3.9.25

NISA: A MORTE DE ANTÓNIO PEQUITO

António de Oliveira Caixado Pequito é o decano dos oleiros nisenses. Anda há mais de 70 anos a “atirar o barro à parede”, a fazer ginástica com os pés e as mãos, agitando a roda com que vai moldando cada peça de barro. Começou a actividade mal saiu da escola e só a interrompeu para cumprir o serviço militar, com passagem por Angola. Pela sua oficina na antiga rua do Depósito da Água passaram milhares de pessoas, gente letrada e outras nem tanto, umas e outras movidas pela vontade de aprender ou de perceber a génese e o funcionamento da olaria pedrada de Nisa. À custa de dar ao pedal e de mover a roda de oleiro, percorreu o país de lés a lés, em feiras de artesanato, em iniciativas do poder local ou convidado para programas televisivos. Participações quase sempre acompanhado pela esposa, Joaquina da Graça Mendes, uma vida inteira a plantar flores na moleza do barro e a incrustá-las, dando-lhe um vivo relevo, de pequeninas pedras em quartzo. Uma vida a dois, a que se juntou vinda dos filhos e netos. Uma história de vida, dedicada à olaria pedrada de Nisa e que merece ser reconhecida."

NOTA

Este pequeno texto escrevi-o, como nota final, num artigo que foi publicado no "Alentejo Ilustrado" sobre a "Nova Vida da Olaria Nisense".  O Mestre Oleiro, António Pequito, faleceu esta madrugada, após uma vida activa e dedicada à olaria nisense. Era o mais antigo oleiro, um veterano, após mais de 75 anos a atirar o barro à parede e a calcorrear o país na divulgação de uma das artes mais tradicionais de Nisa.

A sua actividade artística, o seu labor, a divulgação que fez das artes tradicionais na moldagem do barro, os conhecimentos que proporcionou a todos quantos se lhe dirigiram, inclusive, estudantes universitários para a elaboração dos seus estudos académicos, encontraram nele e na sua esposa, Joaquina Mendes, o melhor acolhimento, a disponibilidade, o gesto amigo e estimulante de quem sentia verdadeira alegria na transmissão de conhecimentos, da sua longa experiência, a trabalhar numa arte, quase em vias de extinção. Digo quase, porque foi ali na modesta oficina da rua do Depósito das Águas, que uma nova esperança de revigoramento desta arte tradicional de Nisa encontrou o apoio e o estímulo para inovar e projectar-se como esperança de futuro.

Este o maior legado que deixa à vila onde nasceu.

Descanse em paz, primo António Pequito.

Mário Mendes