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13.1.25
29.12.24
NISA: Memória do "Jornal de Nisa" - A visita do Embaixador de Timor-Leste (2007)
A edição nº 245 do "Jornal de Nisa", saída a público no dia 19 de Dezembro de 2007 deu particular destaque à visita do senhor Embaixador de Timor-Leste a Nisa, a convite do Município e da Etaproni, no âmbito do projecto "Escola Solidária". O embaixador Manuel Abrantes deu especial relevo ao gesto dos alunos de Nisa e das acções que desenvolveram com vista à angariação de fundos, materiais diversos e livros destinados à reconstrução de uma escola em Timor -Leste e à implantação de uma biblioteca. Um projecto que o "Jornal de Nisa" acompanhou a par e passo e ao qual deu a devida relevância.
“Juventude de Timor expressa estima e gratidão pelo gesto solidário dos jovens de Nisa”
- Manuel Abrantes, embaixador de Timor Leste em Portugal
Gratidão, apreço, reconhecimento, foram as palavras mais vezes pronunciadas pelo Embaixador de Timor-Leste em Portugal, Manuel Abrantes, durante a sessão de boas vindas que decorreu no Cine Teatro de Nisa e inserida no programa “Dia Solidário com Timor-Leste”.
A visita do diplomata timorense a Nisa, a convite dos alunos do curso de Animação Sócio-Cultural da Etaproni, decorreu no dia 5 de Dezembro e teve como objectivo, “marcar o apreço, a afectividade e um sentimento humano de gratidão”, face à iniciativa que está a ser desenvolvida pela Etaproni e outros parceiros, denominada “Escola Solidária”.
A visita do representante timorense teve início cerca do meio-dia, sendo recebido nas instalações da Escola Tecnológica, Artística e Profissional de Nisa pelo seu director, Manuel Belo e pela vereadora do pelouro da Cultura da Câmara de Nisa, Fátima Moura, professores, alunos e funcionários.
Após o almoço, teve lugar no Cine Teatro de Nisa, uma sessão de boas vindas e de contacto com a comunidade escolar, para além da apresentação e de um primeiro balanço sobre o projecto “Escola Solidária”.
Fátima Moura em nome da Câmara Municipal de Nisa, numa curta mas incisiva intervenção, deu as boas vindas e regozijou-se com a visita do diplomata timorense, não deixando de saudar e de dar os parabéns aos alunos do curso de Animação Sócio-Cultural por tão bela iniciativa.
“A minha geração, foi apelidada de “geração rasca”, mas o vosso gesto, o vosso trabalho e iniciativa, mostram que os jovens não são “rascas” e que têm bons sentimentos ao agarrarem este projecto e lembrarem-se de que há pessoas que precisam mais do que nós.”
A vereadora da Cultura, disse ter abraçado este projecto também a título pessoal, disponibilizando-se para o que for necessário.
“Não deixem de acreditar, nem deixem de olhar para aqueles que têm necessidades, continuem com o trabalho e com muita força”, disse a concluir, dirigindo-se aos estudantes.
Manuel José Belo, disse ser uma grande honra receber o Embaixador de Timor-Leste e lembrou que a Etaproni foi uma das instituições que estenderam lençóis brancos aquando da campanha de solidariedade internacional pela paz e independência de Timor.
O director da Etaproni congratulou-se com a iniciativa dos alunos de Animação Sócio Cultural que levaram por diante o projecto “Escola Solidária” sublinhando que “em 20 anos de experiência em escolas, sei que os projectos começam com muita força e depois vão perdendo o interesse. Esta sessão é a prova de que este projecto não ficou a meio e estou certo, daqui para a frente ganhará ainda outro estímulo”.
Acabou por agradecer aos alunos e coordenador do projecto pela forma determinada e de não terem desistido, reafirmando que os grandes protagonistas são os alunos e professores que tiveram a ideia e a levaram à prática.
Manuel Belo explicou que estava ali a “escola toda” porque a escola forma valores e “há um valor, o da solidariedade, que está acima de qualquer outro. Este é um projecto de vitalidade e que reflecte a importância que a Escola dá ao valor da solidariedade”.
Finalizou, agradecendo a disponibilidade e apoio da Câmara e representante do Governo Civil, instituições bancárias que apoiaram o projecto, editora e comunicação social pela divulgação que têm feito desta iniciativa.
Cecília Oliveira em representação do Governador Civil, disse ser um grande privilégio estar presente neste encontro e apelidou os alunos promotores do projecto como “os navegadores do século XXI”, navegadores que “vão à procura das nossas raízes”. Num tom emotivo, Cecília Oliveira, salientou que, com esta iniciativa “Timor saltou dos livros de História e Português e os alunos meteram-se por esse mar fora e foram à procura do que Timor tem de bom para nos dar”.
Lançou, a finalizar, um apelo aos jovens estudantes. “Não percam estes laços, pois a vossa escola já é uma referência a nível nacional”.
Manuel Abrantes explicou o motivo desta visita a Nisa, uma “visita que se insere na política de continuação dos laços de amizade com o povo português. Estou aqui para transmitir o sinal de que a juventude que está em Timor agradece com muita estima e gratidão, o gesto solidário dos jovens estudantes de Nisa”.
Numa sala repleta de jovens, Manuel Abrantes começou por agradecer aos estudantes e promotores da iniciativa solidária por Timor-Leste, referindo que era “uma honra estar perante vós”.
O embaixador timorense disse que neste dia projectado como Dia da Solidariedade com Timor, “o projecto é uma manifestação especial de carinho, por vossa iniciativa para com os jovens de Timor e o país”, convidando os jovens a pensarem não apenas na Europa, mas também em África e na Ásia, em particular em Timor.
O diplomata expressou a sua gratidão para com o povo português, “um povo com o qual Timor tem laços de amizade e apreço especial, não só pela História mas pela afirmação de quatro séculos de ligação a Portugal. “
Manuel Abrantes, numa lição de humildade, vincou os laços existentes entre Portugal e Timor-Leste, afirmando que “o que nos marca e nos une é a língua comum, materna, de Camões, o português. A nossa identidade nasceu na língua portuguesa e permanece na perenidade dos tempos, a afirmar a independência e a nossa soberania. A língua portuguesa faz a nossa identidade e nos faz entender a todo o mundo, fazendo de nós o oitavo país da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa).”
O representante oficial de Timor realçou também o papel da ajuda portuguesa ao seu país, uma ajuda sempre crescente, não só a nível institucional, mas também da sociedade civil.
“Tem havido por parte de Portugal, uma grande ajuda a Timor. Para o próximo ano, estão previstos 70 milhões de dólares para apoio bilateral, destinado a três áreas: educação, justiça e desenvolvimento da língua portuguesa.
A solidariedade é uma mão amiga para consolidar a democracia num país carente”, disse, antes de concluir, com vibrantes “Vivas” aos jovens de Nisa, a Portugal e a Timor-Leste.
11.11.23
NISA MEMÓRIA VIVA - "À Descoberta do Património" - 2004
Da Porta da Vila à Ribeira de Nisa pela Carreira Velha"
No dia 16 de Outubro (sábado), cerca de três dezenas de interessados na história local, património histórico, rural e natural, partiram da Porta da Vila, no coração do Centro Histórico, para o primeiro passeio pedestre promovido pela Associação Nisa Viva, intitulado "Da Porta da Vila à Ribeira de Nisa pela Carreira Velha, com cerca de quatro quilómetros de extensão e paragem em onze locais.
(...) Como é hábito em actividades desta natureza, a gastronomia regional não pode estar ausente, e a Junta de Freguesia de Nossa Senhora da Graça quis oferecer um lanche a todos os caminhantes, onde não faltou o tradicional e genuíno queijo de Nisa, enchidos e doçaria.
(...) No futuro, mais passeios "À Descoberta do Património" terão lugar. Em representação da direcção da Nisa Viva, João José Temudo soube fazer as "honras da casa". Com um tempo propício, foi uma manhã muito bem passada.
8.11.23
NISA MEMÓRIA VIVA (III) - 2011 - Os xailes e lenços de cachené
Nisa Viva mostrou xailes e lenços de cachené
Entre 11 e 23 de Janeiro de 2011, a sala de exposições da Biblioteca Municipal de Nisa recebeu uma mostra de Xailes e Lenços de Cachené promovidade pela Associação Nisa Viva. Reunindo cerca de uma centena de exemplares, a iniciativa procurou mostrar a riqueza do vestuário utilizado noutros tempos pelas mulheres de Nisa, perpetuando na memória colectiva mais este aspecto da tradição e do património concelhio.
Tendo como objectivo a preservação e divulgação da cultura popular, património e história de Nisa, a Associação optou por se centrar desta vez nos xailes e lenços utilizados até há poucas décadas pelas mulheres de Nisa e peças indispensáveis da sua indumentária. Com diferentes usos, que variavam de acordo com a ocasião, estas peças revelavam não só o gosto pessoal de quem as usava, mas também a classe social a que pertenciam.
18.1.23
MEMÓRIA: Comemoram-se hoje os 89 anos da Revolta da Marinha Grande
A 18 de Janeiro de 1934, a Marinha Grande acordou com um levantamento operário vidreiro contra a fascização dos sindicatos enquadrada pelo Estatuto Nacional do Trabalho. Os revoltosos conseguiram tomar o poder por algumas horas, mas a repressão de Salazar acabaria por esmagar a revolta e enclausurar os revoltosos nos cárceres do fascismo, onde alguns jaziram. Em 29 de Outubro desse ano, 57 marinhenses que participaram no 18 de Janeiro inauguraram o Campo do Tarrafal, na ilha de Santiago, em Cabo Verde
Para assinalar os 89 anos da Revolta da Marinha Grande, o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Vidreira organizou um programa de comemorações às quais se juntará Isabel Camarinha, Secretária-Geral da CGTP-IN.
A Revolta da Marinha Grande está inscrita na História como uma grandiosa etapa da luta da classe operária contra o fascismo seguida por uma violenta repressão. O dia 18 de Janeiro de 1934 marca a tentativa da classe operária tomar o que é seu, numa profunda consciência de que por mais duros que sejam os tempos, a organização da classe operária pode aspirar a tudo.
Este ano comemoram-se os 89 anos desta importante etapa da história do movimento operário português e o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Vidreira - STIV, fiéis herdeiros dos construtores da revolta da Marinha Grande, está a organizar as celebrações. Iniciada no sábado passado, amanhã as comemorações terão continuidade de forma a assinalar a data.
O dia de amanhã, que contará com Isabel Camarinha, começará logo às 10 horas com uma romagem aos cemitérios Casal Galego e Marinha Grande e com a colocação de flores nas campas dos prisioneiros que participaram na Revolta. Nesse momento será ainda linda uma intervenção de homenagem aos falecidos. Às 11 horas, fazendo jus ao exemplo dado pelos revoltosos, haverá uma manifestação com o mote «Por mais salários, pelo fim da precariedade» com o ponto de partida no cemitério da Marinha Grande.
Já às 12 horas, junto ao Monumento do Vidreiro, para além da actuação do Grupo de percussão Tocándar, haverá também uma cerimónia pública com intervenções sindicais, entre as quais da Secretaria-Geral da intersindical e contará também com a participação da Comissão Executiva da CGTP-IN.
23.11.22
MEMÓRIA - Cheias de 1967: A miséria que a natureza esmagou e a ditadura encobriu
Na madrugada do dia 26 de Novembro de 1967, uma torrente lamacenta provocou milhares de vítimas, entre operários e camponeses, na Grande Lisboa. Apesar da tragédia, a ditadura de Salazar continuou indiferente ao sofrimento do povo e censurou-o.
Foi a maior inundação que a região da Grande Lisboa alguma vez conheceu mas, fruto da censura que suportava o governo fascista de Salazar, a dimensão da calamidade nunca foi oficialmente conhecida ou revelada.
Estima-se que a forte chuva, que assolou os concelhos de Lisboa, Loures, Odivelas, Vila Franca de Xira e Alenquer tenha provocado mais de 700 mortos, milhares de desalojados e um sem-número de habitações destruídas.
Fernanda Silva, então a morar na Castanheira do Ribatejo, assume que os números nunca estiveram correctos. «Na aldeia de Quintas, o número não está correcto de certeza porque eu sei de uma família de Coimbra, um casal e dois filhos pequenos, que tinha vindo passar o fim-de-semana com familiares que tinham ali e também morreram», revela.
A aldeia de Quintas (Castanheira do Ribatejo) foi a que mais vítimas deu à tragédia. Fernanda assume que «lá morreu praticamente toda a gente». Lá morreu Elvira, uma colega da fábrica de confecções onde trabalhava, às portas da Castanheira do Ribatejo.
«Recordo-me perfeitamente, eu era encarregada nessa fábrica e ela chamou-me e disse-me: "Sabe, hoje estou muito feliz porque consegui arrendar casa e já posso marcar a data do casamento". Isto foi no sábado de manhã, à noite aconteceu aquela tragédia e ela morreu em casa com os pais e um irmão».
Aquilo a que milhares de operários chamavam casa eram na verdade barracas em zonas baixas e permeáveis a inundações, construídas pelos próprios com madeira e lata, e chão de terra. No lugar de Quintas, João Manquinho, morador de Vila Franca de Xira, conta que algumas já eram casas de tijolo mas, além de estarem situadas no vale, tinham sido construídas sobre as linhas de água, por descuido ou desconhecimento.
Ali moravam acima de mil pessoas, na sua maioria camponeses mas também operários de fábricas localizadas na região. Morreram quase quinhentas. Nalguns casos, famílias inteiras. «No fundo, quem foi afectado por aquela desgraça foram as camadas mais pobres, mais humildes, aquelas que tinham menos possibilidade de se defender. Os edifícios com melhor construção e com capacidade de resistência, esses não foram afectados», reconhece Manquinho.
Mas não eram só as casas térreas dos camponeses e operários das Quintas que padeciam de más infra-estruturas. O bairro da Urmeira (Odivelas), de habitação pública, conta-se entre os que foram destruídos pelas cheias.
Mandado construir pelo ex-governador civil de Lisboa, Mário Madeira, integra o lote de conjuntos habitacionais com deficientes condições de habitabilidade, destinados a milhares de trabalhadores que não conseguiam pagar as rendas dos bairros residenciais de Lisboa (que se mantiveram intactos).
«Um balde de água gigante»
A chuva caía há já alguns dias, quase ininterruptamente. Na madrugada de 26 de Novembro, pelas 3h da manhã, uma tromba de água muito forte «foi o culminar de toda a situação», admite Manquinho.
Na aurora desse dia, diz que «Vila Franca parecia uma terra fantasma que tinha sido varrida por um ciclone». «Havia pessoas desaparecidas, muito lixo pelas ruas, muita lama, a linha do comboio estava cheia de escombros e de animais mortos», adianta.
A forte chuva rebentou com as ribeiras, o lixo das ribeiras impediu que a água seguisse para o Tejo e geraram-se enormes inundações, não apenas no concelho de Vila Franca de Xira, mas também noutros lugares como Arruda dos Vinhos, Alenquer, Alhandra, Alverca, Sacavém, Loures e Odivelas.
No trágico lugar de Quintas, em pleno vale, a inundação das casas abarracadas começou quando a maior parte das pessoas estava a dormir. Apenas os que conseguiram fugir para o telhado sobreviveram.
Mais tarde, Fernanda diz ter ouvido na televisão «um senhor do Instituto de Meteorologia dizer que o fenómeno tinha sido – para as pessoas perceberem –, um balde de água gigante que lançaram sobre esta zona».
A incúria do Estado
As cheias no Ribatejo eram um fenómeno vulgar, do qual decorriam fortes prejuízos para os camponeses. Sistematicamente eram exigidas medidas, tais como desassoreamento dos rios e a construção de diques, mas a incúria do governo fascista de Salazar prevaleceu, apesar das reivindicações e alertas.
O mesmo senhor que Fernanda ouviu falar na televisão, «revelou que se sabia que aquilo iria acontecer. Só não sabiam onde e estavam com esperança que fosse no mar, assim não provocava tantos problemas». A informação ficou, no entanto, reservada e ninguém – comunicação social e forças de segurança (que eram ágeis, mas na repressão) – avisou a população do perigo que se avizinhava.
Embora as comunidades ribeirinhas, indefesas, alertassem para os perigos que corriam, tal como as suas colheitas, o jornal Avante!, que à época o PCP fazia circular clandestinamente, denunciava o facto de o governo se manter concentrado noutras prioridades.
Em 1967, um ano antes de Marcello Caetano suceder a Salazar, o Estado gastou 257 mil contos com despesas da NATO e cerca de 7 milhões de contos com a guerra colonial e a repressão. O Avante! sublinhava ainda que, também nesse ano, seiscentos mil contos foram para a Base Aérea de Beja, construída em 1964, «para serviço dos alemães».
No final das contas, não sobrou uma fatia para regularizar as águas do Tejo ou acudir à população afectada.
Para se ter uma ideia do desfasamento entre os valores gastos nas prioridades do governo fascista e o investimento na habitação pública, basta ter em conta que, de 1946 a 1967, a média anual de despesas do Estado com a habitação foi de 2126 contos. Em 1965, o valor caiu para 992 contos (menos de 5 mil euros).
Apesar de os prejuízos terem sido calculados em 3 milhões de dólares, a preços da época (cerca de 20 milhões a preços actuais), numa nota oficial, divulgada pela imprensa a 30 de Novembro, o governo não assumiu qualquer verba extraordinária para socorrer as vítimas, referindo que seria com o orçamento normal de cada ministério que se iria fazer face às despesas geradas pela catástrofe.
Foi também anunciado que a Caixa Geral de Depósitos estava autorizada a conceder empréstimos aos municípios das regiões atingidas pelas cheias, «nas condições mais favoráveis de juro e amortização». O Avante! alertava, no entanto, que, «esse empréstimo atinge a ridícula soma de 70 000 contos que reentrarão nos cofres das Câmaras Municipais, pagos pelo povo, sob a forma de novas taxas, de novas alcavalas, de novos impostos».
O espírito benemérito do governo de Salazar ficava-se por aqui, empurrando para a caridade o dever de assistir as milhares de vítimas.
Número de mortos censurado
Numa altura em que a informação não fluía ao ritmo que conhecemos actualmente, as notícias corriam sobretudo de boca em boca e pela comunicação social, mas sob a prévia supervisão dos serviços censórios.
Fac-símile da capa da edição n.º 386, de Dezembro de 1967, do jornal «Avante!» Créditos
«Muita coisa foi abafada», recorda João Manquinho, mas «os jornais O Século e o DN, que eram os jornais com maior incidência na altura, tinham que publicar fotografias senão era um escândalo».
E publicaram, mas a Direcção da Censura começou a controlar as publicações assim que os contornos da tragédia se começaram a definir. A 27 de Novembro, informava-se num telegrama que: «Gravuras da tragédia: é conveniente ir atenuando a história. Urnas e coisas semelhantes não adianta nada e é chocante. É altura de acabar com isso. É altura de pôr os títulos mais pequenos».
Na quarta-feira a seguir à tragédia, nova indicação chegou às redacções: «Inundações: os títulos não podem exceder a largura de meia página e vão à censura. Não falar no mau cheiro dos cadáveres.»
Apesar dos 50 anos volvidos, o cheiro e a imagem dos cadáveres permanece gravada na memória de João Manquinho, então com 24 anos de idade. «Lembro-me de ir ao Largo da Misericórdia, onde está uma igreja antiga, e de ver as camionetas a chegarem das Quintas com a aurora a romper, cheias de corpos inchados, disformes e cheios de lama, com expressões de aflição e em posições dramáticas». Depois de lavados, os corpos eram reconhecidos por familiares e alguns levados para as suas terras.
Na Castanheira do Ribatejo, Fernanda assistiu a 17 funerais. Recorda, no entanto, que «a gente não podia entrar no cemitério». «Tínhamos que ficar longe porque o chão estava tão instável que eles não queriam ninguém a passar onde fizeram os buracos porque aquilo podia ruir», explica.
O despertar de consciências
Apesar da censura, a informação sobre a tragédia levou milhares de estudantes a organizarem-se para prestar o auxílio negado pelo Estado. Havia falta de água, de alimentos, de abrigos para os milhares de desalojados e de cuidados médicos. Em contrapartida, sobravam escombros e muita lama, que muitos homens e mulheres retiravam às pazadas.
Antevendo, porém, as consequências que o confronto com a realidade podia surtir em muitos dos jovens estudantes, citadinos e de diferentes classes sociais, a ditadura de Salazar reprimiu esses movimentos, assim como o eco que poderiam ter através dos meios de comunicação social. Na informação enviada às redacções, no dia 29 de Novembro, a Direcção da Censura acrescentava: «Actividades beneméritas de estudantes – Cortar».
Salazar não temia apenas que os jovens se apercebessem da indiferença com que lidava com os mais desprotegidos, temia, isso sim, a criação de consciência política, o que veio a acontecer.
Numa análise aos dados do Serviço Meteorológico Nacional, o boletim Solidariedade Estudantil, criado pelos estudantes que se organizaram para auxiliar as vítimas da tragédia, revelava que, apesar das mortes terem ocorrido nas zonas desfavorecidas de Lisboa e do Ribatejo, foi na zona abastada do Estoril que se registou a maior precipitação.
Sem rodeios, o Comércio do Funchal declarava que, mais importante do que a chuva que caiu na madrugada do dia 26 de Novembro, «foi a miséria, miséria que a nossa sociedade não neutralizou, quem provocou a maioria das mortes. Até na morte é triste ser-se miserável. Sobretudo quando se morre por o ser».
in Abril Abril - Nov. 2017
IMAGENS: Exposição da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira sobre os 50 anos das cheias de 1967
27.6.22
AVIS: III Mostra de Fotografia "Património, Paisagem e Memória”
No dia em que as Jornadas Europeias da Arqueologia regressaram “para dar a conhecer ao público os tesouros do património arqueológico e os bastidores da disciplina”, 17 de junho, numa iniciativa anualmente promovida pelo Institut National de Recherches Archéologiques Préventives e pela Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), à qual o Município de Avis, através do Centro de Arqueologia de Avis (CAA) se associou, o CAA lançou um desafio aos amantes da fotografia para que participem na III Mostra de Fotografia “Património, Paisagem e Memória”.
Nesta III Mostra de Fotografia, o CAA convida o público em geral a apresentar imagens que retratem o património cultural e paisagístico do concelho de Avis, guardião de memórias e vivências, com um olhar fotográfico, único e original, fazendo refletir a narrativa que o tema proposto encerra: monumentos, conjuntos, paisagens, objetos, coleções, trabalhos, abrangendo todos os períodos cronológicos.
Preste atenção às normas de participação em: https://www.facebook.com/centrodearqueologiadeavis.
Os trabalhos deverão ser enviados para o e-mail: arqueologia@cm-avis.pt, com a identificação do assunto: III Mostra de Fotografia do CAA, até ao dia 31 de julho.
As fotografias selecionadas serão divulgadas na página do Facebook do CAA, a partir de 10 de agosto, onde poderão ser votadas até 31 de agosto.
Participe!
26.3.22
PORTALEGRE: Exposição “Louça de Sacavém na memória da vida portuguesa”
A 26 de março, pelas 18h00, inaugura no Museu Municipal de Portalegre a exposição “Louça de Sacavém na memória da vida portuguesa”, que reúne peças do colecionador Miguel Calado e de alguns sócios dos Amigos da Loiça de Sacavém.
Sendo o Museu Municipal de Portalegre conhecido por ser detentor de uma coleção de faiança portuguesa, que reúne peças de olarias e fábricas que laboraram entre o séc. XVI e o séc. XX, esta mostra vem dar a conhecer a produção de uma marca que laborou ininterruptamente de meados do séc. XIX até 1994, evoluindo e adaptando-se às exigências de cada tempo.
A expressão “Sacavém é outra loiça” evidencia a versatilidade da fábrica naturalmente, mas também desta exposição, que consegue congregar e dar a conhecer um variado conjunto de peças utilitárias e artísticas, abarcando a loiça de mesa, a loiça decorativa, a loiça sanitária e de higiene e a azulejaria.
Em destaque a coexistência de peças comuns, presentes em quase todos os lares nacionais, com algumas de notável antiguidade, de que apenas sobrevivem raros exemplares.
Patente até 30 de outubro de 2022, a exposição pode visitar-se de terça a domingo nos seguintes horários:
9h00 – 12h30 e 13h30 – 17h00 (horário de inverno)
9h30 – 13h00 e 14h30 – 18h00 (horário de verão, vigente a partir de 29 de março)
21.5.21
MENSAGEM DO CORAÇÃO: O Dia que não terminou…
Hoje é um dia triste! É um dia que não terminou…
E os outros também o são, tristes e vazios de ausência física de uma pessoa que se ama, a do nosso Pai. Este dia é especialmente triste porque é um dia simbólico e estes dias são sempre marcantes tanto para o bem como para o mal… e este, este dia veio marcar-nos de uma grande dor que veio e que não desaparece que, veio para ficar!
21 de Maio de 2020, “O Dia que não terminou”, faz hoje 1 ano… como o tempo passa e a dor não cicatriza!
Faz 1 ano em que este dia viria a marcar a vida do Pai, da Mãe e as nossas vidas… instalou-se em nós, veio para ficar como um dos dias mais negros e dolorosos da nossa vida, “O Dia que não terminou…”.
Faz 1 ano que os nossos pais tiveram o acidente de carro e que se tornou o dia mais negro… porquê?
Os dias, as horas, os minutos e segundos que se seguiriam foram de dor, muita tristeza e impotência.
“O Dia que não terminou”, viria a ficar para sempre um dia em que nunca iriamos pensar que um triste fim estava para chegar.
Assim é a vida, ao sairmos de nossa casa sabemos que estamos a sair, sem saber se iremos voltar… e assim aconteceu com o nosso Pai, saiu para não mais voltar!
Pensem nisso, não deixem nada para trás, nada por fazer, nada por dizer…
Digam “Gosto de ti”!
Digam “Amo-te”!
Pois a vida passa rápido, é um sopro de vento que passa e não volta atrás…
Por isso, Pai, Mãe e Manos… amo-vos muito e numa corrente de amor, manteremos para sempre vivas as memórias do nosso querido Pai que faz parte da nossa vida todos os dias, pois ele vive dentro do nosso coração Hoje e Sempre!
Com Amor Pai,
A sua Ana.
21 de Maio de 202129.3.21
MEMÓRIA: Um apelo do Administrador do Concelho sobre as solenidades da Semana Santa em 1906
José Julio d´Oliveira, Administrador interino d´este concelho de Niza. Devendo ter logar nas noites de 12 e 13 do corrente, as procissões da Semana Santa, e sendo infelizmente habitual as manifestações de falta de respeito e irreverencia n´estes actos, por parte d´alguns individuos d´onde pode derivar (a continuarem taes abusos) a auctoridade ecclegiastica acabar de vez com as ditas procissões, o que representaria um mal para todos os crentes, respeitadores de taes solennidades; e considerando que quem não respeita as leis ecclegiasticas não acata as leis humanas e sociaes, equem não acata estas não respeita o seu semelhante perdendo por isso mesmo o direito a ser respeitado; considerando mais que sendo a indole moral do bom povo de Niza apontada como modelo, não a havendo melhor o que se prova pela pequena e pouco importante estatistica criminal, dando-se ainda o facto d´este povo ser religioso sem ser fanático; considerando ainda que no fundo da consciencia moral de cada individuo, por melhor ou peor que seja a sua estatura moral, há um sentimento d´amor instinctivo pela terra que lhe deu o berço, d´onde resulta a saptisfação individual e collectiva pelo bom nome e engrandecimento moral da nossa terra, demais sendo ella não somente villa importante, mas sede de concelho e comarca, faço publico e peço ao povo de Niza cujos cidadãos na sua grande maioria com toda a justiça considerados honestos, cordatos e ordeiros, me auxiliem e aos agentes da auctoridade a manter a ordem e decencia que os actos religiosos exigem, informando-me com testemunhas, do nome ou nomes dos indivíduos que commetam qualquer desacato a fim de os enviar ao poder judicial, onde receberão para exemplo devido e rigoroso correctivo. E para constar se passou o prezente e identicos que serão lidos à missa conventual da freguezia Matriz e Espírito Santo d´esta villa e em seguida affixados nos logares do costume.
Administração do Concelho de Niza, 7 d´Abril de 1906.
José Julio d´Oliveira
* Foto - Irmandade da Misericórdia nas solenidades da Semana Santa - anos 60
1.1.21
MEMÓRIA: A vigília na Capela do Rato, há 48 anos
A história já foi contada: há 48 anos, a 30 de dezembro de 1972, um grupo de cristãos, pela voz de Maria da Conceição Moita, comunicou à sua comunidade, no fim da missa das 19h30, que ficaria em vigília na capela por 48 horas, para discutirem a paz.
Não era a primeira iniciativa deste tipo. Uns anos antes, a 1 de janeiro de 1969, alguns dos organizadores da ocupação da Capela do Rato já tinham organizado uma reunião na Igreja de São Domingos. Mas, desta vez, a acção envolveu muito mais gente e paralisou a resposta da ditadura. Ao longo dessa noite e do dia seguinte, centenas de pessoas passaram pela Capela, participando numa assembleia que tinha como tema a guerra colonial.
Os promotores da iniciativa, como Nuno Teotónio Pereira, Luís Moita, Jorge Wemans e outros, publicavam clandestinamente o Boletim Anti-Colonial e, estimulados pela mudança de atitude do Vaticano em relação aos movimentos de libertação que combatiam pela independência nas colónias portuguesas, entenderam que era necessário ampliar o protesto contra a continuação da guerra. Tiveram a cooperação de várias organizações: a LCI, que se ocupou dos panfletos que divulgariam a ocupação entre a população (impressos por José Manuel Boavida, António Gomes e Alfredo Frade) e o PRP (Isabel do Carmo, Carlos Antunes), que os distribuiu. E o apoio de muitos jovens que sentiam a guerra como a expressão mais crua da ditadura.
Dois anos mais tarde, já deposto pela revolução e no seu exílio do Rio de Janeiro, Marcello Caetano contaria a sua versão dos acontecimentos: “na noite de 31 de Dezembro de 72 para 1 de Janeiro de 73, a pretexto da comemoração do dia da Paz universal, instalaram-se dentro dela [Capela do Rato] uns tantos senhores para protestar contra a 'guerra colonial'. Durante horas seguidas, no meio de cartazes publicitários alusivos aos fins da reunião, os contestatários, entre os quais havia católicos militantes, antigos católicos e outros que não eram, que nunca tinham sido, nem faziam tenção de ser católicos, iam entremeando as missas e as rezas com discursos e objurgatórias contra a defesa do Ultramar e distribuíam panfletos nesse sentido. As autoridades eclesiásticas nada fizeram para pôr termo ao escândalo. A autoridade civil teve de intervir. Desde que o governo sustentava a defesa do Ultramar, e a essa política era forçado pela Constituição, a ela era incitado pelos eleitores, nela era apoiado pela opinião, claro que não podia consentir em actos de propaganda terrorista, como esses. A polícia entrou na capela e cordatamente convidou as pessoas presentes a sair. Foram identificadas e algumas, por motivos vários, ficaram detidas, aliás por pouco tempo. Verificando-se que entre os presentes havia uma dúzia de funcionários públicos, foi o assunto levado a Conselho de Ministros onde, depois de curta discussão, por unanimidade se deliberou aplicar-lhes a lei que permitia demitir os funcionários que não dessem garantias de cooperar nos fins superiores do Estado” (Depoimento, Rio de Janeiro: Record, pg. 84). Mas há muita fantasia nesta descrição. Na verdade, a ditadura hesitou quanto à forma da resposta e, quando ao fim da tarde de dia 31 de dezembro o capitão Maltês e a sua unidade policial cercou a Capela, entrou e deteve uma centena de pessoas, já o governo sofrera a derrota marcada por uma simbólica assembleia de protesto no centro da capital.
Os detidos foram levados para a esquadra da polícia no mesmo Largo do Rato e, desses, 16 foram transferidos para Caxias: Moita (que abandonara o sacerdócio e era professor universitário), Teotónio Pereira (um dos mais brilhantes arquitetos portugueses), Wemans (viria a ser diretor da RTP2), Manuel Coelho (que viria a ser presidente da Câmara de Sines), Francisco Pereira de Moura (professor de economia e mais tarde ministro do primeiro governo pós-Abril) e outros, incluindo três estudantes liceais. No dia 1 de janeiro, os padres António Janela e Armindo Garcia foram conduzidos para interrogatório (o responsável pela Capela do Rato, o padre Alberto Neto, estava doente, embora acompanhasse o protesto) e só foram soltos quando o cardeal foi à polícia. Nesse mesmo dia, vários advogados, entre os quais Francisco de Sousa Tavares, Francisco Salgado Zenha, Jorge Sampaio e José Vera Jardim apresentaram-se para defender os detidos.
Sabe-se que estas prisões e a posterior expulsão de Pereira de Moura, o mais destacado economista português, da universidade, também provocaram uma onda de protesto internacional. Vários Prémios Nobel intercederam por Pereira de Moura e o ministro dos negócios estrangeiros, Rui Patrício, pediu aos seus colegas a libertação dos presos, para evitar mais uma campanha contra a ditadura. Não foi ouvido e, excepto os estudantes que seriam libertados poucos dias depois, contra o pagamento de uma caução, alguns dos detidos foram torturados e ficaram presos a aguardar julgamento.
As divisões acentuaram-se entre os partidários da ditadura. Os deputados da Ala Liberal, que tinham sido eleitos pelo partido da ditadura na promessa e expectativa de alguma abertura, levaram o tema ao plenário de S. Bento. Foi sobretudo o deputado Miller Guerra quem se levantou para condenar as prisões e as atas da sessão de 23 de janeiro reproduzem um seu longo debate com Casal-Ribeiro, um dos tenores da ditadura. Ia a conversa adiantada, e Casal-Ribeiro pergunta:
“O Sr. Casal-Ribeiro: – Eu estava a perguntar a V. Ex.ª se acha bem e se concorda que na Igreja, ou em qualquer outro sítio, se discutisse ou se discuta a legitimidade da presença de Portugal no Ultramar.
O Orador (Miller Guerra): – Ora aí está uma pergunta objetiva e concreta e a que eu respondo também objetiva e concretamente: Acho, sim senhor. Não só na Igreja, como em qualquer outra parte.”
Uns dias depois, Sá Carneiro renunciou ao mandato de deputado, e o mesmo faria Miller Guerra a 6 de fevereiro. Um ano e poucos meses depois, a ditadura seria derrubada pela revolução de Abril.
Francisco Louçã in www.esquerda.net
21.8.20
NISA: Uma récita em Julho de 1940
É mais um documento a atestar a importância que o Teatro teve na vila de Nisa. Uma Récita feita por amadores e a favor do Sport Lisboa e Nisa (era esta a designação, que se manteve por mais um ano, do actual Sport Nisa e Benfica). Uma récita com 3 partes, a última de variedades e com a imprescindível colaboração da Troupe Jazz "Os Fixes".
As artes teatrais estiveram sempre enraizadas na alma dos nisenses e prova disso são as inúmeras fotos e programas de espectáculos que aqui temos mostrado. Uma pequena amostra documental que poderia ser mais valorizada, ajudando a reconstituir a história do Teatro em Nisa se para tanto houvesse disponibilidade por parte de pessoas detentoras de fotos ou programas, cedendo-as para digitalização e posterior divulgação.
É a forma, pensamos, de ainda se poderem preservar alguns documentos que, de outro modo e com o correr do tempo, acabarão, inexoravelmente, no lixo.
É esse o Apelo que deixamos a todos os visitantes do Portal de Nisa. A quem tiver programas (antigos ou "modernos") de espectáculos teatrais ou musicais que possa disponibilizá-los, apenas pelo tempo estritamente necessário à sua digitalização, agradecemos que nos contactem pelo e-mail portaldenisa@gmail.com pelo facebook ou pessoalmente.
Ficamos a aguardar o vosso contacto.
* O programa que publicamos foi-nos gentilmente cedido pelo Rui Tello Gonçalves, a quem agradecemos.
15.7.20
MEMÓRIA: Uma batida aos lobos no termo de Montalvão (1857)
No século XIX no concelho de Nisa e por todo o território nacional proliferavam as matilhas de lobos, que atacavam e dizimavam rebanhos, constituindo um factor de preocupação para pastores e agricultores. Face a esta situação e aos constantes apelos feitos ao Administrador do Concelho, este dirigiu-se ao Governador Civil, autoridade máxima a nível regional, pedindo autorização para a realização de uma batida. A correspondência que publicamos dá conta desta diligência e também dos preparativos para a realização da dita montaria e, na parte final, a polémica sobre a autoria da morte do único lobo abatido, um "troféu" que, por direito próprio, pertenceria ao matador. É possível que esta "história" não tenha ficado por aqui e que outros documentos existam sobre o assunto. Os que transcrevemos, julgo, ajudam a reconstituir o cenário de uma montaria em 1857 e em certa medida, são um contributo para a história do concelho.
30 Janeiro 1857 - Carta ao Governador Civil
Tendo recebido algumas communicações dos Regedores deste concelho sobre a quantidade de lobos que infestam alguns pontos das freguesias, devorando muitos gados, e sendo urgente que se faça uma montaria, peço a Vª Exª se sirva auctorizar-me para a ordenar, com as regras precisas e com as cautellas que demandam os ajuntamentos de gente armada para o dicto fim e por modo tal evitar sinistros que por falta de cuidado e boa direcção podem ter lugar.
5 Março 1857 - Carta ao Regedor de Montalvão
Ordenando-lhe que no Domingo disponha agente da sua freguesia para accudirem aos pontos das Cabeças Ruivas aonde há uma das esperas para a batida dos lobos, devendo dar a sua esquerda à alla dos de Castello de Vide e Póvoa, e a direita à alla do lugar de Salaveça, recomendando-lhe todas as providencias para accautelar àlguma desgraça, e para marcharem para o dito fim ao sol nado.
5 de Março 1857 - Ao Regedor substituto interino do Pé da Serra
Ordenando-lhe que no Domingo 8 do corrente deve marchar com agente daquella freguesia ao sol nado, em direitura às Cabeças Ruivas, termo de Montalvão, ordenando que a sua gente forme uma alla, a qual deve dar a esquerda à de Salavessa, e a direita à do Monte da Vellada afim de secombinar aquele círculo, com o que desta viila marcha sobre o ponto indicado, determinando que toquem os busios para se conhecer a distancia em que vão, para melhor se apertar o cerco, ao ponto das esperas.
5 de Março 1857 - Ao Regedor da Parochia de S. Mathias
Ordenando-lhe que no Domingo 8 do corrente deve fazer marchar a gente d`Avellada para formar um circulo para a batida que no mesmo dia se hade fazer aos lobos, entre este concelho e o de Castello de Vide, sendo os pontos das esperas nas Cabeças Ruivas no termo da Povoa, devendo a gente d´Avellada dar a esquerda à alla direita da gente da Salavessa e Monte do Pombo, pra simultaneamente hirem apertando o cerco, com a gente desta villa até chegar à espera indicada.
8 de Março 1857 - Ao Regedor de Montalvão
O facto do lobo que se matou e que a gente de Montalvão sustentou pertencer-lhes, foi negocio que naquelle ponto não se podia dicidir, sobretudo no meio de excessos d´alguns individuos, cujos nomes marquei; mas que não me podia esquecer para os reprimir a serem mais obedientes. A questão não versa de quem matou o lobo, supposto que toda a gente que assistiu à batida, entre ellas as mais respeitávies desta villa testemunharam que foi Luiz Marques Basso d´esta villa - a questão é que não sendo esta montaria presidida por mim, por Auctoridade Superior e pertencendo Montalvão a este concelho, e à Auctoridade Administrativa que pertence dicidir aonde o lobo deve pertencer, para ser apresentado na Câmara. Portanto, sirva-se Vª Exª ordenar que o lobo seja entregue ao official de Diligências portador deste, a fim de o conduzir a esta Administração, não assistindo Vª Exª a menor impugnação do individuo que o tem em seu poder, sob pena de se proceder contra o mesmo.
28.6.20
NISA: A devoção a S. Pedro - patrono de pastores e creadores (I)
São Pedro foi um dos doze apóstolos de Jesus Cristo, segundo o Novo Testamento e, mais especificamente, os quatro Evangelhos. Os católicos consideram Pedro como o primeiro Bispo de Roma, sendo por isso o primeiro Papa da Igreja Católica.
O Dia de São Pedro comemora-se em Portugal a 29 de Junho. Tal como São João e Santo António, São Pedro é um santo popular. Este dia é também conhecido como o dia São Pedro e São Paulo.
A capella de S. Pedro, descrita por Motta e Moura (1)
(...) Ha nos subúrbios da villa a capella de S. Pedro, que fica próxima dos muros na parte occidental, com a porta voltada para este lado, como a maior parte das egrejas edificadas no seculo X; é hoje a maior, e mais aceada das capellas particulares, porque está toda forrada, ladrilhada e rebocada de novo, e a capella mor pintada com muita arte e primor: tanto a porta de entrada como o arco da capella mor são de cantaria da terra, e de forma gothica, o que está revelando a sua antiguidade; o altar mor tem seu retábolo dourado, no meio do qual está o príncipe dos apóstolos com as vestes e insígnias pontificaes: do lado do evangelho tem uma sacristia para uso do clero e da irmandade, que n´ella celebra as suas reuniões e adjuntos; e um púlpito de cantaria com escada por fora, e do lado da epistola uma pequena porta, e um campanário com uma sineta para annunciar a celebração dos officios divinos. No seu principio era pequena e estreita, de sorte que nos dias de grandes funções pouco mais do que o clero lá cabia, e crescendo a irmandade viam-se então em seus apertos, o que deu logar a alargar-se a casa e fazer-se no anno de 1638, do tamanho que tem hoje; e depois de feita começaram logos os fieis a dotal-a com rendimentos, para poder subsistir.
António Dias Brochado legou-lhe uma grande courella no termo d´Arêz, com a condição de lhe dizerem todos os annos por alma uma missa rezada; e depois deixaram-lhe mais um grande chão em frente da porta principal da egreja e quando havia melhores esperanças de que a devoção continuasse, vieram as leis de desamortisação, que lhe pozeram termo: é notável esta capella pela insigne irmandade, que n´ella se instituiu, e a administra e governa.
O clero de Niza fez um compromisso e estatutos, e não se achando estes já conformes às luzes das necessidades do tempo, nomeou no anno de 1718 uma commissão composta do abbade Sebastião do rego da Silveira, dos bacharéis em cânones fr. João Dias Conde, e o padre Miguel Ferreira Franco, e outros para os rever e reformar, como na verdade reformaram fazendo aquelles, pelos quaes agora se governa, com tanta sabedoria, que mereceu grandes louvores do bispo D. Álvaro Pires de Noronha e Castro este compromisso, que elle confirmou em provisão de 31 de Janeiro de 1749: tinha então a irmandade vinte e dois clérigos. Além dos sacerdotes podem também pertencer-lhes seculares, e teem-lhe pertencido muitas pessoas distinctas, mas infelizmente na actualidade apenas conta um septuagenário; talvez pela taxa de entrada, que muitos querem e não podem pagar, e que por certo muito convinha abolir, ou pelo menos reduzir.
Tem um guião de seda branca, um esquife ou féretro particular para os seus irmãos, e usa de campainha, quando sae em comunidade: a sua principal festa é no dia 29 de Junho, e faz três officios solemnes por alma de cada irmão, que fallece, além de outro no oitavario dos Santos por todos, e pelos bemfeitores; e os que lhe sobrevivem teem rigorosa obrigação de lhe mandar dizer três missas cada um, e rezar duas vezes o Rosário de Nossa Senhora, d´onde se vê que grandes são os benefícios espirituaes, que se colhem d´esta instituição.
(1) - Memória histórica da Notável Vila de Niza - José Diniz da Graça Motta e Moura
27.6.20
HÁ 10 ANOS: Alerta para a situação de prédios urbanos degradados e devolutos
Há 10 anos (28/6/2010) numa sessão "histórica" e com o seu quê de inédita (ver documento no post seguinte) apresentei na Assembleia Municipal de Nisa, o documento que anexo. Era apenas uma Recomendação e correspondia a uma preocupação sentida sobre o estado de abandono e desleixo a que muitos imóveis do Centro Histórico tinham sido votados, pelas mais diversas razões. A situação não se alterou ao longo desta década, pelo contrário, generalizou-se a todas as ruas da vila. Hoje, falar no decréscimo ou perda de população, sobretudo na vila de Nisa tem também um outro reflexo negativo, a decadência e abandono de muitos edifícios, alguns com o carácter de "históricos" e, por consequência, a degradação da sua malha urbana. À parte, as recomendações então feitas, urge proceder, sem perda de tempo, face à situação delicada de algumas zonas da vila, em particular do centro histórico (com letra minúscula) a campanhas de desratização e de limpeza do interior de alguns desses edifícios, dado a sua ameaça, à salubridade e saúde pública. Esta, uma tarefa a que a Câmara Municipal, de parceria com outras instituições e proprietários dos imóveis, não se pode eximir. Sob pena de a situação se tornar incontrolável, já que não basta fazer tapumes em tijolo e cimento e ao mesmo tempo deixar no interior dos edifícios toda a espécie de imundices.
RECOMENDAÇÃO À ASSEMBLEIA MUNICIPAL DE NISA
"A implantação e crescimento de novas áreas urbanas, principalmente na vila de Nisa, a par do crescente despovoamento dos centros históricos e das aldeias do concelho, gerou uma situação que pode considerar-se alarmante, criada pelos factores referidos e também pela falta de manutenção dos imóveis por parte dos proprietários.
Refiro-me ao problema que está bem patente em todos os núcleos urbanos do município, onde existe hoje um número crescente de imóveis degradados e devolutos.
Trata-se de uma situação que, além de degradar o ambiente urbano, cria situações de profunda e permanente insegurança, revelada a dois níveis: a segurança dos edifícios em risco de desmoronamento, com as suas implicações nos edifícios e áreas adjacentes e na própria protecção civil; a insegurança gerada por “usos” menos próprios de tais edifícios onde, muitas vezes, prolifera o consumo e tráfico de estupefacientes, não contando com as questões de insalubridade que tais usos provocam.
A situação contribui também para distorcer profundamente o mercado de habitação, penalizando as condições de habitação de muitas famílias.
Em Nisa, sobretudo no Centro Histórico, há edifícios em situação tal de degradação que não pode manter-se por mais tempo.
É urgente uma intervenção da Câmara Municipal, já que como é do conhecimento, o Código do Imposto Municipal sobre Imóveis (CIMI) faculta aos municípios um conjunto de instrumentos que permitem desincentivar estas situações, penalizando-as fiscalmente. A sua utilização carece, porém, de um processo prévio de identificação dos prédios degradados e devolutos há mais de um ano, existentes na área do município.
Pelo exposto, sugiro/ recomendo à Assembleia Municipal de Nisa, reunida em sessão ordinária em 28/06/2010, que alerte a Câmara para a gravidade da situação e que a mesma:
1 – Promova uma campanha de sensibilização para que os proprietários procedam às reparações indispensáveis;
2 – Intervenha, nos casos de maior gravidade e se após as diligências com os proprietários, estas se tenham revelado infrutíferas;
3. Proceda, com urgência, à identificação dos prédios urbanos degradados e devolutos há mais de um ano, existentes na área do município;
4. Disponibilize essa listagem à Assembleia Municipal.
Nisa, 28 de Junho de 2010Mário Mendes
25.5.20
27.4.20
OPINIÃO: Da memória da tragédia de Chernobyl, um reflexo da vida
34 anos se passaram desde o acidente nuclear de Chernobyl. 31 pessoas morrem no primeiro momento. 116.000 pessoas são evacuadas com urgência. Actualmente, os 30 quilómetros de isolamento em torno da usina nuclear permanecem em vigor.
No aniversário da tragédia que mantém a área inabitável, o Movimento Anti-Nuclear Ibérico (MIA) e os Ecologistas em Acção expressam sua rejeição à extensão da operação das usinas nucleares do país.
Desde 3 de abril, a zona de exclusão de radioactividade sofre um incêndio. Informações oficiais reconhecem que a radiação se multiplicou por 16, uma vez que o calor removeu as cinzas radioactivas.
Em 26 de abril de 1986, várias explosões e um grande incêndio descobriram o reactor número 4 da usina nuclear de Chernobyl. Assim começa uma tragédia de dimensões gigantescas. Milhões de partículas radioactivas são ejectadas na atmosfera, uma quantidade 500 vezes maior que a liberada pela bomba atómica de Hiroshima. Com isso, a vida de milhares de pessoas e o meio ambiente são dolorosamente extintos; Uma enorme nuvem radioactiva viaja milhões de quilómetros, ameaçando a saúde e a segurança em vários países europeus. No primeiro momento, 31 pessoas morrem e 116.000 são evacuadas com urgência. Até hoje, cerca de seis milhões de pessoas tiveram sua saúde afectada pela radiação e os 30 quilómetros de isolamento ao redor da usina nuclear ainda estão em vigor.
Para isolar a emissão de radiação do reator nuclear, um primeiro sarcófago de emergência foi construído para cobrir o reator danificado e isolá-lo do lado de fora. Os outros reatores da usina continuaram em operação até 15 de dezembro de 2000. Pouco a pouco, a radiação corrói a estrutura e novamente o perigo se torna aparente. Por esse motivo, em 2010, a empresa francesa Novarka iniciou a construção do segundo sarcófago a um custo de aproximadamente 1.500 milhões de euros, para impedir a libertação de contaminantes radioactivos, proteger o reactor contra influências externas, facilitar a desmontagem e desmontagem do reactor e evitar a intrusão de água, que terminou em 2019, e juntamente com a construção de um armazém radioactivo, representam um investimento total de 2.150 milhões de euros para obter um selo que pode durar cerca de 100 anos.
As últimas notícias são preocupantes. Um grande incêndio ocorreu por várias semanas em torno da usina nuclear fechada, que estava muito perto de alcançá-la, liberando a radioactividade fixada pelas árvores e pelo solo, potencialmente expandindo os efeitos da tragédia de 26 de abril, 1986.
Segundo dados divulgados pelas autoridades oficiais, mais de 100 hectares de terra perto da cidade de Vladímirovka, nas proximidades da usina nuclear, foram destruídos. Segundo estimativas, 34.000 hectares são afectados e um segundo incêndio ocupou uma área de 12.000 hectares. Além das tropas mobilizadas pelo governo, que tentaram impedir o avanço do incêndio com hidroaviões e helicópteros, já foram despejadas 500 toneladas de água nas chamas.
Os níveis de radioactividade se multiplicaram com o fogo. Informações oficiais reconhecem que a radiação se multiplicou por 16, uma vez que o calor removeu as cinzas radioactivas. O apoio de voluntários permitiu cavar trincheiras para servir como quebra de fogo ao redor do sarcófago que cobre o reactor danificado e, assim, impedir que o fogo atinja a usina nuclear. Como aconteceu em 1986, foi necessário que os voluntários fossem expostos à radioactividade liberada pela remoção do solo. (...)
Os ecologistas em acção e o MIA continuam a fazer uma pergunta: era necessário construir usinas nucleares para nos fornecer energia suficiente ou continuar mantendo essas estruturas quando elas já se tornaram obsoletas? Para organizações ambientais, a resposta está se tornando mais óbvia a cada dia. Absolutamente não. Existe uma enorme capacidade de geração de energia com fontes renováveis, além de soluções de engenharia para aumentar a eficiência energética e adaptar o consumo à produção.
O poder económico construído a partir do sistema actual privatizou os benefícios da pilhagem do planeta, carregando o custo e o desperdício na casa comum do ser humano e do resto dos seres. A energia que deve ser boa para todos se tornou uma moeda sem a qual o bem-estar não é possível, mesmo para a satisfação das necessidades mais básicas, como comida, abrigo e roupas. (...)
As gerações de hoje têm duas dívidas, uma com vida na Terra, um evento maravilhoso e excepcional, e a outra com novas gerações que têm o direito de desfrutar de um planeta saudável. Temos a responsabilidade de preservar o legado que recebemos daqueles que nos precederam e a obrigação de legar um planeta habitável às novas gerações.
Os ecologistas em acção, mais um ano, lembram-se do acidente nuclear de Chernobyl exigindo o fim do pesadelo nuclear. Queremos prestar homenagem àqueles que os sacrificaram para que o futuro exista, para salvar o de milhões.
in Ecologistas en Acción - 26/4/2020
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