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13.4.20

NISA: Hoje é segunda -feira, dia de Nossa Senhora da Graça






                                                 Nossa Senhora da Graça
I
Ermidinha alva, acolá, distante,
Alumia o monte com o seu sorrir,
Faz lembrar-me um anjo, que vagueia, errante,
Branco, muito branco, que não quis partir!
II
Oh! Que canto simples da mansão celeste,
Que tesouro rude de fé e de amor...
Em redor, buscando, nosso olhar se veste
De miragens lindas da mais viva cor!
III
Lá dentro repousa, num dormir sem fim,
A senhora Nossa que o meu povo adora,
Santa já velhinha, cheirando a alecrim,
Querida, bem querida pela vida fora...
IV
Está tangendo o sino... oh! como ele corre...
Saltita, contente, no labor de Deus!
Oh! Cantar sublime que à distância morre,
Oh! Canção de amor, que se eleva aos céus!
V
E os moços acorrem ao festim do monte,
Anciãos caminham, trôpegos, cansados...
Todos vão beber na piedosa fonte,
Alguns vão lembrar os dias já passados!...
VI
E ao cair da tarde na divina estança
Cada peito aspira a ambição dos céus...
O mundo é distante... Todo o olhar se lança,
Em ardente prece para os pés de Deus!

José Gomes Correia (1922-1983)
Fotos: Mário Mendes - 6/4/2015

28.3.19

TEXTOS DE AUTORES NISENSES (7): José Hilário - Na Romaria da Senhora da Graça




NA ROMARIA DE NOSSA SENHORA DA GRAÇA
Nunca uma Quaresma custou tanto a passar em casa dos Mendonças.
Todos esperavam ansiosamente pelo dia da romaria de Nossa Senhora da Graça. O pai queria ter um ajuste de contas, com o Corga de Nisa, pois o ano passado, junto à capela da senhora dos Prazeres, depois de uma acalorada discussão, este deu-lhe duas lambadas e chamou-lhe "montezinho.”
–Este ano vamos ver quem é o “montezinho”, remoía-se interiormente, mas sem dizer nada a ninguém. A mãe queria ir pagar uma promessa, por não lhe ter morrido o porco e ter vendido um bezerro. A filha pretendia andar por lá, livremente, com o namorado.
Na segunda-feira de Páscoa, de manhãzinha, lá partiram os três de merenda aviada.
Depois da missa, combinaram onde se deveriam encontrar para saborear os acepipes feitos de véspera.
O almoço foi rápido, todos tinham mais que fazer. Cada um foi para seu lado e ao encontro daquilo que pretendia.
A mulher, lá foi de joelhos, terço nas mãos, entre a capela da Senhora dos Prazeres e a da Senhora da Graça, ladeira acima, rezando.
O pai, por lá andou percorrendo as tabernas, bebendo uns copos, para ganhar coragem e ver se encontrava o velhaco do ano passado.
A filha não teve nenhuma dificuldade em encontrar o namorado.
Depois de ele jogar na rifa e de lhe oferecer uma santinha de açúcar, para lhe adoçar a boca, convidou-a a saírem do meio da multidão, para namorarem mais à vontade. Foram-se afastando, ela foi dizendo que não, mas lá por dentro o fogo era enorme e pouco tempo depois às escondidas dos olhares mais indiscretos, com rosmaninhos, estevas e giestas a servirem de esconderijo, com promessas de casamento à mistura, entre abraços e beijos, atingiram o “clímax”, nesta vida terrena.
- Este ano vieste tarde - disse o Mendonça assim que encontrou o Corga.
-Ainda venho muito a tempo de te repetir a lição do ano passado, respondeu-lhe o Corga com alguma fanfarronice.
Passado pouco tempo, ambos tinham o fato de sorrobeco sujo e roto, sangue na camisa e um cansaço de quem deu o melhor de si, para salvar a "honra do convento".
Deram e levaram, os amigos de cada um clamavam vitória, mas eles é que sentiam as cacetadas no lombo, a fatiota em mísero estado, toda lixosa.
No regresso, no lameiro do Nizorro, junto ao pontão, havia o tradicional baile ao toque de flauta, mas nenhum dos três tinha vontade de bailar.
Alguém perguntou: -Ó Mendonça então o que foi desta vez? Olhando para a casaca rasgada.
-Deram-me duas cacetadas na casaca.
-E onde tinhas tu a casaca?
-Tinha-a vestida, onde é que houvera de a ter.
Risota geral, galhofa e chacota à mistura, sem que o Mendonça, vislumbrasse onde estava tanta graça, mas enfim, siga a dança, que hoje é dia de Nossa Senhora da Graça.
Regressaram ao Pé da Serra, cansados, mas com as promessas cumpridas.
Durante toda a semana seguinte, sempre que o “Tonho” encontrava a Marianita, a conversa ia sempre dar ao mesmo.
-Então segunda-feira lá vamos à romaria da Senhora dos Prazeres?
-Ainda não sei, respondia ela, com frieza.
-Temos que ir, à dos Prazeres, desta vez sou eu quem tem que cumprir uma promessa -, justificava-se ele, com alguma ironia e um pensamento matreiro. Ela foi ouvindo, até que às tantas lhe disse:
-A dos Prazeres, já foi.

José Hilário / Setembro de 2005

19.4.17

NISA: Fomos à Romaria de Nossa Senhora da Graça





















Senhora da Graça (Nisa)
I
Nossa Senhora da Graça
Que lá está no seu altar
Dei-a saúde a quem passa
E a quem a seus pés vá rezar
II
E a sua romaria
Como ela não há igual
Pois coincide nesse dia
O Feriado Municipal.
III
Não há nada que mais realça
Do que uma linda romaria
E a de Nossa Senhora da Graça
Tem encanto e primazia.
IV
A tão linda romaria
Todo o povo vai em massa
Só para ver nesse dia
Nossa Senhora da Graça.
João de Matos Rico 

NISA: Romaria da Senhora da Graça 2017 (Confraternização)















Fui à Senhora da Graça
P´ra fazer a bailarada
Não apanhei par a jeito
Nem cantei a desgarrada.

Eu fui à Nossa Senhora
Para arranjar namorado
Afinal não arranjei
Não era do meu agrado.

Fui à Senhora da Graça
Levei para comer um bolo
Zanguei-me com o rapaz
Porque era muito tolo.

Fui à Senhora da Graça
Entropecei no caminho
Segurei-me a uma giesta
Mas colhi o rosmaninho.

Nossa Senhora da Graça
Tem escadas de cantaria
Gosto imenso de as subir
Até sinto alegria.

Com a saia azul clara
Fui à Senhora da Graça
De cachiné aos pescoço
Dançava-se nesta praça.

Com flauta e harmónio
Fazia-se a bailarada
Nossa Senhora da Graça
De todos é adorada.

Dantes ia tudo a pé
Fazer esta Romaria
Orando na sua graça
É de nós todos a guia.

Fui à Senhora da Graça
Apanhei uma perdiz
Sentei-me a depená-la
Na pedra de D. Dinis.

Fui à Senhora da Graça
Para ser minha madrinha
Ela ofereceu-me o seu manto
Bordado de prata fina.

Fui à Senhora da Graça
De chinelinha no pé
P´ra dança a de dois passos
E a do zumba laré.

Ficaste em Nisa velhinha
Mãe de bens de nossa graça
Dentro da tua ermida
Estás a proteger quem passa.

Nossa Senhora da Graça
Eram sete irmãs queridas
Avistam-se umas às outras
Dentro das suas ermidas.

Ó Nisa encantadora
Não és pobre como dantes
Nossa Senhora da Graça
Protege os emigrantes.

Nossa Senhora da Graça
Está cercada de olivais
Abençoai Portugal
Que é de todos os ideais.

Nossa Senhora da Graça
Mãe de Deus celestial
Dai-nos união com todos
Salvai nosso Portugal!

Maria da Graça Pinto

12.4.17

NISA: A FESTA DA SENHORA DA GRAÇA na descrição de José Francisco Figueiredo (2)

É a festa que mais fala ao coração dos nizorros. Assim se refere José Francisco Figueiredo à Romaria da Senhora da Graça, na sua “Monografia da Notável Vila de Nisa” publicada em 1956.
E, prossegue. “Ela atrai às pitorescas colinas – onde foi Nisa-a-Velha – as radiosas mocidades da nossa terra, e até os velhos não deixam de ir ali rememorar, com terna saudade, tempos que já ficam longe e não mais voltam”. De acordo com este autor, até 1718, a Romaria da Senhora da Graça começava em Nisa, percorrendo os romeiros, em procissão, os quatro quilómetros que distam de Nisa à Senhora da Graça. Foi a partir daquele ano que a procissão começou a organizar-se junto da ermida da Senhora dos Prazeres, como ainda hoje é feita. 
O professor José F. Figueiredo descreve, depois, todo o enquadramento festivo da romaria que, conta, começava logo ao amanhecer com o repicar dos sinos da Matriz e do relógio, que se confundiam com “as girândolas estralejantes dos foguetes. Às 9 horas, novos repiques e logo os acordes da filarmónica anunciavam a partida dos romeiros. Pouco depois, quase toda a população se ponha a caminho da ermida da Padroeira, calcorreando os quatro quilómetros do percurso com a prazenteira disposição.A pouco e pouco, as capelas (Senhora da Graça, Senhora dos Prazeres e Fiéis de Deus) e suas adjacências iam-se apinhando de densa multidão, tomando lugar, depois a procissão, que partia da Senhora dos Prazeres e seguia, entre alas compactas de povo, pela encosta, até ingressar na capela da Senhora da Graça, já repleta de devotos.Missa cantada e sermão. Depois, arraial, bailes em todos os adros e alpendres e, não raro, desordens a que a força armada tinha de pôr termo" .O regresso da romaria não era menos interessante, como escreve JF Figueiredo.
Os lavradores, acompanhados das consortes, que lhes cingiam o tronco com um dos braços, lá vinham nas suas éguas, esperançados na protecção da Virgem para o bom êxito das searas; as donzelas ombradas com os seus derriços, a idealizarem as venturas do próximo himeneu; os que, saudosos de outras romagens em época distante, foram relembrar dúlcidos momentos de prazer; os que a crença moveu a pedir e a agradecer; e todos alegrando os quatro quilómetros do trajecto, com a policromia do esbelto trajar, a gárrula vivacidade dos verdes anos ou o optimismo irradiante de sorrisos de maturidade.A chegada dos romeiros a Nisa era assinalada pelo estrondear dos foguetes e mais repiques."
E enquanto a filarmónica animava o burgo com a estridência de vivo passo-dobrado e os sinos do relógio prestavam a última homenagem do Município à padroeira, o jogo da pela – como no dia anterior – organizava-se nos lugares do costume, e toda a mocidade passava o resto da tarde em amistoso convívio e sadia diversão.” Nos bailes da romaria, animados pela jovialidade das moças de Nisa, Pé da Serra e outras aldeias próximas, nunca faltam as tradicionais quadras populares em honra da Virgem. Como estas que aqui deixamos:
   VAMOS À ROMARIA   
É dia de Romaria
É mais um dia que passa
Vamos lá com alegria
A Nossa Senhora da Graça

Eu sou um pobre emigrante
Que nunca esqueço este dia
E vim de terra distante
É dia de Romaria.

Vim a pé com devoção
Para te pedir a tua graça
E rezo minha oração
É mais um dia que passa.

Quero ir à procissão
Quero louvar este dia
Com amor e devoção
Vamos lá com alegria.

Abençoai os peregrinos
De humildes é nossa raça
Os velhos e os pequeninos
Nossa Senhora da Graça.

Vou a pé à Romaria
Rezando pelo caminho
Senhora dai-me alegria
Sou um pobre peregrino.
Fernando da Graça Pestana
A Romaria da Senhora da Graça através da História (I)
 - Carta ao Regente da Philarmonica Nizense
Tendo logar no dia 3 do proximo mes d´abril a festividade de Nª Sª da Graça, convido a Philarmonica a cargo de Vª Sª  a assistir à mesma festividade. As obrigações consistem, segundo o costume, em tocar no dia 2 à noite à porta dos Paços do Concelho e no dia 3 cantar a missa e tocar em arraial à porta da ermida de Nª Sª.
Deus guarde a Vª Sª - Niza, 29 de Março de 1893.
O vice -presidente da Camara: Manuel Caetano de Barros Castello Branco
- Carta ao Parocho da Matriz d´esta Villa
Para os devidos effeitos tenho a honra de levar ao conhecimento de Vª Sª que no dia 3 do proximo mez d´abril se ha de celebrar a festividade de Nª Sª da Graça e que será feita segundo o costume.
Deus guarde Vª Sª - Niza, 29 de Março de 1893
O vice-presidente da Camara: Manuel Caetano de Barros Castello Branco
NOTA: Por estes documentos se provam que a organização da Romaria da Senhora da Graça (e da Senhora dos Prazeres) e as respectivas celebrações religiosas era feita pela Câmara Municipal, que assegurava, aliás, a manutenção e reparações necessárias nas três ermidas (com a dos Fiéis de Deus). Foi assim até meados dos anos 40 do século passado, quando uma imposição do Ministério das Finanças - em cumprimento das directivas do Governo que obrigavam a passar para a posse da Igreja todos os edifícios cultuais - determinou a entrega desses imóveis por parte da Câmara.
A autarquia sob a presidência do Dr. José Beato Caldeira Miguéns ainda "resistiu" durante dois anos, adiando, como pode, legalmente, a passagem desses bens de culto - que tanto diziam aos nisenses - para as mãos do Estado e destas para a Igreja. Mas, reafirmamos, o que sempre temos dito: a Senhora da Graça (tal como a dos Prazeres) nunca pertenceu à Igreja e nunca foi tida nem achada nos pretensos conflitos e "roubos" existentes em tempos históricos como a Revolução Liberal ou a Implantação da República. Os documentos existentes atestam-no de forma insofismável. Esta é a verdade sobre a Senhora da Graça que todos os nisenses devem conhecer.
Mário Mendes