O curador David Santos, no texto para esta exposição, explora o
compromisso deste movimento «com a ideia de reportagem sobre o povo olvidado»,
afirmando que «o realismo social português apresentou na variante lírica da sua
expressão pictórica uma característica complementar decisiva, cuja importância,
presente desde a génese do movimento, induz o reconhecimento de um valor
estrutural», concluindo que «as manifestações de criatividade do nosso
neorrealismo refletem um inequívoco valor poético, exigindo hoje uma
reavaliação do seu estatuto.»
David Santos, afirma que «no campo das artes plásticas, Rogério Ribeiro
foi um dos maiores protagonistas dessa experiência lírica identificada com o
neorrealismo. Despertar os sentidos e a consciência profunda da condição humana
constituiu o desígnio do seu trabalho artístico, com os olhos postos na força
social e na poesia que o povo também pode significar. Muitos anos mais tarde, o
artista recordará o neorrealismo como "um momento muito raro da nossa
história contemporânea, momento onde uma invasão de esperança calou fundo nos
homens, no coração dos homens".»
Como já foi referido no AbrilAbril, «Rogério Ribeiro legou-nos um
exercício artístico indissociável das formas narrativas e simbólicas do
neorrealismo, reinterpretando nas suas fases mais tardias muitos dos elementos
temáticos, ideológicos e contemplativos desse realismo original».
