A excitação começava na véspera. Havia sempre alguém entre a
mocidade, que ia dar uma vista de olhos pelos eucaliptais, para escolher o
pau, que no seu entender melhor servia para pôr de pé, na Praça Nuno Álvares. A
seguir, juntavam-se (sempre rapazes solteiros) para saber quem havia de entre
eles, ir a casa do lavrador, pedir o eucalipto escolhido. É claro que
normalmente, esse pedido era atendido. Depois, a rapaziada voltava a reunir e a
segunda etapa, constava em saber quem havia de emprestar o carro de bois, que
transportaria o “gigante”, até à dita praça.
Cumpridas estas diligências, lá iam eles alegres e bem
dispostos. Quando regressavam, pela madrugada fora, em grande algazarra e já
munidos do essencial, começava a grande prova de força e jeito, quando ainda
antes do nascer do sol, o povo se levantava, havia sempre curiosidade em saber se
o mastro estava de pé, se era grosso ou delgado. Passado este grande dispêndio
de energias, lá iam todos tomar banho e vestir o fato domingueiro, para irem
até à capela do Senhor Salvador do Mundo, situada no campo. Havia que ir matar
sardaniscas, para atirar para cima das cachopas quando estas andavam a apanhar
a espiga! Isto, enquanto não chegava a hora da missa, altura em que um lavrador
da terra, levava até lá o seu rebanho, para que o leite ordenhado ali mesmo,
fosse distribuído gratuitamente pelos pobres.
Acabada a missa, todos se reuniam numa alegre e sã
camaradagem, juntando os farnéis e todos comendo e bebendo cada qual, aquilo
que lhe apetecia.
Agora, quase tudo mudou, o dia, os costumes e este ano, nem
o mastro teve a sua ascensão!...
Jorge Pires – in “O Pregão” – 30/5/1994