31.12.17

BOAS FESTAS, FELIZ ANO NOVO!



A TODOS OS VISITANTES DO PORTAL DE NISA VOTOS DE UM FELIZ ANO NOVO
Não podia escolher melhor mensagem do que esta que aqui vos deixo na extraordinária interpretação do músico cabo-verdeano, Luís Morais.
Há mais de 45 anos, na Guiné-Bissau, ouvi, pela primeira vez, a música deste notável e versátil intérprete africano, que não mais esqueci pela vida fora.
Bana e a Voz de Cabo Verde, a par de Luís Morais, animavam as noites das tabancas e transmitiam alguma alegria a um povo fustigado pelos horrores da guerra e da separação entre irmãos e famílias. "Boas Festas" é, não apenas uma música de felicitações, mas, sobretudo, um hino de paz, esperança e aproximação entre os filhos de Cabo Verde espalhados pela diáspora.
Luís Morais, tal como Bana, já nos deixou há muito, mas a sua música, intemporal, tem o condão de nos despertar, em cada dia que passa, para a emergência da construção de um mundo melhor. É urgente o amor, como escrevia Daniel Filipe. Boas Festas é que vos desejo com Luís Morais. Ouçam-no!   

30.12.17

CDU apresentou Moção de Solidariedade com Arlindo Consolado Marques

A CDU- Coligação Democrática Unitária apresentou no passado dia 29 de Dezembro, uma Moção na Assembleia Municipal de Nisa, solidarizando-se com Arlindo Consolado Marques, um dos mais destacados defensores do rio Tejo e dos valores ambientais que lhe estão associados. A moção, que a seguir transcrevemos, foi aprovada por unanimidade.
MOÇÃO
A Assembleia Municipal de Nisa, reunida a 29 de dezembro de 2017, manifesta a sua preocupação pelos crescentes focos de poluição no rio Tejo, que põem em causa a sustentabilidade deste território, e exigem do Ministro do Ambiente respostas concretas.
Na sequência das recentes notícias que têm vindo a ser divulgadas na comunicação social, de uma ação interposta contra Arlindo Consolado Marques, por motivo de denúncia da poluição do rio Tejo, esta Assembleia Municipal vem manifestar a sua solidariedade para com o cidadão em causa. Ao divulgar os crimes ambientais que têm vindo a ser cometidos, Arlindo Consolado Marques presta um serviço à sociedade e ao ambiente e dá voz aos que residem nas zonas ribeirinhas afetadas.

Nisa, 29 de dezembro de 2017
CDU - Coligação Democrática Unitária

MONTALVÃO: Natal dos simples (1938)

A perninha do Menino Jesus
Aquele começo de Inverno de 1938 (ou seria 1939?) foi muito chuvoso e frio.
Era o tempo das “vacas magras”... Fins da guerra de Espanha princípios da Segunda Guerra Mundial.
Em Montalvão, aldeia do Alto Alentejo, vivia uma modesta família, composta de pai, mãe e um só filho.
Nas férias de Natal, o filho teve que ir juntar-se aos pais, que andava na fega da azeitona, numa herdade a cerca de seis quilómetros da aldeia.
Porque era necessário começar a trabalhar logo que o Sol nascia e continuar até este astro deixar de dar luz e um pouco de calor ao olival, pais e filho dormiam perto das oliveiras, tendo, à noite, como luz e calor, uma fogueira de rama de oliveira e mato verde e molhado.
O leito onde dormiam era a palha de um largo e desconfortável cabanal.
Faltavam luz e calor; sobravam fumo e frio!
Chegado o dia 24 de Dezembro, véspera de Natal, regressaram a Montalvão, onde chegaram todos molhados e cheios de frio, já noite cerrada. Graças a Deus tinha uma casinha modesta, mas acolhedora, à sua espera.
Para celebrar a noite de Natal, o casal de camponeses tinha guardado algo diferente para a consoada.
Comeram o melhor que puderam e fizeram as filhós e os “borrachos”. Estes eram uns fritos da família das filhós, mas mais apetitosos, pois eram a especialidade da mãe e levavam uns salpicos de açúcar.
O café de 18 também não faltou...
Mas, para o filho, que prenda iria o Menino Jesus pôr no seu sapatinho?
Eram grandes a expectativa e ansiedade do miúdo! Ele esperava uma boa prenda, pois era bem comportado e bom aluno. Esperava que o Menino Jesus não se esquecesse dele...
O seu pai também não se esquecera. Colhera umas bolotas das melhores azinheiras que conhecia e era este fruto que guardava para presentear o filho, fingindo ter sido o Menino Jesus.
Quando a meia-noite chegou, já o sapatinho estava na chaminé há alrgos minutos, à espera do presente!
O pai, chamando o flho, gritou-lhe:
- Olha o Menino Jesus que já chegou à nossa chaminé!
O miúdo correu, ensonado... O pai, entretanto, lançou uma mão cheia de bolotas, chaminé acima. Estas caíram, chaminé abaixo, como prenda do Menino Jesus!!!
A criança olhara para cima e as bolotas caíram todas, tendo uma delas magoado o olho esquerdo do presenteado e ingénuo menino.
Mesmo assim, a criança, com a dor na zona atingida pela bolota, ainda teve tempo de ver a perninha do Menino Jesus, que, entretanto, se apressara a partir para presentear, a tempo e horas, outras crianças que o esperavam, ansiosas também, nas suas chaminés!...
*António Rolo – Dezembro de 2000 in “ Conviver-Reviver” - Boletim nº 7 do Casal Popular da Damaia.
António Rolo é o pseudónimo de António Cardoso Mourato

29.12.17

O NATAL, num poema (quase) inédito de José Gomes Correia

SAUDADE...

É noite de Natal... Lá fora a neve branca
Cai silenciosamente; e todo o povoado
É um canto de luz, um ninho abençoado,
Uma ardente oração a Deus sublime e franca!

Sorrisos de alegria emanam dos casais,
Uma onda venturosa esparge em cada lar
Uma chama de amor, brilhando em cada olhar,
Carícia de Jesus nas almas imortais!...

Só ele o pobre velho, o órfão de carinhos,
Treme de frio; e a fome empresta amargo pranto
Ao seu cansado olhar, que busca em cada canto
O seu saudoso lar de fogos pobrezinhos!

Nascera lá na serra havia muitos anos...
Ali passara sempre a vida descuidada,
Ali crescera e amara a moça mais prendada,
Triste manancial de tantos desenganos!

Um dia, ela morreu... tocavam as trindades...
O vento soluçava e as aves nos beirais
Pareciam chorar... e as vozes dos trigais
Eram sentida prece, um hino de saudades!

Depois... ele partiu! Levava para longe
As mil recordações dos tempos que passaram,
Correra o mundo inteiro e nunca se acabaram
As lágrimas de dor no seu viver de monge!

Sentia-se vélhinho... iria prós oitenta...
Q´ria ver outra vez a terra, onde nascera,
Q´ria sentir ainda o gozo da quimera...
Um frémito de amor o peito lhe acalenta!

Sentia-se já perto... eram as mesmas águas
Correndo mansamente, as mesmas casas velhas,
O mesmo tilintar de guisos das ovelhas,
A mesma campa em flor, jardim das suas mágoas!

Sentia que  revivia a sua mocidade,
O seu corpo de velho à luz sentimental
Do abençoado ninho em noite de Natal,
Á sombra enganadora e vã da realidade!
- José Gomes Correia (poeta nisense)

28.12.17

NISA: Sessão da Assembleia Municipal já tem Ordem de Trabalhos

A sessão ordinária da Assembleia Municipal de Nisa marcada para o dia 29 de Dezembro já tem Ordem de Trabalhos, conforme o documento que se anexa.
A OT foi colocada no site do Município, ontem, dia 27 de Dezembro, dois dias antes da realização da reunião, ainda a tempo de os munícipes tomarem conhecimento de tão importante evento.
A OT vem assinada e com data de 22 de Dezembro, pelo que, das duas uma: ou alguém se esqueceu de proceder à divulgação da sessão, ou, então, considerou que tal divulgação, a tempo e horas - para ter efeitos legais - era desnecessária. Ainda assim a nossa lembrança e reparo surtiu imediato efeito.
A propósito do que anteriormente escrevemos sobre este tão candente tema (a importância das sessões do órgão fiscalizador do município) tivemos conhecimento da iniciativa que um grupo de cidadãos de Abrantes tomou ao lançar uma Petição Pública para que as sessões da Assembleia Municipal do concelho abrantino sejam realmente PÚBLICAS, isto é, que se realizem a horas em que o público (os eleitores e munícipes) possam assistir e participar. Ou seja, voltar ao tempo antigo (lembrar que as sessões deste órgão deliberativo, em Nisa e na generalidade do país, se realizavam à noite) pelo menos nalgumas sessões.
Ideia semelhante, mas a nível do executivo, teve o cabeça de lista (e vereador) do PS na Câmara de Castelo de Vide, Tiago Malato, ao propor que algumas reuniões tivessem lugar em horário a que o público(os munícipes e eleitores) pudessem assistir e participar.
A meu ver - e eu, confesso, vejo mal...- esta seria, também, uma ideia e solução, a implementar em Nisa, para dar, afinal, algum sentido e coerência ao ponto da Ordem de Trabalhos designado por "Intervenção de Munícipes".
Se grande parte deles estão a trabalhar enquanto decorrem as sessões, como podem intervir?
Intervêm os "deputados municipais" com o argumento de que também são munícipes, esquecendo-se que têm um ponto na OT "Período de Antes da Ordem do Dia" onde podem (e devem, para isso foram eleitos) apresentar propostas sobre problemas e carências do concelho.
Mas isso é capaz de ser uma trabalheira e em fim de semana não dá muito jeito...
Mário Mendes

27.12.17

O Natal visto pelos poetas do concelho

Do São Martinho ao Natal
São Martinho já passou
Já vem aí o Natal
O tempo nunca parou
O tempo é sempre igual

Anda e foge, é mesmo assim
E ninguém o pode deter
São tempos alegres para mim
De manhã, ao entardecer

Aproxima-se o Natal
Sempre Iguais sempre diferentes
Num lar, qual ninho de pardal
É o conforto das gentes

Toda a Família está à mesa
Numa santa comunhão
Não há outra tal beleza
Todos em comum oração

Oh que bela consoada
Na aldeia mais remota
Nessa fria orvalhada
Que por vezes é molhada
Fora da nossa porta

Vindo todos à lareira
Rindo, fazendo chacota
Transpondo a soleira
Vindo todos para nossa beira
E produtos da nossa horta

Na Damaia ou Montalvão
Celebremos em igual
Abrindo o coração
Em palácio ou telha vã
Bendito seja o Natal


António Mourato

Nisa acolhe primeira colheita de sangue de 2018


26.12.17

NISA: Sessão da A.M. no dia 29 ainda sem Ordem de Trabalhos

Para que serve a Assembleia Municipal de Nisa?, perguntei, por diversas vezes nestas páginas, sem obter resposta. Pois bem! A Assembleia Municipal podia servir para muita coisa. Em primeiro lugar para ser, no respeito pela lei, o "órgão fiscalizador do Município". Este, o executivo municipal, fiscaliza-se a si próprio, e a Assembleia com a actual ou anterior composição, limita-se a cumprir calendário, fazendo as reuniões que a lei manda e entreter-se com os "jogos do poder", servindo a "patroa" Câmara e limitando a acção de quem quer cumprir cabalmente o seu mandato. Não sendo "força de pressão" e órgão fiscalizador, a A.M. de Nisa mais não é que um corpo ou órgão amorfo, sem capacidade de iniciativa e de criar uma agenda própria onde pudessem ser discutidos os grandes temas que se prendem com o desenvolvimento do concelho.
Vive a reboque da Câmara, principalmente, da política "obreirista" da sua presidente - um portãozinho aqui, uma estátua ali, umas luzinhas acolá, repressão sobre alguns funcionários, pelo meio - , e, quanto ao desenvolvimento integrado e sustentável do município, nem uma luz, nem uma ideia sequer. Anda tudo ao sabor da "frenética", do que sonha hoje ou do pensa amanhã, para ser feito ontem. Por que fazer "obra" e "obra" que se veja, é a sua filosofia política e ideologia de acção. 
A Assembleia Municipal de Nisa e a maioria PS/PSD que a domina segue o mesmo caminho. Limita-se a obedecer às "ordens" da senhora Câmara e a agendar e publicitar as Ordens de Trabalho das sessões consoante o figurino que o executivo impõe. E até isso faz mal feito...
Basta dizer que, sobre a próxima sessão da A.M. marcada para o dia 29 de Dezembro (sexta-feira), ainda não eram conhecidos, hoje, dia 26, os pontos da Ordem de Trabalhos. Serão dados a conhecer, talvez, na véspera ou horas antes da sessão começar...
E tudo isto é "normal" para uma mesa da A.M. dominada desde há 3 mandatos pelo mesmo partido (PS) que chegou ao cúmulo de aprovar e colocar no site do Município actas com um ano de atraso, mostrando, dessa forma, um completo desrespeito pelos munícipes e eleitores.
A última acta que os munícipes podem consultar no site é a de 30 de Junho de 2017 e apenas colocada há pouco tempo, pois a mesma, juntamente com as de 27 de Fevereiro e 21 de Abril só foram aprovadas na última sessão do órgão antes das eleições, em 27 de Setembro.
Daqui se conclui que a Assembleia Municipal não cumpre, minimamente, as funções para que foi criada, isto é, aquelas que a lei lhe incumbe, entre as quais, a de órgão fiscalizador do executivo.
Mas, isso, é matéria que há muito se conhece e com a qual os eleitos vêm pactuando...
Mário Mendes

NISA: Concerto de Boas Festas da Sociedade Musical Nisense


24.12.17

POESIA POPULAR: Noite de Natal em Amieira

É Natal; tempo em que o frio,
A chuva e a neve vem
A época em que o sol nos dá
menos luz
Foi quando numa cabana nas
palhinhas em Belém
Nasceu o salvador do Mundo:
nasceu Jesus!

Nas lojas de brinquedos há
Burburinho
Todos querem comprar brinquedos afinal
Para porem na lareira no sapatinho
Essas prendas tão cobiçadas do Natal!

Nessa noite há azevias, rabanadas e filhós
E o lume nessa altura dá calor
Os pais com os filhos e os avós
Entoam cânticos.

 João de Matos Rico

22.12.17

O Natal visto pelos poetas nisenses (6)

Em cada canto do mundo, Belém
Nasceste, aqui, entre nós,
p´ra que pudessem nascer,
erguer, forte, a sua voz,
reafirmar-se, viver:
gorados sonhos de amor,
anseios de liberdade, doridos gritos de paz,
de justiça e de verdade,
libertação do pavor
pavor que tudo desfaz.

Nasceste homem como nós,
Para que pudessem erguer,
O homem, as sua voz,
Quebrar algemas e ser.

Pessoa dignificada
P´los direitos que lhe deste,
Direitos fundamentais.
Foi assim que o fizeste:
Pessoa dignificada,
E não precisa de mais.

Pessoa, homem, menino,
 Não sendo tratado a esmo,
E livre de opressão,
Para agarrar o destino
Antes de mais, por si mesmo,
E nunca por coacção.

O direito de viver,
Que a todo o homem advém,
Com tudo o que importa ter,
Para que, enfim, possa ser,
Ser mais e ir mais além.

Tudo, porém, às avessas,
Neste mundo em confusão:
Ameaças ou promessas,
Conforme as horas e pressas,
Da grande coligação,
Em que os homens são peças,
Manejadas à pressão.

Nasceste, assim, entre nós,
Mas tudo anda ao invés,
Pelo que a nossa voz
Te pede: Vem outra vez.

Mas já estás, afinal,
No meio de nós, aqui.
Assim só será Natal,
Se o homem, sendo leal,
Nascer e viver por ti.
Pe Alfredo Magalhães in “Ainda Natal”

GNR realizou acções de fiscalização sobre espécies protegidas

A Guarda Nacional Republicana, através do Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente (SEPNA), entre os dias 15 e 20 de dezembro, em todo o território nacional, realizou ações de fiscalização no âmbito da proteção de espécies da vida selvagem com o intuito de prevenir, detetar e reprimir situações de tráfico, exploração, comercialização e detenção de exemplares deste tipo.
Durante a operação, militares dos comandos territoriais, em coordenação com a estrutura SEPNA, fiscalizaram 209 estabelecimentos comerciais, 29 feiras e duas exposições, tendo registado:
·         68 contraordenações;
·         164 aves apreendidas.
Esta operação decorreu no âmbito da Convenção Sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção (CITES), que regula o comércio internacional de espécimes das espécies da fauna e da flora selvagens (espécimes vivos de animais e plantas e suas partes e derivados) com base num sistema de licenças e certificados que provam a sua origem legal.
No que diz respeito ao distrito de Portalegre, a GNR registou:
·         Apreensão de 53 aves;
·         Identificou um homem;
·         Elaborados três autos de contraordenação.

21.12.17

NISA: Natal de ontem e de hoje...

Meninos de um outro tempo
Descalços
A saia suja
A blusa com nódoas
As calças com lama
A camisa rasgada

A mãe grita: E agora?
Como vais amanhã
Para a escola?

Lava a roupa
Os filhos já se deitaram
Pendura a roupa
Na corda
Não dorme...
Se chove
Como irão para a escola?

Já é dia
Tira a roupa, ainda molhada
Acorda os filhos
- São horas de Escola!
Bebem o café preto
Com sopas
Que está na tijela.

Vão a caminho
Para a escola
Lá vão
Descalços e gelados
Os meninos sem roupa
A que levam vestida
Ainda molhada...

Lavam-se os trapos à noite
De tanta pobreza que havia
Estendiam-se na corda
Se não chovesse de noite
De manhã o pobre vestia.

Lava-se a saia e a blusa
Meias, não havia...
Ia descalça prá escola
Os pés ficavam gelados
Porque sapatos não tinha.
(De um papel amarelecido pelo tempo retirei estes versos. Classifiquem-nos como entenderem...)
Maria Dinis Pereira

20.12.17

MEMÓRIA: Há 40 anos, outros Natais... (3)

Três histórias de guerra em tempo de paz ou vice-versa...
Estamos a poucos dias da celebração da data festiva que é o nascimento de Jesus Cristo. Tempo de reconciliação entre os homens de boa vontade, de paz e de concórdia. Recordo, aqui, nestas três histórias que podiam ser de Natal, de esperança, paz e fraternidade, três episódios da guerra colonial.  
Recordação de um Homem bom
Conheci o Carlos há muitos anos. Nascera no Pé da Serra e era ali na aldeia, por alturas do Verão e das festas que era costume encontrá-lo, a pretexto de um jogo de futebol, no “estádio” sobranceiro ao povoado. Outras vezes encontrava-o quando vinha a Nisa com a mãe e a irmã, tratar da vida.
Foi, pois, com satisfação que o encontrei, em 1971, na EMEL em Paço de Arcos. Estávamos a tirar a especialidade, eu como “soldado-raso”, ele como cabo-miliciano. Éramos de cursos diferentes e ele no fim do dia recolhia-se até à Amadora, onde, presumo, tinha acolhimento. Não falava muito, o Carlos. As nossas conversas tinham como motivo Nisa e o Pé da Serra, as coisas próprias da juventude.
Terminada a especialidade deixámos de nos ver. Cada um tomou o seu caminho. Eu andei de quartel em quartel até “poisar” nos Adidos, na Calçada da Ajuda. Foram meses infernais, de Fevereiro a Junho de 1972. Tinha sido mobilizado para a Guiné, em rendição individual, e nesses meses vim Nisa, despedir-me da família, umas quantas vezes. Parecia um “calvário” interminável, a repetição de uma despedida que de cada vez se tornava mais dolorosa.
Parti, enfim, rumo a Bissau, ao quartel do Batalhão de Engenharia. Passado pouco tempo encontrei o Carlos. A tropa, o sortilégio da vida militar, o que quer que fosse, juntara-nos na mesma unidade, em África. Era furriel-miliciano na secção de Motores Fixos, que prestava apoio técnico e reparava geradores, alternadores, de toda a Guiné, serviço que, não raras vezes, o levavam aos locais mais inóspitos do território.
Eu tinha outra ocupação e em serviço diferente, motivos por que, no mesmo quartel, não se víamos amiúde.
Após o 25 de Abril, num dia de Maio de 1974, à tardinha, vejo chegar o Carlos num jeep e diz-me: Mário, anda daí, vem comigo!
Estranhei o pedido, àquela hora e respondi-lhe:- Espera, vou buscar a G3!
- Não, não é preciso, não tragas arma!
Montei-me no jeep, íamos a caminho de Bissalanca e rumámos na direcção de Safim. Até aqui ainda estávamos em zona de segurança. Prosseguimos na estrada, perguntei-lhe aonde íamos e ele só me dizia: Espera que já vês!
Eu não estava a ver nada e a ficar cada vez mais inseguro. Passámos Nhacra e cortámos á direita. Já sabia aonde íamos, faltava saber o motivo e tornei a perguntar-lhe:
- Ó Carlos, mas o que é que vamos fazer ao Cumuré, a esta hora?
- Vamos ver uns amigos! – respondeu.
Passámos a porta de armas, ele disse qualquer coisa que não entendi ao oficial de dia e este apontou-lhe para uma caserna no extremo do quartel. Uma caserna com guardas (soldados) à porta, o que estranhei. Depois e para minha surpresa, entendi tudo, o secretismo da viagem, o horário, a guarda da caserna. Só ficou por perceber e o Carlos nunca me deu essa informação, o motivo de não levarmos armas.
Entrámos na caserna e...fiquei a saber que era ali que estavam os elementos da ex-PIDE/DGS. O Carlos perguntou por um nome, apareceu um homem ainda novo, fitou o Carlos e vi naquele olhar tanta coisa: surpresa, gratidão, afecto, amizade.
O Carlos não esquecera o seu conterrâneo e fizera 50 quilómetros para lhe dar uma palavra de conforto, de ânimo, de esperança. É fácil escrever isto, 40 anos depois. Mas não era qualquer pessoa, num contexto de revolução, agitação social e política, e, sobretudo de vingança, que tomaria uma atitude como esta.
O Carlos, entre todas as considerações, valorizou o aspecto humano, de fraternidade e companheirismo e foi abraçar o seu conterrâneo.
Cumprimentei o senhor, não me lembro do nome, o Carlos disse-lhe que era de Nisa e ainda brincámos com algumas das “revelações” que fez, a propósito de ter tido uma namorada em Nisa.
Regressámos a Bissau já noite cerrada. Sem armas, como tínhamos ido. Eu, muito mais tranquilo e um pouco mais informado. Os dias que se seguiram, foram de grande agitação. Aproximava-se o fim da comissão de serviço, o “piriquito” já tinha entrado para o clube da velhice e o pensamento estava em Portugal ou na Metrópole, se preferirem. Eram dias febris, havia comissões para tudo e mais alguma coisa e eu vi-me envolvido numa, a nível da unidade. Esqueci o episódio do Cumuré e passado um mês rumava a Lisboa onde no aeroporto de Figo Maduro me deparei com uma manifestação do MRPP que gritavam a plenos pulmões: “Nem mais um soldado para as Colónias!
Passou-se um ano. Nunca mais vi o Carlos, até que um dia, no Verão de 1976, apareceu em minha casa, em Nisa. Eu tinha casado há pouco tempo e recebi-o com grande satisfação.
Reparei que o Carlos não era o mesmo. O sorriso tinha-se-lhe desvanecido. Estava doente, gravemente doente, mas despojado como era das coisas materiais, descuidara-se consigo próprio. Nunca me falou da doença, mas em jeito de despedida, disse-nos: “Tenho esperança em ver nascer o meu filho!
Viu e ainda conviveu com ele durante dois meses. Depois, apagou-se...
Faleceu a 25 de Dezembro de 1976. Há 42 anos...
Era Natal, um dia como tantos, para nascer e morrer. Eu quero fazer renascer, neste texto, a imagem e a memória de um homem bom, de um grande amigo que “partiu tão cedo desta vida descontente”.
Chamava-se Carlos da Cruz Ribeiro e há muito que repousa, em Paz, num lugar etéreo onde subiu pela vontade do Criador.
Mário Mendes

NISA: Três dias de festa em honra de S. Sebastião


18.12.17

O NATAL - Texto de José Francisco Figueiredo (1945)

Celebra-se, nesta época festiva, o nascimento do Deus-Menino.
Ascendendo na magnificência das catedrais ou na simplicidade acolhedora das capelinhas aldeãs, as espirais do incenso, perfumando os templos e as almas, falam ao mundo dos direitos e privilégios da Divindade, reconhecida e adorada pelos Reis Magos há cerca de dois mil anos.
O ouro dos tronos e o rendilhado e o relevo dos retábulos sugere-nos a significativa oferenda deposta pelos mesmos sábios orientais aos pés de Cristo-Rei.
E a humanidade, acorrendo dos palácios luxuosos ou dos tugúrios mais desconfortáveis para assistir, contrita e confiada, à celebração da missa da meia-noite, é bem aquela rasteira e pisada mirra que, do fundo do seu nada, se entrega nas mãos de Deus.
Santa Missa do Galo! A liturgia envolve-se numa aura de simbólico misticismo, e a alma dos crentes, despojada de toda a ganga terrena, desprende-se, nesses doces instantes, de todas as vilezas e, purificada pelo ambiente, parece revolver à cristalinidade da inocência paradisíaca.
Rasgam-se e abrem-se os corações a todos os influxos do bem e parece que quanto mais agreste é a nortada mais o calor da bondade se inflama e mais ardentes e sentidos são os gestos de solidariedade e amor do próximo.
Nesta quadra, jubilosa ou empalidecida de saudade pelos ausentes, ou mortificada pela falta dos que não mais podem voltar, os risos das crianças enchem o ar de estridulas sonoridades e apenas elas têm o condão de dulcificar o amargar nestas recordações.
Santa Missa do Natal! Como nesta hora, após uma caminhada de seis décadas, tudo me parece diferente!
Ainda os frios dezembrinos não nos mordiam as carnes e já grupos de garotos se iam amestrando para, antes e depois do Natal, andarem de casa em casa a cantar o Menino Jesus e os Reis.
Também assim andei. E das traquinices e picardias de então recordo-me como se fossem ontem!...
Logo do fundo das escadas, o mais azougado ou o de melhor garganta gritava:
- Menino Jesus de Nazaré, quere que cá cante?
Se a resposta era afirmativa ingressávamos todos no aposento onde estava reunida a família da casa, em geral a cozinha, e logo começava a loa:
Ó meu Menino Jesus,
Ó meu Menino tão belo,
Quando vieste nascer:
No rigor do caramelo!
Com maior ou menor afinação lá íamos até ao epílogo:
Vamos ver a barca bela
Que fizeram os pastores:
Vai Nossa Senhora nela
Toda cercada de flores.
Seguia-se o peditório também cantado:
Taco, taco,
Esmola para o saco;
Quem não quiser dar um vintém
Que dê um pataco.

Esta casa
Está forrada de cortiça;
A senhora que nela mora
Há-de dar-nos uma linguiça.
Feita a quete, debandava a rapaziada. Se, porém, a gorgeta não agradava por exígua, era certo que, do limiar da porta da rua, se atirava lá para cima o comentário estigmatizante, numa outra versalhada tradicional inçada de impropérios.
É claro que nessa altura, pelas escadas abaixo vinha logo a sanção, mas sem eficiência, porque o Menino Jesus punha asas nos pés naqueles pícaros...
Chegada a véspera do Natal, logo ao princípio do serão começava a festa familiar. Preparava-se a massa para as filhós e azevias e, pouco depois, com a frigideira ao lume e o azeite bem quente, todo o pessoal feminino tinha de exercer a sua função. Umas estendiam a massa, sobre a qual iam colocando equidistantes colheres de espécie (feita em geral de grão de bico ou batata) e, com a carretilha, iam recortando as azevias.
Tinham algumas a seu cargo a frigideira e ainda outras iam talhando as filhós, enquanto a encarregada da ceia punha todo o cuidado em tornar apetitosa a consoada.
Também não faltava, nestes serões de alegria doméstica, a nota jocosa ou humorística.
Para alguma conviva mais retardatário, era certo aguardá-lo surpresa hilariante: havia sempre duas ou três azevias com com recheio de estopa ou milho miúdo... E então rebentava gargalhada estrondosa, quando o recém-chegado procurava desenvencilhar-se das fibras de estopa em que cravara os dentes ou em volta de si esparrinhava os roliços e pequeninos grãos de milho...
Às dez horas tocava a primeira vez para a missa, às onze a segunda, e, à meia-noite em ponto, o padre acercava-se do altar, depois de, ao fim de porfiadas diligências, se conseguir calar as inúmeras galinhas (um filete de tripa de vaca interposto a dois pedacinhos de cana) com que a garotada serranizava e importunava toda a gente durante a época e de cujo abuso nem mesmo na igreja se abstinha.
Terminavam as cerimónias cultuais, quando o pároco, de capa de asperges, dava o Menino a beijar. Então a confusão e o alarido não havia admoestações que os dominassem.
E, na expectativa duma ceia opípera e das doçarias e mimos que a esperavam toda a multidão tomava o caminho dos seus lares, a desenregelar os membros no brasido, para em seguida se refastelar e rejubilar na abundância e prazer da consoada...
Era assim noutros tempos o Natal.
Se os pais e avós podiam proporcionar a filhos e netos além das alegrias da seroada, brinquedos, rebuçados ou bombons, era sempre o menino Jesus, aquele róseo bambino do presépio de Belém, que vinha deixá-los nos minúsculos sapatinhos.
Ninguém conhecia o velho e encanecido Pai-Natal; de resto, falando em língua estranha ninguém poderia entendê-lo.
Era, em tudo, bem português e estruturalmente cristão o Natal de há meio século, sem estrangeirice inaclimatada de Árvores, cujos ramos de agulhas agressivas esfiapam a neve nos países do norte e que estes iam e vão arrancar à glacialidade da sua paisagem, para as decorarem de ourepol  e ficarem sempre, por mais providas de fulgor e riqueza, frias e inexpressivas.
Hoje a vaga, que algum tanto se espraiou pela terra lusa, parece querer refluir e por toda a parte se acentua o regresso aos antigos costumes patriarcais.
Os presépios, inspirados nas inconfundíveis obras de arte que, no género, nos ficaram de antanho, reflorescem por todo o Portugal e até nas escolas primárias eles atraem as almas infantis, pondo-lhes no olhar reflexos d bem-aventurança.
Dir-se-ia que, nesta linda fímbria da Europa, os corações fremem em anseios de salutar recristianização. Que tão notável surto de fé e de lusitanismo continue a mover os ânimos e que, como no reatar das tradições do Natal, a nossa Pátria seja sempre, em tudo e por tudo, genuinamente, orgulhosamente portuguesa!
J. Figueiredo in “Correio de Nisa” nº 22 – 25/12/1945

O Natal visto pelos poetas nisenses (5)

Os três Reis Magos
Nas trevas cerradas da noite invernosa,
Lá vão ansiosos, pisando os caminhos,
Os Reis do Levante de incensos e arminhos,
Seguindo uma estrela nos céus luminosa...

Vão crentes buscando, a sonhar, dolorosa
Visão desmedida de encantos mesquinhos!
Humildes os Reis, a rezar, pobrezinhos,
A prece de graças a Deus fervorosa!

Caminham cansados e de olhos nos céus,
Errando na noite, soberbos e réus,
Seguindo essa estrela que os leva a Jesus...

Chegados, enfim... ao menino ofertaram
Tesouros de Fé e ali adoraram
O Deus-pequenino, dos homens a Luz!
José Gomes Correia in “Sonhos que morrem, Sombras que ficam” (1942)