... E, por não ter morrido, publicamos aqui, no Portal de Nisa, o conjunto de textos sobre o falar tradicional da nossa terra e que foram publicados (nem todos) no "Jornal de Nisa" (1ª série). O trabalho é de um distinto nisense que assina sob o pseudónimo de José d´Oliveira Deniz.
O mê môce O meu “moço”
O mê môce
cé un mose. O
meu “moço” quer um “moço”
O mê môce
um mosse tem O meu “moço” um “moço” tem.
E despous
qe tem um moce E
depois que tem um “moço”
Nõ fala com
más ningém Não
fala com mais ninguém.
Faz tudo
que lhe parece Faz
tudo o que lhe parece
Só pra sé más saliente. Só para ser mais “saliente”
Ê nõ
conhêse outro môsse Eu não conheço outro “moço”
Que seja
más maniente Que
seja mais “maniente”.
Julgase o
dône do munde, Julga-se o dono do mundo,
Nom tem
onde caí môrte Não
tem onde cair morto.
Perdôs dias
cós caspinhes Perde os dias com os cachopinhos
A jugué o
papenhôte. A
jogar o “papenhote”.
Nõ gosta de
trabalhe Não
gosta de trabalhar
Julga que
nom é precize. Julga que não é preciso.
Nõ tem inda
ôs dentes tôdes, Não
tem ainda os dentes todos,
Falta-lhô
dente do size. Falta-lhe
o dente do siso.
Por qualquer
lade onde pasa Por
qualquer lado onde passa
Só souvim
cans a ladrá. Só
se ouvem cães a ladrar.
Mésme asin,
ô pé da jemte Mesmo assim ao pé da gente
Aquáz se
põe num altar. Quase
se põe num altar.
Tude quante
vê é dele Tudo quanto vê é dele
Se tem ôs
olhes fechédes. Se tem os olhos fechados.
O paspalhem
deste môce O paspalhão deste “moço”
Só o que dá
sam cudédes. Só que dá são cuidados.
Na roda dos
noses dias Na
roda dos nossos dias
Mésme sim
fase esforce Mesmo
sem fazer esforço
A gente
incontra outra jemte A
gente encontra outra gente
Quié igual a este môce. Que é igual a este moço.
A vaidade e
as manias A
vaidade e as manias
Nôm custim
nada a ninguém. Não
custam nada a ninguém.
Sã muntes
os quias teem São muitos os que as têm
Sin gastá nim un vintém. Sem gastar nem um vintém.
Os nóces
olhes só vêim Os
nossos olhos só vêem
O que está
ô pé da gemte. O que está ao pé da gente.
Aviim tamén
de vé Haviam também de ver
O qe cada
um tem dentre O que cada um tem dentro.
A vaidade é
um defête A
vaidade é um defeito
Ca nossa
vida consome. Que
a nossa vida consome.
Nom é por
êse caminho Não
é por esse caminho
Que se matá
nossa fome Que se mata a nossa fome.
José d´Oliveira
Deniz