O autor de “Os Miseráveis” celebrava assim a inédita decisão
de abolir a pena de morte para crimes civis em Portugal, definida em 1867,
quinze anos depois de a mesma decisão ter sido tomada para os crimes políticos.
Os mecanismos de execução das sentenças foram sendo esquecidos nos 146 anos
entretanto decorridos, mas um projecto da Universidade de Évora, liderado por Jorge
de Oliveira, tem procurado preservar essa memória histórica no distrito de
Portalegre.
Através de documentos escritos, de marcas toponímicas e da
memória oral das populações, o arqueólogo conseguiu identificar os locais onde
em tempos se ergueram 37 forcas no distrito, embora apenas três (em Cabeço de
Vide, Monte da Pedra e Monforte) permaneçam de pé. As estruturas de madeira
foram destruídas nos anos seguintes à abolição, mas as de alvenaria foram mais
persistentes. A aplicação do mesmo método de pesquisa já permitiu igualmente
descobrir os restos de forcas em distritos vizinhos, como Évora e Beja.
Curiosamente, algumas forcas poderão nunca ter funcionado. A
sua função seria mais pedagógica, em jeito de aviso, simbolizando igualmente o
poder. Outras, em contrapartida, tiveram uma longa história, remontando a mais
de setecentos anos.
Apesar de lidar com um tema severo, este projecto de
levantamento das memórias materiais do distrito de Portalegre tem uma evidente
função histórica, “para que os vindouros não esqueçam as terríveis formas de
aplicar a justiça e que, igualmente, Portugal foi pioneiro na sua abolição”,
refere o arqueólogo.