Já todos conhecíamos “O Império dos Sentidos”, obra do japonês
Nagisa Oshima e que os anais do cinema classificaram como “obra-prima”, apesar
de o filme, com mais de 40 anos de existência, não ser mais do que um repositório
de “quecas” à boa maneira oriental e de a fita ter sido proibida em diversos
países.
Por cá, a linguagem “pornográfica” tomou conta de uma
instituição autárquica. Já tínhamos ouvido falar, em versão hard-core do presidente da Assembleia Municipal,
na “puta da fonte”. Coisa inócua, quase inodora, comparada com a autêntica lição
de filosofia de latrina dada pela edil de Amieira na passada 6ª feira na sessão
da AM.
Disse a presidente da edilidade que tinha resolvido o “problema
dos cagalhões da Cevadeira” e perante a estupefacção dos eleitos, questionou: “sabem
o que é um cagalhão?”.
A linguagem de esgoto não podia ter sido empregue mais a
propósito, talvez para concluir uma jornada de convívio gastronómico para a
qual tinha convidado os deputados municipais.
Revela, por um lado, o nível cultural e institucional de uma
autarca que ainda recentemente viu fugir-lhe dois dos eleitos no executivo, oito
meses após terem tomado posse como vereadores, cansados de suportarem situações
de desrespeito e prepotência, mostrando, por outro lado, que a edil nada
aprendeu com a lição, antes intensificou o seu modus operandi assente no “quero, posso e mando” e alicerçado no
apoio de dois vereadores “reservas” que aprenderam a venerá-la e a abanarem a
cabeça, em troca do robusto vencimento que auferem. Ámen. Seja feita a sua
vontade!
Mas, voltemos, ao “império dos cagalhões”. Se a edil
amieirense se preocupa tanto com os ditos da Cevadeira, que, é preciso dizer,
era (é) um problema de saneamento básico com origem nas piscinas municipais e com
mais de 10 anos, porque não os resolveu durante o anterior mandato? Por que é
que um problema de natureza tão simples deve merecer menção, desrespeitosa e
mal educada na AM e referência nas páginas do facebook do Município? Pelo facto
de a autarca lá ter estado há 15 dias, durante um minuto e enquanto posava para
as fotos da propaganda?
Por que motivo uma pergunta simples, razoável e com toda a
justiça de uma munícipe sobre a falta de esgotos na zona onde mora, em Nisa, não
é respondida e a munícipe “apagada” (tal como eu fui desde que fiz a primeira
crítica) das páginas do facebook da autarquia?
Os meios de comunicação do município estão ao serviço dos
munícipes nisenses ou do sistema roseiral, imposto a “ferro e fogo” por uma
presidente de Câmara que foi legitimamente eleita, mas exerce de forma ilegítima,
prepotente e ditatorial o seu cargo?
É preciso lembrar à senhora Idalina Trindade que “não há
machado que corte a raiz ao pensamento” por muitos batalhões de lápis azuis que
instale no edifício da Praça do Pelourinho.
E dos muitos “cagalhões” que possam (des)temperar o seu
esmero na linguagem...
Mário Mendes