26.10.18

NISA: Poesia Popular _ Maria Pinto

À Memória do Dr. Granja
O Dr. António Granja
Deus o tenha em bom lugar;
Passou a vida sozinho
Nunca pensou em casar.

Deus o levou para si,
Este homem sério e honrado.
Delegado de saúde
De todos foi respeitado.

Tinha amor à linda Nisa
Centro do seu coração;
Teve o fim da sua vida
No Castelo de Mação.

Cá viveu trinta e tal anos,
Homem de bom coração!
Amigo de rico e do pobre,
Nunca teve opinião.

Deixou Nisa a muito custo;
Era doutor de primeira;
Muitos lá o foram ver
Com a morte à cabeceira.

Não era homem de luxo.
Gente assim já não se cria,
Em Nisa deixou desgosto,
Nunca arranjou companhia.

Passou a vida sozinho
Nunca resolveu casar;
Sempre na Pensão Correia,
Lá se ia procurar.

Muitas vezes se o chamavam
Dava resposta mal dada;
Era naquele momento
E, depois, não era nada.

Não era homem de graças,
Mas tinha bom coração;
Tinha fé para com Deus,
Tinha a sua devoção.
 
Corria as ruas de Nisa,
Logo pela manhãzinha,
Doente, às vezes, coitado,
Mas não dizia o que tinha.

Enquanto teve vontade,
Gostava de à pesca ir,
Nos domingos, um bocado
Mas só para distrair.

Tinha o seu sofrimento,
Trabalhou até poder
Mas não passava um só dia
Sem os doentes ir ver.

Era sério e honesto
E por todos respeitado;
Quer do rico quer do pobre,
De todos era estimado.

Pois também tinha inimigos!
(Hoje toda a gente os tem).
Mas com a bondade que tinha
Já não se cria ninguém.

Amigo dos pobrezinhos,
Até esmola lhes dava;
E muitas vezes até,
Os remédios, lhes comprava.

Esteve no Hospital Velho
Com José de Oliveira
E a srª Caldeirinha
Que era lá a enfermeira.

Fechou o Hospital Velho
E do Novo não gostou.
Inda pôs um consultório,
Mas já pouco se gozou.

Já não se cria no mundo
Gente assim para a pobreza;
Cada vez tudo pior
Vamos chegando á moleza.

Inda empregou muita gente
Pelo valor que ele tinha;
Tinha fé, tinha bondade,
Tinha a sua medicina.

Nunca levava dinheiro
Só tinha o seu ordenado;
Mas daqueles que podiam
Às vezes era ajustado.

Nunca andava de automóvel,
As ruas a pé, corria.
Rezemos-lhe Padre-Nosso
Junto com Ave-Maria.

Deus o tenha em seu descanso,
A sua alma no Céu,
Tanto anjo a acompanhá-lo
Como as esmolas que ele deu.

Aos sessenta e oito anos
Deus lhe dê eterna glória.
Com a ajuda de todos,
Bem merecia uma memória.
Maria Pinto