13.3.16

DO ALTO DO TALEFE (7): Nunca há só um teimoso...

Ao ir para o Talefe cruzei-me com vários jovens, com ar de quem já arrumou os livros e os cadernos e se preparam para gozar umas férias merecidas. Foram eles que me deram o pretexto para a crónica de hoje, pois logo me veio à lembrança os exames e a greve dos professores universitários que impediu a realização das provas específicas que dão acesso à Universidade.
Num país onde o melhor capital é o capital humano, a elite dos professores é paga a níveis de tal forma caricatos que põem em causa a dignidade da função docente. Apesar dos discursos políticos aparecerem como prioridade do desenvolvimento a Educação, a verdade é que nenhum ministério teve tantos ministros como o da educação. Não quero exagerar mas desde que Cavaco Silva é primeiro-ministro, pela sede do ministério passaram mais de méis dúzia de ministros, mantendo todos eles um discurso de progresso e uma prática de retrocesso. Até que, é entregue a uma senhora de nome Ferreira, que sabendo fazer contas, se recusa a dialogar com quem no dia a dia vai formando os futuros dirigentes. Os professores avisam que se não houver diálogo não há exames e a senhora ministra, à moda do professor antigo diz que quem manda é ela e que se os exames não se fazem hoje, fazem-se amanhã, que se não há dois professores para uma sala, um serve perfeitamente para vigiar três salas, se os alunos ficam angustiados com o fazer ou não os exames isso é problema dos professores que fazem greve.
Os professores, já se vê, dizem que a angústia dos exames é culpa da ministra, que não recebe para dialogar e entretanto a oposição diz que as gravuras do Côa não sabem nadar, e cientistas internacionais ligados à arte rupestre dizem que algumas delas podem ter sido gravadas a canivete há bem pouco tempo.
Uns dizem que a barragem tem de ser feita, outros que não, as gravuras são o que o país tem de mais importante.
Na sala de reuniões da Câmara uns dizem que sim e outros dizem que não e por vezes se dá terminada a sessão da Câmara sem se saber se sim ou se não, relativamente a vários assuntos de interesse para a generalidade dos munícipes.
A discussão é saudável, quanto mais não seja porque ajuda a libertar a bílis de alguns e no dizer de outros, é dela que surge a luz; mas de uma discussão de teimosos, no plural, porque nunca há só um teimoso, a luz que surge é tão fraquinha que dificilmente deixa perceber se quem discute pertence à espécie que desenvolveu as suas capacidades em salas de aula, ou se pertence a uma espécie de híbridos não catalogados por Darwin.
Vamos de férias, vamos para eleições e esperamos que do mesmo modo que as queimadas no talefe regeram os terrenos, fazemos votos para que o calor deste Verão regenere os teimosos e os faça ver na relatividade simples das coisas que assim como nascem também morrem e que as energias de todos são bem mais necessárias para causas úteis, que para confrontos estéreis e inúteis entre teimosos.
Zé de Nisa in "Notícias de Nisa"- 14/7/1995