31.3.20

OPINIÃO: A necropolítica de Israel que mata palestinos pelo Covid-19

Neste momento de pandemia mundial, sabemos que alguns vão morrer antes que outros, e quase sempre estão no grupo do risco ou no círculo de violências cotidianas como é o caso da Palestina ocupada por um Estado sionista, violador de direitos humanos e racista, que é Israel. O filósofo camaronês Achille Mbembe evidencia em seu livro Necropolítica, ensaio publicado em 2006 na revista Raisons Politiques, “que a expressão máxima da soberania reside em grande medida, no poder e na capacidade de ditar quem pode viver e quem deve morrer”. Há décadas que Israel dita à morte de milhares de palestinos, e não seria diferente neste momento em que o mundo para diante de uma pandemia. 
Nos últimos dias lemos matérias dizendo de uma suposta aproximação entre Israel e da Palestina neste período de Covid-19. São informações falsas, conforme consegui apurar com pessoas que residem na Palestina. Os primeiros casos de contaminação foram em Israel e eles não tomaram nenhuma medida de prevenção, ao contrário, depois de contaminar palestinos que trabalham em Israel os colocaram de volta nos check-points, sem nenhuma assistência ou prevenção contra novas infecções.
A violência de não se preocupar com o ser humano foi relatado em uma matéria no qual um homem foi encontrado no chão nos arredores da vila de Beit Sira, a oeste de Ramallah, deixado por seu empregador israelense. Vários trabalhadores palestinos foram contratados, desde que não saíssem do território israelense, entretanto, no menor sinal de febre são abandonados à sorte por soldados israelenses. Não há respeito à vida humana, e nenhum tipo de responsabilidade por parte desses empregadores. Aos palestinos, quando não morrem pelas bombas e balas dos soldados de Israel, cabe morrer de fome (por não conseguirem trabalho) ou morrer por coronavírus.
Abandonar uma pessoa doente à própria sorte, nos remete novamente a questão posta por Mbembe: “se a noção de biopoder é suficiente para a compreensão das maneiras contemporâneas em que a política, através da guerra, faz do assassinato do inimigo o objetivo primeiro e absoluto?”. Certamente que sim, quando se trata da violação de direitos vivida por palestinos. O necropoder é uma tese pós-colonial que está fincada nos pressupostos da crítica ao colonialismo, e a Palestina ocupada é fruto desta colonização racista e genocida promovida pelos ocupantes sionistas.

30.3.20

CRUZ MALPIQUE: "Memórias dum mestre de rapazes"

"As nossas escolas - desde as primárias às universidades - continuam excessivamente preocupadas com fornecer diplomas.
Os que as frequentam nada mais requerem delas. Aliás, pouco mais podem requerer, porque nada mais elas podem dar.
As escolas portuguesas continuam a ter pouco de mães amorosas, e muito de madrastas rabujentas. E daí resulta um facto muitíssimo triste: é que quantos a frequentam só têm uma viva ambição: verem-se livres delas, o mais depressa possível.
As nossas escolas não são lugares onde apeteça estar, mas donde apetece fugir"
Cruz Malpique - Memórias dum mestre de rapazes" - Livraria Athena (Porto) -1967 - Pág. 16
*****
 "Solilóquio é narcotizante. Só o colóquio traz à vida, à classe. Só ele arrebita a atenção dos alunos. Fora desse sistema, os educandos darão uma presença pouco mais do que fictícia. A interrogação será o termómetro que permitirá medir a algidez ou o calor intelectual da turma"
Cruz Malpique - Memórias dum mestre de rapazes" - Livraria Athena (Porto) -1967 - Pág. 21
Foto: Cruz Malpique homenageado pelos seus antigos do Liceu Salvador Correia de Sá (Luanda)

No Dia da Terra, palestinianos em casa e bandeiras nos telhados

 A 30 de Março, os palestinianos assinalam o Dia da Terra com mobilizações de massas, mas este ano, num contexto de pandemia, os eventos foram cancelados e foi feito um apelo para mostrar a bandeira nacional.
Diversas facções palestinianas cancelaram, no sábado passado, as mobilizações que haviam convocado, na Faixa de Gaza cercada, para assinalar o 44.º aniversário do Dia da Terra Palestina e o segundo aniversário do início das mobilizações da Grande Marcha do Retorno, tendo em conta o contexto de pandemia de Covid-19.
A 30 de Março de 1976, no Norte de Israel, foram assassinados seis palestinianos que protestavam contra a expropriação de terras para dar lugar a aldeamentos judaicos. Além disso, cerca de 100 pessoas ficaram feridas e centenas foram presas durante a greve geral e as grandes manifestações de protesto que, no mesmo dia, ocorreram no território do Estado de Israel. A partir de então, os palestinianos passaram a comemorar o Dia da Terra a cada 30 de Março.
Precisamente nesse dia, em 2018, os palestinianos residentes no enclave cercado da Faixa de Gaza deram início aos protestos da Grande Marcha do Retorno. Com essas mobilizações, exigiam – e exigem – o direito dos refugiados palestinianos e seus descendentes a regressarem às terras, na Palestina histórica, de onde foram expulsos em 1948, no âmbito da campanha de limpeza étnica realizada pelas forças sionistas, por ocasião da criação de Israel, bem como nas décadas subsequentes.
Reclamam igualmente o levantamento do cerco imposto por Israel há mais de uma década ao enclave costeiro, onde vivem cerca de dois milhões de pessoas em condições humanitárias dramáticas.
No sábado, Khaled al-Batsh, representante da Jihad Islâmica, comunicou o cancelamento das iniciativas programadas e instou as pessoas a ficar em casa, para sua segurança, tendo em conta «a pandemia letal». Em vez disso – e tal como fizeram outros responsáveis palestinianos na Margem Ocidental ocupada –, pediu à população que exibisse a bandeira da Palestina nos telhados das suas casas, informam a PressTV e a Quds News Network.
Liga Árabe pede a organismos mundiais que denunciem crimes de Israel
Num comunicado emitido este domingo, a propósito do 44.º aniversário do Dia da Terra Palestina, a Liga Árabe (LA) denunciou as violações dos direitos da Palestina perpetradas por Israel e instou os organismos internacionais a expor abertamente as políticas racistas e os crimes que a entidade sionista comete contra o povo palestiniano.
Israelitas intensificam o roubo de terras nos territórios ocupados
«Israel continua a violar os princípios básicos do direito internacional e as resoluções da Organização das Nações Unidas ao aumentar os seus colonatos ilegais nos territórios palestinianos ocupados», denunciou a LA, advertindo que as autoridades de Telavive pretendem transformar os territórios palestinianos em zonas exclusivamente judaicas, refere a HispanTV.
Reafirmando o seu apoio total aos palestinianos na luta contra Israel, o bloco pan-árabe insistiu na necessidade de criar um Estado palestiniano independente tendo como capital Jerusalém.
A Liga Árabe alerta ainda que Israel se está a aproveitar do facto de o foco mediático mundial estar centrado na pandemia da Covid-19 para levar a efeito os seus planos expansionistas e usurpar mais terras palestinianas.
AbrilAbril - 30/3/2020

OPINIÃO: "O pior cego é o que não quer ver"

Saramago em entrevista à RTP disse que “contra a morte não podemos nada” e no seu livro “Intermitências da Morte" (2005), escreveu que “a nossa única defesa contra a morte, é o amor”. Este escritor debruçou-se sobre o nosso papel, enquanto seres vivos e com capacidade para alterar ou não o rumo da vida. No “Ensaio sobre a Cegueira”, Saramago, no final do livro mostra-nos que as pessoas não aprendem…
Tivemos vários avisos e experiências que antecederam o COVID-19 e que o mundo continuou a desvalorizar. Agora, muitos começam a entender a importância de um SNS fortalecido. Os privados e os seguros mostram bem a sua falta de apetite por situações que podem dar prejuízo. E o dinheiro esbanjado com os PPP’s e em especial com os Bancos, dava para termos um SNS de excelência e preparado para nos defender desta guerra invisível.
Aumenta a preocupação para com os sem-abrigo, as pessoas na pobreza-extrema e os idosos. O COVID-19 funciona como a espada de Dâmocles e não escolhe, leva todos os que estão expostos. A pandemia cresce, a economia afunda, mas se a esperança morrer, morre tudo… O melhor índice de evolução de uma sociedade é o nível de investimento na saúde pública.
Trump desvalorizou os alertas mundiais e afirmou que estava tudo controlado; apelidou ainda o COVID 19 de “vírus estrangeiro e vírus chinês”; acusou a OMS de dar informações falsas; repetiu a retórica dos negacionistas, como faz em relação às alterações climáticas. Conseguiu ainda irritar os alemães ao querer comprar os direitos de uma futura vacina.
Bolsonaro acusou de histeria, os preocupados com o vírus; também está na linha de contestar a ciência e só lhe falta afirmar: morram as pessoas, salve-se a economia. Salvini imita Trump comparando o vírus com os refugiados e ficamos sem palavras para classificar o plano de Boris Johnson para criar “imunidade de grupo” contra o coronavírus.
É a extrema-direita irresponsável, declarados portadores de outras estirpes de vírus, no seu estilo xenófobo e despida de solidariedade. Estes conservadores convergem na simpatia por um sistema de saúde privado, ou seja, a sobrevivência apenas para quem tem dinheiro.
O Conselho Nacional de Saúde Pública rejeitou a hipótese do fecho de Escolas quando o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças o estava a recomendar. O Japão, Singapura e Hong-Kong aplicaram medidas exemplares e controlaram a pandemia. Na Europa, Itália e Espanha são o maior exemplo do descontrole da situação por uma atitude tardia. O mais importante é a disciplina de todos nós e o pior é a U.E. a resolver o problema a encher dos bolsos dos banqueiros.
A U.E. mais uma vez funcionou de forma lenta e em serviços mínimos. Fechar apenas as fronteiras não resolve o problema, mas sim rastrear e implementar o controlo sanitário que infelizmente começou mal e tarde. Esse controlo deve ser feito sem limites criando fronteiras sanitárias internas. Na Lombardia as pessoas deslocaram-se para o sul do país e propagaram a epidemia, colocando um pais inteiro de quarentena.
Neste momento o que importa é seguirmos as recomendações, perante uma emergência social, de saúde pública e económica, o medo é o nosso maior inimigo e a luta é a maior defesa. Todos temos que assumir a responsabilidade e quem tem o dinheiro dos nossos impostos, deve aplicá-lo no combate a esta pandemia. Os trabalhadores da saúde estão numa luta histórica e merecem as melhores condições e a máxima atenção. Sem o SNS como o programa do CHEGA se apresentou, a maioria dos portugueses, não iria ter garantias de tratamento.
As consequências disto tudo não as sabemos, mas é urgente a requisição civil de pessoas, de meios e combater os oportunismos e os abusos. A economia à beira de uma recessão, já está a criar vítimas com despedimentos; com os pequenos negócios, recibos verdes e restauração; os emigrantes como os explorados no Baixo Alentejo, sem direitos e sem proteção. É a hora de sermos responsáveis na luta por um futuro justo e sustentado.
Regresso a Saramago e a “Intermitências da Morte", gostava de acreditar nesse final “no dia seguinte ninguém morreu”, mas não é assim. No livro “Ensaio sobre a Cegueira”, Saramago convida-nos à reflexão do comportamento do ser humano e para exemplificar que muita gente não quer ver a realidade, recordo Angel, um aldeão francês, o primeiro intervencionado a um transplante de córnea no século XVII; consta que ficou horrorizado com o mundo que viu e daí nasceu a expressão “O pior cego é o que não quer ver”.
Paulo Cardoso - 27-03-2020 - Programa "Desabafos" / Rádio Portalegre

29.3.20

NISA: Textos do "Jornal de Nisa" (2008)


Vamos todos à Romaria!
Eram nove horas naquela manhã de Primavera, com os nisenses a acordar ao som das bonitas melodias interpretadas pela Banda de Música de Nisa, que passava na rua a dar a alvorada, enquanto no ar já se ouvia o estoirar dos foguetes, expedidos lá do cimo do cabecinho de Nossa Senhora da Graça, a nossa padroeira, como a quererem dizer, que já eram horas de partir para a Romaria.
Noutros tempos, o trajecto (4 quilómetros) era feito a pé, em que a folia dos rapazes e raparigas iam alegrando os caminheiros, cuja primeira paragem obrigatória seria, como prova de fé, na “Oliveira do Encontro” para aí se fazer e deixar, uma cruz de paus, pois era uma tradição antiga.
Hoje, a oliveira já não existe, porque não a souberam salvaguardar e os romeiros já vão de automóvel.
Com mais uns risos e gargalhadas, começava-se a avistar a ermida, ainda lá longe, fazendo-se outra breve paragem para ir ver o “Penico dos Pastores”, de igual modo vandalizado e roubado.
O percurso ia chegando ao fim e já nas imediações da capela, a primeira coisa a fazer era escolher o local onde se iria merendar: o terreno mais propício, a melhor sombra e a melhor visibilidade, deixando lá o farnel, para que outras pessoas não o pudessem ocupar.
Na encosta da colina existiam os “botequins” das bebidas e a barraca da massa frita (brenhól). Mais acima, no átrio de Nossa Senhora dos Prazeres, estavam instaladas as tendas das lembranças, onde não faltava a pinhoada e as “santinhas” de açúcar, ali bem perto do célebre fotógrafo.
Às horas da missa e da procissão, quase toda a gente subia lá acima ao cabecinho, local de culto, onde se iria cumprir as promessas e pedir à nossa padroeira, o bem-estar, saúde e sorte para toda a família, contribuindo-se com donativos em ouro e dinheiro, sendo as notas afixadas com alfinetes no manto da Senhora.
Algumas pessoas ofertavam “ramos” que eram depois arrematados, logo a seguir ao almoço, ao som da música.
Não faltava na romaria, um pezinho de dança, acompanhado por vários componentes da banda ou pelas harmónicas de algum músico de improviso.
E para a festa ser festa, era por vezes necessária a intervenção da guarda republicana, a cavalo, porque quase sempre havia zaragatas.
A hora do almoço era aquela em que o convívio era mais forte e sentido. Despertava ali uma espécie de “magia” a que a paisagem verdejante dos campos e o cheiro das flores silvestres não era alheio. Era uma sensação de bem-estar, poucas vezes sentida durante o ano e a que não faltavam os condimentos das iguarias tradicionais, o bom vinho caseiro a marcar presença, os pastéis de bacalhau (almôndegas), empadas, painhos, lombos, carne assada de borrego e os bolos da Páscoa. A rapaziada mais modesta, contentava-se com um “pirolito” e um “lagarto” ou “freira” com um ovo lá dentro, bolos que eram confeccionados pelas nossas mães: aos rapazes cabiam os “lagartos” e as raparigas tinham direito a uma “freira”.
Antes do regresso à vila, os rapazes iam apanhar espargos e beber a bela água cristalina das fontes, enquanto as raparigas se entretinham em ir colher um ramo de flores, perfumadas com o cheiro das papoilas e do rosmaninho, que elas guardavam durante várias semanas.
Os que tinham mais dinheiro, como lembrança, compravam um “relógio” ou uma “santa” de açúcar, sendo que os primeiros eram para os rapazes e as “santas” para as raparigas.
Os que não tinham pressa em regressar ficavam lá a ver e a aplaudir os “ases do pedal”, rapaziada que apostava uns com outros em como eram capazes de subir até lá acima na bicicleta.
À tardinha, as pessoas que por qualquer motivo não puderam ir à Romaria, tinham o hábito de ir esperar o pessoal, junto à Fonte do Frade, metendo conversa com este e aquele, perguntando: “ Então, gostaram da Romaria? E não houve “garreias” este ano?”.
Era assim, noutros tempos a nossa Romaria à Senhora da Graça. Descrevemo-la aqui como a vimos e sentimos, não deixando de sentir um frémito de emoção e saudade.
“O que vem do coração pode-se escrever, mas não o que o coração é”
António Mourato (Conixa) – 24/3/2008

28.3.20

SAÚDE: Os inimigos do rim: diabetes, hipertensão e obesidade

Os rins são um órgão interno duplo que desempenha várias funções importantes no organismo, nomeadamente a filtração e eliminação de produtos tóxicos do metabolismo e do excesso de água, a ajuda no controlo da pressão arterial, o estímulo da produção de elementos sanguíneos e a ajuda na manutenção da saúde óssea.
O sinal mais evidente do funcionamento renal é a urina, produzida através do mais de milhão e meio de filtros, chamados nefrónios, que constituem as unidades funcionais de cada um dos rins.
A doença renal produz poucos sintomas nas fases iniciais e pode não ser detectada até se encontrar numa fase avançada. Importa assim conhecer quem está em risco para iniciar medidas de protecção do rim (prevenção) e de detecção precoce, normalmente através de análises relativamente simples, de sangue e urina (muitas vezes mencionadas como “função renal”). 

27.3.20

NISA: 27 Março - Dia Mundial do Teatro







ELVAS: Prisão preventiva para detida na fronteira na posse de cinco mil doses de cocaína

O Comando Territorial de Portalegre, através do Centro de Cooperação Policial e Aduaneiro do Caya e do Destacamento Territorial de Elvas, ontem, dia 26 de março, deteve uma mulher de 36 anos, pelo crime de desobediência e tráfico de estupefacientes, em Caia.
No decurso da vigilância permanente realizada em toda a fronteira terrestre, foi detetada uma mulher a tentar entrar a pé no país, através um ponto de passagem não autorizado, o que culminou na sua detenção pelo crime de desobediência.
Os militares suspeitaram do comportamento da detida e tentaram apurar os motivos que a levavam a tentar entrar em Território Nacional, tendo detetado um saco ocultado no vestuário da detida, contendo mais de 5 000 doses de cocaína.
A detida foi presente no Tribunal Judicial de Elvas hoje, dia 27 de março, onde lhe foi aplicada a medida de coação de prisão preventiva.

VILA VELHA DE RÓDÃO: Município procede à desinfecção de ruas e espaços públicos do concelho

O Município de Vila Velha de Ródão, em concertação com as Juntas de Freguesia do concelho, iniciou esta semana uma operação de higienização e desinfecção das ruas e espaços públicos, como forma a evitar a propagação do Covid-19 e proteger a saúde dos munícipes.
Estas ações de limpeza vão decorrer em todas as freguesias, com particular incidência nos locais onde se verificam maiores concentrações de pessoas, como é o caso da Câmara Municipal, entidades bancárias, Agrupamento de Escolas, lares, CTT, bombas de gasolina, zonas indústrias, supermercados, farmácia, largos, entre outros espaços.
Trata-se de uma ação realizada em coordenação com as Juntas de Freguesia de Vila Velha de Ródão, Fratel, Perais e Sarnadas de Ródão, cujo objetivo é manter os arruamentos e espaços públicos limpos, tendo em conta a atual situação epidemiológica que vivemos, devendo ser repetida na próxima semana.
Embora a aplicação deste produto não constitua um perigo para a saúde pública, aconselha-se a população a tomar as devidas precauções.

25.3.20

ALPALHÃO: As Alcunhas dos Alpalhoenses (I)


ALCUNHAS DOS ALPALHOENSES
Iniciamos aqui a publicação de alguns excertos de um trabalho da autoria de Joaquim Carrilho Capelão (Novembro de 1986) no qual o autor descreve muitos dos aspectos etnográficos, históricos, manifestações religiosas, etc., da sua terra natal. Um testemunho que vale pela forma espontânea da escrita e pelas múltiplas experiências retratadas de um universo rural e local hoje quase extinto.
As quadras sobre as Alcunhas (42 no total) serão repartidas por várias mensagens para não maçarmos os nossos visitantes/leitores. Boa leitura!
1
Não dão mel suas Abelhas
Além de frutos, temos Abóboras
Já estão velhos os Márrelhas
Nada deitam os Botafóras.
2
Não há doidos, mas há Areias
São já raros os Bastinhos
Também há alguns Ideias
Sem guardar gado Pastorinhos.
3
Há ainda nutridos Bés
E já são raros os Belos
Restam ainda Pralés
E Lourinhos e Vermelhos.
4
São muitos os Batateiros
Já são poucos os Batecértos
Quase que não há Lanceiros
Estão a extinguir-se os Ribértos.
5
Temos ainda muitos Bentos
São poucos os Falasós
E já quase não há Sebentos
E bem assim Petingós.
6
Restam poucos Capeloas
Já são poucos os Ganhões
E também poucas as Paichoas
Quase extintos estão os Midões
7
Têm aumentado os Bolotas
E vão diminuindo os Buchos
Consta que ainda vive o Notas
E quase que não há Cachuchos.
8
Estão a acabar os Carronhas
São poucos os Cartachanas
Jáquase não restam Fronhas
E são poucos os Planganas.
9
Também temos os Churras
Somos férteis em Chouriços
Já foram mais os Costuras
E já quase não há Chamiços.
10
Ainda temos os Cachapins
Como ainda temos os Cucos
Temos também os Quiquis
E também os Pão e Buchos.

Fotos: 1 - Exposição sobre os trajes de Alpalhão
2 - Romaria da Senhora da Redonda 2008

24.3.20

SAÚDE: Recomendações para o doente idoso sobre COVID-19

 O Núcleo de Estudos de Geriatria (NEGERMI) da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) elaborou um conjunto de recomendações para os doentes idosos e familiares para prevenir a infeção por COVID-19.
Medidas de prevenção para o idoso
Lave as mãos com frequência!
• Deve lavar as mãos sempre que se assoar, espirrar, tossir ou após contacto direto com pessoas doentes.
• Evite tocar na cara com as mãos.
• Na medida do possível, evite tocar em superfícies de alto toque em locais públicos - botões do elevador, maçanetas, corrimãos, apertos de mão com pessoas, etc.
• Se é dextro use mais a mão esquerda e faça o contrário se for esquerdino.
• Use um lenço de papel ou a sua manga para cobrir a sua mão ou o seu dedo, se precisar tocar em algo.
• Evite partilhar objetos pessoais ou comida.
• Tape o nariz e a boca quando espirrar ou tossir, com um lenço de papel ou com o antebraço, nunca com as mãos, e deite sempre o lenço de papel no lixo.
Mantenha-se em casa!
• Limpe e desinfete a casa, principalmente as superfícies tocadas com frequência (como mesas, maçanetas, interruptores de luz, torneiras e telemóveis).
• Evite fazer compras diariamente ou frequentar locais com muitas pessoas.
• Se tiver que sair de casa por algum motivo de saúde urgente mantenha sempre o distanciamento social mínimo de 1 a 2 metros.
• Idealmente, procure um familiar ou um vizinho que lhe leve as compras e a medicação a casa, não mantendo qualquer contacto físico com ele.
• Não deixe acabar a medicação. Se necessitar de mais receitas, contacte o seu Centro de Saúde por telefone ou email ou peça a um familiar para o fazer.
• Mantenha-se em contacto com os seus familiares e amigos por telefone.
• Se tiver febre ou dores no corpo, tenha à mão paracetamol que pode tomar até 3-4 gramas por dia.
• Não tome anti-inflamatórios não esteroides (estes medicamentos são inapropriados para os idosos).
• Beba bebidas quentes.
• Deve beber muitos líquidos, de preferência em bebidas quentes que deve ter sempre preparadas, com mel (se não for diabético), limão, outros sumos, chá, café.
• Alimente-se bem, comendo carne, peixe, ovos e fruta que deve lavar e descascar antes de comer. Não dispense a sopa quente.
• Faça exercício. Não esteja horas sentado. Ande em casa por períodos de mais de 10 minutos 3 vezes por dia ou se possível use uma pedaleira.
• Quando já estiver bem não contacte com outras pessoas durante 14 dias
Deverá procurar atendimento médico se sentir:
→ Dificuldade em respirar ou falta de ar.
→ Dor ou opressão persistente no peito.
Atuação dos familiares do idoso
• Confirme que o seu familiar tem medicamentos e alimentos suficientes a fim de evitar faltas inesperadas.
• Sempre que o contacto físico for indispensável lave cuidadosamente as suas mãos, mas se tiver tosse ou febre não o visite.
• Promova o isolamento social do seu familiar, mas não o abandone!
• Esteja atento à eventual dificuldade de respirar do seu familiar ou às manifestações de alteração do estado   de consciência e confusão.
• Se o seu familiar estiver institucionalizado, informe-se do protocolo criado pela instituição e cumpra-o rigorosamente.
Sobre a SPMI
A Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) é uma das maiores sociedades científicas médicas portuguesas, que congrega os internistas, que são a base do Serviço Nacional de Saúde nos hospitais. Um dos seus maiores desígnios é a divulgação do conhecimento, dirigida aos médicos e à população, no campo muito vasto da Medicina Interna. Para além da Medicina Curativa, quer ser também cada vez mais reconhecida no campo da prevenção da doença e promoção da saúde. Para mais informações consulte https://www.spmi.pt/

VILA VELHA DE RÓDÃO: Câmara ativa Plano Municipal de Emergência e Proteção Civil

 A Câmara Municipal de Vila Velha de Ródão, por solicitação do seu presidente, Luís Pereira, e após ouvida a Comissão Municipal de Proteção Civil, ativou, por unanimidade, o Plano Municipal de Emergência e Proteção Civil de Vila Velha de Ródão, que vigorará a partir desta terça-feira,  24 de março, tendo sido também elaborado e homologado um Plano de Operações Municipal.
Com a ativação do Plano Municipal de Emergência, pretende-se assegurar a colaboração das diferentes entidades intervenientes, garantindo a mobilização rápida de meios e recursos que possam ser afetos ao combate à pandemia em curso e promover uma maior eficácia e eficiência na execução de ordens e procedimentos que sejam previamente definidos.
Garante-se, com este procedimento, a criação de condições favoráveis à mobilização rápida, eficiente e coordenada dos meios e recursos disponíveis no concelho de Vila Velha de Ródão, bem como de outros meios externos de reforço que sejam considerados essenciais e necessários para fazer face à atual situação de emergência.
Reforça-se, neste momento, a solicitação aos munícipes e cidadãos em geral, pelo estrito cumprimento das recomendações de proteção, individuais e coletivas, que lhes forem pedidas, pelas autoridades municipais e nacionais, apelando ao seu espírito cívico para participarem no esforço coletivo de combate a esta pandemia.
Deste modo, foi desde já determinado pela Autoridade de Saúde Municipal que todos os cidadãos que não residem no concelho de Vila Velha de Ródão e que regressaram ou regressarão ao concelho, quer venham do estrangeiro ou de zonas de contágio comunitário do país, permaneçam em isolamento domiciliário durante 14  dias, a contar do dia da sua chegada.

23.3.20

HUMOR EM TEMPO DE CÓLERA

A máscara
Cartoon de Henrique MOnteiro in https://henricartoon.blogs.sapo.pt

Isolamento social e Violência Doméstica / Apliacação VIVE +AQUI

E Quando se vive em isolamento com um agressor ?
O Movimento Democrático de Mulheres, neste momento em que está decretado o estado de emergência devido à pandemia de Covid19, considera da máxima importância o esclarecimento e sensibilização da população relativamente a este virus, assim como que todas as formas de prevenção e combate ao mesmo seja asseguradas de modo a salvaguardar a saúde pública. 
Contudo importa também lembrar que a  violência doméstica constituir um verdadeiro flagelo social em Portugal e alertar para o facto da ansiedade e stress psicológico associados a este momento de incerteza e isolamento social poderem tornar-se uma alavanca para as agressões no meio familiar. Por este motivo, é importantíssimo redobrar a atenção e vigilância assim como reforçar os meios dedicados à proteção de vítimas de violência doméstica. 
Sendo uma das suas grandes preocupações, o MDM dispõe no seu sítio na Internet (www.mdm.org.pt) de ligação ao “Sistema Queixa Eletrónica”, que facilita a apresentação à GNR, à PSP e ao SEF de queixas e denúncias por via eletrónica, de determinados tipos de crime, nomeadamente, o de Violência Doméstica.
O MDM dispõe, ainda, de uma aplicação desenvolvida pelo mesmo e que está disponível gratuitamente para ajudar pessoas em risco ou em situação de violência doméstica, o “VIVE+AQUI!”, que pode instalar gratuitamente no seu telemóvel. Esta aplicação é um instrumento complementar, informativo, que pode ajudar a monitorizar situações de conflito. Disponibiliza informação que permite o acesso direto aos serviços de emergência. Informa sobre direitos e procedimentos legais, dá acesso a requerimentos e guias, disponibiliza contactos para ajuda profissional e cria uma área reservada que permite criar contactos próprios de emergência para pedir ajuda de forma discreta e regista, de forma protegida, episódios de violência doméstica.
Sabemos que não é possível falar de igualdade enquanto a violência fizer parte da vida das mulheres, por isso, tal como no passado, estaremos atentas a esta problemática e seremos uma voz na defesa dos direitos das mulheres. 

MEMÓRIAS DE NISA: A Praça


Há em todas as terras do Alentejo, um espaço que povoa as memórias de infância, confluência de novos e velhos, retiro de brincadeiras e vivências que o tempo não consegue apagar.
Manuel da Fonseca descreve-o, admiravelmente, como O Largo.
O Largo, em Nisa, era a Praça, centro das nossas atenções, quartel-general improvisado de tantas brincadeiras, de grandes “conspirações” e não menos famosos planos de aventuras, em que a fantasia era fértil.
Ali jogávamos à bola, com a redondinha feita de trapos enfiados numa meia, os pés descalços, sentindo a rudeza do solo e com o imenso terreiro por nossa conta, até que os gritos do rapazio incomodassem os senhores da Câmara e nos mandassem, como saudação, a GNR. Depois era a debandada geral...
A Praça (Praça do Município) tinha um rosto diferente nesse tempo. Eram raros os automóveis, dois metros e pouco de calçada portuguesa em toda a volta e a parte central, em terra batida, era zona conquistada por nós.
Bola, jogo do pião, da pata, hóquei (sem patins e sem calçado que o tempo não se compadecia com esses luxos), uns cajados de improviso, imitando os stiks dos Velascos, Moreiras, Adrião e Bouçós, hoquistas elevados à categoria de heróis e que mantinham bem alto a supremacia “hoquista” sobre os espanhóis.
Hoje, está transfigurada a Praça. A taberna à esquina da Ruinha, onde os rapazes das sortes e os acompanhantes das bodas faziam paragem obrigatória, deixou de existir.
Um canteiro ajardinado, minúsculo, ocupa agora o espaço onde outrora estava a casa em que nasci, no extremo com a Rua Direita.
Do enorme espaço central, ficou apenas uma sentida recordação.
É certo que agora a Praça tem laranjeiras em volta, bancos de pedra, um jardim e, bem no centro cumpriu-se um dos desejos pelo qual muitos nisenses se bateram: a implantação do pelourinho, símbolo do poder municipal.
Concluíram-se as obras em 1969 e as autoridades municipais devem ter tido um trabalhão para conseguirem reunir os diversos elementos em mármore, do pelourinho, espalhados por vários locais de Nisa.
Na Praça, um belo edifício religioso: a Igreja da Misericórdia, entalada entre o antigo Hospital do mesmo nome e o edifício da Câmara. A igreja remonta ao século XVI.
A seu lado a casa sede do Município. Do século XVIII e, primitivamente, mais pequeno que o actual. (2)
Ainda na Praça, além do imponente edifício da Fundação Lopes Tavares, onde funciona actualmente a Misericórdia de Nisa, uma bela fonte em cantaria: a Fonte do Frade.
Diz o prof. José Francisco Figueiredo na sua Monografia da Notável Vila de Nisa que a fonte foi concluída em 1726 tendo um alto e sólido frontispício de granito, duas bicas, espaçoso chafariz e a nascente era a mais abundante de todas as fontes de outrora.
A Fonte do Frade foi implantada no caminho de Nisa para a Senhora da Graça, mais ou menos no sítio onde hoje estão as ruínas do antigo lavadouro municipal. Dizem-nos pessoas idosas que a fonte ocupava uma área bastante maior do que aquela onde hoje se encontra na Praça.
Voltamos à Praça do Município e à fonte. Aqui vinha o ti Camilo buscar água para o seu jumento e para abastecimento próprio. Dali se abasteciam a maior parte das casas da Vila, até à implantação da rede domiciliária de águas.
Ali se realizou, na fonte, um dos poucos e mais belos documentários feitos pela RTP em Nisa, em 1962, por intermédio do nisense Baptista Rosa.
É esta a Praça nova, moderna, socializada. Cruzam-na a toda a hora os automóveis, as pessoas apressadas, de papelada na mão.
Os velhos, no Verão, aceitam o desconforto dos bancos de granito, em troca da sombra e de uns momentos de conversa.
Desapareceu aquele espaço térreo onde brincávamos até para lá do sol-posto, corríamos, saltávamos ou atirávamos o pião e a pata.
O grande espaço, que se tornava pequeno quando, a uma voz, fugíamos a sete pés à frente da Guarda.
Está ali a Praça. Moderna, bela, funcional, para certos gostos. Colocaram o pelourinho numa redoma, cercado de arbustos que são árvores, de placas de identificação que nada informam, esconderam-no, literalmente, como se fosse algum monstro e não motivo de orgulho, história e memória.
Atravancada de carros e às vezes de entulhos e resíduos de obras, a Praça é apenas uma imagem travestida daquele largo enorme e nosso, onde se ouviam os pregões do ti Relvas, as imprecauções do Adolfo e passavam as procissões, em cadência solene, sobre o chão atapetado de flores e verdura.
Mário Mendes
Notas
1. Figueiredo, José Francisco, "Monografia da Notável Vila de Nisa"
2. idem

Estado de Emergência versus Estado de Alerta


OS EUNUCOS
Os eunucos devoram-se a si mesmos
Não mudam de uniforme, são venais
E quando os mais são feitos em torresmos
Defendem os tiranos contra os pais

Em tudo são verdugos mais ou menos
No jardim dos haréns os principais
E quando os mais são feitos em torresmos
Não matam os tiranos pedem mais

Suportam toda a dor na calmaria
Da olímpica visão dos samurais
Havia um dono a mais na satrapia
Mas foi lançado à cova dos chacais

Em vénias malabares à luz do dia
Lambuzam da saliva os maiorais
E quando os mais são feitos em fatias
Não matam os tiranos pedem mais.

22.3.20

OPINIÃO: Mais compromissos e menos jogos

Faltam três anos e meio para o fim da legislatura. Mais do que de crises artificiais com um olho na maioria absoluta, o país precisa de compromissos claros sobre o que importa: o trabalho, a habitação, a saúde e o investimento.
A este respeito, pouco mudou desde o dia das eleições, em que o Bloco de Esquerda propôs ao Partido Socialista um acordo para a legislatura, que começasse pelo essencial - a proteção dos direitos laborais, retirando do código de trabalho as normas que a troika lá deixou até hoje - e que avançasse para os necessários compromissos com o investimento nos serviços públicos.
Estávamos em outubro de 2019 e o Bloco foi mesmo o único partido a defender a necessidade de um acordo que definisse a atuação do Governo sobre prioridades concretas. Nada de original: assim se fez em 2015. Uma opção considerada supérflua pelo PCP mas também pelo presidente da República, que veio recentemente manifestar a sua preocupação com o desgaste de um Governo minoritário cheio de vontade de se atirar ao chão.
Quanto ao PS, é sabido que rejeitou a proposta do Bloco, sem sequer apresentar qualquer alternativa. António Costa achou que não tinha interesse em negociar. Nas palavras de então da jornalista São José Almeida, "se António Costa faz a mise-en-scène de tentar os acordos, é apenas para manter a imagem de coerência no diálogo", porque, "com o peso que tem no Parlamento, o PS pode governar sozinho, com acordos pontuais, medida a medida, com facilidade". A verdade, hoje clara aos olhos de todos, é que o Partido Socialista, na sua arrogância, achou que beneficiaria de uma estratégia de "dividir para reinar". Governaria sozinho, sem cedências à esquerda, contando com votos cruzados dos restantes partidos. O resultado está à vista: impasses políticos e uma governação errática, sem um rumo definido, que, tal como apontado pelo presidente da República, mostra cada vez mais sinais de desgaste.
O ministro Siza Vieira vem agora apresentar-se, em entrevista ao Expresso, como partidário derrotado de um maior empenho inicial num acordo com o Bloco de Esquerda. Mas a hora não é para arrependimentos. O PS está bem a tempo de encontrar parceiros para passos concretos, por exemplo, no combate à precariedade e aos abusos laborais. Ou para cumprir os seus compromissos eleitorais sobre investimento em habitação pública (que preferiu adiar no orçamento em nome do excedente).
O que o PS não poderá nunca esperar é que, em nome de uma estabilidade vazia de orientação e conteúdo, o Bloco de Esquerda vote matérias que não negociou ou contrariam o seu programa. As maiorias constroem-se com trabalho de aproximação e convergência, não com provocações e ultimatos.
Não tarda muito a apresentação do Orçamento do Estado para 2021. Veremos então se, em vez de tentar impor um documento à esquerda sob retórica de chantagem, o Governo "cai na real" e assume uma negociação séria e construtiva. O país sairia a ganhar.
Mariana Mortágua - "Jornal de Notícias" 11/3/2020

Dia Mundial da Água: Defender a Água como bem público e não negócio privado!

Água, esse bem precioso!
A água faz parte de nós, e está presente em tudo o que é importante e que nos rodeia. Cerca de 70% do nosso planeta é água, e é seguramente para muitos de nós, um prazer para os nossos sentidos vê-la nos mares, nos rios e nos glaciares, ou senti-la na pele nos banhos de Verão, deliciando muitos dos utilizadores das nossas praias ou dos nossos rios. Mesmo quando vemos e ouvimos a chuva a cair, sabendo que nos pode impedir de concretizar os planos para uma qualquer atividade ao ar livre programada, sabemos que muito de bom essa água trará… Aquela cascata que nos permite tirar fotos fantásticas, faz-nos esquecer a desilusão do dia em que acabámos por não sair de casa.
Sabemos também que cerca de 70% do nosso corpo é composto por água, e mesmo sabendo que esta percentagem pode mudar ao longo da nossa vida, é sempre um constituinte fundamental do corpo humano.
Na quantidade certa, a água é indispensável para um bom equilíbrio do nosso corpo, e é fundamental para a nossa sobrevivência. De um modo geral, todos os tecidos ou órgãos do corpo humano precisam de água. Desde o aspeto cosmético de uma pele fresca e macia, ao funcionamento saudável dos nossos rins, a água que é ingerida regularmente por todos nós, contribui para que o nosso organismo seja e permaneça saudável, levando assim a uma vida longa e sem preocupações de saúde.  Um desequilíbrio na quantidade corporal de água, no sentido da escassez, pode ser a causa de um quadro de desidratação, que nos extremos da vida, ou seja, nas crianças e nos idosos, pode levar ao aparecimento de complicações graves na saúde, e assim conduzir a hospitalizações delicadas e exigentes.
E qual é a quantidade de água que devemos beber diariamente? Esta quantidade não é igual para todas as pessoas, já que depende de muitos fatores. O calor e o frio, a doença e a saúde, obrigam a definir a quantidade ideal. Assim, e por exemplo, um dia de calor obriga a uma maior ingestão de água, tal como um estado febril ou um episódio de diarreia. Nas pessoas saudáveis, as restrições da ingesta são mínimas, dentro de alguns limites, sugerindo-se habitualmente entre 20 a 30 centilitros por Kilo de peso, por dia. No entanto, em doentes com uma sobrecarga hídrica, poderá haver restrições na quantidade diária.  À medida que a idade avança, aquilo que nos faz beber água, a sede, pode desaparecer.  Por isso, não devemos esperar para estarmos sedentos, para bebermos a água que nos devemos obrigar a beber diariamente. Há que criar o hábito saudável de ir bebendo ao longo do dia, aquela quantidade que admitimos ser a certa para o nosso peso, altura e condição de saúde.
A água pode ser introduzida na nossa alimentação, não só na forma livre que todos conhecemos, mas também misturada ou “escondida” em alguns alimentos. Há que saber qual a melhor forma de a fazer ingerir, sobretudo quando por motivos de saúde a facilidade em ingeri-la está dificultada.
Mas como bem precioso que é, há que preservar a água, e mantê-la presente e bem limpa no nosso ecossistema terrestre. Por isso, e para isso, há que cuidar da Natureza e evitar todas as agressões que diariamente fazemos em grandes ou pequenos gestos do quotidiano, e assim evitar tudo o que de algum modo poderá contribuir para que os nossos belos e fantásticos leitos dos rios, atualmente e ainda, cheios de água, se transformem em ressequidos  pedaços de terra, a deixar saudades dos tempos em que os nossos sentidos se consolavam a apreciá-los.
Vai um copo de água?
Fátima Pinto - Médica de Medicina Interna do Hospital da Horta

21.3.20

21 Março: Comemoremos a Vida, o Ambiente e a Poesia

Hoje, sábado, dia 21 de Março, no calendário das datas comemorativas, celebra-se (assinala-se, evoca-se, comemora-se, conforme quiserem) o Dia Mundial da Árvore e da Floresta, o Dia Mundial da Poesia, o Dia Internacional de Luta Contra a Discriminação Racial, o Dia Europeu da Criatividade Artística, o Dia Internacional da Síndrome de Down e o Dia Mundial da Marioneta. São cinco dias, cinco comemorações numa só, se repararem que todas elas, esses Dias de evocação, de lembrança e reflexão sobre aspectos ou essências do mundo em que vivemos, estão relacionados entre si. Nem precisamos fazer um grande esforço. A defesa, preservação e valorização de um ambiente saudável que torne, que proporcione em toda a sua plenitude, a escrita poética que fala do "dia inicial, inteiro e limpo" e que valoriza a união de todas as raças e credos sem discriminação de espécie alguma. É a liberdade, "querida e suspirada" como a definiu Bocage, que evidencia o clima propício à criatividade artística e permite que olhemos com outros olhos para os problemas humanos, entre estes o síndrome de Down e realce o papel do Homem como ser eminentemente social e cultural, livre de algemas e grilhetas, tenham estas as formas que tiverem. 
POEMA PARA UM DESEJO AFRICANO 
Um dia
Da terra nua do deserto
Nascerá uma flor
No braço de uma criança
Saltaremos as barreiras
Do silêncio imposto.


Dizemos não 
Ao comércio da guerra
À fome e à miséria.

Um dia
O amor desaguará
Calmamente
Deste rio que somos nós.
Joaquim Maurício