27.11.18

MEMÓRIA HISTÓRICA: Os romanos levaram o ouro

D. João I atribuiu a Nisa o título de “mui notável” vila
Corria o ano de 1199 quando D. Sancho I doou a Herdade da Açafa, no Alentejo, à Ordem do Templo. O vasto território incluía parte dos actuais concelhos de Nisa e Castelo de Vide, e ainda uma parcela da actual Espanha, e nele os Templários construíram uma fortaleza que os defendesse dos mouros. Pouco depois chegaram colonos franceses, que se instalaram junto às muralhas, construindo casas e fundando aglomerados populacionais aos quais deram o nome das terras de origem. Assim terá surgido Nisa, possivelmente oriundo da cidade de Nice.
A vila que hoje vemos não fica no mesmo sítio dessa antiga povoação. Os conflitos entre o rei D. Dinis e o seu irmão D. Afonso Sanches, senhor da vizinha Castelo de Vide, terão ditado a mudança. No final do século XIII, o monarca mandou levantar um forte castelo, com seis torres e portas. As muralhas, essas, demoraram mais tempo, ainda estavam em construção no reinado do seu filho, D. Afonso IV. A localização estratégica sempre justificou elevados investimentos nas fortificações de Nisa, à qual D. João I atribuiu o título de “mui notável” vila. 
Em plena Guerra da Restauração, o castelo foi reforçado com uma segunda cintura defensiva e outros acrescentos menores. Nada que impedisse a derrocada da fortaleza durante a Guerra da Sucessão de Espanha (1703 – 1713), na qual Portugal participava, quando foi ocupada por tropas franco-espanholas. Restam hoje duas torres, alguns panos de muralha e duas portas de finais do século XIII, a da Vila e a de Montalvão, assim chamada por estar voltada para a povoação com o mesmo nome.
O rumo da História é assim mesmo, implacável até com o que pareceu eterno a alguém, mas nunca consegue apagar tudo. Em Nisa há uma zona conhecida por Nossa Senhora da Graça que vale a pena visitar, pois guarda vários monumentos e vestígios arqueológicos, nomeadamente um cruzeiro de 1638, três ermidas, um castro pré-romano, diversas fontes, as ruínas da Igreja de Santiago, uma via romana calcetada e uma ponte do mesmo período, além de vários fragmentos de cerâmica.
Os romanos exploraram por aqui uma mina de ouro, no Conhal do Arneiro, junto às famosas Portas de Ródão. A água para lavar os sedimentos seria transportada desde a Serra de S. Miguel e da Ribeira de Nisa através de canais escavados para o efeito, conhecidos por “Vala dos Mouros”. Os seixos maiores eram retirados à mão e empilhados ao longo das margens do canal, em amontoados cónicos ou rectilíneos que marcam a paisagem desta região.