É um “cocktail de desastre” que está a sufocar o rio Tejo.
Análises efectuadas à água do rio, desde a nascente em Espanha, até à foz em
Portugal, revelam uma situação preocupante, e do outro lado da fronteira
fala-se de “uma indecência ecológica”.
Uma reportagem da revista Sábado mostra como Espanha
“maltrata” o Tejo, com base em análises efectuadas desde a nascente até à foz
do rio.
Os resultados apontam que o Tejo chega a Portugal com
elevados índices de poluição, melhorando à medida que corre por território
nacional.
Além de algas, entre as substâncias detectadas nas análises
efectuadas pela Sábado, estão “oito vezes mais fósforo do que o máximo
recomendado”, “azoto também acima do normal” e “um valor de oxigénio dissolvido
na água a rondar os 2 mg/l, quando o mínimo para um rio saudável são 5 mg/l“,
como refere a revista.
A contribuir para esta situação preocupante estão factores como
os esgotos de Madrid, o desvio de água para a rega de campos agrícolas de
Múrcia e as diversas barragens que se estendem pelo leito do rio.
Para gastarem menos dinheiro, as barragens espanholas de
Alcantara e Cedillo fazem descargas de água no fundo, ao invés de à superfície,
o que aumentaria o nível de oxigénio no rio.
“O pior que sobra da ditadura de Franco”
E até do outro lado da fronteira, se critica a forma como
Espanha faz a gestão das águas do Tejo, com o Presidente da Junta de
Comunidades de Castilla-La Mancha, Emiliano García-Page, a referir que estamos
perante “uma indecência ecológica” e um “atropelo anti-ecológico”, conforme
declarações divulgadas pelo Diário de Castilla-La Mancha.
García-Page critica em particular o transvase Tejo-Segura, um
aqueduto que é definido como uma das maiores obras hidráulicas da engenharia
espanhola e que leva água das barragens de Entrepeñas (Guadalajara) e Buendía
(Cuenca) até ao rio Segura.
“O transvase Tejo-Segura é o pior que sobra da ditadura de
Franco“, refere García-Page. O canal do aqueduto leva, actualmente, “50% mais
de água do que hoje atravessa o rio Tejo”, acusa ainda. E sobre o Tejo diz que
parece “um esgoto”.
O Presidente da Junta de Comunidades de Castilla-La Mancha
apela ao Governo espanhol, e às regiões vizinhas de Murcia e Valência, que se
alcance um acordo em matéria de gestão de água.
Também os ambientalistas da Associação Zero apelam à tomada
de medidas para promover a melhoria da qualidade da água no Tejo.
“Os caudais mínimos são semanais e deviam ser diários, para
haver uma continuidade de caudal e ajudar à diluição da carga poluidora”,
refere ao Correio da Manhã a vice-presidente da Zero, Carla Graça.
Esta engenheira do ambiente explica, em declarações à
Sábado, que as “flutuações” nos caudais “não permitem uma boa saúde do rio”.
“Um dia pode haver um grande caudal libertado por Espanha e nos restantes só 600 litros , o que não é
nada”, sublinha Carla Graça.
Assim, a Zero espera que o assunto seja abordado na cimeira
ibérica entre Portugal e Espanha, na próxima semana. Mas até agora, não é certo
que o tema faça parte da agenda.
in ZAP - 16 Novembro, 2018
Foto: Paulo Cunha / Lusa