O PCP anunciou esta quarta-feira que vai entregar na Assembleia da República um projeto de resolução que insta o Governo a reverter a cedência de um conjunto de obras de arte ao hotel Vila Galé em Alter do Chão, Portalegre.
No período de declarações políticas que decorreu na Assembleia da República, a deputada Ana Mesquita classificou o “negócio” de “insólito, insulto, impensável e ilegal”. O PCP insurgiu-se contra “a cedência de obras depositadas num museu público a um grupo hoteleiro privado”, indicando que são “pertencentes ao Estado e incorporadas na reserva do Museu Nacional dos Coches”, e contestando ainda o “conhecido novo elenco da Direção-geral do Património Cultural.
Em causa está a coleção Rainer Daehnhardt, e outras peças que estavam na Coudelaria de Alter do Chão, cuja cedência a secretária de Estado Adjunta e do Património Cultural, Ângela Ferreira, autorizou para exposição no futuro hotel.
É num edifício da Coudelaria de Alter do Chão, numa propriedade com cerca de 800 hectares no distrito de Portalegre, que o Vila Galé está a concluir um hotel, ao abrigo do programa público Revive, e cuja inauguração, prevista “até ao último trimestre de 2020”, foi antecipada para o dia 13 de março.
Na semana passada, no dia 19, a secretária de Estado Ângela Ferreira disse à agência Lusa que autorizou a cedência ao grupo Vila Galé, por 25 anos, de cerca de 50 peças da denominada Coleção Rainer Daehnhardt, pertencentes ao Estado, para a instalação de um núcleo museológico no futuro hotel.
Em comunicado divulgado na segunda-feira, o grupo hoteleiro apontou que a cedência visa “valorizar a oferta cultural do interior do país”. Esta quarta-feira, no plenário, a deputada Ana Mesquita advogou que “o património não é nem pode ser moeda de troca em qualquer negociata, o património público é de todos, tem de ser respeitado”.
A deputada comunista anunciou, além de chamar a ministra da Cultura (Graça Fonseca) ao parlamento, que vai apresentar um projeto de resolução “para impedir a concretização da cedência das obras da Coleção Rainer Daehnhardt e garantir a manutenção no Museu dos Coches”, alegando que “o negócio é uma vergonha”.
Nos pedidos de intervenção, Alexandra Vieira, do BE, assinalou que “a cultura e o património têm vindo a ser tratados como terra de ninguém e estão cada vez mais na mira dos interesses imobiliários”, e apontou que o destino das obras “não é seguro”, porque o espaço que vai albergar a coleção “não cumpre os requisitos técnicos”. “A cedência é ilegal“, vincou a deputada bloquista.
Pelo PSD, o deputado Paulo Rios de Oliveira, salientou que PCP e PSD têm andado lado a lado com o objetivo “esclarecer tanta trapalhada”. “Esta questão das obras do estado tem de ser esclarecida”, desafiou o social-democrata.
Luís Capoulas Santos, do PS, acusou a deputada Ana Mesquita de não saber do que estava a falar, assinalando que “aquele património foi adquirido pela Coudelaria de Alter do Chão no período de 1995-2002”.
“Senhora deputada, o que está aqui em causa, e o que gostaria que vossa excelência me dissesse, é se quer que a coleção que foi adquirida pela Coudelaria para ser fruída na Coudelaria no contexto de um projeto de desenvolvimento regional ancorado no cavalo Alter Real, que ali continue a ser exposta, ou que seja exposta em Lisboa”, questionou o socialista.
Lusa 27/2/2020