Dos moradores do Monte Cimeiro e
do Pé da Serra
Usando da faculdade que a lei
conferia, os moradores das aldeias ou povoações mais pequenas, faziam
regularmente petições às entidades públicas, reivindicando a resolução de
problemas. O arranjo das vias de comunicação é reivindicado nesta petição
apresentada à Câmara de Nisa em 1885 e que transcrevemos respeitando a
ortografia da época:
" Os abaixo assignados moradores
no Monte Cimeiro e Pé da Serra, freguezia de S. Simão d´este concelho, usando
de um direito que a lei lhes confere, veem hoje representar a V. Exªs sobre a
necessidade inaddiavel de se attender de prompto á reparação, na parte
indispensavel, de um dos caminhos publicos que ligam aquellas povoações ruraes
com a séde do mesmo concelho. É incontestavel que muito, relativamente, se tem
feito para que a viação municipal possa satisfazer ao que o commercio, a
industria e em summa as forças vivas do municipio, no seu progresso successivo,
vão exigindo; mas não é menos incontestavel que não ha presentemente no
concelho povoação alguma que esteja em peiores condições de viação do que o
monte, aliás importante, do Pé da Serra, porque infelizmente até hoje nenhum beneficio
tem recebido n´esse sentido. Bastará dizer que, para uma carreta chegar a este
monte, tem que ir alcançar o Azinhal, suppondo que Niza é o ponto de partida,
percorrendo assim uma distancia dupla da que teria de percorrer se seguisse
pelo caminho chamado do Carqueijal em direcção ao Porto das Carretas.
Acresce ainda que, para a propria
viação a pé ou a cavallo, o caminho ordinariamente seguido, o da Ponte em
direcção a Portella dos Caldeireiros, está hoje já quasi intransitavel. Para
remediar estes males, que são grandes, pois affectam interesses legítimos, os
abaixo assignados veem pedir á Exma Camara Municipal a immediata reparação do
caminho do Carqueijal, na parte comprehendida entre a Cancella da tapada dos
herdeiros de José da Cruz Cebola e o Porto das Carretas, distancia que é
pequena, e em seguida a reparação do dito porto, de forma que o seu pavimento
seja de calçada e colloquem n´elle as competentes passadeiras.
D´esta arte com uma pequena
despeza, o beneficio para o monte do Pé da Serra é tão grande que só em
occasiões de grandes cheias será interrompida a viação pelo dito porto,
convindo notar que esse beneficio se estende ainda aos habitantes do monte da
Salavessa, visto que elles fazem escala pelo Pé da Serra.
Attendendo á justiça que assiste
aos abaixo assignados e a que a reparação pedida importa apenas uma pequena
despeza, que não se torna sensível na verba aprovvada para tal fim no
respectivo orçamento, esperam, e attendendo a que aproveita ainda ao povo da
Vinagra, onde residem alguns signatários.
Pedem a V. Exas
deferimento."
Á frente dos signatários vinha o
nome de João António da Silva, pároco de S. Simão. Nos mais de 30 nomes que
integram a petição, muitos dos apelidos são-nos familiares (Corga, Pires,
Anastácio), por serem comuns em Nisa, o que torna credível a ideia de que a
formação do monte do Pé da Serra, se processou após a destruição de
Nisa-a-Velha, sendo os povos de Nisa e daquela localidade, apenas um e o mesmo
povo.
in "Jornal de Nisa" -
Nº 36 - 23 de Junho de 1999