Senti pela primeira vez o enorme perigo de chegar o dia em que nenhuma
"pessoa de bem" conseguirá responder ao que André Ventura disser. Uns
por desistência, outros por cansaço e frustração, outros ainda por medo de
serem achincalhados. Repare, se o líder do Chega tivesse há seis anos forrado o
país de cartazes "Isto não é o Bangladesh" ou afirmasse que
precisávamos de "três Salazares", teria caído o Carmo e a Trindade.
Mas hoje, da sua boca saem as maiores alarvidades e são poucos os que lhe
respondem - por não desejarem chafurdar na lama, porque os argumentos estão
gastos e não colam, porque já tudo foi dito sobre esta gente que faz do ódio,
do ressentimento, da vingança e do medo a sua força política. O que Ventura
dirá a seguir? Que os ciganos devem ser enviados para um campo de concentração onde
não incomodarão mais ninguém? Prometerá que um dia gente como eu não poderá
continuar a "comer" à conta dos portugueses que trabalham
honradamente? Que na verdade não gosta de Salazar pois foi brando com os
comunas e meninos burgueses como o Soares ou o Sampaio, que deviam ter alancado
para saber o que custava a vida? Qual será a fronteira para dizermos alto e
para o baile? Defender o holocausto nazi ou o extermínio palestiniano? Apelar
para que as pessoas que nele acreditem não se misturem familiarmente com fruta
tocada ou azeda? Confessar que fala todos os dias com Deus, que há raças que
não são humanas ou que distribuirá armas aos seus apoiantes? Qual será o
limite?
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Luís Osório – Jornal de Notícias - 29 de
outubro, 2025
*** Cartoon de Vasco Gargalo
