1.10.25

DIA MUNDIAL DA MÚSICA - Sociedade Filarmónica Alpalhoense


O Dia Mundial da Música comemora-se anualmente a 1 de outubro. Esta data foi instituída em 1975 pelo International Music Council, uma instituição fundada em 1949 pela UNESCO, que reúne várias entidades e individualidades do mundo da música.

Com o objetivo de promover esta arte em todos os sectores da sociedade, divulgar a diversidade musical e incentivar a partilha de experiências, amantes e simpatizantes de música desfrutam, neste dia, de programas musicais especiais, na maior parte das vezes gratuitos.

"Portal de Nisa" assinala esta efeméride com um conjunto de textos sobre as Bandas de Música do concelho, publicados em 2001 na "Revista Cultural" do Município de Nisa, publicação que não teve a devida sequência.

SOCIEDADE FILARMÓNICA ALPALHOENSE

"Já conta com 141 anos de existência e é motivo de orgulho. Com o nome de Banda de Alpalhão foi fundada em 1860.

Com 15 elementos apresentou-se ao público pela 1ª vez, acompanhava a procissão na romaria de Nossa Senhora da Redonda, era a 2º feira da Páscoa.

A banda terminou em 1916 mas reaparece em 1922. Desta vez com 12 elementos, toca na festa do Mártir São Sebastião. Em 1925 o crescimento da banda é visível, encontrava-se já com 25 elementos.

Em 1930 surge como Sociedade Filarmónica Alpalhoense e até hoje assim ficou conhecida.

José Barradas com 46 anos, é hoje músico e presidente da direcção da banda. Com paixão pelo que faz, enfrenta agora o dilema da sede da sua banda. Esta encontra-se na Casa do Povo e, por motivo de obras, vai ter que abandonar a sede e surge a pergunta: "para onde é que vamos?".

Já passaram pela Sociedade Filarmónica vários mestres. José dos Anjos foi quem permaneceu mais tempo na banda, seguiu-se a maestrina Maria Manuela Bagulho e mais tarde Edmundo Manaças. Desde há 3 anos é liderada por Humberto Damas, maestro vindo do Crato.

Encontra-se uma banda essencialmente jovem com cerca de 23 elementos. Vai tendo sempre saídas e para atingir os 26/30 elementos esta banda é auxiliada pela Banda do Crato, Alter do Chão e Póvoa e Meadas. Gravou a música "O nosso Alentejo" para o cd das Bandas Filarmónicas do distrito de Portalegre, ano 2000.

Enfrenta algumas barreiras para se apresentar ao público. A falta de dinheiro é dos piores inimigos, os instrumentos compram-se a preços exorbitantes, mesmo assim a banda continua e às 3ªs e 5ªs são dias de ensaio.

Armando Martins, com 76 anos já lhe falta o ar nos pulmões e a idade não perdoa. É um ex-músico desta banda, para além de ser o único Armando em Alpalhão. A última vez que tocou foi no dia 6 de Maio, em Vale do Sôr.

Durante 62 anos dedicou-se à Banda de Alpalhão. Também aprendiz de sapateiro, as notas musicais não lhe escapavam enquanto tocava trompa e trombone.,

Agora resta-lhe recordar os tempos em que tocava com camisa branca, gravata e sapato preto, impecavelmente vestido. Era assim que viajava de carroça para as actuações com a banda. Depois de alguns copinhos, da Cunheira à estação houve "festa de pancadaria", era ele e o "Mestre Abílio", hoje motivo de gargalhada. Eram costume estas brigas entre elementos da banda.

Não perde as arruadas feitas pela banda, "o músico é uma arte". Considera o povo "ingrato", os músicos não são reconhecidos, "nós merecemos mais".

Pessoa simples e humilde, foi dos músicos mais pontuais nos ensaios. Não quer deixar morrer  aquela que foi a sua banda.

Hoje lê os seus jornais, ainda dá uns retoques nos sapatos dos vizinhos porque este homem acha que "parar é morrer".

No dia desta entrevista, Armando Martins expressou a José Barradas o desejo de ter o instrumento de volta, "trá-lo para cá que eu dou-lhe assim uns toques". No mesmo dia, José Barradas foi entregá-lo e a emoção tomou conta do ex-músico.

Sonha com a banda, deu o que podia à música. Gostava de ir ainda à França com a Sociedade Filarmónica Alpalhoense, mas a saúde nem sempre dura, "não posso ser eterno".

António Nabo com 76 anos, ainda é músico na Banda de Alpalhão, começou com 12 anos. Além de sapateiro trabalhou na fábrica de lanifícios de Portalegre. Juntou-se também à banda desta cidade; a música jamais caia no esquecimento.

É a alegria e distração que fazem dele ainda um músico devoto. É hoje o elemento mais velho, sente-se o pai da banda, toca requinta.

Em 1990, foi mestre da Sociedade Filarmónica durante alguns meses. Apesar da idade é respeitado na banda, ele próprio a anima. Guarda na memória as saídas. Tocou na inauguração do Hospital de Nisa. Numa saída a Cáceres (Espanha) e depois de beber alguns copinhos, António esqueceu-se do boné e o seu amigo Sebastião da camisa. No ano seguinte, ainda lá estavam as peças de roupa na casa onde tinham dormido.

As pernas e os joelhos já o atraiçoam... um dia vai ter que abandonar a banda. Por enquanto "vou para a música e esqueço-me de tudo".

in "Revista Cultural" - CMNisa - 2001

 

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