Poema
Melancólico a não sei que Mulher
Dei-te
os dias, as horas e os minutos 
Destes
anos de vida que passaram; 
Nos
meus versos ficaram 
Imagens
que são máscaras anónimas 
Do
teu rosto proibido; 
A
fome insatisfeita que senti 
Era
de ti, 
Fome
do instinto que não foi ouvido. 
Agora
retrocedo, leio os versos, 
Conto
as desilusões no rol do coração, 
Recordo
o pesadelo dos desejos, 
Olho
o deserto humano desolado, 
E
pergunto porquê, por que razão 
Nas
dunas do teu peito o vento passa 
Sem
tropeçar na graça 
Do
mais leve sinal da minha mão... 
Miguel Torga, in 'Diário VII'