"Aqueles que não recordam o passado estão condenados a
repeti-lo". A frase do filósofo espanhol George Santayana acolhe os
visitantes à entrada de um dos pavilhões do antigo Campo de Concentração de
Auschwitz, na Polónia. Auschwitz tem o mérito de preservar a História, cumpre a
função primordial de nos obrigar a assumir o compromisso de não esquecer a
brutal ignomínia de que o homem foi capaz. Não esqueçamos, pois só assim
impediremos novas derivas hediondas.
Não há desculpa para se ignorar o genocídio de milhares de
homens, mulheres e crianças. Judeus, sim, a maioria. Mas também ciganos,
homossexuais, comunistas e outros presos políticos. "Destruir o homem é
difícil, quase tanto quanto criá-lo; não foi fácil, não foi rápido, mas os alemães
conseguiram-no. Desfilamos dóceis, debaixo dos seus olhares: da nossa parte
nada mais a recear: nem actos de revolta, nem palavras de desafio, nem sequer
um olhar de condenação", lembra o amargurado Primo Levi, um dos
sobreviventes, no livro "Se isto é um homem".
Hoje como ontem o ódio foca-se no "outro", no
diferente de nós. E o ódio prospera de novo no velho continente. Como Angela
Merkel assinalou, dirige-se ainda aos judeus, mas fixou um novo alvo: os
migrantes muçulmanos, a nova "ameaça". A repetição do horror nazi
seria inimaginável. Mas já o era quando os jugoslavos se viraram uns contra os
outros e o Mundo perguntou: como é possível? Como perguntamos como é possível a
tragédia Síria. E tornaremos a perguntar.
Jamais esqueceremos. Todavia, há quem ignore. Uma sondagem
da Holocausto Memorial Day Trust, publicada domingo, no dia em que se
assinalaram os 75 anos da libertação do"lager" de Auschwitz pelo
Exército Soviético, revela o seguinte: 40% dos jovens alemães admitem nada
saber sobre o Holocausto, e para 20% dos inquiridos no Reino Unido o extermínio
executado pelos nazis nunca existiu. Dos que acreditam, oito por cento acham os
relatos exagerados. O inquérito foi feito em sete países europeus. Em média,
cinco por cento dos inquiridos disseram nunca ter ouvido falar do Holocausto.
Paula Ferreira in “Jornal de Notícias” – 29/1/2019