Assim, esta foi tomada como molde embora ainda fosse necessário muito
trabalho para transformá-la numa impressora tipográfica. As imagens e os textos
eram feitos numa chapa só, como se fosse um grande carimbo onde as frases dos
textos eram compostas por várias letras individuais. A evolução, como tudo na
vida, não parou e hoje falar dos métodos de Gutenberg é como que falar da
“pré-história”, embora ainda existissem há poucas décadas.
Estes custos fixos de
produção, para uma edição livreira, tinham que ser diluídos por uma quantidade
económica de exemplares editados. Hoje, graças à evolução das tecnologias de
todo o processo, podem fazer-se edições de pequenas quantidades das obras
literárias e recorre-se a um conjunto variado de “truques” para tornar mais
apelativos os livros e cativarem os compradores e leitores. Desde as capas dos
livros, o seu colorido e motivos dão um forte contributo ao impulso de comprar
e até ler, mas também o tipo de letra, disposição das páginas, etc, em nada se
comparam com as edições do passado, extremamente massudas.
Aliada a estas técnicas
de venda, a entrada no mercado das “Grandes Superfícies – vulgo Híper e Supermercados,
mas não só”, que disponibilizam os livros “à mão” do comprador e leitor, matou
as livrarias tradicionais, e tornou os livros mais acessíveis e mais baratos.
Contudo, a quantidade de obras confunde os potenciais leitores, ainda mais com
a concorrência, que os livros sofrem, face a outros meios e outra oferta de
lazer. Edita-se muito, de autores que ninguém conhece, nacionais e
estrangeiros, e a qualidade literária não saiu favorecida. Muitas vezes,
compramos um livro, ou levantamo-lo numa biblioteca, e a desilusão surge,
porque a história, a forma de escrita, etc, não justifica o dispêndio de tempo,
ele próprio tão escasso. Por isso, os monos literários, isto é, livros sem
comprador ou rejeitados pelos leitores tem, como destino final, a destruição
das resmas de papel gastas com a sua produção. Grande desperdício dos livros
que ninguém lê…
Obviamente que há as
exceções e, muitas vezes, donde menos se espera. E eu tenho tido a sorte de
“descobrir” autores que me surpreendem com obras de que acabo por gostar muito
de ter lido. E alguns, como disse, são desconhecidos ou não “badalados” com os
prémios literários atribuídos a outros e que acabam por nos frustrar, quando os
lemos. É um facto que o hábito de leitura tem vindo a decrescer assustadoramente
nas culturas “ocidentais”, porque os jovens e adultos jovens de hoje não sentem
esse apelo e a consequência mais visível é o mau trato que a língua mãe sofre.
É triste verificar que a literacia está muito maltratada e não apenas pelos
modernos “analfabetos” da sociedade de hoje, porque também a nível daqueles que
usam a escrita na sua função profissional. Esta aversão à leitura é ainda mais
inconcebível, se pensarmos que as gerações das “entas” pertencem a uma época, a
um meio em que a tendência era exatamente para nos impedir que lêssemos: “para
de ler, porque vais estragar a vista; vai lá para fora brincar, porque está um
lindo dia; apaga a luz, porque já é tarde, etc, “. Eram” sermões” que ouvíamos.
Hoje, esta mesma (nossa e mais novas) geração diz não ter tempo para ler e
acrescenta: onde podemos ir roubar tempo para ler? à televisão, às tarefas
diárias, a outras formas de convívio; às redes sociais, etc? Para muitos,
existe um conflito entre o desejo de ler e a falta de tempo para o fazer. Por
isso, alguns meios de transporte (metro, etc) são, nos tempos modernos, a maior
“sala de leitura”. Mas gostar de ler é uma forma de amor, ao livro, à palavra e
à vontade de aprender, tal como o é amar alguém (filhos, pais, cônjuge)? Então,
por essa ordem de ideias, também amar seria um roubo de tempo, tal como o tempo
de leitura.
Outros, argumentam que sai caro comprar livros, mas esquecem-se que
há muita oferta gratuita para ler. Por exemplo, bibliotecas, empréstimos de
livros e, modernamente, mas sem sucesso, “bancas de troca de livros” livre e
gratuita em centros comerciais, jardins públicos, etc. Ler é o alimento da alma
e da educação e da formação, tal como o comer, saudável, é vital para o ser
humano. Caminhamos para uma preocupante iliteracia, na era dum desenvolvido
sistema comunicacional sem paralelo?
Serafim Marques –
Economista (Reformado)