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6.2.25
NISA - Memória histórica: 16/3/1840 – Copia de hum requerimento feito à Câmara
Illmos Senhores
Penozo he aos habitantes desta Vila abaixo assignados ter que servir-se do direito de petição consignado no artº 15 da Constituição Política da Monarchia para reprezentar a esta Illustre Câmara Municipal contra o mão serviço que esta prestando aos habitantes deste concelho o Estafeta que he pago por esta Municipalidade para que lhe traga as suas correspondências nas terças-feiras e sábados de cada semana as oito horas da manhã desde o 1º de Abril até ao ultimo de Outubro e às onze horas o resto do anno, condição expreça no contrato que com o mencionado Estafeta fez esta Câmara como consta do Accordo de 21 e 25 de Janeiro de 1837 socedendo que lá já trez correios terem recebido os Requerentes as suas correspondências ás 9 horas da noite daquelles dias com grave prejuízo de seus enteresses pois que os negócios dos particulares não podem ter andamento regular com a alteração mencionada nas horas de chegada do correio. Afim disso os suplicantes teem sempre grande anciedade em receber noticias sobre os acontecimentos que rapidamente se estão socedendo na Península e a demora de hum quarto d´hora lhe he summamente penoza. Não podem os abaixo assignados persoader-se como se diz que o Exmo Administrador deste Districto he quem tem demorado o Estafeta porque sendo elle estabelecido e pago para o serviço e cómodo dos habitantes deste concelho, e sendo a Auctoridade esencialmente benéfica não quererá de sorte o encomodo de seus Administrados quando está a seu cargo procurar-lhes todas as vantagens e os seus antecessores que sempre mandaram a correspondência official pelo Estafeta nunca o demorarão e quando sobrevinha algum cazo extraordinário não só mandavão próprios pagos por aquella repartição mas até pagavão aos que os Ad. Do concelho estão auctorizados a henviar em edenticas circunstancias, não sendo o Estafeta deste concelho correio da Administração Geral, o Correio assestente de Portalegre tem obrigado o Estafeta a levar correspondência que vai para aquella cidade fixada na malla a onde leva as cartas para as outras terra do reino a qual só abre no momento que chega o correio de Lisboa do que rezulta não poderem os habitantes deste concelho receber respostas as suas cartas na volta do Estafeta.
Se he de Ley que todas as cartas cheguem fechadas às mãos do correio assestente deve este abrir a malla e fazelas distribuir logo que o Estafeta ali chega para que possa trazer as respostas; ainda que esta pratica seja contraria aos uzos de tempo emmemoriais pois sempre o Estafeta distribuio as cartas que leva para Portalegre podendo deste modo trazer as respostas que leva efirmados neste costume porerão Vªs Sªs em condição ao actual Estafeta que o porte das cartas pª Portalegre e vesse verssa seria de grassa em atenção ao ordenado que recebe como se ve dos Accordos já citados.
Esperão os requerentes que Vªs Sªs se servirão dar as providencias que lhe parecerem mães adequadas para se removerem os embaraços que deixam apontados.
Carta dirigida ao Illº Sr. Presidente e Mºs da Câmara Municipal se dignem deferir-lhes
Assignaram: Francisco Xavier de Sampaio Salgueiro,
José Maria Deniz Pancas,
O vigário encommendado Francisco Manuel Queimado,
Joaquim de Moura Rosa,
José Manoel de Salgueiro Eça
21.8.22
NISA: Ainda a propósito do Dia Mundial da Fotografia (III)
O Dia Mundial da Fotografia é celebrado em 19 de agosto, data da apresentação pública do Daguerreótipo na Academia de Ciências da França, Paris, em 1839.
Ontem evocámos alguns dos fotógrafos que trabalharam no concelho, como Antero Gomes, Manuel Temudo Barreto e Rui Neves e nos deixaram algum espólio fotográfico.
* O senhor Antero Gomes (o Ti Antero Coxo, como era conhecido) era natural de Montalvão, onde nasceu a 14 de Dezembro de 1906, tendo falecido em Nisa em 1 de Abril de 1981. Fotógrafo profissional tinha a sua oficina ou atelier na própria residência no nº 41 da Praça da República, estabelecimento por onde passaram muitas famílias do concelho, principalmente para o retrato para o Bilhete de Identidade e outros documentos às quais a foto era imprescindível. O seu valioso espólio fotográfico perdeu-se, restando algumas fotos que foram sendo divulgadas, como aquelas que ontem publicámos.
* Manuel Joaquim Temudo Barreto (o prof. Barreto) nasceu em 23 de Novembro de 1911. Foi professor do Ensino Primário e Director Escolar do Distrito de Portalegre, para além de um exímio fotógrafo amador e legou um vasto espólio à Santa Casa da Misericórdia de Nisa da qual foi Provedor de 13 de Fevereiro de 1986 a 31 de Dezembro de 1994. Faleceu a 8 de Junho de 1998. O seu acervo fotográfico doado à Santa Casa da Misericórdia de Nisa foi objecto de digitalização, sendo as fotos disponibilizadas para visualização na internet no site da instituição em http://www.scmnisa.pt/
* Rui Manuel Cardoso Neves nasceu a 30 de Janeiro de 1961, exercendo a profissão de fotógrafo durante 40 anos, dos quais 14 anos em Nisa, com estabalecimento na Rua Padre José Ribeirinho. Foi um importante colaborador, a título gratuito, do "Jornal de Nisa" para o qual passou desde a câmara escura à imagem viva, centenas de fotos que compuseram mais de metade das edições do jornal. A par disso mantinha grande colaboração profissional com o Município para o qual fez o registo de milhares de fotos de iniciativas promovidas pela autarquia, de obras e documentos, num tempo em que ainda não havia "modernices" dos sites e de outras geringonças informáticas.
A era digital aplicada à fotografia "matou" alguns profissionais do sector, como nos conta Rui Neves. Outros tiveram que adaptar-se às novas tecnologias, de resultado mais prático e imediato, mas sem o labor e a criatividade que os profissionais da fotografia imprimiam aos seus trabalhos. Rui Neves lembra com saudade os tempos da fotografia "a preto e branco" e realça o gosto que lhe deu fazer a cobertura fotográfica da Nisartes, trabalho "muito cansativo, mas com resultados positivos."
5.11.19
NISA - MEMÓRIA HISTÓRICA: A capela de Santa Catarina
A propósito da demolição desta capela, que se erguia no lugar onde existe hoje a "Cruz das Almas", diz-nos o Dr. Motta e Moura na sua Memória Histórica:
"O primeiro "templo" que se demoliu, daqueles de que houvemos notícia, foi uma capelinha muito linda e asseada que havia a pequena distância da vila, no caminho da Fonte da Cruz, no largo onde se dividiam os caminhos para Alpalhão e Gáfete, dedicada a Santa Catarina e às Almas Santas do Purgatório.
Ali concorrem anualmente as raparigas da vila no dia 25 de Novembro, em formoso e jovial préstito, cantando e bailando, com seu estandarte, a celebrar os louvores e e triunfos da filha de Costo, rei de Alexandria. E tinham-se feito uma numerosíssima confraria, a que as mais opulentas pertenciam; e deixavam-lhe legados para a sua festa e para as 25 missas que ainda hoje lhe dizem nos dias que a precedem.
E, no dia seguinte, depois de terem bailado e dançado, rido e folgado, iam chorar pelas suas amigas e parentes que se haviam finado, porque tinha lugar o ofício fúnebre pelas almas dos fiéis.
Acabou a devoção e a capelinha no ano de 1643, numa invasão dos castelhanos, que a demoliram e arrasaram e sua Dona refugiou-se na Igreja do Espírito Santo, onde ainda anualmente se festeja, mas sem concurso algum de donzelas, sem aparato de festa, sem alegrias e folguedos de mocidade; antes com tal ingratidão e abandono que nalguns anos nem irmãos concorrem para lhe pegar no andor, na procissão que lhe fazem. E ainda no dia seguinte se canta o mesmo ofício das Almas"
1.11.19
MEMÓRIA: Um Campo de Aviação em Nisa (1919)
No início do século XX, o desejo de dotar Portugal de asas levou à publicação do decreto que criou a escola de aviação militar em 1912. Esta levaria alguns anos a sair do papel, mas a quase totalidade dos nossos pilotos pioneiros passou por lá.
A Aeronáutica Militar viria a ser criada em 14 de Maio de 1914 com o primeiro concurso para dez pilotos ocorrido em 14 de Agosto de 1915.
A primeira Escola de Aeronáutica Militar tinha as instalações em Vila Nova da Rainha, concelho de Azambuja e é ao Chefe desta entidade que a Câmara de Nisa se dirige por ofício datado de 13 de Março de 1917, aludindo a uma circular recebida do Governo Civil do Distrito de Portalegre.
Carta ao Chefe da Escola de Aeronáutica Militar - Vila Nova da Rainha
"Satisfazendo a circular nº 1 do Governo Civil deste Districto, a Comissão Executiva desta Câmara Municipal de Nisa cumpre informar Vª Exª que muito perto desta vila há um campo que satisfaz amplamente as condições exigidas para um recinto de "aterrisage" carecendo apenas de uma pequenina despesa para limpar de algumas pedras soltas e aplanar umas ligeiras depressões do terreno".
(a) JFragoso
O assunto não deve ter merecido a atenção devida por parte dos responsáveis da Escola de Aeronáutica Militar ou, possivelmente, terão considerado outras ofertas. A Câmara de Nisa, porém, não desistiu dos seus intentos e em carta de 17 de Setembro de 1919 (mais de 2 anos depois) volta a insistir na disponibilização do terreno, juntando, para o efeito, novos argumentos.
Carta ao Chefe da Escola de Aeronáutica Militar - Vila Nova da Rainha
"Em aditamento ao ofício nº 31 de 13 de Março de 1917, venho novamente lembrar a Vª Exª quanto seria vantajoso estabelecer-se nesta vila um campo de aterrisagem, não só pelo motivo de esta vila se encontrar muito perto da fronteira espanhola, como também pela situação ao norte da vasta planície do Norte-Alentejo e no terminus dos contrafortes das serranias que da Beira Alta descem até ao sul da Beira Baixa.
O campo, como já se disse naquele citado ofício, é a menos de um quilómetro desta vila, de uma extensão enormíssima donde se pode talhar à vontade um rectângulo que satisfaça plenamente a todas as exigências.
Esta Câmara Municipal prontifica-se à sua custa, não só a adquirir e a ceder gratuitamente à Aeronáutica Militar do Paiz o citado terreno, como a mantel-o sempre em estado satisfatório, para o fim a que se destina.
É um melhoramento que se afigura de alto interesse para Portugal e por isso é de toda a oportunidade o oferecimento que em nome da Comissão Executiva da Câmara Municipal o signatário apresenta, aguardando com interesse a aquiescência de Vª Exª".
(a) Peliquito
Não conhecemos a resposta da Escola de Aeronáutica Militar, se é que a houve, mas a Câmara não deixou "morrer" o assunto que constava na convocatória da sessão extraordinária no dia 9 de Dezembro de 1919 e que se transcreve:
4/12/1919 - Convocatória
"Sendo de absoluta necessidade reunir-se extraordináriamente a Câmara da digna presidência de Vª Exª afim de serem tratados os seguintes assuntos:
a) Aprovação do Orçamento Ordinário para 1920
b) Alteração à postura sobre polícia de cães
c) Resolver definitivamente sobre o alargamento da nova rua que se projecta abrir, da rua Alexandre Herculano à Fonte da Pipa
d) Representar para o estabelecimento de energia eléctrica nesta vila, dimanada de fábrica produtora em construção nas quedas do Zêzere.
e) Sobre o oferecimento de um campo de aterragem para aeroplanos, visto o magnífico local estratégico que este local do Paiz oferece (entre Tejo e Guadiana) para a entrada daqueles aparelhos estrangeiros.
Venho rogar a Vª Exª a subida fineza de mandar convocar tal reunião para o dia e hora que julgar mais conveniente.
(a) Peliquito
Nada mais se sabe sobre esta pretensão da Câmara de Nisa. O que se conhece é o que nos mostra o filme realizado em Maio de 1932 por ocasião da visita (a primeira) de um Presidente da República a Nisa, neste caso, o general Carmona, cujo programa da visita integrou uma imponente exibição de aeronaves no sítio da Maria Dias, próximo da vila, que se julga ser o local referido nas missivas da Câmara à Escola de Aeronáutica.
Como dizia o Baptista Bastos: "Isto anda tudo ligado!" Há cem anos, o município nisense procurava estar na vanguarda do progresso, através da aviação. Um século depois, quem sabe, se, inspirada na mesma veia "iluminada", a Câmara lançou, em três tempos, o projecto da barca futurista do século XXI, que se cansou, antes de começar.
É caso para lembrar aquele fado: "Se a barca ficar parada / No rio sem navegar / Não te rales, que eu também não /O euro milhões, há-de chegar!
Mário Mendes
13.8.19
NISA: Memória escolar do concelho - Modus Vivendi
Tem mais de 70 anos esta foto e nela pode ver-se a professora D. Quitéria da Conceição Alemão e as suas alunas, na Escola Primária (feminina) de Arez, em 3 de Março de 1947. Na fila da professora, a segunda aluna do lado direito (com um laço na cabeça) é a D. Celeste, esposa do professor Júlio Alvega. Na segunda fila a contar de baixo, a primeira aluna da direita é a Dra. Leonilde, irmã da D. Celeste. A foto foi publicada na edição nº 223 do "Jornal de Nisa" (Janeiro de 2007) na secção Modus Vivendi. É caso para dizer, evocando um dos livros de Maria Judite de Carvalho: "Tanta gente, Mariana..."
Hoje, é o que se sabe e... sente!
30.6.19
NISA: Memória Histórica - Convite à Emigração (1917)
Em 1917, em plena Grande Guerra 1914-1918, a França enviava a Portugal "convites" para quem quisesse trabalhar naquele país europeu. A grande saga da emigração portuguesa para França haveria de sentir-se, no entanto e com principal acuidade nas décadas de 60 e 70 do século passado. Nessa altura, mais de um milhão de compatriotas, uns de forma legal (com o "visto de turistas") e a grande maioria "a salto" ou ilegalmente, atravessaram as fronteiras em demanda de uma vida melhor.
Passado mais de um século sobre os primeiros incentivos à emigração (1917) e num mundo onde grassa, um verdadeiro, inexplicável e irracional ódio aos emigrantes, publicamos aqui 3 documentos (editais) da Câmara de Nisa nos quais se convidam os interessados a trabalhar em França, recordando que o Direito às Migrações é - continua a ser - um Direito Humano Fundamental e nesse sentido, uma das principais garantias da Liberdade do ser humano, construam os Trumps de todas as latitudes, os muros que construírem.
EDITAL – 4/4/1917 – Convite à Emigração (1)
Da Administração do Concelho
Bacharel Joaquim da Silva Pimentel, Administrador do concelho de Nisa. = Faço publico que no dia 14 do corrente mez pelas 9 horas e n´esta Administração uma comissão de funcionários delegados do Governo Francez, effectuará a inspecção e contractos com os operários (pedreiros, carpinteiros e jornaleiros) que pretendam ir para França. Aquelles que desejarem ser contractados devem comparecer n´aquelle dia e hora e satisfazerem o seguinte: - Observarem-se as condições publicadas no artigo 1º da Portaria nº80 publicadas no Diário do Governo de 28 de Outubro de 1916; - Apresentar documento comprovativo da sua situação militar (caderna, ressalva ou publica, forma d´estas) os que tiverem mais de 32 annos e aquelles que tenham menos de 32 annos, hajam-se isentos, defenitivamente do serviço militar pelas juntas de revisão.
Virem munidos de seis pequenas fotografias para serem collocadas nos contractos. =
E para constar se passou o presente e outros de egual theor que vão ser affixados nos lugares mais públicos do concelho.
(a) Pimentel
EDITAL – 20/4/1917 – Convite à Emigração (2)
Da Administração do Concelho
Bacharel Joaquim da Silva Pimentel, Administrador do concelho de Nisa. = Faço publico que a comissão delegada do Governo Francez, para contractar operários portugueses, tenciona voltar novamente a este districto de Portalegre, nos dias 5 e 6 do próximo mez de Maio, para esse fim.
Nesta Administração está aberta a inscripção dos operários que se pretendam contractar, conforme as condições patentes n´esta mesma Administração, devendo no dia 26 do corrente estar terminada a inscripção.
E para constar se passou o presente e outros de egual theor que vão ser affixados nos lugares do costume.
(a) Pimentel
EDITAL – 01/8/1917 – Convite à Emigração (3)
Da Administração do Concelho
Bacharel Joaquim da Silva Pimentel, Administrador do concelho de Nisa. = Faço publico que a inspecção e contractos de operários para trabalharem em França se realizam no Governo Civil em Portalegre no dia 15 de Agosto pelas 9 horas da manhã. E para constar se passou o presente e identicos que vão ser affixados nos lugares mais públicos d´este concelho.
(a) Pimentel
Comunicação aos Regedores – 07/8/1917 – Convite à Emigração (3)
Da Administração do Concelho
Em referencia ao Edital em que se annuncia que o recrutamento de operários para França é feito no Governo Civil de Portalegre no próximo dia 15, communico a Vª Exª que os operários que forem apresentar-se à Junta devem ir munidos dos seus documentos militares e de 8 fotographias; e que apenas serão contractados serventes, lenhadores e serradores mecânicos.
(a) Pimentel
NOTAS: 1 - Vejam-se as diferenças de redacção entre o 1º e o 3º edital no que se refere aos profissionais a contratar.
2 - Um bidonville nos arredores de Paris - anos 60 - Foto excelente(mais uma) de Gérald Bloncourt, o melhor documentarista sobre a emigração portuguesa em França.
3.5.19
MEMÓRIA HISTÓRICA: Termo de nomeação de varredor desta villa (Nisa)
Aos 24 dias do mez de Agosto do anno de mil oitocentos cinquenta e tres, nesta villa de Niza na secretaria da Camara da mesma, onde se achava o actual presidente da Camara o Doutor José Diniz da Graça Motta e Moura, comigo escrivão, logo ahi compareceo José Ramalhete desta villa e por elle foi ditto que aceitava a nomeação que a Camara delle fez para varrer os largos, praças e lugares publicos desta villa, pelo tempo que decorre da dacta deste até ao fim de Junho do anno de mil oitocentos e cinquenta e quatro recebendo por isso,pagos pelo cofre do município a quantia de nove mil e seiscentos reis; e neste mesmo acto se lhe declarou que os lugares que deve limpar são as travessas, ruas menos principaes, largos e praças e de quintais desta villa e os caminhos publicos contiguos em roda d´ella, não consentindo nelles lixo,estrumes, animaes mortos, ou qualquer outra immundice, sujeitando-se às penas das Posturas que regulão a limpeza e asseio publico no cazo de não cumprir o seu dever, e ser demetido em ultimo cazo, e de como a tudo se obrigou offerecia para seo fiador e principal abonador a todas as condições aqui exaradas a Joaquim Gonçalves Ramalhete desta villa, que sendo presente declarou que as aceitava como sua proprias e forão testemunhas presentes João Semedo Rovisco e Manoel Lourenço desta villa.
E para constar se fez este termo que depois foi lido e o acharem conforme foi por todos assignado menos pelo nomeado por não saber.
E eu Guilherme da Costa Fragozo, Escrivão desta Camara o fiz.
28.11.18
NISA - Memória Histórica - Cultura: Espectáculo internacional de folclore (Julho de 2011)
Espectáculo internacional de folclore no Cine Teatro de Nisa com os grupos Sepé Tiaraju (Rio Grande do Sul - Brasil) e Sikharuli (Geórgia) - 4/7/2011 - As fotos respeitam à actuação do grupo brasileiro.
27.11.18
MEMÓRIA HISTÓRICA: Os romanos levaram o ouro
Corria o ano de 1199 quando D. Sancho I doou a Herdade da
Açafa, no Alentejo, à Ordem do Templo. O vasto território incluía parte dos
actuais concelhos de Nisa e Castelo de Vide, e ainda uma parcela da actual
Espanha, e nele os Templários construíram uma fortaleza que os defendesse dos
mouros. Pouco depois chegaram colonos franceses, que se instalaram junto às
muralhas, construindo casas e fundando aglomerados populacionais aos quais
deram o nome das terras de origem. Assim terá surgido Nisa, possivelmente
oriundo da cidade de Nice.
A vila que hoje vemos não fica no mesmo sítio dessa antiga
povoação. Os conflitos entre o rei D. Dinis e o seu irmão D. Afonso Sanches,
senhor da vizinha Castelo de Vide, terão ditado a mudança. No final do século
XIII, o monarca mandou levantar um forte castelo, com seis torres e portas. As
muralhas, essas, demoraram mais tempo, ainda estavam em construção no reinado
do seu filho, D. Afonso IV. A localização estratégica sempre justificou
elevados investimentos nas fortificações de Nisa, à qual D. João I atribuiu o
título de “mui notável” vila.
O rumo da História é assim mesmo, implacável até com o que
pareceu eterno a alguém, mas nunca consegue apagar tudo. Em Nisa há uma zona
conhecida por Nossa Senhora da Graça que vale a pena visitar, pois guarda
vários monumentos e vestígios arqueológicos, nomeadamente um cruzeiro de 1638,
três ermidas, um castro pré-romano, diversas fontes, as ruínas da Igreja de
Santiago, uma via romana calcetada e uma ponte do mesmo período, além de vários
fragmentos de cerâmica.
Os romanos exploraram por aqui uma mina de ouro, no Conhal
do Arneiro, junto às famosas Portas de Ródão. A água para lavar os sedimentos
seria transportada desde a Serra de S. Miguel e da Ribeira de Nisa através de
canais escavados para o efeito, conhecidos por “Vala dos Mouros”. Os seixos
maiores eram retirados à mão e empilhados ao longo das margens do canal, em
amontoados cónicos ou rectilíneos que marcam a paisagem desta região.
26.10.18
MEMÓRIA DE NISA: Subsídio para a História das Bandas de Nisa
Estas duas fotos, tiradas com a diferença de quatro anos, têm entre si alguns elementos comuns. A de cima, tem a data de 1909 e foi captada junto às ruínas de antiga igreja ou capela. Pela data, supomos ser a da capela de Santa Ana, situada junto ao antigo cemitério e no local onde está hoje o Cine Teatro.
A segunda foto, retirada da revista "Ilustração Portuguesa" não dá motivos a incorrecções. A legenda, explica que se trata da Filarmónica de Niza e que obteve o 1º prémio num concurso de bandas filarmónicas realizado em Portalegre. Não esclarece, porém, qual das duas Filarmónicas se trata: se da Sociedade Phylarmonica Nizense ou da União Artística Nizense, associações que, durante alguns anos, representaram em simultâneo as tradições musicais da vila.
Pelas fotos, vemos que se trata da mesma banda, não só pela indumentária, mas pelo reconhecimento de alguns elementos presentes em ambas as imagens.
Será possível, no entanto, obter mais informações através da leitura dos jornais que à época se publicavam em Portalegre e assim juntar mais alguns elementos que ajudem a clarificar a história e as origens das bandas filarmónicas de Nisa no século XIX.
22.10.18
MEMÓRIA HISTÓRICA: As forcas de Portalegre
Na edição de 10 de Julho de 1867 do “Diário de Notícias”, o
romancista francês Victor Hugo publicou uma carta ao director, escrevendo:
“Felicito o vosso Parlamento, os vossos pensadores, os vossos escritores e os
vossos filósofos. Felicito a vossa Nação. Portugal dá o exemplo à Europa. A
Europa imitará Portugal.”
O autor de “Os Miseráveis” celebrava assim a inédita decisão
de abolir a pena de morte para crimes civis em Portugal, definida em 1867,
quinze anos depois de a mesma decisão ter sido tomada para os crimes políticos.
Os mecanismos de execução das sentenças foram sendo esquecidos nos 146 anos
entretanto decorridos, mas um projecto da Universidade de Évora, liderado por Jorge
de Oliveira, tem procurado preservar essa memória histórica no distrito de
Portalegre.
23.9.18
NISA - Memória Histórica: A Electricidade em Nisa (1)
Carta à Companhia Nacional de Viação e Electricidade
(6/2/1920)
A Câmara Municipal deste concelho de Nisa, representada
pelo seu presidente adeante assinado, vem perante Vª Exªs Digníssimos
Engenheiros Directores da Companhia Nacional de Viação e Electricidade,
solicitar para que a rede de energia eléctrica dimanada das quedas do Zêzere,
venha a abranger a sede deste concelho de Nisa, porque além de constituir um
melhoramento local será também fonte de receita, não só com a Iluminação
Pública, como também com a particular.
Esta referida vila, atravessada pela Estrada Nacional nº
57, que no percurso de 15
quilómetros nos conduz ao rio Tejo e que liga a Beira
Baixa ao Norte Alentejo, é um ponto obrigatório para o turismo, donde,
consequentemente um local de passagem à viação eléctrica que num futuro mais ou
menos próximo Vªs Exªs venham a explorar.
Permita-se-me ainda ressalvada a modéstia de declaração,
enaltecer o futuro sob todos os pontos de vista que neste concelho a vossa
companhia poderá usufruir em comparação de tantos outros concelhos enumerados
na vossa memória descritiva, como seja o de Vila Velha de Rodam.
Esperando do ponderado critério de Vª Exª o deferimento
do pedido que acabo de fazer, a Câmara Municipal deste concelho principia por
afirmar desde já a Vª Exª muitos especiais agradecimentos.
(a) José Dinis da Graça
Vieira
7.9.18
NISA - Memória Histórica: Crises de Trabalho (1)
* Falta de
Trabalho (I)
12 Ago. 1912 – Exposição ao Governador Civil de Portalegre
Exmo Senhor – A Comissão Administrativa do Município de Niza
em sessão ordinária de 5 do corrente mez de Agosto, entre outros negócios
deliberou representar perante Vª Exª Governador Civil d´este districto contra a
falta de trabalho das classes jornaleiras e falta de centeio. = O anno
cerealífero foi miseravelmente remunerado ao ponto de muitos não recolherem as
sementes que lançaram à terra! O pobre, o trabalhador, que não recolheu a
subsistência para algumas semanas encontra-se também sem trabalho, porque
aquelles que poderiam dispender algum dinheiro, também se acham desanimados
pelas colheitas.
Um numeroso grupo d´aquella classe acabou de vir em numerosa
massa, patentear aos paços d´este concelho a sua flagrantíssima situação, pois
que, alem da escassez da colheita, lhe falta o trabalho que reclamam acrescendo
a circunstancia de o centeio estar a 670 reis os 15 litros . = Esta
Comissão espera do criterio altamente esclarecido de Vª Exª uma solução
razoável e rápida para as criticas circunstancias dos pobres trabalhadores de
Niza, agradecendo desde já toda a cooperação junto do Governo que Vª Exª possa
dispensar.
Saúde e Fraternidade – o vice-presidente da Comissão:
Almadanim
* Falta de Trabalho
(II)
4 Julho 1912 – Ao Comandante da GNR em Portalegre
Exmo Senhor – Em resposta ao telegrama de Vª Exª de hontem,
recebido aqui já muito tarde, tenho a honra de lhe enviar a inclusa nota
respeitantes aos preços dos géneros alimentícios na ultima semana finda em 29
de Junho de 1912. Com relação às dificuldades neste concelho é assumpto tão
vago e tão complexo, que só com aturado estudo se poderá dizer qualquer coisa
de acertado e com alguma coordenação, sendo certo, que, diariamente se
manifesta por toda a parte a escassez de trabalho e a pouca fertilidades destas
terras. Este ano, por exemplo, das colheitas cerealíferas nem a semente é
recolhida. Tudo isto, é claro, se reflecte em toda a gente, mas muito
principalmente naqueles que têm de ganhar no mourejar do campo o minguado pão
de cada dia.
Saúde e Fraternidade
31.8.18
MEMÓRIA HISTÓRICA: Limpeza e aformoseamento do concelho
Vem de longe, de muito longe, a preocupação dos eleitos no
município de Nisa com a limpeza e aformoseamento das ruas, praças e largos das
diversas povoações que integram o concelho. Sem verbas para "flores"
ou para adjudicações-relâmpago de cantarinhas para turista e emigrante ver, as
vereações municipais socorriam-se da lei e das multas como factores de coacção
sobre os munícipes, para fazerem valer os princípios da boa administração
camarária e a limpeza de todas as povoações. Hoje, com tantos e variados meios
aos dispor da edilidade, não se nota o mesmo cuidado na preservação dos
agregados urbanos, nem se seguem os bons exemplos de municípios vizinhos que
estimulam a limpeza e a caiação de edifícios, fornecendo a cal e outros
preparos. O exemplo que se dá a conhecer remonta a Junho de 1912 e foi extraído
de um documento da Câmara Municipal de Nisa.
EDITAL
A Comissão Administrativa do município de Niza no intuito de
promover o aformoseamento das differentes povoações d´este concelho, deliberou
o seguinte:
1º Os munícipes que no dia 30 de Junho de 1913 não tiverem
ainda rebocadas e caiadas as frontarias das casas de que são proprietários,
incorrem na multa a que se refere o nº1 do artigo 25 do código de posturas;
2º Quando se edificar ou reedificar algum prédio urbano
deverão ser rebocadas e caiadas as faxadas principaes no prazo de um anno,
contado da conclusão da obra, sob pena do respectivo proprietário incorrer na
multa estabelecida no nº 1 do citado artº 25 do código de posturas.
3º Os que forem remissos no comprimento d´estes deveres
pagarão alem das multas, a despesa que a Camara fizer em mandar caiar ou
rebocar os prédios (§ 2º do artigo 25 do código de posturas).
- Os cidadãos que compõem a actual Comissão Administrativa
teem a antecipada certeza, que em 30 de Junho de 1913 já não terão a seu cargo
a gerência do município mas nem por isso julguem aquelles que, propositadamente
deixem de rebocar ou caiar as frontarias das suas casas que não haverá maneira
de os obrigar a cumprir o disposto nos números e §§ do artigo 25 do código de
posturas. O comprimento das disposições d´este artigo é de execução permanente.
E se para a sua integral execução marcamos o prazo de um anno, fazemo-lo
unicamente por um principio de toleranci. Decorrido que seja esse anno
exigiremos como simples particular a quem de direito a rigorosa observância do
disposto no sitado artigo 25 do código de posturas.
Niza, 19 de Junho de 1912
O vice-presidente
José Alves Mouzinho Almadanim
8.7.18
NISA: Memória Histórica - O Relógio
Desarranjos no Relógio "Hércules"
Carta à firma Andrade Melo (Porto) – 30/9/1927
"Permita-me Vª Exª que lhe venha expor, ainda que muito
sucintamente, o estado de mau estado, digo, funcionamento, do relógio
“Hércules” colocado na torre desta Câmara em Dezembro do ano passado.
No mês de Abril ou Maio começou com umas pequenas
irregularidades que se nos afiguravam passageiras e por isto nada comunicamos a
V.ª Exª. Durante este Verão chegou a parar-se algumas vezes em um terço da
corda consumida. Presentemente no bater das horas também com a irregularidade
de quando são 2 da tarde bate 12 e vice-versa. Quer-nos parecer que não será da
máquina, porque qualquer, digo à simples vista vê que é uma peça bem trabalhada
e que deve trabalhar bem. Será por ventura defeito da sua montagem?
Esta hipótese também me custa a admitir visto que V.ª Exª só
para aqui mandaria um empregado da sua inteira confiança. Devo frisar que os
relógios de Montalvão e de Alpalhão estão regulando bem. São da mesma marca,
mas de tamanho mais pequeno. Todos estas circunstâncias se apresentam a V.ª Exª
que certamente com a longa práctica e auctoridade no assunto saberá explicar
este desarranjo no relógio e consequentemente a solução do assunto.
(Peliquito)
1.5.18
MEMÓRIA: O 1º de Maio em Nisa em 1905
É um documento notável, a notícia das comemorações do 1º de Maio em Nisa no distante ano de 1905. Desde logo pelo conjunto de informações que nos fornece, à distância de mais de um século. Publicada no quinzenário "Notícias de Rodam", um jornal "feito" e com redacção no concelho de Nisa, como se lê no cabeçalho da edição nº10 de 21 de Maio de 1905, "Portas de Rodam - Arneiro (Niza) composto e impresso na Typografia Minerva Central - Bairro Alto -Portalegre.
No texto sobre as Comemorações do 1º de Maio que naquele ano "não correspondeu às aspirações do operariado Nizense", há referências à banda phylarmonica da União Artística Nizense, uma informação de grande importância e que faz "luz" sobre a existência de duas bandas filarmónicas na vila de Nisa, uma ligada ao Partido Regenerador e outra ao Partido Progressista. De acordo com a leitura do texto, esta União Artística Nizense seria a "nova" por oposição à Phylarmonica Nizense (a velha). A notícia sobre o 1º de Maio em Nisa em 1905 faz também referência a dois elementos da Comissão Organizadora, José Félix e António Maria Alberto. Deste sabemos (e conhecemos) a sua actividade como comerciante no conhecido café da Porta da Vila. Do primeiro, José Félix, pessoa ligada ao movimento associativo de Nisa, cremos ser familiar do senhor Luís do Rosário Matias (Félix), um dos fundadores na década de 30 da Sociedade Artística Nisense e dinamizador durante muitos anos, como instrumentista e "mestre" da Banda de Nisa.
Poderão parecer informações de somenos importância, mas ajudam a compreender e dão um contributo precioso para o estudo do movimento associativo do concelho de Nisa e da vila em particular, nas duas primeiras décadas do século passado e principalmente com o desabrochar das ideias republicanas.
A Associação de Socorros Mútuos da Classe Operária Nizense, entre outras associações, são a expressão desse movimento de forte expressão cultural e de solidariedade entre as classes trabalhadoras.
13.2.18
MEMÓRIA HISTÓRICA: A Romaria da Senhora da Graça em 1850
As fotos são recentes, mas aqui deixamos um registo da Romaria em 1850
Relação da Despesa feita com afesta de Nª Sª da Graça no
anno de 1850
* Pago ao vigário da Matriz
................................................................ $480 *
* Ao mesmo esmolla da Missa ............................................................ $240
* Dito ao Rerº Pe. Joaquim Maria Tavares .......................................... $480
* Dito ao Rerº Pe Bartholomeo Delicado Correia ................................. $480
* Dito ao Rerº Pe. João António Vieira ..... ........................................... $480
* Dito ao Rerº Pe João Baptista Alfaia ................
................................ $480
* Ao mesmo repiques de sinos
..............................................................$240
* Dito ao ordinando José Ribeirinho
.....................................................$480
* Dito a António da Estrella ................................................................. $480
*Dito ao Director da Filarmónica António Esteves d´Oliveira
............10$080
* Dito ao Ver. Pe Joaquim Diniz Betácollo pelo sermão...................... 3$200
* A Manoel Correia – 3 duzias de foguetes
........................................ 1$800
* Ordenado do Irmitão
.......................................................................... $480
* Lavagem de roupa
............................................................................. $140
* 16 arrateis de cera
........................................................................... 6$080
* Por armar a Igreja .............................................................................. $200
* Broxas e alfinetes
............................................................................. $090
___________
26$870
* Azeite para luminárias .............................................................. $160
* Dito para a lampida
............................................. ..................... $860
* Missa de S. Vicente ............................................. .................... $480
* Dita de S. Tiago ...................................................................... $480
___________
Somma
.............................. 28$850
Receberam as quantias que nos vêem designadas na relação –
Niza 7 de Abril de 1850
- O Vigário –Joaquim Faustino Dinis Bitácolo
- José da Graça Semedo Ribeirinho
- António d´Estrella Figueiredo
- Pe António Maria de Moura
- Pe João Baptista Alfaia
- António Esteves d´Oliveira
- Pe Bartholomeu Luiz Delicado Correia
- Pe Joaão António Vieira Alfaia
- Pe Joaquim Maria Tavares Portugal
- Joaquim Pedro Tavares Portugal
15.11.17
MEMÓRIA: Alunos da Escola de Amieira do Tejo
A foto foi publicada na edição nº 179 do "Jornal de Nisa" na secção "MODUS VIVENDI"
Foto de alunos de Amieira do Tejo, tirada no primeiro
quartel do século XX. De pé: António Ribeiro Alves, José Velez Metelo, João de
Matos Pereira Rico, João Valério, António Francisco Constâncio (pai do
Governador do Banco de Portugal, dr. Vítor Constâncio), e Manuel Alves Martins.
Sentados: António de Sena Lino, Manuel Severino Barata, Luís
Dias Semedo, António Pires Migueis, Henrique Pereira Lopes e João Rodrigues
Vieira de Sena.
Com a cortesia da senhora D. Belmira Vieira, a quem
agradecemos.
16.10.17
MEMÓRIA DE NISA: Tumultos na Feira do Espírito Santo (1907)
Na feira do Espírito Santo,
realizada em 9 de Junho de 1907, houve desordem turbulenta entre ciganos, que
deu origem a grave tumulto popular.
Quando os desordeiros fugiam à
fúria da multidão, uma cigana refugiou-se no quartel da Guarda Fiscal, ao tempo
no Largo do Espírito Santo.
O quartel foi então apedrejado e
alguns populares chegaram a invadi-lo, sem que a tal pudessem obstar os dois
únicos guardas que nele se encontravam.
Como cabeças de motim foram
presos muitos nisenses e entregues ao poder judicial. Por ser a cadeia comarcã
insuficiente para contê-los, fez-se a remoção de alguns para a de Portalegre
pelas seis horas da tarde de 4 de Julho.
Só em 10 e 11 de Março de 1908 os
julgou o Tribunal de Nisa, ao qual presidia, como Juiz, o sr. dr. Damião de
Meneses, representando o Ministério Público o sr. dr.João Carlos Ribeiro de
Melo. O advogado dos réus foi o sr. dr. Bernardo Lima. O escrivão do processo,
sr. Aníbal Machado, foi substituído, por motivo de doença, pelo sr. António G.
Paralta. Na bancada dos advogados assistiram à audiência os srs dr. Fonseca
Pestana e dr. Mourato Peliquito e, no último dia, o sub-delegado, sr. dr. José
Pequito Crespo.
A defesa foi brilhante. De
harmonia com o veredicto do júri,, o presidente do Tribunal absolveu todos os
réus, que eram os seguintes: António Júlio Guerra, Albertino Bizarro, João da
Piedade Pires, João Correia Rasteiro, João Matias, António da Graça Caldeira,
José da Cruz Carrapiço, Carlos Bizarro, António Maria, José António do
Nascimento, Francisco Lobato, Luiz da Silva e António Diniz Samarra.
O julgamento terminou cerca das
quatro horas da madrugada, havendo nessa ocasião na Praça, onde estava
instalado o Tribunal, mais de mil pessoas.
in "Correio de Nisa"- 1945
12.10.17
NISA - MEMÓRIA HISTÓRICA: Petição à Câmara de Nisa em 1885
Dos moradores do Monte Cimeiro e
do Pé da Serra
Usando da faculdade que a lei
conferia, os moradores das aldeias ou povoações mais pequenas, faziam
regularmente petições às entidades públicas, reivindicando a resolução de
problemas. O arranjo das vias de comunicação é reivindicado nesta petição
apresentada à Câmara de Nisa em 1885 e que transcrevemos respeitando a
ortografia da época:
" Os abaixo assignados moradores
no Monte Cimeiro e Pé da Serra, freguezia de S. Simão d´este concelho, usando
de um direito que a lei lhes confere, veem hoje representar a V. Exªs sobre a
necessidade inaddiavel de se attender de prompto á reparação, na parte
indispensavel, de um dos caminhos publicos que ligam aquellas povoações ruraes
com a séde do mesmo concelho. É incontestavel que muito, relativamente, se tem
feito para que a viação municipal possa satisfazer ao que o commercio, a
industria e em summa as forças vivas do municipio, no seu progresso successivo,
vão exigindo; mas não é menos incontestavel que não ha presentemente no
concelho povoação alguma que esteja em peiores condições de viação do que o
monte, aliás importante, do Pé da Serra, porque infelizmente até hoje nenhum beneficio
tem recebido n´esse sentido. Bastará dizer que, para uma carreta chegar a este
monte, tem que ir alcançar o Azinhal, suppondo que Niza é o ponto de partida,
percorrendo assim uma distancia dupla da que teria de percorrer se seguisse
pelo caminho chamado do Carqueijal em direcção ao Porto das Carretas.
Acresce ainda que, para a propria
viação a pé ou a cavallo, o caminho ordinariamente seguido, o da Ponte em
direcção a Portella dos Caldeireiros, está hoje já quasi intransitavel. Para
remediar estes males, que são grandes, pois affectam interesses legítimos, os
abaixo assignados veem pedir á Exma Camara Municipal a immediata reparação do
caminho do Carqueijal, na parte comprehendida entre a Cancella da tapada dos
herdeiros de José da Cruz Cebola e o Porto das Carretas, distancia que é
pequena, e em seguida a reparação do dito porto, de forma que o seu pavimento
seja de calçada e colloquem n´elle as competentes passadeiras.
D´esta arte com uma pequena
despeza, o beneficio para o monte do Pé da Serra é tão grande que só em
occasiões de grandes cheias será interrompida a viação pelo dito porto,
convindo notar que esse beneficio se estende ainda aos habitantes do monte da
Salavessa, visto que elles fazem escala pelo Pé da Serra.
Attendendo á justiça que assiste
aos abaixo assignados e a que a reparação pedida importa apenas uma pequena
despeza, que não se torna sensível na verba aprovvada para tal fim no
respectivo orçamento, esperam, e attendendo a que aproveita ainda ao povo da
Vinagra, onde residem alguns signatários.
Pedem a V. Exas
deferimento."
Á frente dos signatários vinha o
nome de João António da Silva, pároco de S. Simão. Nos mais de 30 nomes que
integram a petição, muitos dos apelidos são-nos familiares (Corga, Pires,
Anastácio), por serem comuns em Nisa, o que torna credível a ideia de que a
formação do monte do Pé da Serra, se processou após a destruição de
Nisa-a-Velha, sendo os povos de Nisa e daquela localidade, apenas um e o mesmo
povo.
in "Jornal de Nisa" -
Nº 36 - 23 de Junho de 1999
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