Ao ir para o Talefe cruzei-me com vários jovens, com ar de
quem já arrumou os livros e os cadernos e se preparam para gozar umas férias
merecidas. Foram eles que me deram o pretexto para a crónica de hoje, pois logo
me veio à lembrança os exames e a greve dos professores universitários que
impediu a realização das provas específicas que dão acesso à Universidade.
Num país onde o melhor capital é o capital humano, a elite
dos professores é paga a níveis de tal forma caricatos que põem em causa a
dignidade da função docente. Apesar dos discursos políticos aparecerem como
prioridade do desenvolvimento a Educação, a verdade é que nenhum ministério
teve tantos ministros como o da educação. Não quero exagerar mas desde que
Cavaco Silva é primeiro-ministro, pela sede do ministério passaram mais de méis
dúzia de ministros, mantendo todos eles um discurso de progresso e uma prática
de retrocesso. Até que, é entregue a uma senhora de nome Ferreira, que sabendo
fazer contas, se recusa a dialogar com quem no dia a dia vai formando os
futuros dirigentes. Os professores avisam que se não houver diálogo não há
exames e a senhora ministra, à moda do professor antigo diz que quem manda é
ela e que se os exames não se fazem hoje, fazem-se amanhã, que se não há dois
professores para uma sala, um serve perfeitamente para vigiar três salas, se os
alunos ficam angustiados com o fazer ou não os exames isso é problema dos
professores que fazem greve.
Os professores, já se vê, dizem que a angústia dos exames é
culpa da ministra, que não recebe para dialogar e entretanto a oposição diz que
as gravuras do Côa não sabem nadar, e cientistas internacionais ligados à arte
rupestre dizem que algumas delas podem ter sido gravadas a canivete há bem
pouco tempo.
Uns dizem que a barragem tem de ser feita, outros que não,
as gravuras são o que o país tem de mais importante.
Na sala de reuniões da Câmara uns dizem que sim e outros
dizem que não e por vezes se dá terminada a sessão da Câmara sem se saber se
sim ou se não, relativamente a vários assuntos de interesse para a generalidade
dos munícipes.
A discussão é saudável, quanto mais não seja porque ajuda a
libertar a bílis de alguns e no dizer de outros, é dela que surge a luz; mas de
uma discussão de teimosos, no plural, porque nunca há só um teimoso, a luz que
surge é tão fraquinha que dificilmente deixa perceber se quem discute pertence
à espécie que desenvolveu as suas capacidades em salas de aula, ou se pertence
a uma espécie de híbridos não catalogados por Darwin.
Vamos de férias, vamos para eleições e esperamos que do
mesmo modo que as queimadas no talefe regeram os terrenos, fazemos votos para
que o calor deste Verão regenere os teimosos e os faça ver na relatividade
simples das coisas que assim como nascem também morrem e que as energias de
todos são bem mais necessárias para causas úteis, que para confrontos estéreis
e inúteis entre teimosos.
Zé de Nisa in "Notícias de Nisa"- 14/7/1995