15.6.19

DO ALTO DA TORRE - Evocações de outros tempos

Quando este vosso amigo foi convidado para exercer o cargo de redactor de "O Amieirense" mil e uma dúvidas passaram pelo meu cérebro devido às limitações gramaticais, próprias de um homem que não pôde ir mais além - os tempos eram outros e ter a quarta classe já era um privilégio, principalmente para quem como eu, viveu em extrema pobreza.
Não quero apenas salientar a quanto as dificuldades nos obrigam, pois foi na universidade da vida que tirei o curso mais importante, aquele que infelizmente faz parte do "curriculum" de muita gente. É pouco, realmente, sou o primeiro a reconhecê-lo, mas quando deparo com estudantes (nem todos, claro) já avançados nos estudos, a contar pelos dedos, a enxovalhar com termos inadequados a nossa língua, a não saberem qual foi o primeiro rei de Portugal, a encolherem os ombros quando se lhes pergunta, por exemplo, onde nasce o rio Douro; quando se vê na televisão aquelas legendas com tantos disparates; quando um engenheiro responde com o ar mais natural deste mundo que a capital da Colômbia é o Perú, não posso deixar de reconhecer como eram infundados os meus receios.
Não fazem ideia os caros leitores, a tristeza que sinto ao descrever estes factos, uma tristeza que tem toda a justificação, pois sabemos que um dia poderá acontecer que um estudante que conta pelos dedos, seja professor de matemática, ou aquele engenheiro venha a ser, por necessidade,professor de geografia!
É que antigamente havia professores por vocação e hoje não é bem assim. Hoje, mesmo que a pessoa não se sinta vocacionada, tende a apanhar o que mais depressa lhe aparece e é assim que as instituições por vezes não funcionam como deviam.
Não é isso que acontece com o redactor do nosso jornalinho, que embora com limitações, está a fazer aquilo que gosta. É verdade, meus amigos, desde sempre gostei da escrita, da leitura, da poesia, do teatro, da música e por isso, estou no meu ambiente preferido. Tantas noites que passei a escrever peças de teatro! Que saudades, meu Deus! Que saudades que eu tenho daqueles ensaios. Daquelas noites de teatro. Dos aplausos. A emoção não me deixa continuar, as lágrimas começam a cair...
Jorge Pires - O Amieirense - Outubro 1994