13.12.25

OPINIÃO: O silêncio dos miúdos


Enquanto vários países estão a proibir os menores de 16 anos de aceder às redes sociais, há uma nova tendência que pode vir a transformar a forma como os jovens se relacionam com o Instagram, TikTok, Facebook e outras plataformas, um fenómeno conhecido como posting zero.

As notícias que nos chegam da Austrália, o primeiro país a colocar a proibição em prática, não

são animadoras. A medida, proposta pelo primeiro-ministro, Anthony Albanese, e aprovada pelo Parlamento, já entrou em vigor, mas revela-se pouco consistente. Sem surpresa.

Muitas crianças conseguiram contornar a interdição de várias formas, pondo em causa os sistemas de verificação de idade. Com VPN ou recorrendo a amigos e familiares, continuaram a aceder às redes. São os primeiros sinais de que não adianta proibir. Concordar ou não com o impedimento parece, portanto, irrelevante. Não funciona.

No entanto, enquanto se discutem proibições que se revelam difíceis de aplicar, a própria realidade parece pôr em causa a necessidade de fechar as redes aos mais novos. Referimo-nos ao posting zero, uma tendência que está a crescer nos EUA e que, na prática, corresponde à redução quase total da presença online. Seja por cansaço digital, seja por receio da exposição pública ou desconfiança, vários indicadores mostram que os jovens estão a publicar menos, apesar de continuarem a usar as redes. É uma espécie de desligar sem sair.

Serão, portanto, os jovens a escolher uma forma diferente de estar online e não qualquer Estado a determinar como devem fazê-lo. A verdadeira revolução nas redes sociais não resultará de qualquer lei, mas, sim, das escolhas de quem as usa diariamente.

Manuel Molinos –Jornal de Notícias - 12 de dezembro, 2025