Vê-los a
prometer a paz eterna ridiculariza qualquer filme de ficção científica feito ou
por fazer. Vê-los, lado a lado, nos seus sorrisos triunfantes e apaziguadores,
tem o mesmo efeito que imaginar Lázaro a escapar da tumba, Cunhal e Salazar aos
abraços ou Cicciolina assumir a virgindade. Sei que não é de bom tom, que
deveria estar a aplaudir o princípio de acordo que, a concretizar-se, será uma
enorme notícia, mas observá-los a ser fotografados como se fossem celebridades
luminosas, candidatos à exportação de girassóis e nenúfares, arrepia-me tanto
como se visse André Ventura apaixonado por uma imigrante nepalesa ou por uma
cigana prometida a Nininho Vaz Maia. É inverosímil, kafkiano, rebuscado,
absurdo, arrepiante, é o Mundo ainda mais virado do avesso - é como se o
Chuchas fosse inocente, o Fernando Mendes deixasse de fazer o "Preço
Certo" ou o "Macaco" confessasse ser benfiquista desde
pequenino. Até pode ser que sim, mas viram-nos? Donald e Bibi, lado a lado,
bandeirinhas atrás, o som de passarinhos e pombas brancas, e uma jura de paz
eterna, uma paz perpétua, talvez até a promessa de que milhares de cadáveres
nas valas de Gaza tornarão à vida, que milhares de crianças esfomeadas e
sedentas poderão ser homenageados num banquete no paraíso controlado por eles,
é claro. Pelos dois cavaleiros que vimos ontem na pele de anjos empanturrados
das maçãs que Eva não chegou a comer.
·
Luís Osório – Escritor - 1 de outubro, 2025