21.1.19

AMIEIRA DO TEJO: A poesia de Jorge Pires

O Barqueiro e o Tejo

Tantas vidas já ceifaste
Oh! Tejo da minha aldeia
Tantos sonhos já mataste
Em noites de lua cheia

- Ó Barqueiro!... Ó! Barqueiro!...
Aquela voz ecoava pelo vale
Do outro lado a luz era o sinal
Da candeia ou talvez dum candeeiro
De alguém que largava o travesseiro
- …Maldita luz que te apagaste
Já ontem a partida me pregaste!
Resmungava o velho barqueiro
Dizendo pró companheiro
-Tantas vidas já ceifaste!

E o peixe no rio Tejo
Já é menos do que outrora
Dantes não era como agora
E o que foi um lugarejo
Transformou-se num desejo
Já não há luz na candeia
E vai-se comer a ceia
A casa com a mulher
Mesmo assim ninguém te quer
Oh! Tejo da minha aldeia.

Nem a barca tu afagas
Como fazias antigamente
Hoje tudo está diferente
Já não te rogam tantas pragas
E é assim que tu nos pagas
Da juventude nunca gostaste
Sempre foste um grande traste
Por isso te digo agora
Que pela tua vida fora
Tantos sonhos já mataste!

…E o barqueiro vai e vem
Pensando no seu destino
Recorda o tempo de menino
Que a sua mente retém
E se não ganha algum vintém
Não vai a casa comer a ceia
E sem ter luz na candeia
Contempla as águas de prata
E se as suas saudades mata
Em noites de lua cheia!
Jorge Pires