Mostrando postagens com marcador poema. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador poema. Mostrar todas as postagens

1.6.24

SAUDAÇÃO: Dia Mundial da Criança


 
MEUS OITO ANOS  
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida, 
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores, 🌻
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras, 🌴
Debaixo dos laranjais!

Como são belos os dias
Do despontar da existência!
– Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é – lago sereno, 🌅
O céu – um manto azulado,
O mundo – um sonho dourado,
A vida – um hino d’amor! 💕

Que aurora, que sol, que vida,
Que noites de melodia 
Naquela doce alegria,
Naquele ingénuo folgar!
O céu bordado d’estrelas, 🌠
A terra de aromas cheia
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar! 🌜

Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã! 🌄
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã! 😘

Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberta o peito,
– Pés descalços, braços nus – 🏃
Correndo pelas campinas
A roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis! 

Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias, 🙏
Achava o céu sempre lindo.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!

Oh! que saudades que tenho 
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais! ⌛
– Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
A sombra das bananeiras
Debaixo dos laranjais! 

* Casimiro de Abreu

8.3.24

8 MARÇO : poema para uma poetisa palestina

URGENTE: NOTÍCIA DA MORTE DE HEBA ABU NADA 
Desculpai-me a urgência, ó seres
bem pensantes, em particular
os poetas translúcidos
e autorreferentes,
mas uma irmã nossa,
a poeta palestina Heba Abu Nada,
acaba de morrer em Gaza sob os estilhaços de uma bomba benevolente,
enviada por outro Deus,
diferente daquele com quem ela conversava
todos os dias.

Hesitei em transmitir-vos tão pressurosamente
esta fatídica notícia. Deveria, talvez, aguardar
que se dissipasse o fumo cinzento-chumbo da bomba que a matou,
enquanto ela, por certo,
perscrutava o céu em busca de uma nesga de luz e,
quem sabe,
dos últimos pássaros.

Ou, mais curial ainda, 
seria melhor não dizer nada,
enquanto os contemporâneos oráculos hegemónicos,
como todos os oráculos,
não fizessem circular um comunicado independente
a confirmá-lo sem quaisquer dúvidas
ou questionamentos incómodos.

Porém, quando li
as derradeiras palavras de Heba Abu Nada antes de morrer,
apressei-me a espalhar esta notícia,
antes que o seu bilhete fosse censurado
pelos defensores da liberdade seletiva:

“Se morrermos, saibam que estamos alegres e firmes,
pois somos pessoas de verdade!”

* João Melo (Poeta angolano)

14.2.24

POEMA PARA TODOS OS DIAS DO ANO


Soneto do Amor Total
Amo-te tanto, meu amor… não cante
O humano coração com mais verdade…
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade

Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente,
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim muito e amiúde,
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

* Vinícius de Moraes
** Pintura naif de Augusto Pinheiro

2.1.24

Poema para um Ano Novo (II)

 


ANO NOVO
Meia-noite. Fim
de um ano, início
de outro. Olho o céu:
nenhum indício.
Olho o céu:
o abismo vence o
olhar. O mesmo
espantoso silêncio
da Via-Láctea feito
um ectoplasma
sobre a minha cabeça
nada ali indica
que um ano novo começa.
E não começa
nem no céu nem no chão
do planeta:
começa no coração.
Começa como a esperança
de vida melhor
que entre os astros
não se escuta
nem se vê
nem pode haver:
que isso é coisa de homem
esse bicho
estelar
que sonha
(e luta).
 * Ferreira Gullar


3.8.23

PÉ DA SERRA: Poema da Aldeia em Festa

Estrela da noite, a primeira,
Alumia o nosso andar.
Empresta cor à canseira
Dum alegre caminhar.
Sê o farol dos valados
E dos ermos descampados!

Nas abas sós dos cabeços,
À meia-encosta dos cêrros,
Por entre a urze e os codessos
E os uivos tristes dos pêrros
Continua o nosso andar:
Um alegre caminhar!

Sob a luz meiga da lua,
Falando em coisas passadas
Recordámos, alma nua,
Tuas pobres mascaradas
Que são a parca iguaria
Das horas do dia-a-dia...

Oiço foguetes no ar
Na aldeia que fica perto.
É a festa a rebentar
Ao ritmo rasgado e certo
Do coração aldeão:
É noite de São Simão!

Arraial, fogo, arraial,
Baile, música, raparigas,
Alegra-se o festival
No som em coro das cantigas
Que não cessam. Desgarradas
Vêm morrer nas quebradas...

Ó noite feita de terra
Aldeia sã da vertente
Fantasmagórica serra
Não sepultes pobre gente
Que te adora e te venera
Em dias de Primavera!

Quando tu, toda florida,
Ostentas com garbo ledo
A seiva ardente da vida,
O aldeão mudo e quedo,
De olhos no horizonte
Reza por ti, fértil monte...

Até mesmo a água pura
Tu lhe dás ó cêrro amado.
Matas também a secura
Que estragos tem provocado
Nos campos por onde habita
Como uma loba maldita!

Sobem ao ar os morteiros,
Os pares dançam, vibrantes...
Escoam-se pelos outeiros
Os sons dos tiros berrantes
Que iluminam descampados
E os perfis nus dos valados...

II
De manhã, logo cedinho,
Nos sentámos sós, na fonte.
Não tardou que no caminho
As moças lindas do monte
Nos fizessem tresloucar
E, por momentos, amar...

Rostos belos, olhos, olhos,
Como jamais inda eu vira,
Nascidos de entre os abrolhos
Que a mão de Deus repartira!
Extasiado fiquei...
Contemplativo, eu amei!

Amei sim, enquanto os vi,
Olhos negros meu sonhar.
Amei sim, quando os senti
Perto dos meus, perturbar...
Que lindos eram teus olhos,
Meu amor, entre os abrolhos...

A mão no leve quadril,
O pote cheio na cabeça,
Voante saia de anil
Gentil andar não tropeça:
São as moças lá do monte
Que vão, de manhã, à fonte!

Vem a noite, cai a noite,
Vai-se o dia, vem o dia,
E às vezes, como um açoite,
O vento norte assobia...
Mas na aldeia entretida
Ninguém pára, sempre há Vida!

Nisa, Setembro de 1956
* Carlos Franco Figueiredo

Publicado no "Boletim da Casa do Alentejo" em 1957, sob o título de "Poema do Pé da Serra".


8.3.23

8 de Março: DIA INTERNACIONAL DA MULHER

 
Menina e Moça
Está naquela idade inquieta e duvidosa,
Que não é dia claro e é já o alvorecer;
Entreaberto botão, entrefechada rosa,
Um pouco de menina e um pouco de mulher.

  Às vezes recatada, outras estouvadinha,
Casa no mesmo gesto a loucura e o pudor;
Tem coisas de criança e modos de mocinha,
Estuda o catecismo e lê versos de amor.

 Outras vezes valsando, e seio lhe palpita,
De cansaço talvez, talvez de comoção.
Quando a boca vermelha os lábios abre e agita,
Não sei se pede um beijo ou faz uma oração.

 Outras vezes beijando a boneca enfeitada,
Olha furtivamente o primo que sorri;
E se corre parece, à brisa enamorada,
Abrir asas de um anjo e tranças de uma huri.

  Quando a sala atravessa, é raro que não lance
Os olhos para o espelho; e raro que ao deitar
Não leia, um quarto de hora, as folhas de um romance
Em que a dama conjugue o eterno verbo amar.

  Tem na alcova em que dorme, e descansa de dia,
A cama da boneca ao pé do toucador;
Quando sonha, repete, em santa companhia,
Os livros do colégio e o nome de um doutor.

  Alegra-se em ouvindo os compassos da orquestra;
E quando entra num baile, é já dama do tom;
Compensa-lhe a modista os enfados da mestra;
Tem respeito a Geslin, mas adora a Dazon.

  Dos cuidados da vida o mais tristonho e acerbo
Para ela é o estudo, exceptuando talvez
A lição de sintaxe em que combina o verbo
To love, mas sorrindo ao professor de inglês.

  Quantas vezes, porém, fitando o olhar no espaço,
Parece acompanhar uma etérea visão;
Quantas cruzando ao seio o delicado braço
Comprime as pulsações do inquieto coração!

  Ah! se nesse momento alucinado, fores
Cair-lhes aos pés, confiar-lhe uma esperança vã,
Hás-de vê-la zombar dos teus tristes amores,
Rir da tua aventura e contá-la à mamã.

  É que esta criatura, adorável, divina,
Nem se pode explicar, nem se pode entender:
Procura-se a mulher e encontra-se a menina,
Quer-se ver a menina e encontra-se a mulher! 

 * Machado de Assis 
IMAGEM : Manuel Ribeiro de Pavia


1.1.23

1 DE JANEIRO: Dia Mundial da Paz

CANTO CIVIL
Este é o meu canto civil
canto cívico graduado
desde um tempo antigo que vivi
entre poemas de aço camuflados e algemas de silêncio

Esse era o tempo do assalto às casernas
mas já então eu escrevia o que devia:
a cartilha da guerrilha do amor e da paz
para ser ensinada à luz das lanternas
nas escolas nas igrejas na parada dos quartéis

Este é o meu canto civil
canto cívico desfardado
escrito a vinte e cinco e oito de abril
do ano passado à noite
de punho cerrado com alegria e sem espanto
canto para ser cantado de dia
por todos por muitos por mim ou por ninguém:
Soldado raso
ao cimo da calçada
em guarda
de flor e farda
a flor que te damos
é pão da madrugada

É pão amassado
sem liberdade
é gesto de guerra
em nome da paz
É flor de canção
em terra mar e ar
rubra flor popular
num só cano de espingarda

Soldado raso
em sentido na memória
lembra-te de novo e sempre
a flor que te damos
é da terra é do povo
é pão da madrugada.

Orlando da Costa


Poema para o Novo Ano

RECEITA DE ANO NOVO
Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

*Carlos Drummond de Andrade 
"Receita de Ano Novo". Editora Record. 2008


4.12.22

HOJE É DIA DE SANTA BÁRBARA

 
* Só se lembram de Santa Bárbara quando troveja
* Santa Bárbara por responso ou devoção afasta os raios para os montes que não dão palha nem pão.
* Só se lembram de Santa Bárbara quando fazem trovões.
Os abades do mosteiro de Santa Bárbara tinham realizado votos de silêncio, com uma excepção: só podiam emitir as palavras da divindidade que dava nome à sua ordem, ou seja, «Santa Bárbara». Outra particularidade era o facto da sua dieta ser bastante simples, constituída apenas por feijão com arroz ao pequeno-almoço, almoço, lanche e jantar. Tal facto aumentava os índices de flatulência a níveis irrespiráveis. Com tal dieta, a tarde era "perfumada" com uma sucessão de traques por toda a abadia. A isto juntavam-se os gritos de «Santa Bárbara», como que dizendo «Irmão Albertino, que cheiro é esse que emanas do teu corpo? Irra! Parece que o Demo morreu dentro de ti».
Na localidade próxima de Santa Teresinha de Baixo, os habitantes já se tinham habituado aos barulhos que surgiam sempre a seguir ao almoço. Além de escutarem os gritos de «Santa Bárbara», ouviam o "ribombar dos tambores" do que eles julgavam ser uma trovoada. Até que um habitante proferiu as sábias palavras de «aqueles só se lembram de Santa Bárbara, quando troveja». Vem daí o provérbio.
in aorigemdosproverbios.blogspot.com
NOTA: Esta é, apenas, uma versão, "humorística" sobre a origem do provérbio

PODER CRER EM SANTA BÁRBARA
Esta tarde a trovoada caiu
Pelas encostas do céu abaixo
Como um pedregulho enorme...
Como alguém que duma janela alta
Sacode uma toalha de mesa,
E as migalhas, por caírem todas juntas,
Fazem algum barulho ao cair,
A chuva chovia do céu
E enegreceu os caminhos ...

Quando os relâmpagos sacudiam o ar
E abanavam o espaço
Como uma grande cabeça que diz que não,
Não sei porquê — eu não tinha medo —
pus-me a rezar a Santa Bárbara
Como se eu fosse a velha tia de alguém...

Ah! é que rezando a Santa Bárbara
Eu sentia-me ainda mais simples
Do que julgo que sou...
Sentia-me familiar e caseiro
E tendo passado a vida
Tranqüilamente, como o muro do quintal;
Tendo idéias e sentimentos por os ter
Como uma flor tem perfume e cor...

Sentia-me alguém que nossa acreditar em Santa
Bárbara...
Ah, poder crer em Santa Bárbara!

(Quem crê que há Santa Bárbara,
Julgará que ela é gente e visível
Ou que julgará dela?)

(Que artifício! Que sabem
As flores, as árvores, os rebanhos,
De Santa Bárbara?... Um ramo de árvore,

Se pensasse, nunca podia
Construir santos nem anjos...
Poderia julgar que o sol
É Deus, e que a trovoada
É uma quantidade de gente
Zangada por cima de nós ...
Ali, como os mais simples dos homens
São doentes e confusos e estúpidos
Ao pé da clara simplicidade
E saúde em existir
Das árvores e das plantas!)

E eu, pensando em tudo isto,
Fiquei outra vez menos feliz...
Fiquei sombrio e adoecido e soturno
Como um dia em que todo o dia a trovoada ameaça
E nem sequer de noite chega.

* Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema IV"
Heterónimo de Fernando Pessoa


21.9.22

Um poema para a PALESTINA!

 
TEU NOME, PALESTINA
Teu nome, Palestina
Corre o Mundo nos
Lábios solidários e
Nas mãos que anseiam
Cidades de crianças
Sem medo.

Teu nome, Palestina
Resiste entre escombros
E rios de sangue
Na custosa esperança
De vencer o tempo
Das flores esmagadas.

Teu nome, Palestina
Também faz parte de mim:
Não é possível sorrir
Se choras; não consigo
Cantar se morres. Teu nome, Palestina
Lembra a luta dos que buscam
Na liberdade o afago da paz
o voo da sabedoria
o elixir da vida contra
os tanques e os canhões
dos opressores.

Teu nome, Palestina
É a lágrima e o grito
De um povo sufocado
Pelo roubo do futuro
Sempre adiado.

Teu nome, Palestina
É uma rosa de cinzas
Sonho teimoso
No coração dos que não
Se rendem dos que não
Se vendem dos que não
Desistem!
* Luís Filipe Maçarico

12.6.22

Quando a Poesia expõe a urgência de combater o Trabalho Infantil


 Infância perdida
É tempo de ir à escola
Há tanto para aprender
Deram-te a linha e a cola
Mas não tempo para crescer.

Vês a alegre correria
Meninos na brincadeira
Mas tu passas todo o dia
Sentado nessa cadeira

Sem tempo para o que gostas
Nem momentos de lazer
Não endireitas as costas
Tens trabalho para fazer.

O patrão é exigente
Quer os sapatos bem feitos
Para ele tu não és gente
E não tens quaisquer direitos.

Não sabes o que são férias
E o pouco que paga à peça
Só agrava as misérias
Por estranho que pareça.

Deixa marcas para a vida
Esse ciclo vicioso
A tua infância perdida
É um tempo precioso

É tempo de ir à escola
Há tanto para aprender
Deram-te a linha e a cola
Mas não tempo para crescer.
* João Alberto Roque


19.3.22

19 MARÇO - Poema para o Dia do Pai

 
Pai...
É aquele que nos dá a vida,
sem pedir nada em troca.
É quem cuida de nós, dando-nos amor e protecção.
É quem nos guia, até termos asas para voar...
Pai, é aquele que deixa de comer para nos dar,é quem se levanta cedo, e vai trabalhar,
para nada nos faltar.
Pai, é quem nos dá um grande sorriso, e um forte abraço.
Pai, é quem brinca connosco, é quem diz sim,
mas que também, diz não!
Pai, é aquele que mesmo não estando presente,
tem sempre o filho , no pensamento, e no coração.
Pai é aquele que nos transmite tanto com o seu olhar...
transmite-nos amor, segurança, alegria...
também, tristezas e preocupações,são tantas as emoções!
Pai, é aquele homem que ri,
que grita, e que também chora!
Pai, é um amor para toda a vida,
é único, amigo e verdadeiro!!!

"Obrigado pai, por existir, e por me ter feito existir também!"P.S-Dedico a todos os pais,e em especial ao meu: Manuel Nunes da Conceição.
Ana Paula Mendes Nunes da Conceição Horta
19 de Março de  2022


9.1.22

A PANDEMIA: Testemunho em forma poética, de um nisense

A PANDEMIA - Síntese
 
Na solidão do isolamento imposto pela Pandemia, cada pessoa dá expressão ás emoções que  o assaltam. Os vários canais de comunicação vão-nos informando da evolução da doença e  dos esforços feitos pela Ciência e pelos políticos para repor a normalidade. Com o passar do  tempo, surge o cansaço, mas a esperança em dias melhores mantém-se. Aqui, fica o meu  testemunho para as gerações futuras. 
João R. 
 
A PANDEMIA 
Num lindo dia de sol primaveril, a Pandemia chegou,
E estabeleceu-se na nossa vida sem, ao menos, pedir licença.
O sossego mundial, a saúde e os sentimentos abalou,
Mas a confiança e a força de vontade não sofrerão descrença! 
I  
Estávamos tão preocupados a evoluir a Economia,  
Procurando, avidamente, consumir o máximo de conforto, 
Quando um minúsculo vírus, invisível, feio, horrendo e torto, 
Entrou pela janela do quarto onde, placidamente, eu dormia. 
O Mundo acordou em sobressalto com a força da epidemia! 
 Medo, desorientação e tristeza de todos se apossou. 
Reagimos com ânimo, combatendo o mal que nos assolou. 
Não sabemos porque a Natureza nos castigou tanto, sem dó… 
Apenas que resistiremos e, na história, ficará só:  
Num lindo dia de sol primaveril, a Pandemia chegou! 
II  
A Ciência corre contra o tempo pra criar uma vacina; 
O Trabalho se adapta para criar novas formas de fazer; 
A Educação usa novas técnicas para transmitir saber; 
Curar e atenuar as dores é tarefa para a Medicina; 
As Autoridades empenham-se pra manter a ordem que declina.
 A Humanidade se aliou para combater esta doença, 
Que deixará marcado nas consciências uma nova crença:  
De que a condição humana é frágil e precisamos de unidade, 
Para vencer a Pandemia, que chegou como calamidade, 
E estabeleceu-se na nossa vida sem, ao menos, pedir licença.
III  
Aqueles que criaram prosperidade e fartura no passado  
Estão confinados em casa, p´ra que a epidemia não alastre  
E o nosso sistema social desabe e se torne num desastre. 
Não podemos mais abraçar e beijar os netinhos (que maldade!); 
E a ausência tortura o coração de angústia trespassado. 
O tempo passa devagar… coragem! que a vida não acabou! 
Nada mais será como dantes! Aproveitemos o que sobrou! 
A Covid-19 entrou com estrondo e puniu a sociedade; 
Mudou o nosso olhar, aumentou a desconfiança e, sem piedade,
O sossego mundial, a saúde e os sentimentos abalou. 
IV  
Mesmo na noite mais escura, há sempre uma pequena luz que brilha.
Vamos todos dar as mãos e combater, com inteligência forte,
 Esta calamidade brutal que o Destino nos deixou em sorte. 
Com solidariedade, ardor, trabalho e espírito de partilha, 
A sociedade vai reerguer-se mais forte e seguir a trilha. 
Não cruzamos os braços! Não aceitamos o Mal como sentença!
 Irmanados num ideal humanista, de amizade e pertença, 
Lutaremos sem tréguas, com todas as armas! Com unhas e dentes!
A Pandemia vai deixar-nos mais pobres… muito mais resistentes, 
Mas a confiança e a força de vontade não sofrerão descrença! 
(João R.)


1.1.22

POEMA PARA UM NOVO ANO - Miguel Torga

 
RECOMEÇO

Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças…

Miguel Torga


9.7.21

9 de Julho - Pela Paz e pelo Desarmamento universal


ARMA SECRETA
Tenho uma arma secreta
ao serviço das nações.
Não tem carga nem espoleta
mas dispara em linha recta
mais longe que os foguetões.

Não é Júpiter, nem Thor,
nem Snark ou outros que tais.
É coisa muito melhor
que todo o vasto teor
dos Cabos Canaverais.

A potência destinada
às rotações da turbina
não vem da nafta queimada,
nem é de água oxigenada
nem de ergóis de furalina.

Erecta, na noite erguida,
em alerta permanente,
espera o sinal da partida.
Podia chamar-se VIDA.
Chama-se AMOR, simplesmente.

António Gedeão


20.6.21

20 DE JUNHO - Dia Mundial do Refugiado

 
SOU EMIGRANTE
Sou Imigrante dalém
Lá do outro lado do oceano
Forçado a abandonar o país
Sim o país de origem
Que há séculos venho lutando
Querendo viver
Batendo as portas nunca descerradas
Sempre encerradas
Não tenho terra
Lá de onde eu venho
Do qual vós chamais
ou dizeis ser minha terra…
Eu era igual uma flecha
Querendo ir pra frente
Eu era cada vez mais puxada pra trás
Com mais força!
E de tanto me puxarem
Fui lançada veementemente
Para atingir o alvo
E vim aqui parar!
Sou Imigrante
Não tenho terra
Tudo é terra
Não importa se aqui ou lá!
Quem dera que não houvessem fronteiras!
Quem dera que não houvessem leis
Leis essas que nos prendem, Separam,
Hostilizam, injuriam e abalam!
Oh, se não houvessem fronteiras
Divisões geográficas
E que todos os homens fossem só homens!
Sem distinção de cores, raças, nacionalidades!
Que culpa tenho eu em ser Preto ou branco?
Cristão ou muçulmano? Hindu ou Budista?
Judeu ou Samaritano?
Se talvez as raças negra ou branca, não existissem!
Na verdade, não existem
O que apenas existe é…
Raça humana!
Sou Imigrante, emigrante, migrante
Resistente, com força pra viver, almejando viver
Sou resistível como um Leão da África
Tenho garras de um falcão do mato
Sou persistente como a onda movível
Porém, me respeitem!
Só quero viver a vida…
Porque a terra é nossa, de todos nós
Feito por Deus e entregue à todos os homens
Não importa se aqui ou lá!

Moisés António (poeta angolano)
Cartoon de Vasco Gargalo

1.6.21

DIA MUNDIAL DA CRIANÇA - Poemas (1) - Sérgio de Sousa Bento

O pequeno saltimbanco
O pequeno saltimbanco
entrou na pista fez piruetas
contou duas anedotas sem palavras

e as pessoas choraram
choraram tanto como se rissem em gargalhadas
toda a gente sentiu o drama
do pequeno saltimbanco

mas as lágrimas foram demais
disseram os diários da manhã nocturna
o público afogou-se
num oceano de lágrimas sinceras

todas pelo pequeno saltimbanco

pelo pequeno saltimbanco
que tinha uma flor vermelha na lapela
e uma cicatriz acentuada na face esquerda
e que contava anedotas sem palavras
e provocava dilúvios nas cidades mortas
nas cidades mortas como a nossa cidade.

Sérgio de Sousa Bento – Lisboa 10 - 1964

* Quadro de Pablo Picasso - Uma família de saltimbancos (1905)

2.5.21

POEMA PARA O DIA DA MÃE

 


Mãe:

Que desgraça na vida aconteceu,

Que ficaste insensível e gelada?

Que todo o teu perfil se endureceu

Numa linha severa e desenhada?


Como as estátuas, que são gente nossa

Cansada de palavras e ternura,

Assim tu me pareces no teu leito.

Presença cinzelada em pedra dura,

Que não tem coração dentro do peito.


Chamo aos gritos por ti — não me respondes.

Beijo-te as mãos e o rosto — sinto frio.

Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes

Por detrás do terror deste vazio.

Mãe:

Abre os olhos ao menos, diz que sim!

Diz que me vês ainda, que me queres.

Que és a eterna mulher entre as mulheres.

Que nem a morte te afastou de mim!


Miguel Torga, in 'Diário IV'

Gravura de Cipriano Dourado (1954)

POEMA PARA O DIA DA MÃE

 
Amor de Mãe,
Sentimento tão puro e verdadeiro
Esse amor que nos ensina a viver
E nos ajuda a crescer!

O amor de Mãe atravessa fronteiras
Vence todas as barreiras!
Amor de Mãe
Esse amor tão grande
Que te faz sorrir, amar e chorar,

Mãe,
Se tantas vezes me dizes “Não”
É porque tens sempre razão.
Se me dizes “Sim”
É por saberes sempre o melhor para mim.

Mãe, quando me olhas e sorris
Tens tanto para me dizer.
O teu olhar terno e sorriso doce
Transbordam de “Amor de Mãe”
E, acredita Mãe, que me faz tão tem!

Se estou doente e triste,
As tuas palavras curam-me as feridas.
Os teus beijos e abraços
Atenuam a minha dor
E só tu consegues isso
Com o teu “Amor de Mãe”.

Amor esse tão forte e pioneiro
De entre todos, o primeiro
O maior e melhor do mundo inteiro.

Por tudo isto e muito mais
Já vale a pena viver
Nem que seja só para sentir
O teu amor de mãe.

* Dedico a todas as Mães, às mães biológicas, às mães do coração e em especial à minha querida Mãe Maria Antónia Estrada Mendes da Conceição.

Ana Paula Mendes Nunes Da Conceição Horta
2 de Maio de 2021