Neste momento de pandemia mundial, sabemos que alguns vão morrer antes que outros, e quase sempre estão no grupo do risco ou no círculo de violências cotidianas como é o caso da Palestina ocupada por um Estado sionista, violador de direitos humanos e racista, que é Israel. O filósofo camaronês Achille Mbembe evidencia em seu livro Necropolítica, ensaio publicado em 2006 na revista Raisons Politiques, “que a expressão máxima da soberania reside em grande medida, no poder e na capacidade de ditar quem pode viver e quem deve morrer”. Há décadas que Israel dita à morte de milhares de palestinos, e não seria diferente neste momento em que o mundo para diante de uma pandemia.
Nos últimos dias lemos matérias dizendo de uma suposta aproximação entre Israel e da Palestina neste período de Covid-19. São informações falsas, conforme consegui apurar com pessoas que residem na Palestina. Os primeiros casos de contaminação foram em Israel e eles não tomaram nenhuma medida de prevenção, ao contrário, depois de contaminar palestinos que trabalham em Israel os colocaram de volta nos check-points, sem nenhuma assistência ou prevenção contra novas infecções.
A violência de não se preocupar com o ser humano foi relatado em uma matéria no qual um homem foi encontrado no chão nos arredores da vila de Beit Sira, a oeste de Ramallah, deixado por seu empregador israelense. Vários trabalhadores palestinos foram contratados, desde que não saíssem do território israelense, entretanto, no menor sinal de febre são abandonados à sorte por soldados israelenses. Não há respeito à vida humana, e nenhum tipo de responsabilidade por parte desses empregadores. Aos palestinos, quando não morrem pelas bombas e balas dos soldados de Israel, cabe morrer de fome (por não conseguirem trabalho) ou morrer por coronavírus.
Abandonar uma pessoa doente à própria sorte, nos remete novamente a questão posta por Mbembe: “se a noção de biopoder é suficiente para a compreensão das maneiras contemporâneas em que a política, através da guerra, faz do assassinato do inimigo o objetivo primeiro e absoluto?”. Certamente que sim, quando se trata da violação de direitos vivida por palestinos. O necropoder é uma tese pós-colonial que está fincada nos pressupostos da crítica ao colonialismo, e a Palestina ocupada é fruto desta colonização racista e genocida promovida pelos ocupantes sionistas.