7.10.17

OPINIÃO: Coisas do Diabo e da Catalunha

Não tenho qualquer dúvida de que a maioria dos portugueses não só já se esqueceu que Portugal deve a sua independência à Catalunha como, inclusive, considera que a nossa independência foi um erro histórico.
Não sou nacionalista, nem patriota. Pelo contrário, sinto-me cada vez mais europeu. No entanto, basta olhar para a brutalidade com que Madrid reagiu aos acontecimentos na Catalunha para perceber que a prepotência e a estupidez de Madrid continuam a inviabilizar a possibilidade da convivência democrática e em pé de igualdade, debaixo do mesmo tecto, dos povos peninsulares.
E se a estupidez e a prepotência madrilista, pelos vistos, continuam a ser constitucionais, há uma coisa que todos devíamos perceber: em democracia, mesmo que o divórcio seja inconstitucional ou ilegal, não é possível obrigar duas pessoas ou dois povos a viverem juntos contra a sua vontade.
Os portugueses, que tanto se vangloriam da gesta dos Descobrimentos, hoje até têm medo das correntes de ar, quanto mais enfrentar o desconhecido, o risco e a tormenta. Não há português que não veja o Diabo em cada esquina: seja na vitória do Syriza ou do Brexit, seja no governo de coligação do PS com a extrema-esquerda ou, agora, com a independência da Catalunha.
E não deixa de ser de morrer a rir que tenha sido o mesmo povo que deu a vitória a Passos Coelho, nas legislativas, com medo do Diabo e do défice (e que, depois, viu mesmo o Diabo em carne e osso com o acordo de governo do PS com o BE e o PCP), que agora, nas autárquicas, correu com o mensageiro do Diabo. Somos mesmo um povo dado a coisas do Diabo!
Santana Maia Leonardo in 6/10/2017