Na feira do Espírito Santo,
realizada em 9 de Junho de 1907, houve desordem turbulenta entre ciganos, que
deu origem a grave tumulto popular.
Quando os desordeiros fugiam à
fúria da multidão, uma cigana refugiou-se no quartel da Guarda Fiscal, ao tempo
no Largo do Espírito Santo.
O quartel foi então apedrejado e
alguns populares chegaram a invadi-lo, sem que a tal pudessem obstar os dois
únicos guardas que nele se encontravam.
Como cabeças de motim foram
presos muitos nisenses e entregues ao poder judicial. Por ser a cadeia comarcã
insuficiente para contê-los, fez-se a remoção de alguns para a de Portalegre
pelas seis horas da tarde de 4 de Julho.
Só em 10 e 11 de Março de 1908 os
julgou o Tribunal de Nisa, ao qual presidia, como Juiz, o sr. dr. Damião de
Meneses, representando o Ministério Público o sr. dr.João Carlos Ribeiro de
Melo. O advogado dos réus foi o sr. dr. Bernardo Lima. O escrivão do processo,
sr. Aníbal Machado, foi substituído, por motivo de doença, pelo sr. António G.
Paralta. Na bancada dos advogados assistiram à audiência os srs dr. Fonseca
Pestana e dr. Mourato Peliquito e, no último dia, o sub-delegado, sr. dr. José
Pequito Crespo.
A defesa foi brilhante. De
harmonia com o veredicto do júri,, o presidente do Tribunal absolveu todos os
réus, que eram os seguintes: António Júlio Guerra, Albertino Bizarro, João da
Piedade Pires, João Correia Rasteiro, João Matias, António da Graça Caldeira,
José da Cruz Carrapiço, Carlos Bizarro, António Maria, José António do
Nascimento, Francisco Lobato, Luiz da Silva e António Diniz Samarra.
O julgamento terminou cerca das
quatro horas da madrugada, havendo nessa ocasião na Praça, onde estava
instalado o Tribunal, mais de mil pessoas.
in "Correio de Nisa"- 1945