5.1.19

OPINIÃO: Vias de Desenvolvimento (1)

1. Para fomentar desenvolvimento económico e social tem se por consensual a necessidade de boas vias de comunicação. Equilibradamente, é imperioso investir, nas zonas de mais baixos indicadores de progresso, como é o caso do distrito de Portalegre, território onde vamos tentar escalpelizar estas situações decisivas para o seu futuro.
2. No pós 25 de Abril, e, particularmente, no processo de aproveitamento de fundos europeus para construir e melhorar vias, por opções de política geral e anuência das «forças vivas locais», assistiu-se a uma absoluta distorção entre a obra na ferrovia e no alcatrão, com clamorosa e negativa vantagem para as estradas (IPs, ENs e EMs e, na inserção regional e sub-regional, AEs, em concreto auto-estradas do Alentejo e Beira Interior).
3. O saldo que ficou foi uma boa rede de estradas, ainda que, aqui e acolá, de forma incompleta e insuficiente. No sentido oposto, ocorreu uma degradação historicamente sem precedentes nas linhas do caminho de ferro, regredindo dezenas de anos na mais elementar qualidade de vias e carruagens. Culminou o retrocesso com abandono de linhas, supressão de troços, abaixamento de níveis de conforto, estações e apeadeiros (algumas delas peças bem bonitas) abandonados, ostentando uma imagem de degradação construtiva que envergonha o estado, a região e o país.
4. A situação de desequilíbrio entre o investimento no automóvel e no comboio como meios de transporte assume maior gravidade à medida que se valorizam na qualidade de vida as componentes ambientais e de segurança, gerando as escolhas feitas mais acidentes, encargos e desgaste que derivam do uso excessivo de viaturas próprias em detrimento dos meios colectivos, e níveis de poluição insuportáveis.
5. Isto quando se começava (e continua cada vez mais) a falar-se na «Europa» onde os países com maiores níveis de progresso e bem estar tiveram escolhas no sentido inverso ao português, dando primazia a redes de comboio(s) bem estruturadas, com complementaridade e articulação optimizadas, até adentro das grandes cidades e outras localidades urbanamente de dimensão significativa...
6. Fundamental começar por remodelar e modernizar capazmente a estrutura de base entre Entroncamento e as fronteiras de Marvão e Elvas, a norte (o designado «ramal de Cáceres») e a sul ( a conhecida «linha do Este»,que, no futuro próximo, articulará com a grande infra-estrutura ferroviária internacional do Caia).  Para atrair seriamente passageiros, competindo com a brutal rede de «Expressos» que, as dezenas, percorrem as estradas do distrito, particularmente a caminho de Lisboa, é condição obrigatória a aquisição de modernas carruagens que tragam ao cidadão a comodidade que merece e assegure cumprimento de horários. Medida imperiosa é a retoma do funcionamento do «ramal de Cáceres» (desactivado), tanto mais urgente por, do lado espanhol, o comboio continuar a operar.
7. O comboio não tem que chegar ao centro das cidades e vilas de que se aproxima. Por exemplo, no caso da capital de distrito a viagem até à cidade é de poucos minutos em estrada com boas condições. Precisa, sim, da garantia de articulação com transporte rodoviário(autocarro, táxi, bicicleta) ,provavelmente com a colaboração das autarquias ,na condição da indispensável  natureza pública da gestão da ferrovia portuguesa. Os terríveis males da privatização, da ganância, do lucro que se sobrepõem ao serviço completo aos utentes, está bem à vista. nos CTT, pelos quais se devia no plano político e popular lançar um grande movimento de regresso à esfera pública.
O que vale para o exemplo dado de Portalegre, aplica se a  estações entretanto encerradas e que, em avaliação rigorosa e participada, devem voltar a ver partir e chegar passageiros.
8. O panorama de dicotomia betão /carril não significa que não haja investimentos importantes para uma melhor circulação e ajudar a gerar desenvolvimento no capítulo das estradas. Numa solução parcial do seu troço (Alter-Ponte de Sor) está integrado no OE/2019 o IC 13.Que,quando completado, ligará a fronteira de Galegos ao Montijo. O previsto para este ano completa a ligação em via apropriada entre duas das principais cidades do distrito (Portalegre e Ponte de Sor).
É preciso é que a intenção orçamentada seja obra concretizada, com o seu arranque a não retardar.
Para concluir o IP2,no essencial, falta apenas a variante a Fortios, ficando assim uma ligação rodoviária de segunda linha (sejamos realistas, é quanto basta, não aderindo claramente à euforia de há alguns anos a unir Portalegre e Castelo Branco, por auto-estrada...).Há outras prioridades em infra-estruturas (e no resto) para promover um desenvolvimento harmónico do nosso território e sua populações, que resistiram a ficar por cá. Preparando orçamentos e programas próximos, há que começar a colocar na agenda a inserção do IP2 na A23 (auto-estrada da Beira Interior) pondo fim aos precipícios e insegurança (com muitos acidentes e várias vítimas) das curvas descendentes a caminho do Tejo, o que implica um novo troço final da estrada (com outro curso, naturalmente) e uma nova ponte a jusante do complexo hidroeléctrico ali gerido pela EDP e que dá pelo nome de Fratel...
José Manuel Basso