19.10.17

EM NISA ACONTECEU... Memória do Jornal de Nisa - Nº 216

Muito e diverso material noticioso fez a edição nº 216 do JN publicado no dia 6 de Outubro de 2006. Reportagem sobre o Projecto "Experimenta o Campo", entrevista a José Predro Fragoso de Almeida (ainda de lembram do Urânio de Nisa?), reportagem sobre a inauguração da sede social do CDR Santana e entrevista ao executivo da Junta de Freguesia de Arez, entre outras notícias do concelho e região. Deixamos uma pequena amostra...
Dia Mundial da Música assinalado em Nisa
O Dia Mundial da Música (1 de Outubro) foi assinalado em Nisa, no passado sábado, numa iniciativa promovida pela Sociedade Musical Nisense.
Com um dia de antecedência, a SMN trouxe até esta vila norte-alentejana, a banda da Associação de Cultura Musical Cetense, de Cête (Paredes), fundada em 1835.
A Banda desfilou, com garbo e simpatia, por alguma ruas da vila, executando peças de um repertório que primou pela música alegre, festiva e popular, como era próprio do Dia.
Seguiu-se um concerto no Cine Teatro de Nisa, pleno de qualidade e brilhantismo, a assinalar um Dia Mundial, o da Música, que deveria ser apanágio de todos os dias, povos e gerações.
Esta iniciativa contou com o apoio da Câmara Municipal de Nisa e do Inatel.
Grupo de Jovens da Paróquia
Disponíveis para ajudar o próximo
São cerca de vinte jovens, católicos e disponíveis para a ajuda ao próximo. Têm um nome e encontram-se, regularmente, de modo quase informal, sem rigidez de horas ou de organização, pelo prazer de conviverem e de discutirem entre si, temas e problemas que dizem respeito ao seu universo de jovens e ao mundo que os rodeia.
Na Paróquia, dão o seu contributo na animação de algumas cerimónias religiosas e recentemente colaboraram numa experiência que não deixou de os sensibilizar: foram os “olhos” , os guias e acompanhantes, de um grupo de associados da ACAPO, invisuais, que passaram uma semana, para eles, inolvidável, de férias no nosso concelho.
A ajuda, o amparo, dos Jovens da Paróquia e do Grupo de Escoteiros de Portalegre tornou-se preciosa e nós pudemos constatar o interesse, a alegria, a sensibilidade com que responderam a este apelo.
Registamos o grupo em foto e o texto é o pretexto para perpetuar uma experiência que, sem dúvida, vão querer repetir.
9º Encontro Convívio de ex-combatentes na Guiné
Os naturais ou residentes no concelho que cumpriram o serviço militar na Guiné Bissau, reuniram-se no passado dia 23 de Setembro em mais um encontro convívio, assinalando a sua passagem por aquela ex-colónia portuguesa. Foi o nono Encontro de uma iniciativa que teve a sua primeira realização em 1997, no local onde até hoje se tem mantido, o Café Manso, na Devesa, cujo proprietário foi também um ex-combatente na Guiné.
Como habitualmente, o Encontro decorreu sob o signo da alegria e da sã camaradagem. Vieram as histórias, as aventuras, recordaram-se locais e personagens, camaradas de armas, alguns daqueles que já não estão entre nós e que tombaram na luta ou morrerem em acidentes, cumprindo o seu desígnio que, naquele tempo, se chamava dever para com a Pátria.
A evocação de uma época, sem falsos temores de nostalgia, as peripécias, as viagens, a lembrança dos usos e costumes de um povo, o guineense que, apesar das vicissitudes da guerra continua a estar presente, sem ódios nem rancores, no coração de todos aqueles que pisaram o chão de balantas, fulas, mandingas e de tantas outras etnias.
A África e a Guiné, em particular, marcaram a vida de quem lá esteve. A uns, infelizmente, de forma trágica, violenta e dolorosa. A outros, mesmo nas agruras de uma guerra que não desejaram e para a qual não contribuíram, deixou o travo amargo de uma passagem, o “salto” abrupto do jovem para o homem. Há os que foram, estiveram e combateram em África e aqueles que não foram e não conheceram. E os que foram, sabem, lá bem no fundo, que tendo regressado mais “pobres”, física e psicologicamente, “enriqueceram” em termos de consciência, de contacto e solidariedade humana. Este é o “segredo” de África: o regresso às origens e a lição de que o homem e as comunidades tidas como primitivas são, afinal, mais ricas e mais puras, na sua dimensão social e humana.
Esta é a razão, também, por que tantos homens, de norte a sul do país, que num dado momento compartilharam alegrias e perigos, se juntam todos os anos em convívios, levando consigo os filhos e os netos.
A injustiça de uma guerra e a teimosia de um regime, serviu, para fortalecer o espírito de amizade e camaradagem entre alentejanos e madeirenses, açorianos e beirões, algarvios e transmontanos, entre europeus e africanos.
A “guerra”, neste campo, perdeu. E o que ficou são estes convívios que não irão acabar, mesmo que o ministro os faça taxar com IRS.
A concertina arranca com uns acordes, haja música que tristezas não pagam dívidas. Da Salavessa e pela primeira vez, veio um ex-combatente. Integra-se facilmente no ambiente geral e mal se dá por ele atira-nos com uma versão pungente do “Adeus, Guiné”. É a versão “subversiva” que fala da guerra e da tristeza de quem está (esteve) longe daqueles que ama.
Está tão longe e tão perto, a Guiné. Encurta-se a distância, em cada mês de Setembro e em cada convívio. Foi assim este ano uma vez mais. A música, as conversas, a gastronomia, o convívio e a confraternização.
Para o ano, cá estaremos outra vez. Nem que seja para lembrar aos mais cépticos que, afinal, a guerra colonial existiu.
Melhor fora que não tivesse acontecido e que a Guiné de hoje fosse, sempre, uma Guiné melhor. Livre e independente.
Mário Mendes