Não sou nacionalista, nem
patriota. Pelo contrário, sinto-me cada vez mais europeu. No entanto, basta
olhar para a brutalidade com que Madrid reagiu aos acontecimentos na Catalunha
para perceber que a prepotência e a estupidez de Madrid continuam a
inviabilizar a possibilidade da convivência democrática e em pé de igualdade,
debaixo do mesmo tecto, dos povos peninsulares.
E se a estupidez e a prepotência
madrilista, pelos vistos, continuam a ser constitucionais, há uma coisa que
todos devíamos perceber: em democracia, mesmo que o divórcio seja
inconstitucional ou ilegal, não é possível obrigar duas pessoas ou dois povos a
viverem juntos contra a sua vontade.
Os portugueses, que tanto se
vangloriam da gesta dos Descobrimentos, hoje até têm medo das correntes de ar,
quanto mais enfrentar o desconhecido, o risco e a tormenta. Não há português
que não veja o Diabo em cada esquina: seja na vitória do Syriza ou do Brexit,
seja no governo de coligação do PS com a extrema-esquerda ou, agora, com a
independência da Catalunha.
E não deixa de ser de morrer a
rir que tenha sido o mesmo povo que deu a vitória a Passos Coelho, nas
legislativas, com medo do Diabo e do défice (e que, depois, viu mesmo o Diabo
em carne e osso com o acordo de governo do PS com o BE e o PCP), que agora, nas
autárquicas, correu com o mensageiro do Diabo. Somos mesmo um povo dado a
coisas do Diabo!
Santana Maia Leonardo in 6/10/2017