Portugal continua com sérias dificuldades em controlar e
punir os responsáveis pelas agressões ao Ambiente e aos recursos hídricos -
cerca de 80% dos autos de notícia levantados pela Agência Portuguesa do
Ambiente por infrações ambientais não tiveram quaisquer consequências.
Amanhã, dia 1 de Outubro, é o primeiro dia do ano
hidrológico e neste dia, em Portugal, comemora-se o Dia Nacional da Água. Neste
dia inicia-se um novo ciclo da água e em particular, este ano, a Quercus
considera que deve ser feita uma reflexão sobre os recursos hidrológicos e
sobre a sua gestão a nível nacional, uma vez que o País atravessa uma situação
de seca em 100% do território continental, estando cerca de 60 % num estado de
seca severa.Com efeito, a maior parte dos nossos rios apresenta caudais muito
reduzidos ou nulos, que aliados a uma situação deficiente do tratamento das
águas residuais agravam o estado ecológico das massas de água, pondo em causa o
cumprimento da Diretiva Quadro da Água, que impõe o limite de 2027 para Portugal
atingir o bom estado ecológico de todas as massas de água.
A QUERCUS lembra que cerca de 70 % da água colocada na rede
para abastecimento provém de origens superficiais, existindo uma elevada
assimetria regional e temporal da disponibilidade de água e uma crescente
pressão de usos sobre as massas de água, que aliados à ocorrência de períodos
de seca prolongada reforçam a necessidade de procurar alternativas
ambientalmente mais adequadas.
Verificando-se também que só cerca 40%, das estações de
tratamento existentes têm licença de descarga válida e mesmo essas podem não
estar a cumprir com os parâmetros de descarga, uma vez que os únicos valores
disponíveis para aferir a sua eficácia são os resultantes do autocontrolo do
utilizador, não existindo por parte das entidades competentes um plano de
amostragem eficaz, que nos possa garantir efetivamente a sua eficiência.
A gestão da água tem impactes em variados sectores, desde a
saúde à alimentação, sendo a agricultura e a indústria as principais atividades
poluidoras. A QUERCUS lembra que é responsabilidade de todos em geral, e do
Estado em particular, preservar este recurso fundamental à vida e nesse
sentido, a QUERCUS apela aos cidadãos nacionais, e aos seus associados em
particular, para denunciarem todas as agressões ao meio hídrico que lhe
chegarem ao conhecimento.
A Quercus recorda que só cerca 1,5 % da água residual
tratada em estações de tratamento é reutilizada sendo a restante descarregada
nos nossos rios, que na maior parte dos casos, vai ser novamente captada para o
circuito de abastecimento publico.
Segundo o Relatório de Fiscalização de 2016 publicado pela
Agência Portuguesa do Ambiente, foram levantados 1204 autos de notícia por
infrações ambientais nas áreas da sua jurisdição, grande parte na área dos
recursos hídricos, dos quais somente 251 foram objeto de processos de contra
ordenação, correspondendo a 20,8 % dos autos levantados e nada diz sobre os
outros cerca de 80% que não tiveram seguimento, nem tão pouco o desfecho dos
que foram instruídos a partir dos processos de contra ordenação. A QUERCUS
considera esta situação insustentável pois a leitura imediata que se faz é que
80 % dos poluidores detetados nem foram sequer confrontados com os atos que
praticaram e dos 20% que tiveram processos de contra ordenação não se sabe qual
foi a coima aplicada. Esta situação é grave e a QUERCUS exige explicações, pois
considera que ou existe um problema de formação dos agentes fiscalizadores ou a
administração não tem capacidade humana para instruir os processos contra
ordenação, Contudo, a Quercus não tem dúvidas que com esta situação quem perde
somos todos nós, podendo mesmo este facto ter sido uma das causas do país não
ter cumprido com as metas para o bom estado ecológico das massas de água imposto
pela Diretiva Quadro da Água.
Perante estas situações, a QUERCUS, neste Dia Nacional da
Água, apela às entidades competentes que fiscalizem eficazmente o domínio
hídrico e tenham mão pesada para com os poluidores, de forma a dissuadir
eventuais poluidores e garantir o futuro e a sustentabilidade dos recursos
hídricos nacionais.
Lisboa, 30 de setembro de 2017
A Direção Nacional da Quercus - Associação Nacional de
Conservação da Natureza