicas fluentes
De murmuroso frescor,

Lindas moças iam dantes
Com seus pares, de mãos dadas,
Entre risos e descantes,
Encher as bilhas pedradas.

Se as fontes falar pudessem,
Tinham muito que dizer,
Se contar elas quisesem
O que ouviram sem querer:

Comadres mexeriqueiras,
Do seu lidar esquecidas.
E, entretendo-se, palreiras,
Desfiando alheias vidas;

Segredos de namorados
Com arrufos caprichosos;
Sonhos de amor enlaçados
Em projectos venturosos

Casos alegres, sombrios,
Ali, todos iam dar,
Com a certeza que os rios
Sempre correm para o mar.

Ó boas fontes velhinhas,
Que pena fazeis agora,
Vivendo assim, tão sozinhas,
Sem o bulício de outrora!

Hoje, em casa, toda gente
Já tem água quanta queira,
Sem custos, prosaicamente:
Basta abrir uma torneira!

Por isso, as fontes de Nisa
Vão chorando a sua mágoa:
Já delas não se precisa,
Ninguém lá vai buscar água!
F. Bagulho – in “Correio de Nisa”