21.10.17

OPINIÃO: Mais do mesmo ou pior do mesmo?

Já tinha este balanço eleitoral pronto há quatro ou cinco meses atrás. E posso dizer tal qual o João Pinto (o do Porto) que "prognósticos só no fim do jogo" e por isso, só agora, em véspera das equipas entrarem em campo é que resolvi publicar o artigo.
1. Quem ganhou e quem perdeu as eleições?
Ganhou quem se esperava que ganhasse, isto é, quem mais e afanosamente trabalhou para isso, utilizando os meios próprios e, sobretudo, impróprios, isto é, toda a parafernália informática e de propaganda municipal posta ao serviço de uma pessoa e de uma ideia partidária. Nunca como neste mandato se gastou tanto em publicidade, em propaganda gratuita visando dourar a pílula, ou seja, recauchutar a imagem de uma pessoa.
Ganhou quem definiu, diz o LV (será Lourenço Vidente?) no seu texto "Falta um ano para as eleições e eu já sei quem vai ganhar" como fundamentais "as obras de dimensão suficiente" (leia-se obras que qualquer Junta de Freguesia a quem não fossem surripiadas verbas, poderia fazer) e de "encher o olho" pois, é ainda o LV, as outras, aquelas de que o concelho realmente necessitava "só viriam a empatar a dinâmica mais fácil que foi definida". E o que foi definido nas reuniões socialistas, foi fazer aquilo que em política se chama populismo: festas e bolos para enganar tolos, flores, pinturas, arranjos e conclusão de pequenos projectos vindos do executivo anterior, obras estratégicas (Alpalhão e Tolosa, sobretudo) onde a contagem de votos podia decidir, e propaganda a rodos. Obras, é bom dizê-lo, feitas a contra-relógio, pensadas e executadas pela cabeça-mor e sem o indispensável envolvimento dos restantes eleitos e das populações. Gestão autocrática da coisa pública e dos dinheiros públicos, feitas sem base programática e alicerçadas num orçamento de mercearia, com o deve-haver gerido pela administradora do concelho.
Quem assim procede sem ter a maioria dos eleitos no executivo, de que lhe serve uma maioria absoluta? Contar com mais um ajudante de campo ou passar à fase seguinte de prepotência absoluta? 
Dizem os entendidos da bola que "em equipa que ganha não se mexe" o equivalente a dizer que "estratégia ganhadora é para manter". Afastadas as principais cabeças pensadoras socialistas da Assembleia Municipal, o que aí vem não augura nada de bom. O populismo autárquico socialista vai engrossar, na voz e nas atitudes. Em 2019 haverá eleições legislativas, Costa começou a perder, com a insensatez revelada na "crise incendiária", a auréola de governante sagaz de que dava mostras. Perdeu a confiança do Presidente da República, a ministra insonsa foi de férias forçadas, as tensões sociais e institucionais vão, de certo, aumentar. É certo que virá mais dinheiro para as autarquias e a de Nisa (socialista) já arreganha os dentes. Seria motivo de contentamento para os nisenses se um aumento de verbas pudesse corresponder à satisfação de obras essenciais ao desenvolvimento do concelho, à criação de emprego e fixação de pessoas. Mas a "lição" deste mandato mostra que a edil não olhará a meios para atingir os fins e estes passam, inevitavelmente, pela realização de mais obras de "dimensão suficiente", de encher o olho, mais flores para a propaganda eleitoral que já começou.
O PS ganhou as eleições de 2017. Com maioria absoluta, recuperando duas freguesias. Não ganhou - um objectivo central, a seguir à Câmara -, a maior das freguesias do concelho. Não adianto razões. Os dirigentes socialistas locais sabem porquê, tão bem como eu sei as razões que levaram à conquista do poder em 2013. Bem ou mal, o povo é soberano e fez as suas escolhas. 
A CDU, contrariamente ao que o Luís Vidente preconizou há 5 ou 6 meses, não perdeu votos para a Câmara. "Segurou-se" bem, num contexto difícil, embora perdendo três juntas de freguesia, uma delas, de forma inesperada. Mas as eleições são como o futebol, nem sempre ganha a melhor equipa. 
O PSD sofreu uma autêntica erosão. Ganhou a Junta de S. Matias, vitória de certo modo esperada, mas claudicou em todo o concelho e nas eleições para todos os órgãos autárquicos. Não me cabe apontar razões ou justificações, que seriam sempre subjectivas e insuficientes. Os seus dirigentes locais devem analisar o que se passou neste "terramoto" eleitoral.
Por último: a mais pequena freguesia do concelho, a de menor número de eleitores e, porventura, a mais envelhecida, foi aquela que apresentou maior número de listas concorrentes, entre estas uma de Cidadãos Independentes. Não conheço, em pormenor, as motivações, mas algo não vai bem no "Reino da Dinamarca" e os partidos não respondem a todos os anseios das populações.
2. O futuro que nos espera
O futuro é aquilo que nós, cidadãos, queiramos que seja. Não depende, apenas, da vontade de uma pessoa ou de uma instituição por mais legitimada que esteja. Cabe a todos nós, munícipes, com o nosso esforço, com a nossa participação, construir o amanhã que desejamos. Sejam amanhãs que cantem ou que assobiem, mas que não seja amanhãs repletos de subserviência, de resignação ou cinzentismo. O Poder Local Democrático tal como foi instituído não é o poder de uma pessoa, é o poder e o direito constitucional de todos participarmos na construção das nossas vilas e aldeias, do nosso país e do nosso próprio futuro. Uma equipa só joga o que a outra deixa jogar e quanto mais recuarmos, quanto mais abdicarmos dos nossos direitos, entre estes o de intervir e o de criticar a acção governativa (seja a que nível for) mais depressa os nossos anseios, as nossas aspirações são espezinhados. Os governantes locais, ao contrário do que alguns possam pensar, não governam para eles, para a satisfação dos seus egos ou para a realização dos sonhos mirabolantes de uma noite mal dormida. Governam, administram, verbas e territórios que são de todos e têm o dever, em primeira instância, de trabalhar para "melhorar as condições de vida das populações". De todas. Não apenas daquelas onde farejam votos e apaniguados. 
A uma governação autocrática e autista, virada para o próprio umbigo. como aquela que nos espera, devemos contrapor a força da razão e dos argumentos de um desenvolvimento harmonioso para o concelho. O país não tem assim tantos recursos para esbanjar em obras de faz de conta, para encher o olho e garantir o score eleitoral. O concelho tem problemas gritantes a precisarem de resolução. Desde logo, os decorrentes com a vaga de incêndios deste Verão. Problemas como os da qualidade e quantidade do abastecimento público de água. Ouvir-se dizer que a povoação xis ou ípsilon foi abastecida com um camião-cisterna dos bombeiros não é honroso para quem governa, muito menos para quem tem de beber água de qualidade duvidosa. Há problemas ambientais para resolver de forma adequada e definitiva. Etars com mau funcionamento (ou sem funcionamento nenhum), esgotos sem tratamento, poluição de rios e ribeiras. As escombreiras a céu aberto na Maria Dias (urânio) têm de ser requalificadas. Custa dinheiro, projectos e se calhar é obra para "empatar a dinâmica definida". A estrada entre Arneiro e Velada, com a ponte construída há muitos anos e que era o maior investimento, tem de avançar. Não faz sentido, é vergonhoso até, que a sede do concelho não tenha uma ligação directa ao IP2 para quem vem (vai) para a A23. Qualquer aldeia da Beira Baixa na estrada para Castelo Branco tem entradas e saídas para essa via.
A actual e futura edil matou a participação de Nisa na Naturtejo; liquidou a Etaproni e a ADN (esta, com alguma razão) mandou os alunos interessados no ensino profissional para o Crato e continua a falar no projecto do Tejo, despejando uma associação de uma escola onde instalou o "tal" museu que o Costa visitou e que, provavelmente, lhe deu a vitória em Santana.
O "colete de forças" com as associações vai continuar, ainda com maior intensidade, dividindo-as em duas "áreas": as nossas (as do emblema PS) e as outras, as "hostis" e que não alinham com as nossas cores. Montalvão vai ser a próxima "batalha". Lamentavelmente, quando há tantas instalações devolutas e que poderiam servir para mil e um projectos em diversas áreas. Mas com a "maioria absoluta" a prepotência tem o mesmo sentido. Não faltará dinheiro para o supérfluo (as flores), mas será escasso para o essencial e necessário. A Câmara irá explicar por estes dias, qual a finalidade dos lavadouros da Fonte do Frade. Esperemos que não seja para pôr lá algum eleito da sua cor a "lavar a roupa"...
Mário Mendes