OS OLHOS DAS CRIANÇAS
Atrás dos muros altos
com garrafas partidas
bem atrás das grades de
silêncio imposto
as crianças de olhos de
espanto e de medo transidas
as crianças vendidas
alugadas perseguidas
olham os poetas com
lágrimas no rosto.
Olham os poetas as
crianças das vielas
mas não pedem
cançonetas mas não pedem baladas
o que elas pedem é que
gritemos por elas
as crianças sem livros
sem ternura sem janelas
as crianças dos versos
que são como pedradas.
Sidónio Muralha