A história é muito simples. Ricardo Robles é vereador do
Bloco de Esquerda na Câmara Municipal de Lisboa. Muito apreciado. Muito
conhecido. E muito comentado. E tem-se destacado mais ainda não por ser um
utilizador exímio das bicicletas que a Autarquia disponibiliza a todos os
cidadãos, mas pelas críticas ferozes à especulação imobiliária na cidade, que
tem levado a despejos forçados de moradores.
O cidadão Ricardo Robles tem muitas semelhanças com o
vereador Ricardo Robles. Físicas. No mais, tem uma perspetiva diferente da
vida. E decidiu, segundo o próprio com a irmã, comprar um prédio da Segurança
Social em Alfama, por 347 mil euros. Que agora está prestes a vender por 5,7
milhões.
Nada contra. O vereador bloquista Robles tem todo o direito
de ganhar dinheiro com os negócios do cidadão Robles, que não se sabe que
ideologia professa. O vereador explica que foram feitas obras de reabilitação
no prédio, que por razões familiares teve de ser vendido, que só um casal tinha
ali habitação e que se manterá, tendo ajustado a renda, que os três inquilinos
com lojas no prédio aceitaram sair por comum acordo e que, este ele não
explica, a um último, com restaurante no rés do chão, terão sido propostos
cinco mil euros para que saísse, ao que este colocou um processo em tribunal
exigindo compensação pelas obras que o próprio realizou.
Assim, num fôlego, o cidadão Ricardo Robles não fez mais do
que o que fazem todos os especuladores imobiliários. E noutro fôlego o vereador
bloquista fez mais pela destruição das bandeiras do Bloco de Esquerda do que o
"espírito empresarial" de que acusam a Direita.
E ele vai giro, na sua bicicleta GIRA, colina acima, colina
abaixo, dando o exemplo de político, exemplo de cidadania, olhem para o que eu
digo não olhem para o que eu faço, mas também pouco importa o que faço, porque
o que faço não se vê. Ou se se vê, logo se vê.
Domingos de Andrade – “Jornal de Notícias” – 28/7/2018