1.7.18

CRÓNICAS DA TABANCA: O Império dos "Cagalhões"

Já todos conhecíamos “O Império dos Sentidos”, obra do japonês Nagisa Oshima e que os anais do cinema classificaram como “obra-prima”, apesar de o filme, com mais de 40 anos de existência, não ser mais do que um repositório de “quecas” à boa maneira oriental e de a fita ter sido proibida em diversos países.
Por cá, a linguagem “pornográfica” tomou conta de uma instituição autárquica. Já tínhamos ouvido falar, em versão hard-core do presidente da Assembleia Municipal, na “puta da fonte”. Coisa inócua, quase inodora, comparada com a autêntica lição de filosofia de latrina dada pela edil de Amieira na passada 6ª feira na sessão da AM.
Disse a presidente da edilidade que tinha resolvido o “problema dos cagalhões da Cevadeira” e perante a estupefacção dos eleitos, questionou: “sabem o que é um cagalhão?”.
A linguagem de esgoto não podia ter sido empregue mais a propósito, talvez para concluir uma jornada de convívio gastronómico para a qual tinha convidado os deputados municipais.
Revela, por um lado, o nível cultural e institucional de uma autarca que ainda recentemente viu fugir-lhe dois dos eleitos no executivo, oito meses após terem tomado posse como vereadores, cansados de suportarem situações de desrespeito e prepotência, mostrando, por outro lado, que a edil nada aprendeu com a lição, antes intensificou o seu modus operandi assente no “quero, posso e mando” e alicerçado no apoio de dois vereadores “reservas” que aprenderam a venerá-la e a abanarem a cabeça, em troca do robusto vencimento que auferem. Ámen. Seja feita a sua vontade!
Mas, voltemos, ao “império dos cagalhões”. Se a edil amieirense se preocupa tanto com os ditos da Cevadeira, que, é preciso dizer, era (é) um problema de saneamento básico com origem nas piscinas municipais e com mais de 10 anos, porque não os resolveu durante o anterior mandato? Por que é que um problema de natureza tão simples deve merecer menção, desrespeitosa e mal educada na AM e referência nas páginas do facebook do Município? Pelo facto de a autarca lá ter estado há 15 dias, durante um minuto e enquanto posava para as fotos da propaganda?
Por que motivo uma pergunta simples, razoável e com toda a justiça de uma munícipe sobre a falta de esgotos na zona onde mora, em Nisa, não é respondida e a munícipe “apagada” (tal como eu fui desde que fiz a primeira crítica) das páginas do facebook da autarquia?
Os meios de comunicação do município estão ao serviço dos munícipes nisenses ou do sistema roseiral, imposto a “ferro e fogo” por uma presidente de Câmara que foi legitimamente eleita, mas exerce de forma ilegítima, prepotente e ditatorial o seu cargo?
É preciso lembrar à senhora Idalina Trindade que “não há machado que corte a raiz ao pensamento” por muitos batalhões de lápis azuis que instale no edifício da Praça do Pelourinho.
E dos muitos “cagalhões” que possam (des)temperar o seu esmero na linguagem...
Mário Mendes