Os vereadores Parreira
Dinis e Conceição Serra renunciaram, quase em simultâneo, ao mandato de quatro
anos na Câmara de Nisa, para que tinham sido eleitos nas eleições de Outubro de
2017.
Não se conhecem as razões
intrínsecas para o abandono do cargo na autarquia nisense, embora a fazer fé na
tardia e lacónica Nota da Presidência, as motivações dos autarcas residiria na
necessidade de se dedicarem às suas carreiras profissionais.
Não é verdade. Os dois
ex-vereadores apresentaram-se ao eleitorado nas listas do PS deixando ou pondo
de parte as suas carreiras profissionais nas áreas da saúde e da educação. Fizeram-no,
estou certo, com a esperança e a expectativa de poderem colocar ao serviço da
comunidade as suas competências profissionais e experiências adquiridas ao
longo de muitos anos naquelas áreas. Sabiam, como todos sabemos, que os
mandatos autárquicos são de 4 anos. Arriscaram, um pouco no escuro, convictos
de que poderiam contribuir para a melhoria das condições e qualidade de vida
das populações do concelho e nesse sentido, não precisaram de muito tempo para
perceber o tipo de liderança política e de estratégia de acção instalados no
aparelho municipal.
Verificaram, em pouco
tempo, o enorme fosso entre as palavras e os actos, entre a filosofia e a prática
e, sobretudo, sentiram o vazio provocado pela falta de solidariedade e relevância
institucional, num contexto político local em que a presidente da Câmara é a mãe
de todas as obras e iniciativas municipais, sendo a vereação (executivos e não
executivos) relegada para um plano secundário e meramente decorativo, sem
espaço para a discussão colectiva e séria dos principais problemas de um
concelho que gira à volta das lucubrações da sua presidente.
O anúncio de obras e de
eventos de iniciativa municipal são feitos, muitas vezes, à revelia da simples
informação aos restantes eleitos. A vereação da Câmara não existe, o que
existe, é uma eleita de primeira que fala e age em seu nome.
Este tipo de
procedimento, já detectável no primeiro mandato, acentuou-se com o alcance da
maioria absoluta. Como na altura escrevi, a maioria absoluta configurava o
aparecimento de um tipo de liderança assente na prepotência absoluta e de um novo
conceito de trabalho autárquico: o obreirismo, baseado na execução de
quantidade de obras vistosas – em detrimento da qualidade e real necessidade -,
geradas na mente brilhante da edil e aprovadas quase sem discussão, muitas
delas sem o conhecimento dos eleitos da oposição.
Acrescente-se a este
cenário, o estilo egocêntrico da presidente da Câmara, o Eu excessivo, grotesco
e por vezes anedótico das suas mensagens propagandísticas que enchem o site e
os boletins da Câmara, meios de comunicação nos quais os eleitos da oposição não
têm qualquer direito à palavra ou a exporem as suas ideias.
Este é o “filme” por onde
passa a acção municipal. Ter eleitos da mesma força política no executivo; ter
maioria absoluta, não significa, longe disso, ser a mãe de todas as razões. E
quando se tem eleitos, homens ou mulheres, que pensam pela sua cabeça e não
dependem, económica, social ou profissionalmente da Senhora Câmara está o caldo
entornado. Os dois vereadores que renunciaram ao mandato fizeram-no, estou
certo, porque atingiram o limite da paciência como munícipes, eleitos e cidadãos
livres num país que abraçou há mais de 40 anos a Democracia.
Pese embora o facto de
a coberto desse estatuto que lhe dá o peso dos votos, ainda haver quem considere
os seus semelhantes como servos e desprovidos de pensamento racional.
E quando assim é não há
muralha que resista e o rombo é inevitável.
Mário Mendes