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16.7.25

NISA: Conheça os poetas do concelho (XXXIX) - Jorge Pires

 


Abril dos Cravos 

Ele era um filho inteligente

Seu pai um homem honrado

Ele era aquela semente

Que a mãe tinha gerado.

*** 

Tinha nascido em Abril

Aquele filho tão amado

Tinham chovido águas mil

Naquele humilde povoado.

*** 

Era a esperança que entrava

Naquela casa velhinha

Era o pai que o amava

E também sua mãezinha

*** 

Era uma flor que nascia

Numa noite de luar

Era uma voz que dizia

Isto agora vai mudar

*** 

Passaram-se alguns anos

Esse filho foi crescendo

Vítima de alguns enganos

Pouco a pouco vai morrendo.

*** 

Pobre filho, pobres pais

Já não sabem que fazer

Uns fogem outros dão ais

Já não dá p´ra entender

*** 

Vêm ajudas de fora

Vêm ministros e doutores

Mas o rapaz não melhora

E vão murchando as flores

*** 

Desperta ó Primavera

Anda ver o teu amado

Já não parece o que era

Teu lindo cravo encarnado.

*** 

Não queremos que ele morra

Grita o povo indignado

Ainda que o sangue corra

Há-de ser recuperado.

* Jorge Pires

10.5.23

AMIEIRA DO TEJO: As flores do jardim - Texto de Jorge Pires

Quando no jardim da nossa casa desabrocha uma flor, fruto do amor e do carinho que lhe é dedicado por mãos delicadas, logo os nossos olhos se alegram como se tivesse nascido uma criança, mas quando passados alguns dias essa flor começa a desmaiar, não podemos deixar de sentir uma certa nostalgia e pensar que também nós, somos fruto do amor e do afecto, como a flor do nosso jardim e também como ela, vamos pela vida fora passando por várias metamorfoses, que no fundo, não são nem mais nem menos aquilo que se passa com tudo o que nos rodeia.
Também no jardim da vida, tal como no jardim das flores, existem as mais variadas espécies, umas de melhor qualidade e outras que, como diz o povo, não são flor que se cheire. Pode dizer-se que hoje, as flores que menos abundam no nosso mundo são sem dúvida os amores perfeitos, o que é pena, pois sem eles, cada vez mais se desmembrará o mundo em que vivemos, isto porque ao contrário, há cada vez mais rosas com espinhos que quer queiramos quer não, se irão cravando nas mentalidades mais desprotegidas.
Antigamente, isto é, até 1970, eram os “cravo/as” os inimigos nº 1 dos comerciantes devido ao dano que causavam às suas prateleiras e simultaneamente às suas economias; hoje, aquela espécie pelo menos cá no “nosso jardim”, está praticamente extinta, o que não deixa de ser um alívio para quem gosta de plantar e... colher!
Que bom seria que um dia, aqueles que vivem no meio de um jardim imenso, se lembrassem de tanta gente que nem uma pétala possui... Virá esse dia?
* Jorge PiresO Amieirense – nº 133 – Maio/ Junho de 1997

27.1.22

NISA: Conheça os Poetas do Concelho (II) - Jorge Pires

 

AMIEIRA, TÃO LINDA ÉS!
Oh Amieira do Tejo
Do casario tradicional
Igual a ti eu não vejo
Neste lindo Portugal.

Tens o castelo a teus pés
E o Calvário á cabeceira
Tão bonita que tu és
Nobre vila d´ Amieira

Altaneiro e imponente
Bem ao fundo do povoado
Tens um castelo diferente
Dos muitos que há no condado.

De forma rectangular
E uma cisterna no meio
Quatro torres a enquadrar
Esse magnífico esteio.

Recordação gloriosa
Dum homem que não morreu
Só descansa em Flor da Rosa
Pelo muito que viveu.

Casas pequenas muito antigas
Feitas por outra geração
Cenário de algumas brigas
Quando não havia pão.

Lá ao fundo e a teu lado
Passa o Tejo encantador
Que está por ti apaixonado
Pelo teu grande valor.

Também tens uma Barragem
Cujo nome está errado
Pois toda a sua montagem
Foi feita cá deste lado.

Tens ainda boas águas
E um vinho excepcional
Onde afogo as minhas mágoas
Se por acaso me sinto mal.

Também tens o Mártir Santo
À esquerda de quem desce
Tens o teu maior encanto
Quando a Oliveira floresce.

À direita a Capela
Da milagrosa Padroeira
Toda a gente gosta dela
Nesta vila d ´Amieira.

Tu tens a Misericórdia
De grande significado
Também tens muita discórdia
Que herdaste do passado.

Tinhas um santo que se evaporou
Que coisa levada da breca
Há quem diga que abalou
Por não gostar da charneca.

Capelas muitas capelas
Capelas com linda vista
Mas a mais bonita delas
É a de S. João Baptista

Tens a igreja principal
Majestosa que ela é
Onde se prega afinal
O culto da nossa fé.

Mas a tua maior beleza
Está na simplicidade
Conserva pois essa riqueza
Até à eternidade.
Jorge Pires
Foto: Armando Gaspar

25.9.19

AMIEIRA DO TEJO: Evocação de Jorge Pires - Outono

 Poesia de Outono
Termina o Verão, começa o Outono
É tempo de secarem as flores
É tempo de o rei descer do trono
E pintar o mundo de outras cores

É tempo das andorinhas nos deixarem
E partirem à procura de calor
É tempo de os tordos cá voltarem
Para serem exterminados sem pudor

É tempo de limpar os nossos rios
Com a chuva que cai do firmamento
É tempo de encher corpos vazios
E mostrar que somos gente por um momento

É tempo dos rouxinóis se calarem
E deixar os nossos campos sossegados
É tempo de outros pássaros voltarem
E não deixar que sejam apanhados

É tempo de varrer toda a folhagem
Que o vento agreste derrubou
É tempo de mostrar nossa coragem
A lembrar o tempo que passou.

É tempo de cultivar nossas terras
Para depois haver searas verdejantes
É tempo de acabar com tantas guerras
E ver os campos como a gente via dantes.

É tempo de brincar com nossos filhos
Nos jardins da prudência e do amor
É tempo de evitar muitos sarilhos
Ensinando-os a plantar uma flor!
· Jorge Pires

24.6.19

NISA: Poetas populares do concelho - Jorge Pires

Casamento atribulado

Casou nova a Joaquina
Com um homem já vivido
Ela era pequenina
E ele muito comprido

Foi um grande casamento
E houve festa no lugar
Mas foi um grande tormento 
Para o noivo se deitar

Pequenina como era
Aquela cama de casal
Toda a gente estava à espera
Que a coisa corresse mal.

E quando ele percebeu
Que tinha que dormir encolhido
Pegou em tudo o que era seu
E queria fugir arrependido.

- Calma, aí! – disse a Joaquina
Agora não sais daqui
Lá por eu ser pequenina
Não tenho medo de ti.

Houve luta sem quartel
Naquele quarto acanhado
E só houve lua de mel
Depois do noivo arranhado.

E quando ele coitado
Acordou já alto dia
Tinha a Joaquina ao lado
Mas ele, já não…podia!
Jorge Pires

15.6.19

DO ALTO DA TORRE - Evocações de outros tempos

Quando este vosso amigo foi convidado para exercer o cargo de redactor de "O Amieirense" mil e uma dúvidas passaram pelo meu cérebro devido às limitações gramaticais, próprias de um homem que não pôde ir mais além - os tempos eram outros e ter a quarta classe já era um privilégio, principalmente para quem como eu, viveu em extrema pobreza.
Não quero apenas salientar a quanto as dificuldades nos obrigam, pois foi na universidade da vida que tirei o curso mais importante, aquele que infelizmente faz parte do "curriculum" de muita gente. É pouco, realmente, sou o primeiro a reconhecê-lo, mas quando deparo com estudantes (nem todos, claro) já avançados nos estudos, a contar pelos dedos, a enxovalhar com termos inadequados a nossa língua, a não saberem qual foi o primeiro rei de Portugal, a encolherem os ombros quando se lhes pergunta, por exemplo, onde nasce o rio Douro; quando se vê na televisão aquelas legendas com tantos disparates; quando um engenheiro responde com o ar mais natural deste mundo que a capital da Colômbia é o Perú, não posso deixar de reconhecer como eram infundados os meus receios.
Não fazem ideia os caros leitores, a tristeza que sinto ao descrever estes factos, uma tristeza que tem toda a justificação, pois sabemos que um dia poderá acontecer que um estudante que conta pelos dedos, seja professor de matemática, ou aquele engenheiro venha a ser, por necessidade, professor de geografia!
É que antigamente havia professores por vocação e hoje não é bem assim. Hoje, mesmo que a pessoa não se sinta vocacionada, tende a apanhar o que mais depressa lhe aparece e é assim que as instituições por vezes não funcionam como deviam.
Não é isso que acontece com o redactor do nosso jornalinho, que embora com limitações, está a fazer aquilo que gosta. É verdade, meus amigos, desde sempre gostei da escrita, da leitura, da poesia, do teatro, da música e por isso, estou no meu ambiente preferido. Tantas noites que passei a escrever peças de teatro! Que saudades, meu Deus! Que saudades que eu tenho daqueles ensaios. Daquelas noites de teatro. Dos aplausos. A emoção não me deixa continuar, as lágrimas começam a cair...
Jorge Pires - O Amieirense - Outubro 1994

21.1.19

AMIEIRA DO TEJO: A poesia de Jorge Pires

O Barqueiro e o Tejo

Tantas vidas já ceifaste
Oh! Tejo da minha aldeia
Tantos sonhos já mataste
Em noites de lua cheia

- Ó Barqueiro!... Ó! Barqueiro!...
Aquela voz ecoava pelo vale
Do outro lado a luz era o sinal
Da candeia ou talvez dum candeeiro
De alguém que largava o travesseiro
- …Maldita luz que te apagaste
Já ontem a partida me pregaste!
Resmungava o velho barqueiro
Dizendo pró companheiro
-Tantas vidas já ceifaste!

E o peixe no rio Tejo
Já é menos do que outrora
Dantes não era como agora
E o que foi um lugarejo
Transformou-se num desejo
Já não há luz na candeia
E vai-se comer a ceia
A casa com a mulher
Mesmo assim ninguém te quer
Oh! Tejo da minha aldeia.

Nem a barca tu afagas
Como fazias antigamente
Hoje tudo está diferente
Já não te rogam tantas pragas
E é assim que tu nos pagas
Da juventude nunca gostaste
Sempre foste um grande traste
Por isso te digo agora
Que pela tua vida fora
Tantos sonhos já mataste!

…E o barqueiro vai e vem
Pensando no seu destino
Recorda o tempo de menino
Que a sua mente retém
E se não ganha algum vintém
Não vai a casa comer a ceia
E sem ter luz na candeia
Contempla as águas de prata
E se as suas saudades mata
Em noites de lua cheia!
Jorge Pires

17.12.18

MEMÓRIA - Azeitona e produção de azeite em Amieira: Um pouco de história

A cultura mais antiga da freguesia de Amieira deve, porém, ser a da oliveira, de que ainda agora há exemplares velhíssimos que narram a história da oliveira desde tempos longínquos na nossa terra.
Já lá vão os tempos em que entre nós existiam muitos e velhos lagares de vara e fuso, quase todos situados ao longo da Costa da Ribeira, que mais tarde foram substituídos por outros mecânicos e mais aperfeiçoados e com capacidade para uma maior produção.
Ainda não há muitos anos era de 11 o número dos velhos lagares de Amieira e seu termo, sendo 8 na Ribeira da Maia, 1 em Vila Flor, 1 no Ribeiro das Correia e 1 na Fonte Branca. Dos da Ribeira da Maia estavam uns na margem direita junto à passagem para a Fonte da Cal e outros mais abaixo na margem esquerda, junto à ponte do rio.
Desde D. Afonso Henriques até 1834 pertenceu à Ordem de Malta o monopólio dos lagares de azeite, dando ela, todavia, autorização a quem lhe a solicitasse para a construção de lagares, mediante o pagamento de certa pensão ou renda.
Mas a oliveira é muitíssimo mais velha, remotamente muitíssimo mais velha em Amieira, desta circunstância vindo e da sua produtividade e excelência de frutos, o motivo de à Vila ser dado desde longe o qualificativo de Amieira do Azeite e aos seus habitantes a alcunha regional de “Bagaceiros”.
Deixando uma pouco para trás a sua história, Amieira não foi muito feliz na produção de Azeitona e Azeite em 1990. A azeitona foi pouca, de pouco aproveitamento porque muita desta se encontrava bichosa e podre. A acidez do Azeite foi bastante elevada, não nos permitindo ter o tão famoso e precioso líquido com tão elevada e acostumada qualidade.
Jorge Pires - “O Amieirense” – Dez. 1990

15.11.18

JORGE PIRES - Textos - "O Amieirense" - Março/Abril 1997

Lembranças do Ti João Tereso e da casa onde morava
Neste mundo tudo cai! Neste mundo tudo é fraco, tudo abana, tudo se dilui. Nada resiste. Nada nem ninguém foge à regra e aquela que foi num passado recente a casa mais falada e mais famosa na nossa terra e lá fora, também caiu.
Estava velha, aquela onde tanta gente retemperou forças durante a noite, para no outro dia seguir viagem, em busca de negócios ou de... desilusões! Ali paravam os “ratinhos” para beber uns copos (poucos porque a missão era ganhar e não gastar) quando se preparavam para atacar as searas que no Alentejo esperavam por eles. Ali paravam os ourives e toda a espécie de negociantes e quando se ouvia a gaita do capador, logo a esposa do senhor João Tereso sabia que tinha que acrescentar a panela do feijão com couve, que ela cozinhava como ninguém.
... E a casa do ti João Tereso já não existe! Aquela casa que tanto negócio fazia, não foi o suficiente para dar ao seu proprietário e aos seus, a independência desejada, pois o muito que conseguiu numa vida de trabalho, foi dar o seu nome durante muitos anos ao Largo onde habitava.
Quase ninguém se referia ao Largo do Espírito Santo, mas sim ao “Largo do Ti João Tereso”! Muitos amieirenses ao visitarem hoje a sua terra, recordarão com saudade os bons tempos que ali passaram.
Todos se recordarão com certeza, na assiduidade com que aquele homem atendia os seus clientes. Aquela porta estava sempre aberta, ao mesmo tempo que havia sempre que dar ao dente, o dinheiro é que não queria nada com a gente...
E a casa do Ti João Tereso já não existe! No seu lugar, está a ser construída uma linda moradia, que não terá certamente destino comercial como a que nós conhecemos, mas que juntamente com outra também nova que está a ser edificada ali mesmo defronte, darão ao Largo do Ti João Tereso” uma fisionomia fantástica, quando um dia as cabanas também caírem como caiu a casa do Ti João Tereso!
Paz à sua alma.
Jorge Pires – in “O Amieirense” nº 132 – Março/Abril 1997 

17.10.18

JORGE PIRES - Textos - Do Alto da Torre - Setembro 2006

Porquê tantas saudades das festas de antigamente?
Estou a escrever estas linhas longe da minha terra e, por isso, a nostalgia tomou conta de mim e me inspirou e me levou àqueles tempos em que o Tejo fazia parte da história das festas da Amieira, em especial, a da Senhora da Sanguinheira que muitos de nós recordam com imensa saudade.
Naquele tempo, havia a Barca, o bote pequeno e o grande, que servia também para transportar os burros e, eram precisamente estes animais, tão típicos na nossa terra, que tinham um papel muito especial no trajecto entre o Tejo e Amieira visto que, o táxi se tornava demasiado dispendioso e nem todas as carteiras estavam disponíveis. Começava aí, a festa e o colorido da Estrada do Tejo, quando o comboio trazia até à terra natal, aquele filhos que, um dia, embarcaram em busca de uma vida melhor – era o reencontro aguardado durante um ou mais anos e, era também, a altura dos pais que os viram partir, conhecerem os netos que, entretanto, vieram engrossar a família!
Era ali, no Tejo, à sombra das amoreiras, que se davam os primeiros abraços, os primeiros beijos e os primeiros votos de longa vida!...tudo isto era no início de uma alegre burricada estrada acima, rumo aquelas casas velhinhas que, lá em cima, os aguardavam para dar brilho aos dias festivos que se aproximavam. Era impressionante verificar aqueles rostos felizes, aquela alegria transbordante daqueles avós “babados” que, apesar das dificuldades da subida, se sentiam imensamente felizes, sorrindo, sorrindo cada vez mais e quando lá em cima se aproximavam da fonte e os burritos aceleravam o trote para se dessedentarem, aquelas crianças indiferentes ao perigo de uma queda, lá continuavam traquinas em cima da sua preciosa montada, deliciados com tanta felicidade! Era assim, com este ambiente fraterno que começavam de facto, os preparativos para aqueles dias que se avizinhavam.
Hoje, alguns meninos de antigamente que eram transportados por aqueles pobres animais, voltarão um papel importantíssimo no desenrolar das cerimónias religiosas, estacionando as suas viaturas fora das ruas por onde passa a procissão porque, se há coisas que não podem fugir à actual conjuntura (os tempos são outros) neste caso, basta apenas boa vontade para pelo menos, neste aspecto, tudo voltar a ser como dantes.
Sabemos que as touradas à vara larga com as “carretas” a fazer de trincheiras nunca mais voltarão à praça; sabemos que os forcados improvisados, mas de enorme valor, tanto valor que poderiam ser colocados entre os mais afamados da nossa região, nunca mais farão levantar a Praça e, sabemos também, que os nossos vinte anos (que saudades!) nunca mais voltarão.
E o coreto? E aqueles “ordinários” que eram tocados pela fantástica Banda de Póvoa e Meadas?
Tantas coisa boas que ficaram pelo caminho e tantas desilusões que entretanto foram acontecendo ao longo das nossas vidas... Mas a nossa terra está de pé, a nossa terra ainda está viva, apesar de ter perdido alguns dos seus filhos que hoje, mais do que nunca, serão lembrados com imensa saudade, pelas suas famílias e pelos seus amigos.

Quando passa um ano e vem Setembro
De tanta coisa eu me lembro
Que fico completamente extasiado
E no tempo em que o tempo não contava
Toda a gente cantava e bailava
Naquela praça de tão glorioso passado

Vem-me à memória os valentes forcados
De Amieira e de outros lados
Que muitas vezes fizeram levantar a praça
Lembro-me da banda no coreto
Que adorava o tinto e o palheto
E tudo o que tocava tinha graça.

Lembro-me daquele recinto todo aberto
E o Castelo ali tão perto
Apadrinhando todo aquele alarido
E quando o povo nas trincheiras vibrava
Ninguém dali se afastava
Sem saber se algum dos seus saía ferido.

Lembro-me do fogo preso e do ar
E dos balões a voar
Rasgando o infinito lentamente
E num troar de palmas vibrantes
Seguia na direcção de Abrantes
Quando o vento soprava para poente.

Lembro-me das ruas bem engalanadas
Com pinheiros e palmeiras enfeitadas
Porque o povo assim o exigia
E quando passava a procissão
Sentia no meu coração
Um misto de emoção e alegria.

Lembro-me do homem do torrão
Que nos adoçava o coração
Apenas por cinco tostões
Hoje está tudo mudado
Encontramos tudo fechado
Só restam recordações.
Jorge Pires
in Do Alto da Torre – “O Amieirense” – Setembro 2006

29.9.18

JORGE PIRES: A morte de um homem de Cultura que deixa Amieira mais pobre

Jorge Manuel Pires da Rosa, nasceu em 1935 e faleceu no passado dia 24 de Setembro, aos 83 anos de uma vida dedicada à Cultura e ao desenvolvimento da sua terra: Amieira do Tejo. Soube da sua morte na quinta-feira, à tarde, não tendo podido acompanhá-lo, à sua última morada.
Vou acompanhá-lo, através deste e outros meios, e trazer ao conhecimento dos seus conterrâneos e de todos aqueles que se interessam por estas terras abandonadas do interior, um pouco da sua luta e do seu labor constante, traduzidos em incontáveis artigos publicados na imprensa regional, nas poesias que deixou escritas, na participação como cidadão responsável e interveniente activo pela melhoria das condições de vida dos seus concidadão e na dinamização cultural que implementou em Amieira e levou o nome desta terra e das suas gentes, a outras terras vizinhas, através do Teatro e do associativismo. 
O Jorge morreu! Como na canção do António Manuel Ribeiro, o Jorge partiu mas deixou um pouco de si, na sua poesia, nos seus textos, na sua acção quotidiana, na imagem de marca de um rosto onde imperava a bonomia.
Partiu o homem e o cidadão, a terra que pisou fica mais triste e vazia.
Que a sua memória perdure!
Mário Mendes 
Poesia popular de Jorge Pires
A minha poesia
Tendo dedicado grande parte da minha vida à cultura, nomeadamente ao teatro e á poesia, duas realidades pelas quais me apaixonei profundamente e sabendo como todos os mortais, que mais tarde ou mais cedo deixarei este mundo, não quero deixar de testemunhar por escrito, algumas das minhas obras, que, não sendo nada de espantar, é no entanto segundo o que eu penso, uma maneira simples de comunicar as minhas ideias e aquilo que eu sinto. Se as pessoas analisarem tudo aquilo que deixo escrito, facilmente chegarão à conclusão de que a maior parte dos trabalhos revelam uma certa revolta, fruto de uma infância carente sob todos os aspectos. Cabe aqui realçar o bom senso de minha mãe, que, apesar da adversidade, se empenhou para que eu tirasse a 4ª classe. Foi a maior riqueza que ela me deixou.
Recordações de Infância
Já desde criança que eu ando a cantar
Pois sempre esperei por um mundo novo
Cantava cantigas para me embalar
Meu povo, meu povo, meu povo
Canta cantigas para me consolar.

Triste muito triste foi a minha infância
Faltava-me o pão, faltava-me a vida
Fui criança triste, que triste criança
Minha querida mãe, minha mãe querida
Teu carinho e amor minha grande herança

Minha mãe chorava ao ver-me sofrer
Os dias passavam e eu não tinha pão
Pobreza maior não podia haver
Por isso eu te trago no meu coração
Minha mãe querida, não queiras morrer!


21.7.18

OPINIÃO: Eucaliptal: Há que dizer Não!

Tem-se assistido, desde há alguns anos, a uma verdadeira corrida à plantação de eucaliptos no nosso concelho, em especial na nossa freguesia em que atingiu grandes proporções, correndo o risco de atingir mesmo um nível drástico, beirando a calamidade e pondo em perigo não só o equilíbrio ecológico (a paisagem natural de Amieira está irreconhecível para quem a deixou há algum tempo) mas também a existência da própria Amieira.
Os extensos olivais, motivo de riqueza para os Amieirenses não foram protegidos. Com efeito, a principal cultura de Amieira tem sido ao longo dos tempos a Oliveira. Os próprios Amieirense eram conhecidos em todo o distrito de Portalegre como “Os Bagaceiros”.
Não havendo indústrias, vivendo do trabalho agrícola, que resta agora à grande maioria da população de Amieira?
Estamos já a assistir e a sofrer as primeiras consequências: a crise de trabalho.
Para a plantação e o corte as companhias trazem os seus trabalhadores.
Não foram, no entanto, só os olivais que sofreram esta invasão. Os próprios solos de aptidão agrícola foram ocupados. Resta saber se as pequenas hortas poderão resistir. A ser permitida esta assombrosa escalada de eucaliptais, duvidamos muito.
Há ainda outros factores a ter em conta e de não menor importância: os incêndios.
Amieira é já como que uma pequena ilha no meio de um mar de eucaliptos. No Verão os incêndios são um flagelo. Por enquanto, pequenas hortas têm sido sacrificadas pois se encontram ao lado de eucaliptais. Mas Amieira, com a sua situação é vítima fácil destes sinistros.
Sem culturas cerealíferas, quase sem olivais, perigo constante no Verão, que esperamos ainda?
Há que dizer Não!
Jorge Pires – “O Amieirense” – Dezembro 1983

11.5.18

TRADIÇÕES: A quinta-feira da espiga em Amieira do Tejo

A excitação começava na véspera. Havia sempre alguém entre a mocidade, que ia dar uma vista de olhos pelos eucaliptais, para escolher o pau, que no seu entender melhor servia para pôr de pé, na Praça Nuno Álvares. A seguir, juntavam-se (sempre rapazes solteiros) para saber quem havia de entre eles, ir a casa do lavrador, pedir o eucalipto escolhido. É claro que normalmente, esse pedido era atendido. Depois, a rapaziada voltava a reunir e a segunda etapa, constava em saber quem havia de emprestar o carro de bois, que transportaria o “gigante”, até à dita praça.
Cumpridas estas diligências, lá iam eles alegres e bem dispostos. Quando regressavam, pela madrugada fora, em grande algazarra e já munidos do essencial, começava a grande prova de força e jeito, quando ainda antes do nascer do sol, o povo se levantava, havia sempre curiosidade em saber se o mastro estava de pé, se era grosso ou delgado. Passado este grande dispêndio de energias, lá iam todos tomar banho e vestir o fato domingueiro, para irem até à capela do Senhor Salvador do Mundo, situada no campo. Havia que ir matar sardaniscas, para atirar para cima das cachopas quando estas andavam a apanhar a espiga! Isto, enquanto não chegava a hora da missa, altura em que um lavrador da terra, levava até lá o seu rebanho, para que o leite ordenhado ali mesmo, fosse distribuído gratuitamente pelos pobres.
Acabada a missa, todos se reuniam numa alegre e sã camaradagem, juntando os farnéis e todos comendo e bebendo cada qual, aquilo que lhe apetecia.
Agora, quase tudo mudou, o dia, os costumes e este ano, nem o mastro teve a sua ascensão!...
Jorge Pires – in “O Pregão” – 30/5/1994

12.12.17

NISA: Poetas do Concelho - Jorge Pires

Não é desgraça ser pobre
Há quem pense que ser pobre
Não passa duma desgraça
Quantas vezes se é mais nobre
Que muitos que têm massa

Com isto não quero dizer
Que valha mais a pobreza
Mas temos que nos convencer
Que não é tudo a riqueza

Quanto muito pode dar
Alguns bens materiais
Mas quando se quer amar
É preciso muito mais.

Só o amor é riqueza
Que nos dá felicidade
Muito mais que a Nobreza
Irmã gémea da maldade

Eu bem sei que há excepções
Em toda a parte da terra
Mas por causa dos milhões
É que o mundo anda em guerra

Medita pois amigo meu
Nas palavras que te digo
Todo o mundo será teu
Terás em todos um abrigo
- Jorge Pires

29.9.17

NISA: Poetas populares do concelho - Jorge Pires

Poesia de Outono
Termina o Verão, começa o Outono
É tempo de secarem as flores
É tempo de o rei descer do trono
E pintar o mundo de outras cores

É tempo das andorinhas nos deixarem
E partirem à procura de calor
É tempo de os tordos cá voltarem
Para serem exterminados sem pudor

É tempo de limpar os nossos rios
Com a chuva que cai do firmamento
É tempo de encher corpos vazios
E mostrar que somos gente por um momento

É tempo dos rouxinóis se calarem
E deixar os nossos campos sossegados
É tempo de outros pássaros voltarem
E não deixar que sejam apanhados

É tempo de varrer toda a folhagem
Que o vento agreste derrubou
É tempo de mostrar nossa coragem
A lembrar o tempo que passou.

É tempo de cultivar nossas terras
Para depois haver searas verdejantes
É tempo de acabar com tantas guerras
E ver os campos como a gente via dantes.

É tempo de brincar com nossos filhos
Nos jardins da prudência e do amor
É tempo de evitar muitos sarilhos
Ensinando-os a plantar uma flor!
Jorge Pires

18.9.17

AMIEIRA DO TEJO: A poesia popular de Jorge Pires

A minha poesia
Tendo dedicado grande parte da minha vida à cultura, nomeadamente ao teatro e á poesia, duas realidades pelas quais me apaixonei profundamente e sabendo como todos os mortais, que mais tarde ou mais cedo deixarei este mundo, não quero deixar de testemunhar por escrito, algumas das minhas obras, que, não sendo nada de espantar, é no entanto segundo o que eu penso, uma maneira simples de comunicar as minhas ideias e aquilo que eu sinto. Se as pessoas analisarem tudo aquilo que deixo escrito, facilmente chegarão à conclusão de que a maior parte dos trabalhos revelam uma certa revolta, fruto de uma infância carente sob todos os aspectos. Cabe aqui realçar o bom senso de minha mãe, que, apesar da adversidade, se empenhou para que eu tirasse a 4ª classe. Foi a maior riqueza que ela me deixou.
Recordações de Infância
Já desde criança que eu ando a cantar
Pois sempre esperei por um mundo novo
Cantava cantigas para me embalar
Meu povo, meu povo, meu povo
Canta cantigas para me consolar.

Triste muito triste foi a minha infância
Faltava-me o pão, faltava-me a vida
Fui criança triste, que triste criança
Minha querida mãe, minha mãe querida
Teu carinho e amor minha grande herança

Minha mãe chorava ao ver-me sofrer
Os dias passavam e eu não tinha pão
Pobreza maior não podia haver
Por isso eu te trago no meu coração
Minha mãe querida, não queiras morrer!
Maio de 2007  

14.8.17

NISA: Poetas populares do concelho

Ronda pelo Concelho *
Não são só as cantarinhas
Que a vila de Nisa tem
Seus bordados feitos com linhas
São um encanto também.

Quem um dia por lá passe
Decerto volta de novo
Suas bilhas com muita classe
São o encanto do povo.

Amieira tem muito azeite
E também muita madeira
Tolosa tem muito leite
Boa gente a Falagueira.

Arez é terra de pão
Que agora está muito caro
P´ra moças é Alpalhão
Prá farra o Monte Claro

Tudo bem em Pé da Serra
Segundo o que por lá vejo
A Velada é boa terra
Muito melhor o seu queijo.

Montalvão tem o salero
Da nossa vizinha Espanha
Vou lá as vezes que quero
E muita gente me acompanha.

Salavessa é um encanto
Terra que eu não conhecia
Tem lá o Ti Zé do Santo
Que é o rei da poesia.

Esquecia -me do Arneiro
Terra que muito precisa
Mas p´ra isso está o dinheiro
Da Câmara de Nisa.
* Jorge Pires (poeta popular amieirense)