16.10.18

MEMÓRIA DO JORNAL DE NISA - A morte da D. Georgete - JN 248 - 6 Fevereiro 2008

50 Anos dedicados à causa da educação
Aos 94 anos de uma vida cheia de sorrisos e recordações de crianças, faleceu em Nisa, a D. Georgete Ribeiro, uma senhora que fez do exercício da profissão de professora, uma causa dedicada ao ensino, tendo leccionado durante cerca de 50 anos.
Os relatos que seguem são expressões de reconhecimento, que tomamos como nossas e que aqui deixamos como homenagem derradeira à cidadã e à professora que deixou a sua “marca” em centenas e centenas de crianças e que perduram pela vida fora.
Avó
Como foi bom tê-la como Avó e professora!
Como foi bom ter aprendido consigo.
Como foi bom ter recebido a sua educação.
Como foi bom ter feito tantas traquinices na sua sala de aula!

Como foi bom ter crescido a sua lado e ter ouvido as suas histórias.

Como foi bom ter recebido as suas reguadas!...
Como foi bom termo -nos sentido amados.
Como foi bom ter recebido os ensinamentos, que nos abriram a mente e despertaram a nossa curiosidade, para o mundo que nos rodeia!
Obrigada, Avó. Até à eternidade. Um longo beijo dos netos.
UMA VIDA
Hoje é um dia radioso nascido para conduzir de mansinho a jovem professora, que vinda da fidalga, forte e fria cidade da Guarda (omito o feia porque ela zangava-se, quando ouvia este epípeto) veio com a sua juventude, o seu dinamismo, a sua perspicácia e entusiasmo, para o interior do concelho, o Pé da serra, o pequeno povoado que a acolheu carinhosamente.
Seriam indescritíveis as dificuldades dessa época remota. O fim de semana passado em Nisa era uma aventura, pois a deslocação era feita de burro.
E foi em Nisa que conquistou o coração do seu César. Aqui constituiu família. Foi esposa extremosa, mãe, avó e bisavó. Além da sua família biológica, formou outra, mais numerosa. Uma longa vida dedicada à causa do ensino à qual se entregou de alma e coração.
Foi uma amiga. O seu espírito de solidariedade conduzia o seu corpo franzino junto de todos os carenciados, minorando o sofrimento com o conforto das suas palavras e a força do seu olhar.
Foi uma estrelinha brilhante que se foi apagando, mas o seu espírito fervoroso e crente nos últimos momentos ainda balbuciou o terço.
Antes da última viagem, olhou derradeiramente para o ente que ela mais adorava, o seu filho. Se tivesse sido possível escolher o momento para a eternidade, seria aquele em que o seu Arménio docemente lhe detectou o último pulsar do seu generoso coração.
A natureza e os humanos prestam-lhe a última homenagem.
Senhora D. Georgete, os homens e as mulheres a quem durante várias gerações foram transmitidas as primeiras letras, a educação e outros valores que nortearam a sua vida, durante cinquenta anos, estão aqui presentes para lhe agradecer.
A sua família a quem dedicou o seu amor e esforço vão seguir-lhe o exemplo.
Pior do que a morte é o esquecimento e tal nunca vai acontecer.
O momento é de júbilo porque tivemos o privilégio de conviver e de aprender com esta grande Senhora que ficaria como referência e exemplo para todo o sempre.
Um beijo eterno de todos nós.
Maria José Almeida
À minha Professora D. Georgete
Morreu a minha professora
A mulher que me disse um dia
Levo comigo esta mágoa
De não seres quem eu queria

Senhora Professora
Queria dizer-te duas palavras
Mas não saem, estão aqui
Na garganta, entaladas.

Sei que ao dizê-las
Te iam magoar
Davas carinho aos ricos
E as pobres a olhar.

Mas fizeste bem
Era assim que se fazia
Talvez por seres obrigada
No tempo em que se vivia.

Mas de tudo o que fizestes
Bom ou mau tenho saudades
Ensinei equações ao meu filho
No meu tempo eram quebrados

Por isso, obrigado
Mil vezes obrigado
Não fui quem tu querias
Por haver dificuldade

Senhora Professora
Tive oportunidade de lhe agradecer muitas vezes o que fez por mim, que foi ensinar-me o que estou aqui a fazer neste momento.
Mas acho que ainda é pouco e aqui estou hoje, senhora Professora, em nome dos meus companheiros e companheiras da nossa sala da escola, dos que recordam o bem e o mal, quero dizer-te pela última vez: De todos nós, muito obrigado, Senhora Professora.
Maria Dinis Pereira
Ma