O candidato fascista à
presidência do Brasil passou à segunda volta com 46,3%. Bolsonaro defende a
tortura e os assassinatos cometidos pela ditadura brasileira, justifica a
violação de mulheres e propõe a esterilização dos pobres. É racista e xenófobo.
Bolsonaro é espectro de uma
sombra maior que vai dos EUA à Índia, da Hungria à Itália. Le Pen não é Trump e
Órban não é Bolsonaro. São fenómenos que só podem ser entendidos no contexto
das suas realidades nacionais. Mas, conforme os casos, a sua normalização foi
fruto da sua inserção no campo da Direita tradicional ou da sua equiparação,
sob o rótulo populista, a partidos da Esquerda.
Há dias, a RTP falava do
"radicalismo de Bolsonaro à Direita e de Haddad à Esquerda". Como se
pudesse comparar-se um democrata, por mais radicais que sejam as suas ideias (e
nem é o caso) aos ultras que ameaçam a Democracia. Tempos houve em que a
Direita democrática e a Esquerda se uniam contra Le Pen. Hoje vemos conselheiros
nacionais do CDS a declarar apoio a Órban, o xenófobo que lidera a Hungria.
Grave é também a tentativa
de culpabilização do movimento #elenão pelos resultado de Bolsonaro. Quem o faz
argumenta que foi esta plataforma que deu gás ao candidato fascista. Segundo
estas vozes, a culpa pelo resultado de Bolsonaro seria da campanha que juntou e
organizou milhares de pessoas, sobretudo mulheres, e numerosos movimentos e
partidos contra o fascismo. Entendem que foi demasiado radical e isso, pelos
vistos, incomoda.
Não há provas que sustentem
esta tese. A simples diferença de resultados face às sondagens não chega. É
igualmente possível argumentar que, não fosse o #elenão, Bolsonaro teria
vencido à primeira volta. Além disso, não é clara a proposta alternativa. Menos
incisiva? Se não alertarmos que o fascista é fascista, ele deixa de o ser?
Bolsonaro foi um voto contra os pobres, contra as mulheres e as minorias, e
contou com o apoio declarado das elites económicas e políticas, de várias
igrejas evangélicas, dos grandes órgãos de Comunicação Social e até da agência
de rating Fitch.
Nas próximas semanas veremos
o que predominará: uma vaga massiva que vence o medo, expressando-se nas ruas e
ganhando o coração do povo cansado ou apenas um acordo das cúpulas derrotadas
na primeira volta. Não basta uma frente dos partidos do establishment para
afastar Bolsonaro. A vitória da Democracia precisa de um enorme #elenão. Espero
que isso junte essa maioria do Brasil que não é fascista, em nome de tudo o que
nos liga a este irmão maior.
Mariana Mortágua in “Jornal
de Notícias” – 9/10/2018
Cartoon: O Brasil no bolso(naro) - http://henricartoon.blogs.sapo.pt