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13.8.25

NISA: Evocação de José Bruno nos 10 anos da sua morte


José Bruno, faleceu há 10 anos, a 13 de Agosto de 2015. Hoje, evocamos aqui o professor, o político, o cidadão e o jornalista, com a notícia da sua morte e com um dos seus textos que escreveu na coluna "Do Alto do Talefe". Muitos deles, quase todos, estão por aqui espalhados no Portal de Nisa, é só procurarem e na sua leitura recordarem o alentejano do Torrão que se tornou parte integrante da comunidade nisense e que para ela contribuiu de forma brilhante. Obrigado, José Bruno!
José Luís Tomás Bruno, 63 anos, engenheiro técnico electrotécnico, professor, director do Agrupamento de Escolas de Nisa, faleceu no passado dia 13 de Agosto, cerca das 22 horas, vitimado por doença cardíaca.
O funeral do popular professor, que fez de Nisa a sua terra de adopção, realizou-se na manhã de sábado, dia 15 de Agosto, saindo o cortejo fúnebre da Igreja da Misericórdia, acompanhado pela banda da Sociedade Musical Nisense e por centenas de pessoas que quiseram tributar-lhe a derradeira homenagem.
Férias na Praia
Sou um felizardo, depois de um ano de trabalho enfiei a família e a bagagem no carro, e desandei Alentejo abaixo até às praias algarvias.
Que contrastes, o Alentejo seco, despovoado, sem trabalho, o Algarve cheio de gente e a maior parte são portugueses, isso garanto, com estabelecimentos hoteleiros e similares em tudo o que é sítio e sempre cheios de gente.

Hotéis de luxo, marinas para iates e lanchas rápidas, aldeamentos, urbanizações, casinos, discotecas, que, numa noite, gastam mais energia eléctrica que certas vilas alentejanas.

Por coincidência ou não, os dois maiores partidos portugueses, realizaram no mesmo dia em Faro, os seus comícios de arranque da campanha eleitoral.

O país não está dividido em Norte, Sul; está sim dividido em três regiões: o Norte das indústrias têxtil, calçado, mobiliário, plásticos, moldes, etc.,; Lisboa das decisões políticas e económico-administrativas; e o Algarve que já é um destino turístico de nível internacional.

Todo o restante território continua à espera de desenvolvimento, com o Alentejo a ser a região mais martirizada.

No período eleitoral que se avizinha é bom estarmos atentos às propostas dos que nos propõem governar em especial as propostas que fizerem para o Alentejo. Porque a continuar este estado de coisas o mais certo é existirem quatro regiões: Norte onde se produz e ganha fortunas, Lisboa onde tudo se decide da política à economia, Algarve onde se vai passar férias e Alentejo uma zona de caça, isto se os codeços e os giestais não forem submersos pelos eucaliptais.

Zé de Nisa –Do Alto do Talefe - Notícias de Nisa nº 8 – 25 Agosto 1995

 

9.3.25

8 de Março - Dia Internacional da Mulher

 


A todas as Mulheres do Mundo...

...mas em especial à Gina Ferro,

                                                       pelo privilégio da sua amizade.

 

As mulheres são nossas mães, nossas filhas, nossas companheiras, nossas amantes, nossas cúmplices, o bálsamo para os maus momentos, a nossa inspiração para a ode triunfal e o estímulo para a vitória.

Com elas apanhamos bebedeiras de azul, quando não gostam de vinho.

E fartos de azul, por elas bebemos vinho, até dizer basta!

Com elas e por elas, lutamos por amanhãs que não sabemos quando vêm, mas que temos a certeza inabalável que hão de vir.

A elas nos agarramos quando sentimos que estamos a mergulhar no abismo.

Delas gostamos do carinho, do amor e do sexo-porto de abrigo.

Nelas nos fundimos e com elas fazemos filhos, erguemos projectos e por vezes engendramos mudanças de paradigma.

Com elas nos derretemos em sangue, sémen, suor e lágrimas, com gemidos e ais, punhos erguidos e bandeiras vermelhas, raiva incontida que nos vem de baixo e que desfraldamos ao vento, porque somos insurrectos. É um direito que nos assiste!

Para além de sustentarem metade do céu sobre os seus ombros, as mulheres são a metade que nos falta, que nos dá força e que nos faz vacilar, qual travão que adocica o motor.

E mais não digo…

·        Hernâni Matos

19.2.25

NISA: Memória que o tempo não apaga


Um sorriso, ainda jovial, a manter a luz e a alegria de 95 anos de vida.

Nascido no distante ano de 1930, Rui de Freitas Martins Fragoso, tornou-se uma figura popular e um exemplo de  nisense  que respondeu sempre Presente, quando as circunstâncias da vida e a vontade de fazer progredir a terra e o concelho clamavam por ajuda. A história de Nisa do século passado, escrita num tempo de liberdade e sem censuras, há de fazer-lhe a devida justiça e integrá-lo na galeria dos Homens Bons de Nisa.

São muitos os documentos que referem a sua contribuição, voluntária e dedicada, para todas as iniciativas que visavam o progresso da sua e nossa terra.

O pai, João Diniz Fragoso, foi um jornalista, desenhador e cartunista de mérito, cuja obra  ainda não foi devidamente reunida e dada a conhecer. Mas, haverá de chegar o dia em que um e outro (pai e filho) serão devidamente realçados pelo labor e pelo amor à terra que os viu nascer. Uma dedicação nem sempre bem compreendida, num tempo em que os centuriões da palavra e da ordem estabelecida, ditavam as coordenadas da vida comunitária.

Hoje, quase a terminar o dia, evocamos com redobrado prazer, o senhor Rui Fragoso, a Quinta  do Retiro, retiro de tantas recordações. Homenageamos o Homem e o Amigo, que nos dedicou especial carinho e palavras de apoio ao "Jornal de Nisa".

Daqui, deste cantinho da Cevadeira e nesta data memorável, vai um forte abraço de Parabéns e votos de continue a desfrutar de muita saúde e a manter vivo esse sorriso que é a imagem de marca de toda uma vida.

Parabéns, senhor Rui!

NOTA: A foto foi retirada da página de Facebook da Quinta do Retiro, a quem agradecemos.

 

15.6.24

GUINÉ-BISSAU: Tão longe e tão perto...

 

Há dois dias (13 de Junho) assinalei os 50 anos do regresso da Guiné-Bissau. Uma ex-colónia portuguesa, hoje país soberano e independente.
A Guiné-Bissau foi a minha casa e escola durante dois anos. Ali aprendi o que era a África, a guerra, o sofrimento, a alegria de viver sem nada (ou quase) ter. Nunca vi uma criança guineense a chorar, mas vi muitas, imensas, a sorrir, com os seus rostos de fome e umbigos dilatados. Aprendi o que era a "política" e, sobretudo, a propaganda, intensa, difundida diariamente num programa de rádio "Guiné de hoje, Guiné melhor !". Spínola não fazia a coisa por menos: conquistou muitos guineenses e oficiais milicianos portugueses; foi determinante (é preciso reconhecê-lo) com o livro "Portugal e o Futuro" para o abrir de muitas consciências e fazer despontar o movimento militar que levou ao 25 de Abril. 

O que não esperava era que, no terreno, as condições operacionais já não fossem as que ele imaginara. Os oficiais milicianos anteciparam-se e, quando  começaram as reuniões para a autodeterminação das antigas colónias portuguesas, a Guiné-Bissau já a tinha alcançado, de facto. 
Alonguei-me mais que o necessário. Este será tema de outro artigo. Neste e como nota final, apenas quero deixar um abraço para a Guiné-Bissau, para todos os Guineenses, vivendo na sua terra-mãe ou espalhados por todas as partidas do mundo.

Nunca conheci, tenho de dizê-lo, povo mais acolhedor, solidário e fraterno que este. Se, no nosso universo ainda existe uma réstia de HUMANISMO é ali que mora. 
Tão grande como os sorrisos de Esperança com que , no meio de tantas guerras e infortúnios, enfrentam cada dia que passa.

MULHERES DE PANO PRETO
Mulheres de pano preto
não chorem mais
Se puderem
quando um de nós cair ferido
rezem por nós
para que regressemos à nossa casa
Porque aqui é que é a nossa terra
não importa aonde formos
Por mais voltas que der o mundo
volta-se sempre ao mesmo lugar
Mas vocês hão de limpar o coração
com o nosso sangue que cai no chão
https://lyricstranslate.com

MINDJERIS DI PANU PRETO
Mindjeris di panu pretu
Ka bo tchora pena
Si kontra bo pudi
Ora kun son di nos fidi
Bo ba ta rasa
Pe tisinu no kasa
Pabia li ki no tchon
No ta bai nan te
Bolta di mundu
Di rabu di pumba
Ma bo na limpa bo korson
Ku no sangi ku na kai na tchon
https://lyricstranslate.com


19.5.24

QUATRO SONETILHOS A CATARINA EUFÉMIA


Na evocação da camponesa alentejana assassinada há 70 anos (19.5.1954) pelo tenente Carrajola da GNR em Baleizão.

I
A ceifeira, nos trigais,
Traz nas mãos sonhos negados
E os dedos bem calejados
De quem já ceifou demais…

Flancos doendo, agachados,
Entre mil gestos iguais
Evoca uns pontos errados
Destas questões laborais…

Essa ceifeira não chora,
Mas começa a acreditar
Que pode bem estar na hora

De que quem assim a explora
Também se deva agachar
Tal como ela o faz agora…
II
Já não sonha, as dores são tantas
Que só pode trabalhar
Se as abafa nas mil mantas
Que inventa pr`ás disfarçar…

Faltam horas, umas quantas,
Pr`á ordem de “despegar”
E as ceifeiras, como as plantas,
Podem, às tantas, murchar…

Vai longa a jorna, ceifeira!
Já esgotada da labuta,
Tão no auge da canseira

Depois de uma tarde inteira,
Pensa enfim: - Antes a luta
Que viver desta maneira!
III
Reúne os seus companheiros
Da labuta dos trigais,
Fala dos dias inteiros
Sol a sol, sem poder mais,

Lembra a escassez dos dinheiros,
Diz que os patrões, sendo iguais,
Os tratam como aos carneiros
Que abundam nos seus currais…

É dessa reunião,
Que lhes nasce, firmemente,
Uma justa decisão

De exigirem mais do pão
Que é devido a toda a gente
Mas só não falta ao patrão…
IV
Vão em grupo e vão em paz
Falar da fome que sentem
Pois pela fome se faz
Quanto os fartos não consentem…

Encontram o capataz,
Dizem ter fome… e não mentem,
Só o não sabem capaz
De matar os que o enfrentem…

Soa um disparo… a ceifeira
Cai por terra; - O que se passa?
Catarina, à dianteira,

Jaz morta sobre uma leira
Por ter negado a mordaça
De humilhar-se a vida inteira!
* Maria João Brito de Sousa26.04.2012 

16.5.23

PÉ DA SERRA (Nisa): JOSÉ HILÁRIO: A MEMÓRIA DE UM HOMEM BOM

 
Faleceu há um ano, a 16 de Maio de 2022, José Miguéns Louro Hilário, um Amigo que hoje recordo e a quem presto a minha homenagem, com o texto que escrevi na altura da sua morte. Aqui fica como a evocação e o Registo da Memória de um Homem Bom.
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A morte de José Hilário: Marinheiro de Abril e Cidadão do Mundo
José Miguéns Louro Hilário, faleceu no passado dia 16 no Hospital Amato Lusitano em Castelo Branco, após meses de doloroso sofrimento. Marinheiro de Abril, autarca, dirigente associativo, poeta, contador de histórias, cidadão do mundo, a sua vida, multifacetada, foi marcada pela sobriedade e pela humildade com que se relacionou com toda a gente. Foi o último presidente da Junta de Freguesia de S. Simão (Nisa), eleito durante três mandatos, até à famigerada "Lei Relvas" (2013) que extinguiu ou agrupou inúmeras freguesias do país.
Era uma vez...
" Poderia começar, assim, a história de um menino – ou de uma criança que não foi menino -, nascido numa das aldeias mais ostracizadas do concelho de Nisa.
Por ali viveu, no tempo de todos os sonhos e fantasias, entre rebanhos e caminhos sinuosos, o canto dos pássaros, a fresquidão das águas nos ribeiros, as brincadeiras com os companheiros da escola, crianças que, como ele, não tiveram tempo nem lugar para serem meninos.
E a serra, sempre ali, presente, omnipotente, como sentinela e guardiã do seu território de vivências e aventuras.
Interrogava-se, vezes sem conta, sobre o que estaria por detrás daquele maciço enorme e um dia, lágrimas a escorrerem-lhe pela fronte, aventurou-se para lá dos confins da serra.
Deu-se, conta, então, de que havia um mundo imenso a descobrir e fez-se marinheiro. Navegou por mares e oceanos, conheceu novas terras e gentes de outras falas, costumes e raças. Gentes que, como ele, faziam seus, o pensamento de Martin Luther King e tinham um sonho: Liberdade e Igualdade.
Nas suas viagens, contemplou milhões de estrelas, algumas traziam-lhe a luz que irradiava do seu cantinho, lá bem longe, ao pé da serra imponente.
Seria, ali, no seu pequenino mundo, aconchegadinho à serra, naquela aldeia branca com as casas em socalco, de gente honrada e livre, a sua terra de promissão.
Criada a filha, a ela retornou, como que por encanto.
Tinha agora todo o tempo do universo para falar com as estrelas, muitas delas já conhecidas desde os mares do sul, de reavivar as histórias, antigas, que ouvira, quantas vezes, por entre o esganar de um fado e os acordes do harmónio, que se repercutiam na rua, saídos da taberna.
Histórias das gentes, poesia dos lugares e recantos de uma terra, onde a liberdade – reprimida e aprisionada – nunca chegou a ser vencida.
José Hilário, o menino desta história, não quis guardar para si, todo o imaginário desse “tempo de brasa”, que foram as décadas de 50, 60 e 70 do século passado.
Debitou para o livro que aqui se apresenta, traços, amargos ou ligeiros, alguns com sugestiva dose de brejeirice, que tanto falam da guerra (colonial) ou da saga da emigração portuguesa, sentida de modo particular no concelho de Nisa e que provocou o abandono das terras e dos campos, a morte anunciada da vida rural.
De permeio, recria lendas e tradições, histórias do povo, de acentuado cariz etnográfico, histórias que têm o condão de nos mostrar, que as terras pequenas, por o serem, não deixam, também, de ter a sua história local, modos particulares de ser, agir, viver em comunidade, a sua identidade própria.
Escrita, arrancada do “fundo da alma e da memória” este livro é, na sua diversidade, um tributo à aldeia do Pé da Serra e por sequência, à freguesia de S. Simão, com 450 anos de existência.
É, também, a homenagem de um marinheiro, navegador de mundos e fundos que, chegado ao seu porto de abrigo e ao Outono da vida, deixa, para os vindouros, uma mensagem de esperança e de incentivo à luta pelos direitos de cidadania e pela Liberdade".
Este texto escrevi-o em Dezembro de 2006 para o livro "Pinceladas de Poesia e Contos da Aldeia" da autoria de José Hilário. Texto que resume o percurso de um homem de grande sobriedade e capacidade intelectual, amante da poesia e da astronomia, marinheiro que, de artífice em Vila Franca de Xira, foi singrando na Marinha Portuguesa através de porfiado estudo, com diversos cursos em electrónica, manutenção de equipamentos, especialmente radares e sistemas de navegação, conhecimentos que adquiriu tanto em Portugal como na Holanda e Alemanha. Serviu durante 38 anos a Marinha Portuguesa, sendo louvado e condecorado por duas vezes com a Cruz Naval de 3ª classe. Viajou por meio mundo, conheceu outros povos e culturas e em 1998 passou à situação de reserva com o posto de capitão-tenente. Um oficial da Marinha que, de imediato, acedeu ao chamamento da aldeia distante e durante três mandatos serviu a sua Freguesia, S. Simão, como um autarca dedicado, competente e sabendo ouvir as aspirações dos seus conterrâneos. Desde a abertura de novos arruamentos ao calcetamento de outros nas aldeia de Pé da Serra e Vinagra, à construção de uma estação de tratamento de esgotos, o trabalho dos executivos liderados por José Hilário impuseram-se à consideração dos habitantes da freguesia que lhe foram renovando a confiança.
Após a designada Reforma Administrativa imposta pela Lei 11-A/2013, a freguesia de S. Simão, com mais de 460 anos de existência, foi integrada na União de Freguesias de Espírito Santo, Nossa Senhora da Graça e S. Simão, tendo José Hilário continuado a integrar a Assembleia de Freguesia de maioria CDU, coligação pela qual sempre fora eleito.
Homem de cultura e amante da música, José Hilário foi presidente da direcção da Sociedade Musical Nisense e na sua aldeia ocupou igual cargo no Centro Cultural e Recreativo “Os Amigos do Pé da Serra” e na direcção do Centro de Dia. Não acabou, todavia, o seu labor na terra-mãe e apesar da idade, fez-se agricultor e transformou, com grande esforço braçal e apreciável investimento monetário, um terreno quase inóspito numa quinta aprazível, nas faldas da serra de S. Miguel.
Morreu o homem de Abril, o construtor de sonhos, o amigo e o poeta. A sua obra, os seus poemas e histórias da aldeia, continuarão a "falar" por ele e a dizerem-nos que, tal como escreveu Fernando Pessoa: "valeu a pena, porque a alma não é (era) pequena".
Mário Mendes – Maio 2022

EU, AS ESTRELAS E A LUA

Já fui da velha estrada, vagabundo
Sem eira nem beira. Mas, resignado.
Já me guiei pelas estrêlas, moribundo
Comi pão pelo diabo amassado

Já fui ao mar alto, numa jangada
Em noite de trovoada medonha
Já tive no bornal, tudo e nada
Sem tornar verdade o que se sonha

Já dormi ao relento em noite fria
Entre duas papoilas rubras num trigal
Envolto num lençol de maresia

Segui sempre o meu caminho a esmo
Só de madrugada a lua me dizia
Que só eu era igual a mim mesmo.
* José Hilário



17.4.23

EVOCAÇÃO: Joaquim Pessoa, poeta de Abril

PERGUNTAS 
Onde estavas
tu quando fiz vinte anos
E tinha uma boca de anjo pálido?
Em que sítio estavas quando o Che foi estampado
Nas camisolas das teen-agers de todos os estados da América?
Em que covil ou gruta esconderam as suas armas
Para com elas fazer posters cinzeiros  e emblemas?
Onde te encontravas quando lançaram mão a isto?
E atrás de quê te ocultavas quando
Mataram Luther King para justificar sei lá que agressões
Ao mesmo tempo que viamos Música no Coração
Mastigando chiclets numa matinée do cinema Condes?
Por onde andavas que não viste os corações brancos
Retalhados na Coreia e no Vietname
Nem ouviste nenhuma das canções de Bob Dylan
Virando também as costas quando arrasaram Wiriammu
E enterraram vivas
Mulheres e crianças em nome
De uma pátria una e indivisível?
Que caminho escolheram os teus passos no momento em que
Foram enforcados os guerrilheiros negros da África do Sul
Ou Alende terminou o seu último discurso?
Ainda estavas presente quando Victor Jara
Pronunciou as últimas palavras?
E nem uma vez por acaso assististe
Às chacinas do Esquadrão da Morte?
Fugiste de Dachau e Estalinegrado?
Não puseste os pés em Auschwitz?
Que diabo andaste a fazer o tempo todo
Que ninguém te encontrou em lugar algum.

* Joaquim Pessoa
    

12.4.23

SARDOAL evoca Dia do Combatente

O Sardoal vai ser palco no próximo dia 18 de abril, a partir das 11 horas da manhã, de uma Cerimónia evocativa do Dia do Combatente. A iniciativa, organizada conjuntamente, pelo Município de Sardoal e pelo Núcleo de Abrantes da Liga dos Combatentes, decorrerá junto ao Monumento de Homenagem aos Combatentes do Concelho de Sardoal, no Jardim da Tapada da Torre.

16.9.22

PORTALEGRE: Evocação do aniversário de José Régio

Evocação do aniversário de José Régio, no dia 17 de setembro, com música, poesia e conferência, na Casa-Museu José Régio
O dia do aniversário do poeta José Régio, nascido a 17 de setembro de 1901, irá ser evocado em Portalegre com um programa que englobará música, poesia e uma conferência sobre o autor, na Casa-Museu José Régio.
No dia 17 de setembro, pelas 17h00, os alunos da Escola Básica José Régio irão proporcionar ao público presente um momento especial, com a atividade “Vamos ouvir Poesia…”, seguindo-se a conferência sobre a obra do autor “O Imaginário Tradicional na Poesia e na Narrativa de José Régio”, por Maria da Natividade Pires, investigadora Doutorada em Literatura Portuguesa pela Universidade de Coimbra.
A evocação do dia do nascimento de José Régio terminará com um recital de música, pelo Ensemble José Régio, com interpretações de Filomena Silva, na voz, Alice Marques e Ana Mónica Santos, no coro, Fernando Gordo, na guitarra baixo, Rui Ramos e Tamara Torres, no violino, Cláudia Romão, no violoncelo e José Raimundo, no piano e direção musical.
Este concerto, que marca a estreia absoluta do Ensemble José Régio, reunirá obras que vão do barroco ao fado, desde uma ária da ópera “La Bohème”, de Giaccomo Puccini, passando pelo famoso “Fado Português”, único poema de José Régio interpretado por Amália Rodrigues, com música do celebrado compositor Alan Oulman, até à Bossa Nova de Tom Jobim e Vinicius de Moraes.

12.2.22

CINE TEATRO DE NISA – 90 ANOS (1931-2021) : A demonstração do bairrismo nisense

Inaugurado há 90 anos, nos dias 9 e 10 de Outubro de 1931 (Feira de S. Miguel), o Cine Teatro de Nisa representou a concretização de um sonho colectivo e a demonstração do maior amor à sua terra, a que deram forma vários nisenses, através da então constituída Empresa do Teatro Nisense.
Entre tantos que disponibilizaram dinheiro e boa vontade, dois homens temos, forçosamente, de destacar: Manuel Granchinho e José Vieira Esteves da Fonseca. Um e outro pela generosidade das suas contribuições monetárias e empenhamento pessoal, o último, também, como gestor da obra no terreno e, posteriormente, como administrador da empresa.
Do que representou e continua a representar para Nisa, esta sala de espectáculos, hoje em dia uma das melhores do distrito por força da grande transformação e recuperação que sofreu nos anos 80 e 90 e que lhe travaram o estado de ruína e a progressiva degradação, obra realizada pela Câmara Municipal de Nisa, atestam-no, quer o gosto dos nisenses desde épocas remotas pelo teatro e as representações cénicas, quer a própria frequência aos espectáculos cinematográficos, desde os anos 30 do século passado.
Neste trabalho evocativo dos 90 anos da construção do novo teatro pretendemos assinalar a data, lembrar os obreiros desta grande obra, feita e mantida por particulares, a “sociedade civil” da época e abrir as portas e janelas para uma reflexão sobre o que pode a força criadora dos homens, quando animada e orientada num sentido mais nobre, nesta caso, a construção de um equipamento cultural que, mesmo na sua inauguração, foi considerado um dos melhores e mais espaçosos na época, a nível do interior.
Este sentimento nobre, este despontar de um forte bairrismo, alicerçado no amor à terra e à cultura, fez nascer, outra vez, o nosso Teatro. E, lembramos, uma vez mais, que em Nisa, desde o século XVIII, o teatro sempre fez parte das manifestações artísticas dos nisenses.
O nascimento de um sonho
Os dados que seguem foram retirados do Relatório e Contas (Exercício de 1930/1946) da Empresa do Teatro Nisense Lda, livros que foram criteriosamente elaborados por José Vieira da Fonseca.
“ Em fins do ano de 1929, teve-se conhecimento em Nisa que ia ser arrematado em hasta pública, no tribunal desta comarca o velho Teatro Nisense (1), cuja reconstrução em 1918-1919 ficara em meio.
Vindo a Nisa por essa ocasião Manuel Granchinho e encontrando-se com José Vieira da Fonseca, acordam em fundar uma sociedade com o fim de arrematar a construção do dito Teatro.”
Manuel Granchinho não residia em Nisa e foi necessário convidar outras pessoas para a direcção da futura sociedade, passando esta a integrar José Augusto Fraústo Basso e António Paralta.
Em 8 de Fevereiro de 1930 é constituída uma sociedade por quotas, designada Empresa do Teatro Nisense Lda, formada por 13 societários e com o capital inicial de 75 mil escudos (75 contos), não podendo a quota de cada sócio ser inferior a 5 contos.
O objectivo era arrematar o antigo Teatro Nisense e acabar a sua construção, ou então construir outro em local mais apropriado.
Assinaram, como societários, a escritura: José Augusto Fraústo Basso, António da Graça Paralta, José Vieira Esteves da Fonseca, Manuel Granchinho, Augusto Dinis Vieira, Alfredo Dinis Vieira, Carlos Bento Pestana, António Caldeira Tonilhas, Aníbal da Graça Vieira, João Emílio Figueiredo, Joaquim Tavares Machado, Albano Curado Biscaia e José da Cruz Nunes. Entraram Manuel Granchinho e José Vieira da Fonseca com a quota de 10 mil escudos, os restantes com 5 mil escudos, cada um, tendo sido nomeados directores e gerentes da empresa, os três primeiros.
Passados 5 dias foi o velho Teatro à praça com o preço de 14 mil escudos e em lances sucessivos – pois apareceu outro concorrente – elevou-se à quantia de 30 mil escudos.
Nesta altura a direcção da empresa abandonou a praça e o Teatro foi adjudicado ao outro concorrente.
Perante este percalço, a direcção pensou na construção, de raiz, no Rossio. Manuel Granchinho desde logo apoiou a ideia e deu a garantia de contribuir até 100 mil escudos para a edificação do teatro. José Vieira da Fonseca e Augusto Dinis Vieira duplicaram o valor da sua quota, procuraram-se mais sócios e passados alguns dias, em reunião de societários era apresentado o croquis da planta do novo teatro, com as ideias mais gerais.
Obra por administração directa
A planta depois de corrigida pela Inspecção-Geral dos Espectáculos veio aprovada em fins de Março.
Daqui em diante seguiu-se um autêntico corrupio. António Paralta e José Vieira da Fonseca contactaram o empreiteiro Joaquim Barbudo (Castelo Branco) e receberam outras propostas, deliberando fazer a construção por administração directa e encarregando dos trabalhos o mestre d´obras António Farto, de Vale do Peso.
No terreno onde existira o antigo cemitério, começaram a surgir os caboucos e da área arrematada utilizaram-se 640 m2 para o edifício, sendo 16 metros de fachada principal e 40 metros de comprimento, ficando a pertencer à empresa, uma faixa de terreno de 2 metros de largura do lado norte e do lado sul outra de 7 metros e m toda a extensão do edifício.
O sonho da construção de um novo Teatro estava em marcha, imparável e a inauguração nos dias 9 e 10 de Outubro de 1931 foi um dos grandes acontecimentos da história de Nisa do século passado.
A inauguração solene, na véspera da Feira de S. Miguel, esteve a cargo da Companhia do Teatro Nacional Almeida Garret, de que faziam parte além dos seu directores Amélia Rey Colaço e Robles Monteiro, a actriz Palmira Bastos e o autor António Pinheiro.
Num dos intervalos do espectáculo, foi descerrada pela actriz Palmira Bastos, uma lápide de mármore a assinalar a inauguração no salão do Teatro.
O cinema mudo só foi inaugurado a 3 de Novembro, devido a problemas com a instalação eléctrica. Em 18 de Janeiro de 1935 inaugurou-se o cinema sonoro, com o sistema Klangfilm-Tobis, tendo importado a sua compra e instalação em cerca de 20 mil escudos, verba que foi obtida por subscrição.
A actividade do Cine Teatro de Nisa manteve-se, ininterruptamente até finais dos anos 70, com sessões de cinema aos sábados, domingos e feriados, espectáculos teatrais, musicais e de revista, representações cénicas com actores locais, sessões de propaganda, enfim, tudo o que o espaço cénico comportava.
Degradação, abandono, ruína e reabilitação
Depois as condições do edifício foram-se, progressivamente, deteriorando-se. A execução de obras e a remodelação da sala de espectáculos condizente com as novas realidade e condições de conforto e segurança foram sendo adiadas, ainda mais por que a maioria dos societários tinham falecido ou estavam ausentes de Nisa há longos anos.
Havia dúvidas quanto à titularidade do Cine Teatro, que entretanto, passara, para a propriedade da Santa Casa da Misericórdia de Nisa.
Este aspecto viria a condicionar o arranque de obras para a reabilitação do edifício, que antes que a ruína lhe abreviasse o fim e lhe sucedesse o mesmo que ao antigo teatro, em 1916.
A Câmara de Nisa, presidida por José Manuel Basso tomou a decisão de avançar com as obras de recuperação e reabilitação do Cine Teatro. Foram negociações difíceis e complexas com a Misericórdia de Nisa, mas por fim sobressaiu o bom senso e as obras avançaram e com alguns percalços pelo caminho foram concluídas no final de 1996.
Custaram cerca de 175 mil contos, tendo em conta algumas obras de beneficiação que a autarquia executou no âmbito do protocolo com a Santa Casa.
Em Outubro de 1997, com o filme “O Vulcão” que teve estreia nacional em Lisboa, Porto e Nisa, o Cine Teatro era reinaugurado e reabilitada com honra e festa, a memória de Manuel Granchinho e de José Vieira da Fonseca, principais dinamizadores de um equipamento cultural que enobrece Nisa,
Nisa tem um Cine Teatro que é dos melhores do distrito, mas a que falta emprestar, a graciosidade, o saber e o dinamismo dos autores e actores locais, entre estes, em primeira instância, a própria Câmara Municipal.
É preciso recuperar o “espírito bairrista” que animou esta gesta de homens, eu deram asas ao sonho e promoveram, por si próprios, um dos mais arrojados empreendimentos da nossa vila.
(1) Edifício que foi sede do Clube Nisense, Biblioteca Municipal e actualmente da Inijovem.
Duas referências do Teatro português em Nisa
Uma das mais importantes figuras do Teatro Português, Palmira Bastos (1875-1967), que integrou a Companhia de Robles Monteiro/Amélia Rey Colaço e que esteve presente em Nisa na inauguração do nosso Cine Teatro, em 9 e 10 de Outubro de 1931. A imagem é uma reprodução de um bilhete-postal ilustrado, que era utilizado na época como meio de promover e divulgar as diferentes peças de Teatro.
Passados que são 90 anos da inauguração do Cine Teatro de Nisa, aqui deixamos registada uma imagem de Robles Monteiro e Amélia Rey Colaço, dois pilares fundamentais da mais importante Companhia de Teatro que existiu no nosso país no século XX. Companhia que existiu entre 1921 e 1974.
Recordamos, também, que foi esta Companhia que inaugurou o Crisfal, em Portalegre em 1956, que 50 anos depois encerra ingloriamente para passar a ser uma Discoteca e outros afins, lúdicos. Amélia Rey Colaço despediu-se do Teatro precisamente no nosso distrito, em Portalegre, nos anos 80, na peça "El Rei Sebastião" de José Régio, no Crisfal. As actuações que estavam previstas para Lisboa, já não se realizaram por motivos de doença, devido provavelmente à idade avançada da actriz.
A última aparição de Amélia Rey Colaço na televisão foi num programa de humor, na RTP, chamado "Gente Fina é outra coisa" com Nicolau Breyner, entre outros.
O ÚLTIMO ESPECTÁCULO NO VELHO TEATRO (1901)
“ No ano de 1901, alguns rapazes de Nisa, entusiastas da música e tocadores de instrumentos de corda, organizaram um grupo musical a que deram o nome de”Troupe dos Bandolinistas de Nisa”.
Eram ensaiados pelo mestre da banda local, Gabriel Maria Batalha, natural de Portalegre.
Depois de bastantes ensaios, prepararam-se para dar um concerto no velho e arruinado teatro, que já há muito tempo estava inteiramente entregue ao domínio dos ratos.
Os organizadores do grupo e alguns amigos dispuseram-se a arrumar a casa de espectáculos, para a pôr em condições de servir.
Fizeram-se vários arranjos, tanto na sala como no palco.
No lustre, que era de vidrilhos, muito vistoso, foram retiradas as candeias para azeite (que costumavam pingar sobre os espectadores da plateia) e substituídas por bobeches de folha, para velas.
O pano de boca, já esfarrapado, com grandes nódoas da água da chuva que entrava pelo telhado, foi devidamente corrigido.
Em fins do mesmo ano, tanto a Troupe como o teatro estavam em condições para se realizar o espectáculo.
Para este não constar só de música procurou a direcção da Troupe um grupo cénico, para colaborar numa das partes da sessão artística.
Não o conseguiram em Nisa.
Fernando Matutino, que estava nessa ocasião a prestar serviço numa repartição de Vila Velha de Ródão, conseguiu, que um grupo cénico daquela localidade viesse a Nisa representar uma comédia.
Realizou-se então o espectáculo no primeiro domingo a seguir ao Natal.
A casa estava cheia. Ao subir o pano, que rangiu nas roldanas, a cena apresentou-se do modo seguinte: à frente, Gabriel Batalha, de fraque, empunhando a batuta, diante da sua estante, igual à que tinham todos os executantes. A seguir, os primeiros bandolinistas: José Vieira da Fonseca e José da Cruz Filipe; depois, os segundos: José Dinis Figueiredo, José de Oliveira Ramos e Eduardo da Silva Porto. Finalmente, o flauta António Luís.
Num dos lados da cena, os violas: António Bastos e João Maria Leitão; no outro lado, Severino Dinis Porto e Francisco Tello Gonçalves, estudante universitário, que se encontrava em férias e quis abrilhantar o espectáculo.
Todos os executantes foram muito aplaudidos, porque realmente, o conjunto era bom e estava bem ensaiado.
Muitas das peças executadas eram da Tuna Académica de Lisboa, à qual pertencera um dos elementos da Troupe.
A segunda parte do espectáculo foi feita pelos amadores de Vila Velha de Ródão que representaram a comédia “O Actor e os seus Vizinhos”.
Finda a comédia, apareceram no palco: o professor José da Cruz Sambado que cantou a cançoneta “Tudo Cresce” (metendo trechos da sua autoria) em que foi muito aplaudido; o comerciante Francisco Santos, que disse um monólogo, e Fernando Matutino que recitou a poesia “Fel”, de Guerra Junqueiro.
Seguiu-se a terceira parte, que foi toda constituída por obras musicais.
Acabado o espectáculo, houve grande ceia no salão da estalagem da Tia Ana Curado, oferecida aos amadores de Vila Velha, a qual decorreu muito animada, tendo discursado o estudante Francisco Tello Gonçalves, muito aplaudido no final.
Na rua, à porta da estalagem, estacionavam dois carros da empresa M. Barreto (Ti Pouquito) que conduziram o grupo dos actores à sua terra.
Quanto ao Teatro, ainda se conservou por muito tempo, quase no mesmo estado, até que, em 11 de Junho de 1916, se deu a derrocada.”
Nizorro in “Correio de Nisa” – 6/3/1965
Uma sala de referência, sem actividade cultural!
O Cine Teatro de Nisa neste fim de semana (9 e 10 de Outubro de 2021) completou 90 anos de existência. A Câmara, proprietária do imóvel e que tanto dinheiro gasta em flores e adereços, não se dignou ter um rasgo de "audácia" e criatividade para assinalar a efeméride. O Cine Teatro de Nisa, considerado "sala de referência" tem estado praticamente fechado desde o início da pandemia, primeiro com as "desculpas" do cumprimento da lei e das normas sanitárias; depois sem qualquer justificação. No meio, funcionou, com a "bênção" das entidades de saúde como "espaço de vacinação" e montra de iniciativas camarárias. Agora, abre a espaços, quando dá jeito à maioria socialista e no restante tempo do calendário permanece como uma sala fantasma, sem qualquer préstimo, sem funcionar para aquilo que foi criada: a realização de actividades culturais, desde o cinema ao teatro e outras manifestações lúdicas.
Não se compreende esta atitude do executivo que tanto fala em trabalhar para as pessoas.
Não merecerão estas o acesso à cultura? A espectáculos de cinema, teatro, música e outros? Ou apenas serão merecedoras da atenção municipal quando há eleições e é preciso garantir o voto e a manutenção do poleiro?
Nisa tem uma sala de espectáculos que devia ser uma referência, mas não, como acontece, pela negativa. Promovam espectáculos, actividades artísticas e culturais. Dêem vida à "sala do Norte Alentejano" e, por favor, encarecidamente vos peço, não se desculpem com as cegonhas, ou com os executivos de mil novecentos e carqueja.
Valeu?
Mário Mendes in "Alto Alentejo" - 20/10/2021


13.12.21

NISA: JOÃO FRANCISCO LOPES (1936-2020) - 1

 


A MÚSICA: A "MENINA DOS SEUS OLHOS"
Após o êxodo dos anos 60, com a Emigração e a Guerra Colonial, a Banda de Nisa sofreu uma grande "razia" e parou a sua actividade. No início dos anos 80, JOÃO FRANCISCO LOPES, teve um papel preponderante na REACTIVAÇÃO DA BANDA. Nasceu uma Escola de Música e em 1988 constituiu-se a Sociedade Musical Nisense, da qual foi dirigente durante 20 anos, a maior parte dos quais como Presidente da Direcção. As fotos "falam" desse tempo de activo participante na divulgação e consolidação da sua "Menina dos Olhos": a Música.

27.7.21

26.7.20

NISA: Lembrar o Dia dos Avós

A este dia, 26 de Julho, convencionou-se designá-lo por Dia dos Avós. É uma data dedicada também a Santa Ana e a São Joaquim. Em louvor de Santa Ana  havia em Nisa uma capela junto ao antigo cemitério, no local onde está hoje o Cine Teatro. A capela entrou em ruínas e como houvesse perigo de desmoronamento, a Câmara, no distante ano de 1909, decidiu a sua demolição. A imagem de Santa Ana pode ser apreciada no nicho em que se encontra na escadaria dos Paços do Concelho que conduz ao primeiro andar do edifício. 


As restantes fotos que, a pretexto deste dia, publicamos, referem-se à comemoração do Dia dos Idosos em 2008 e a convívio onomástico dos Joaquins, realizado em Julho de 2007. Celebrações que neste ano e em tempo de pandemia não se realizaram.

20.5.20

EVOCAÇÃO: Chamava-se Catarina, o Alentejo a viu nascer.


Catarina Efigénia Sabino Eufémia (Baleizão, Beja, 13 de Fevereiro de 1928 — Monte do Olival, Baleizão, Beja, 19 de Maio de 1954) foi uma trabalhadora agrícola portuguesa que, na sequência de uma greve de assalariadas rurais, foi assassinada a tiro por um agente da Guarda Nacional Republicana. Com vinte e seis anos de idade, analfabeta, Catarina tinha três filhos, um dos quais de oito meses, que ofereceu resistência ao regime salazarista, sendo ícone da resistência no Alentejo. Sophia de Mello Breyner, Carlos Aboim Inglez, Eduardo Valente da Fonseca, Francisco Miguel Duarte, José Carlos Ary dos Santos, Maria Luísa Vilão Palma e António Vicente Campinas dedicaram-lhe poemas. O poema de Vicente Campinas "Cantar Alentejano" foi musicado por Zeca Afonso no álbum "Cantigas de Maio" editado no Natal de 1971.
Catarina Eufémia
Na vasta planície os trigos não ceifados.
Ao longe oliveiras batidas pelo sol.
Tu serena caminhas para os soldados
com a ideia, para todos um farol.
A brisa não se levantara.
Ias armada apenas da razão.
Contigo os milhões que têm, fome
contigo o povo que não come e que ali cultiva o nosso pão.
O monstro empunhava as armas de aço.
Tu pedindo a paz serena caminhavas
levando um filho no colo outro no regaço.
As armas dispararam, tu tombaste.
Com teu sangue a terra foi regada.
E ali à luz do sol que tudo ardia
dava mais um passo a nossa caminhada.
Na boca da mulher assassinada
certeza da vitória nos sorria.
o sol que o teu sangue viu correr
que teus camaradas viu ali aflitos
ouvirá amanhã os nossos gritos
quando o novo dia amanhecer
Que nessa terra heróica - Baleizão -
onde se recolhe o trigo branco e loiro
teu nome gravado em letras de oiro
tem já cada um no coração
Francisco Miguel