1. Para fomentar desenvolvimento económico e social tem se
por consensual a necessidade de boas vias de comunicação. Equilibradamente, é
imperioso investir, nas zonas de mais baixos indicadores de progresso, como é o
caso do distrito de Portalegre, território onde vamos tentar escalpelizar estas
situações decisivas para o seu futuro.
2. No pós 25 de Abril, e, particularmente, no processo de
aproveitamento de fundos europeus para construir e melhorar vias, por opções de
política geral e anuência das «forças vivas locais», assistiu-se a uma absoluta
distorção entre a obra na ferrovia e no alcatrão, com clamorosa e negativa
vantagem para as estradas (IPs, ENs e EMs e, na inserção regional e sub-regional,
AEs, em concreto auto-estradas do Alentejo e Beira Interior).
3. O saldo que ficou foi uma boa rede de estradas, ainda
que, aqui e acolá, de forma incompleta e insuficiente. No sentido oposto, ocorreu
uma degradação historicamente sem precedentes nas linhas do caminho de ferro, regredindo
dezenas de anos na mais elementar qualidade de vias e carruagens. Culminou o
retrocesso com abandono de linhas, supressão de troços, abaixamento de níveis
de conforto, estações e apeadeiros (algumas delas peças bem bonitas) abandonados,
ostentando uma imagem de degradação construtiva que envergonha o estado, a
região e o país.
5. Isto quando se começava (e continua cada vez mais) a
falar-se na «Europa» onde os países com maiores níveis de progresso e bem estar
tiveram escolhas no sentido inverso ao português, dando primazia a redes de
comboio(s) bem estruturadas, com complementaridade e articulação optimizadas, até
adentro das grandes cidades e outras localidades urbanamente de dimensão
significativa...
6. Fundamental começar por remodelar e modernizar capazmente
a estrutura de base entre Entroncamento e as fronteiras de Marvão e Elvas, a
norte (o designado «ramal de Cáceres») e a sul ( a conhecida «linha do
Este»,que, no futuro próximo, articulará com a grande infra-estrutura ferroviária
internacional do Caia). Para atrair
seriamente passageiros, competindo com a brutal rede de «Expressos» que, as
dezenas, percorrem as estradas do distrito, particularmente a caminho de
Lisboa, é condição obrigatória a aquisição de modernas carruagens que tragam ao
cidadão a comodidade que merece e assegure cumprimento de horários. Medida
imperiosa é a retoma do funcionamento do «ramal de Cáceres» (desactivado), tanto
mais urgente por, do lado espanhol, o comboio continuar a operar.
7. O comboio não tem que chegar ao centro das cidades e
vilas de que se aproxima. Por exemplo, no caso da capital de distrito a viagem
até à cidade é de poucos minutos em estrada com boas condições. Precisa, sim,
da garantia de articulação com transporte rodoviário(autocarro, táxi, bicicleta)
,provavelmente com a colaboração das autarquias ,na condição da
indispensável natureza pública da gestão
da ferrovia portuguesa. Os terríveis males da privatização, da ganância, do
lucro que se sobrepõem ao serviço completo aos utentes, está bem à vista. nos
CTT, pelos quais se devia no plano político e popular lançar um grande
movimento de regresso à esfera pública.
O que vale para o exemplo dado de Portalegre, aplica se
a estações entretanto encerradas e que, em
avaliação rigorosa e participada, devem voltar a ver partir e chegar
passageiros.
8. O panorama de dicotomia betão /carril não significa que
não haja investimentos importantes para uma melhor circulação e ajudar a gerar
desenvolvimento no capítulo das estradas. Numa solução parcial do seu troço (Alter-Ponte
de Sor) está integrado no OE/2019 o IC 13.Que,quando completado, ligará a
fronteira de Galegos ao Montijo. O previsto para este ano completa a ligação em
via apropriada entre duas das principais cidades do distrito (Portalegre e
Ponte de Sor).
Para concluir o IP2,no essencial, falta apenas a variante a
Fortios, ficando assim uma ligação rodoviária de segunda linha (sejamos realistas,
é quanto basta, não aderindo claramente à euforia de há alguns anos a unir
Portalegre e Castelo Branco, por auto-estrada...).Há outras prioridades em
infra-estruturas (e no resto) para promover um desenvolvimento harmónico do
nosso território e sua populações, que resistiram a ficar por cá. Preparando
orçamentos e programas próximos, há que começar a colocar na agenda a inserção
do IP2 na A23 (auto-estrada da Beira Interior) pondo fim aos precipícios e
insegurança (com muitos acidentes e várias vítimas) das curvas descendentes a
caminho do Tejo, o que implica um novo troço final da estrada (com outro curso,
naturalmente) e uma nova ponte a jusante do complexo hidroeléctrico ali gerido
pela EDP e que dá pelo nome de Fratel...
José Manuel Basso