Corria o ano de 1199 quando D. Sancho I doou a Herdade da
Açafa, no Alentejo, à Ordem do Templo. O vasto território incluía parte dos
actuais concelhos de Nisa e Castelo de Vide, e ainda uma parcela da actual
Espanha, e nele os Templários construíram uma fortaleza que os defendesse dos
mouros. Pouco depois chegaram colonos franceses, que se instalaram junto às
muralhas, construindo casas e fundando aglomerados populacionais aos quais
deram o nome das terras de origem. Assim terá surgido Nisa, possivelmente
oriundo da cidade de Nice.
A vila que hoje vemos não fica no mesmo sítio dessa antiga
povoação. Os conflitos entre o rei D. Dinis e o seu irmão D. Afonso Sanches,
senhor da vizinha Castelo de Vide, terão ditado a mudança. No final do século
XIII, o monarca mandou levantar um forte castelo, com seis torres e portas. As
muralhas, essas, demoraram mais tempo, ainda estavam em construção no reinado
do seu filho, D. Afonso IV. A localização estratégica sempre justificou
elevados investimentos nas fortificações de Nisa, à qual D. João I atribuiu o
título de “mui notável” vila.
O rumo da História é assim mesmo, implacável até com o que
pareceu eterno a alguém, mas nunca consegue apagar tudo. Em Nisa há uma zona
conhecida por Nossa Senhora da Graça que vale a pena visitar, pois guarda
vários monumentos e vestígios arqueológicos, nomeadamente um cruzeiro de 1638,
três ermidas, um castro pré-romano, diversas fontes, as ruínas da Igreja de
Santiago, uma via romana calcetada e uma ponte do mesmo período, além de vários
fragmentos de cerâmica.
Os romanos exploraram por aqui uma mina de ouro, no Conhal
do Arneiro, junto às famosas Portas de Ródão. A água para lavar os sedimentos
seria transportada desde a Serra de S. Miguel e da Ribeira de Nisa através de
canais escavados para o efeito, conhecidos por “Vala dos Mouros”. Os seixos
maiores eram retirados à mão e empilhados ao longo das margens do canal, em
amontoados cónicos ou rectilíneos que marcam a paisagem desta região.