Isaltina Trovoada tem vários sonhos. Falemos daquele que
manifestou em público no último domingo, em plena tomada de posse dos órgãos
municipais.
Disse a senhora, mais ou menos nestes termos que “Néza não é
a Coreia do Norte”. Eu acrescento-lhe “ainda”. Isaltina poderia falar do
Bangladesh, da Birmânia, da Roménia de Ceaucescu que o seu ideólogo Soares
tanto gabava e de tantos outros países no mundo onde a liberdade é mitigada. A
Coreia do Norte tem, para ela, um fascínio especial e por isso a ele recorre
com frequência. Lá, na dita Coreia, que vergou a arrogância e a ambição dos
“senhores da guerra” yanques, Isaltina seria tratada como Tro-Ka-Mona e
dispensaria uma cerimónia como a que ocorreu no Cine Teatro. Tão pouco teria
que se sujeitar a essa coisa ultrapassada que dá pelo nome de eleições.
Perpetuar-se-ia no poder até lhe apetecer e chegada a hora,
passá-lo-ia ao delfim escolhido.
Na Coreia nézense com que Isaltina, aliás, Tro-Ka-Mona,
sonha, não seriam necessários concursos fantasmas para fatos feitos por
encomenda e destinados a compor a galeria dos yes men. Dispensaria as longas
horas das sessões da Câmara e da Assembleia Municipal, a que, aliás, não passa
cavaco nenhum. Falaria – como fala – quando quisesse, pois isso é uma
prerrogativa dos ditadores. De outra forma e se não pensasse que estava na
Coreia do Norte, o recém-eleito presidente da AM, outro “coreano” como ela,
teria dirigido a sessão como mandam as leis do país – que ainda não chegou à
Coreia com que a Isaltina sonha - do poder local e das próprias normas da
tomada de posse dos órgãos autárquicos. Teria dirigido a sessão pública da
Assembleia Municipal com competência, equilíbrio e equidistância, dando a
palavra a cada um dos representantes das forças políticas eleitas para a Câmara
e a Assembleia Municipal, sobretudo, não deixaria que a dirigente máxima
debitasse todos os insultos e atropelos que proferiu sem que fosse permitido
que a parte ofendida pudesse responder e contrapor os argumentos caluniosos
feitos numa sessão pública em que, geralmente, se apela à paz e união de
esforços de todos os eleitos.
Não deixaria, por isso e sobre nenhum pretexto, que fosse a Isaltina
a exigir e a impor o direito de falar – não sei se para mostrar o vestido novo,
como alguém alvitrou -, direito esse que era (é) extensivo a todas as forças
políticas e não apenas aquela que venceu as eleições. Estas são as bases do
modelo de vivência democrática que o 25 de Abril instaurou, diferentes, muito
diferentes daquelas com que a Isaltina, aliás, Tro-Ka-Mona sonha para a sua
Coreia do Norte nisense.
As redes sociais que tanto a incomodam e que não existem na
Coreia com que Isaltina sonha, vão continuar a desempenhar o seu papel. Não
estão confinadas, apenas, à propaganda governamental ou municipal como tanto
gostaria. Estão muito para além da página facebookiana que elaborou com o título
de “Nisa Punitiva” onde com o nome de Maria Graça, tece loas a si própria e ao
nascer do sol que não existiria sem a veia inspiradora da Mãe de Todas as Criações.
Isaltina, aliás, Tro-Ka-Mona pode ter todos os sonhos do mundo.
Pelo sonho é que vamos, como escreveu Sebastião da Gama. Sonhar é, sem dúvida,
um dos maiores atributos do ser humano. Os sonhos podem (e devem) ser a semente
de um mundo melhor, em paz, sem guerras, sem Coreias e todas as Coreias, tenham
o nome que tiverem, em todo o mundo, que representem grilhões, opressão e
tirania.
Este, um princípio que Isaltina, aliás, Tro-Ka-Mona, podia
começar a cultivar desde já.
Ainda está a tempo de aprender as regras básicas da
convivência democrática e do respeito por quem tem ideias diferentes das suas.
Deixe a Coreia do Norte em paz. Respeite os
cidadãos do concelho, tanto aqueles que a elegeram – porque não estamos, como
gostaria na Coreia – como aqueles que tiveram outras preferências.
As eleições são isso mesmo: o direito a escolher e a
decidir.
Só assim não entende quem, por um lado, abjura a Coreia, mas
se sente como peixe na água na pele de um qualquer Kim-Il-Sung.
Mário Mendes