Um adolescente de 14 anos matou a mãe. Antes, durante a manhã, foi às
aulas. Depois, almoçou com os pais num restaurante em frente à casa onde mora.
Regressou à habitação, tapou as câmaras de videovigilância, foi buscar a arma
do pai ao cofre, do qual sabia o código, e disparou enquanto a mãe estava ao
telefone. Simulou um assalto, foi para casa de um vizinho e regressou. Teve
ainda apoio psicológico. Horas depois, confessou o crime.
A "mãe chateava-o muito". A frase, que usou para confessar o
crime à Polícia, é curta, mas carrega um autêntico abismo. Na verdade, uma
frase banal, característica da idade, dita vezes sem conta nos lares onde vivem
adolescentes. Por isso mesmo, representa o precipício onde todos caímos quando
confrontados com este crime. Ainda não há respostas. Só perguntas.
As autoridades tentam agora encontrar pistas nas redes sociais que
expliquem o inexplicável. Sempre as redes. Aos 14 anos ninguém devia ter redes
sociais.
Não sabemos se a morte da vereadora e advogada Susana Gravato é mais um
retrato desconcertante de uma realidade que passa despercebida a um número
alarmante de pais, professores e educadores. Uma realidade que mantém pais e
filhos afastados na mesma casa, onde a tecnologia rouba os espaços para o
diálogo. Certo é que estamos a assistir a uma banalização do ódio e à falência
de muitas estruturas familiares e sociais.
Olhar para este terrível caso como um ato isolado é continuar a fechar
os olhos aos cenários que se têm instalado nos lares de forma silenciosa.
Manuel Molinos – Jornal de Notícias - 24 de outubro, 2025
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