30.3.16

Senhora da Graça - Padroeira de Nisa I (2016)










 I
Ermidinha alva, acolá, distante,
Alumia o monte com o seu sorrir,
Faz lembrar um anjo, que vagueia, errante,
Branco, muito branco, que não quis partir!
II
Oh! Que canto simples da mansão celeste,
Que tesouro rude de fé e de amor...
Em redor, buscando, nosso olhar se veste
De miragens lindas da mais viva côr!
III
Lá dentro repousa, num dormir sem fim,
A Senhora-Nossa que o meu povo adora,
Santa já velhinha, cheirando a alecrim,
Querida, bem querida pela vida fora...
IV
Está tangendo o sino... oh! como ele corre...
Saltita, contente, no labor de Deus!
Oh! Cantar sublime que à distância morre,
Oh! Canção de amor, que se eleva aos céus!
V
E os moços acorrem ao festim do monte,
Anciãos caminham, trôpegos, cansados...
Todos vão beber na piedosa fonte,
Alguns vão lembrar os dias já passados!...
VI
E ao cair da tarde na divina estança
Cada peito aspira a ambição dos céus...
O mundo é distante... Todo o olhar se lança,
Em ardente prece para os pés de Deus!
 José Gomes Correia (1942)










29.3.16

NISA: A caminho da Senhora da Graça (2016)











Vamos à Senhora da Graça
Vem aí a Romaria
De Nossa Senhora da Graça
E até chegar ao cimo
Vou pedir-lhe uma graça.

Nas Portas de Montalvão
Junta-se a rapaziada
É aí que vai começar
Tão alegre caminhada

Cheguei à Fonte do Frade
Vi cachopas a bailar
Cachopos todos ao monte
As amêndoas vão rifar.

E ao chegar ao Encontro
É paragem derradeira
Vou lá deitar uma cruz
No tronco da oliveira.

E no Penico do Pastor
Também me quero sentar
Aqui descanso um momento
P´ró resto do caminho andar.

Na capela de São Lourenço
Campos cheios de flor de linho
Com estas paragens todas
Que curto foi o caminho.

Chegada à Cruz de Pedra
Esbelta e monumental
Paramos para meditar
Não nos fica nada mal.

Olhai! Os Fiéis de Deus
Capela tão pequenina
Vamos acender uma luz
Para dar luz à alminha.

A Senhora dos Prazeres
Fica ao meio da ladeira
Ali estão os botequins
Aqui parece uma feira.

E lá do alto da Capela
Avisto a Nisa velhinha
Venho convidar-te, Senhora
Para seres minha Madrinha.

E no cesto que carrego
Trago lá dentro a merenda
Trago pão, chouriço e queijo
O lagarto e a encomenda.

São horas de regressar
Sem parar p´lo caminho
Levo um santo de açúcar
E um relógio pró menino.
Maria Dinis Pereira

NISA: José Cid em espectáculo solidário no Mercado Municipal


28.3.16

Em Alpalhão: 46 disseram sim à dádiva de sangue






Na véspera da estação primaveril: a Associação de Dadores Benévolos de Sangue de Portalegre – ADBSP – marcou presença em mais uma atividade solidária. Estivemos no Concelho de Nisa, mais precisamente em Alpalhão.
Um total de 46 pessoas (15 das quais mulheres), dirigiram-se à sede do Grupo Ciclo Alpalhoense. Uma vez realizados os testes médicos, verificou-se que 38 dos voluntários poderiam avançar para a dádiva.
Um elemento de cada sexo doou sangue pela primeira vez. Já o Registo Nacional de Dadores Voluntários de Células de Medula Óssea obteve mais um elemento.
O almoço convívio, apoiado pela Junta de Freguesia de Alpalhão, decorreu nas instalações do Grupo Ciclo Alpalhoense.
Em resumo, tratou-se de uma brigada digna de registo, ou não fora esta a terra do nosso saudoso Presidente António Eustáquio.
Em Abril
A ADBSP promove as seguintes colheitas durante o mês de Abril: No dia 02 na sede do Rancho Folclórico de Arronches; No sábado 09 nos Bombeiros de Sousel; No dia 16 nas instalações do Grupo Desportivo Cultural e Social de Vale de Cavalos (Portalegre). Refira-se que o nosso calendário de Abril foi alvo de alterações.
Compareça num destes sábados da parte da manhã.
www.facebook.com/groups/AdbsPortalegre é também onde nos pode encontrar.

JR

27.3.16

Vamos à Romaria da Senhora da Graça












       SENHORA DA GRAÇA (NISA)
Conta a lenda que um dia
Certo ladrão quis roubar...
Uma caixinha de esmolas
Que por trás da porta havia,
Para quem quisesse dar...

Mas quando ao tentar abrir
A Senhora não deixou!
Os seus pés ficaram presos,
Pois já não pôde fugir
E o ladrão ali ficou!

Se é lenda, pouco importa!
Mas o certo é que lá estão
Junto à caixa das esmolas
Ainda, ao lado da porta,
Uns pés marcados no chão.

Dizem que o ouro da Santinha
Está muito bem guardado...
Não se lembre outro ladrão
De ir à sua Capelinha
E ficar também marcado...
Maria Helena M. Cardoso    

Vamos todos à Romaria!
Eram nove horas naquela manhã de Primavera, com os nisenses a acordar ao som das bonitas melodias interpretadas pela Banda de Música de Nisa, que passava na rua a dar a alvorada, enquanto no ar já se ouvia o estoirar dos foguetes, expedidos lá do cimo do cabecinho de Nossa Senhora da Graça, a nossa padroeira, como a quererem dizer, que já eram horas de partir para a Romaria.
Noutros tempos, o trajecto (4 quilómetros) era feito a pé, em que a folia dos rapazes e raparigas iam alegrando os caminheiros, cuja primeira paragem obrigatória seria, como prova de fé, na “Oliveira do Encontro” para aí se fazer e deixar, uma cruz de paus, pois era uma tradição antiga.
Hoje, a oliveira já não existe, porque não a souberam salvaguardar e os romeiros já vão de automóvel.
Com mais uns risos e gargalhadas, começava-se a avistar a ermida, ainda lá longe, fazendo-se outra breve paragem para ir ver o “Penico dos Pastores”, de igual modo vandalizado e roubado.
O percurso ia chegando ao fim e já nas imediações da capela, a primeira coisa a fazer era escolher o local onde se iria merendar: o terreno mais propício, a melhor sombra e a melhor visibilidade, deixando lá o farnel, para que outras pessoas não o pudessem ocupar.
Na encosta da colina existiam os “botequins” das bebidas e a barraca da massa frita (brenhól). Mais acima, no átrio de Nossa Senhora dos Prazeres, estavam instaladas as tendas das lembranças, onde não faltava a pinhoada e as “santinhas” de açúcar, ali bem perto do célebre fotógrafo.
Às horas da missa e da procissão, quase toda a gente subia lá acima ao cabecinho, local de culto, onde se iria cumprir as promessas e pedir à nossa padroeira, o bem-estar, saúde e sorte para toda a família, contribuindo-se com donativos em ouro e dinheiro, sendo as notas afixadas com alfinetes no manto da Senhora.
Algumas pessoas ofertavam “ramos” que eram depois arrematados, logo a seguir ao almoço, ao som da música.
Não faltava na romaria, um pezinho de dança, acompanhado por vários componentes da banda ou pelas harmónicas de algum músico de improviso.
E para a festa ser festa, era por vezes necessária a intervenção da guarda republicana, a cavalo, porque quase sempre havia zaragatas.
A hora do almoço era aquela em que o convívio era mais forte e sentido. Despertava ali uma espécie de “magia” a que a paisagem verdejante dos campos e o cheiro das flores silvestres não era alheio. Era uma sensação de bem-estar, poucas vezes sentida durante o ano e a que não faltavam os condimentos das iguarias tradicionais, o bom vinho caseiro a marcar presença, os pastéis de bacalhau (almôndegas), empadas, painhos, lombos, carne assada de borrego e os bolos da Páscoa. A rapaziada mais modesta, contentava-se com um “pirolito” e um “lagarto” ou “freira” com um ovo lá dentro, bolos que eram confeccionados pelas nossas mães: aos rapazes cabiam os “lagartos” e as raparigas tinham direito a uma “freira”.
Antes do regresso à vila, os rapazes iam apanhar espargos e beber a bela água cristalina das fontes, enquanto as raparigas se entretinham em ir colher um ramo de flores, perfumadas com o cheiro das papoilas e do rosmaninho, que elas guardavam durante várias semanas.
Os que tinham mais dinheiro, como lembrança, compravam um “relógio” ou uma “santa” de açúcar, sendo que os primeiros eram para os rapazes e as “santas” para as raparigas.
Os que não tinham pressa em regressar ficavam lá a ver e a aplaudir os “ases do pedal”, rapaziada que apostava uns com outros em como eram capazes de subir até lá acima na bicicleta.
À tardinha, as pessoas que por qualquer motivo não puderam ir à Romaria, tinham o hábito de ir esperar o pessoal, junto à Fonte do Frade, metendo conversa com este e aquele, perguntando: “ Então, gostaram da Romaria? E não houve “garreias” este ano?”.
Era assim, noutros tempos a nossa Romaria à Senhora da Graça. Descrevemo-la aqui como a vimos e sentimos, não deixando de sentir um frémito de emoção e saudade.
“O que vem do coração pode-se escrever, mas não o que o coração é”
António Mourato (Conixa)"Jornal de Nisa - 24/3/2008