15.11.18

JORGE PIRES - Textos - "O Amieirense" - Março/Abril 1997

Lembranças do Ti João Tereso e da casa onde morava
Neste mundo tudo cai! Neste mundo tudo é fraco, tudo abana, tudo se dilui. Nada resiste. Nada nem ninguém foge à regra e aquela que foi num passado recente a casa mais falada e mais famosa na nossa terra e lá fora, também caiu.
Estava velha, aquela onde tanta gente retemperou forças durante a noite, para no outro dia seguir viagem, em busca de negócios ou de... desilusões! Ali paravam os “ratinhos” para beber uns copos (poucos porque a missão era ganhar e não gastar) quando se preparavam para atacar as searas que no Alentejo esperavam por eles. Ali paravam os ourives e toda a espécie de negociantes e quando se ouvia a gaita do capador, logo a esposa do senhor João Tereso sabia que tinha que acrescentar a panela do feijão com couve, que ela cozinhava como ninguém.
... E a casa do ti João Tereso já não existe! Aquela casa que tanto negócio fazia, não foi o suficiente para dar ao seu proprietário e aos seus, a independência desejada, pois o muito que conseguiu numa vida de trabalho, foi dar o seu nome durante muitos anos ao Largo onde habitava.
Quase ninguém se referia ao Largo do Espírito Santo, mas sim ao “Largo do Ti João Tereso”! Muitos amieirenses ao visitarem hoje a sua terra, recordarão com saudade os bons tempos que ali passaram.
Todos se recordarão com certeza, na assiduidade com que aquele homem atendia os seus clientes. Aquela porta estava sempre aberta, ao mesmo tempo que havia sempre que dar ao dente, o dinheiro é que não queria nada com a gente...
E a casa do Ti João Tereso já não existe! No seu lugar, está a ser construída uma linda moradia, que não terá certamente destino comercial como a que nós conhecemos, mas que juntamente com outra também nova que está a ser edificada ali mesmo defronte, darão ao Largo do Ti João Tereso” uma fisionomia fantástica, quando um dia as cabanas também caírem como caiu a casa do Ti João Tereso!
Paz à sua alma.
Jorge Pires – in “O Amieirense” nº 132 – Março/Abril 1997